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A justificativa desta tese pode ser simplificada ao pressuposto de que um indivíduo ou organização se conhece, conhece o mundo em que vive e se posiciona de modo a sobreviver. Um instrumento de captação interativa da “tecnologia social” proporciona o autoconhecimento de redes de relações, o conhecimento do local e do mundo para que seja possível, em conjunto, apresentar e propor alternativas que visem à sustentabilidade. Trata-se de uma forma de captação da interação de técnicas e de conhecimentos que se revelam na forma de comportamento e nos resultados de redes locais, possibilitando a revisão das formas de agir e de pensar que conduzam à sobrevivência. Nas próximas seções releva-se a importância do tema para o Programa de Pós-Graduação em Tecnologia (PPGTE), para a Linha de Pesquisa Tecnologia e Desenvolvimento e para a comunidade acadêmica e à COOCAT-MEL.

1.6.1 AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA (PPGTE) DA UTFPR Os princípios constitutivos do PPGTE são: a interdisciplinaridade, a inserção sociocultural, a evolução histórica, a dimensão econômico-social, a postura crítico-reflexiva, o referencial epistemológico e ético, e o impacto socioambiental. A análise ou “desconstrução” do termo “tecnologia social” resultante desta tese alinha-se ao interesse do PPGTE. De acordo com o Programa, o significado de “desenvolvimento tecnológico”, concebido pela sociedade contemporânea, entende, de modo limitado, que há uma relação entre conhecimento científico e tecnológico (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 2013a). A tecnologia seria a aplicação de conhecimentos científicos, em uma relação de causa e efeito entre ciência (explicativa) e tecnologia (explicada); ou, ainda nesta linha, a fonte da riqueza de uma nação estaria baseada na produção científica para o desenvolvimento de tecnologias. Sem deixar de lado estas compreensões, o PPGTE se propõe a enriquecer o debate de interpretação do fenômeno tecnológico, incluindo outras dimensões de análise como a política, a econômica e a social. “O determinismo tecnológico que considera a tecnologia como o elemento que direciona todas as manifestações da sociedade e condiciona a vida humana ao seu desenvolvimento é reducionista e não permite perceber a complexidade inerente aos fenômenos sociais”. O Programa tem como pretensão explorar este posicionamento da área de concentração, de modo interdisciplinar, pelas linhas de pesquisa em: Tecnologia e Trabalho;

Mediações e Culturas; e Tecnologia e Desenvolvimento (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 2013a).

Dada a polissemia do termo “tecnologia”, oriunda de seus inúmeros significados construídos pelos diferentes grupos que a interpretam e os diferentes valores incorporados em seu uso concreto, o PPGTE tem como prioridade desenvolver atividades e pesquisas, de abordagens teóricas e práticas, para explicitar os sentidos atribuídos ao termo “tecnologia”. A ideia é expandir os limites da discussão sobre a relação entre tecnologia e sociedade, superando as formas reducionistas de observação, que se limitam à compreensão da “tecnologia” como bens de consumo ou conjunto de técnicas atrelados à “operação de equipamentos, organização da maquinaria, ou administração de recursos humanos direcionados exclusivamente à sua produção e aos ganhos econômicos imediatos”. Diante da competitividade empresarial, de ambiente global, a “tecnologia” reduz-se a um diferencial à sobrevivência empresarial, que confere poder de mercado às organizações, em meio a uma visão de mercado de curto prazo, otimização da produção e ganhos de produtividade (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 2013a).

A proposta de tese desta pesquisa sobre a “tecnologia social” pretende explicitar a “complexa amplitude que envolve a tecnologia”, compreendendo-a como “realização humana que ocorre em situações sociais concretas e específicas”. Neste ponto, enfatiza-se o aspecto cultural, também inerente à tecnologia social, no âmbito do desenvolvimento local, que congrega o conhecimento tecnológico, “que implica técnicas que são socialmente produzidas e parcialmente compartilhadas” (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 2013a). Discutir a relação entre “tecnologia social” e desenvolvimento local também implica as formações sociais “porque na produção das condições materiais de vida, necessárias a qualquer sociedade é imprescindível a criação, apropriação e manipulação de técnicas”. Estas, por sua vez, “carregam em si elementos culturais, políticos, religiosos e econômicos próprios da existência social” (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 2013a). O estudo sobre “tecnologia social” considera “a especificidade da sociedade em que vivemos com todas as suas manifestações múltiplas, plurais e desiguais” e entende que a tecnologia, “enquanto fenômeno humano, se manifesta, é produzida, é apropriada, atendendo a diversos interesses” (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 2013a). A “tecnologia social” é socialmente construída e seu estudo permite a reflexão de que não há vida social sem tecnologia ou “tecnologia sem sociedade” (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 2013a).

1.6.2 À LINHA DE PESQUISA TECNOLOGIA E DESENVOLVIMENTO

Esta tese da relação entre “tecnologia social” e “desenvolvimento local” alinha-se à pesquisa sobre “Tecnologia e Desenvolvimento” porque tem como objetivo intrínseco “avaliar o impacto tecnológico e de novos padrões de atividades de trabalho na sociedade e no meio ambiente”, por métodos de análise e diagnóstico (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 2013b).

De modo sistêmico, a implementação ou importação de novas tecnologias não se restringe à obtenção de maior produtividade e geração de renda. Deve-se considerar a “adequação da tecnologia a características regionais, econômicas, sócio-culturais e ambientais.” (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 2013b).

Entre os temas de interesse desta linha estão: o Desenvolvimento Regional; a Gestão Ambiental; a Gestão de Tecnologia; e Sistemas Produtivos (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 2013b). Mais especificamente, esta tese alinha- se aos estudos sobre o Desenvolvimento Regional e Sistemas Produtivos porque se inclui nos estudos sobre “as possibilidades de reduzir os impactos negativos” da tecