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2.1 TECNOLOGIA E SOCIEDADE

2.1.2 Redes sociais e mudança social

2.1.3.2 Leitura dicionarizada dos termos: “Tecnologia”; “Social”; e “Tecnologia Social”

De acordo com Houaiss e Villar (2001), “tecnologia” é um substantivo feminino primeiramente definido como “teoria geral e/ou estudo sistemático sobre técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos de um ou mais ofícios ou domínios da atividade humana”. Em seguida, por metonímia, trata-se da “técnica ou conjunto de técnicas de um domínio particular” e, por extensão, “qualquer técnica moderna e complexa”. Assume também algumas variações como: “tecnologia alternativa”; “tecnologia de ponta”; e “alta tecnologia”. Etimologicamente, tem origem no grego tekhnología: “tratado ou dissertação sobre uma arte, exposição das regras de uma arte”, formado a partir de tekhno: tékhne, “arte, artesania, indústria, ciência”; e logía, de logos, “linguagem, proposição”. O dicionário ainda remete a “tecn(o)”, utilizada a partir do século XIX, e a “logia”, em português, utilizada a partir da Idade Média. As últimas enfatizam a origem e as formas do uso e não sentidos ou significados.

Sobre “técnica”, aborda-se o “conjunto de procedimentos ligados a uma arte ou ciência” e, por metonímia, “a parte material dessa arte ou ciência”. As outras formas de significado são: “maneira de tratar detalhes técnicos ou usar movimentos do corpo, destreza, habilidade especial para tratar esses movimentos, jeito, perícia em qualquer ação ou movimento”. Ainda, remete a “tecnia” também do grego tékhne: “arte manual, indústria, artesania”; mais ia: formador de substantivo abstrato, substantivo designativo e adjetivo (HOUAISS; VILLAR, 2001).

Social é um adjetivo, “concernente à sociedade”, em seguida, “concernente à amizade e união de várias pessoas”, também abordada sobre a ótica do capital “relativo ou pertencente à firma ou a uma sociedade”, ainda “relativo à comunidade, ao conjunto de cidadãos de um país; coletivo”, “que tende ou é dado a viver em grupos, em sociedade; sociável, gregários”, “conveniente à sociedade ou próprio dela” e, entre outros, “que vive em sociedades organizadas, formadas por indivíduos de morfologia e comportamentos distintos, especializados em determinadas funções” e “o que pertence a todos; público, coletivo”. Oriundo etimologicamente

do latim socialis, “relativo aos aliados, de aliado, feito para a sociedade, social, sociável; nupcial, conjugal” (HOUAISS; VILLAR, 2001).

Etimologicamente, “tecnologia social” é a “técnica ou conjunto de técnicas de um domínio particular”, “tratado ou dissertação sobre uma arte, exposição das regras de uma arte”. Neste caso, o particular, entendido como a particularidade ou a propriedade em termos característicos de algo, é “relativo aos aliados, de aliado, feito para a sociedade, social, sociável”. “Tecnologia social” é a técnica ou conjunto de técnicas social, entendendo que esta é de domínio social sob a exposição de regras de uma arte. Arte que pode ser compreendida como a sociabilidade inerente à prática da “inclusão” ou do meio social. Por ser relativa aos aliados e feita para a sociedade, entende-se a importância dos papéis desempenhados pelos agentes desta sociedade na artística prática da “inclusão social” ou do meio social (HOUAISS; VILLAR, 2001).

Nesta construção sobre a definição, há mais considerações relativas à “tecnologia social”: a de que esta tecnologia pode ser própria a um conjunto de cidadãos, que vivem em grupo, em sociedades organizadas a partir dos distintos comportamentos e das especializações dos indivíduos em determinadas funções, ou seja, as relações, interações e mediações inerentes à “tecnologia social” podem ser próprias ou de comunidades específicas, em que cada indivíduo participa do processo ou integra o processo por meio de um papel, atividade, habilidade de sua especialização; a de que esta tecnologia é propriedade de todos, pública e coletiva, no meio social em que está concebida, mas depende do conjunto de papéis, do comportamento e das especializações, revelados e desempenhados de acordo com interesses coletivos e individuais. Este entendimento permite a compreensão de que: as “tecnologias sociais” podem ser entendidas como “tecnologias”; o termo “inclusão social” pode ser substituído por “meio social”; elas não têm data de concepção, mas podem ser identificadas no tempo e no espaço, conforme morfologia e comportamentos no decorrer da história da relação entre tecnologia e sociedade.

Apesar de haver a denominação “tecnologia social (TS)”, o uso do termo limita a dinâmica das oscilações do comportamento humano em sociedade, causando incoerência na relação entre o termo utilizado e o fato observado. O termo “tecnologia” é suficiente para a observação dos fatos das mudanças sociais. Embora não se trate de um estudo da linguística, são detalhes importantes a atentar no momento de atribuir termos aos fenômenos observados e registrados, ou seja, no momento de construir significados. Esta prática difere o conhecimento científico do senso comum. Isto porque tanto empresas quanto governos, diante de interesses políticos e de marketing, apropriam-se de termos ou “jargões” com significados distintos

daqueles discutidos pelo meio acadêmico. Não se trata de apontar acertos ou erros no uso cotidiano dos termos, mas de alertar sobre a possibilidade de existirem outras construções de significados sobre “tecnologia social” para diversas práticas políticas e ideologias que ainda estão passíveis de discussão pela ciência e que ainda não foram consolidadas pelo próprio senso comum.

Ressalta-se que as construções de ordem prática são estudadas pela ciência e que as verificações empíricas dos meios empresarial, político e social contribuem indutivamente para a formulação de modelos teóricos e metodológicos. Por outro lado, a ciência pode auxiliar os meios empresariais e políticos no processo de tomada de decisão, a partir de argumentos e limitações claros sobre significados, para o fortalecimento de políticas e ações de responsabilidade social.

As exposições dos termos, de acordo com o dicionário, alinham-se aos estudos de CTS conforme considerações essenciais, tais quais: “tecnologia” é uma “teoria geral e/ou estudo sistemático sobre técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos de um ou mais ofícios ou domínios da atividade humana”; “técnica” é o “conjunto de procedimentos ligados a uma arte ou ciência” e, por metonímia, “a parte material dessa arte ou ciência”; e “social” é “concernente à sociedade”, “relativo à comunidade, ao conjunto de cidadãos de um país; coletivo”, “que tende ou é dado a viver em grupos, em sociedade; sociável, gregários”, “conveniente à sociedade ou próprio dela” e, entre outros, “que vive em sociedades organizadas, formadas por indivíduos de morfologia e comportamentos distintos, especializados em determinadas funções” e “o que pertence a todos; público, coletivo”. Quanto às classificações dos substantivos, também é possível apontar a discussão de gênero sobre o termo, o que não é pertinente a esta tese, e a discussão sobre o seu tipo, abstrato, próprio da tecnologia. A tecnologia é abstrata e sua compreensão se dá através das observações sobre a técnica, o artefato, os atores e suas ações, relações, interações e mediações. Nesse sentido, também é possível observar as resultantes, as revelações e as mudanças proporcionadas na comunidade ou na sociedade. Contudo, a observação da relação entre tecnologia e sociedade se dá por suas materializações no cotidiano da vida social.

"Tecnologia" é um termo escorregadio, e conceitos como "mudança tecnológica" e "desenvolvimento tecnológico", muitas vezes transportam uma carga pesada interpretativa. [...]. Três camadas de significados da palavra "tecnologia" podem ser distinguidos (MACKENZIE; WAJCMAN, 1985). Em primeiro lugar, há o nível de objetos físicos ou artefatos, por exemplo, bicicletas, lâmpadas, e baquelite. Em segundo lugar, "tecnologia" pode se referir a atividades ou processos, como a siderurgia ou moldagem. Terceiro, "tecnologia" pode referir-se ao que as pessoas sabem, assim como elas fazem; um exemplo é o "know-how" que vai para projetar uma bicicleta ou operar um aparelho de ultrassom no serviço de obstetrícia. Na

prática, as tecnologias tratadas nessa coleção cobrem todos os três aspectos e muitas vezes não há sensibilidade para separá-las ainda mais (BIJKER; HUGHES; PINCH, 1987, p. 3).

Contudo, em meio à visão determinística do termo “tecnologia social” não há um consenso sobre sua definição e a origem dos problemas de “inclusão”, mas há espaço para ampliar o volume de investigações sobre o tema, visto que os estudos sobre “tecnologia social” contribuem para esclarecimentos teóricos e discussões sobre elementos de observação da tecnologia e seus usos. As inconsistências do uso do termo “tecnologia social” explicitam a complexidade e os desafios dos estudos de CTS para construir modelos metodológicos passíveis de aplicação operacional, com indicadores e parâmetros claros de captação dos momentos de uma tecnologia ou sistema tecnológico.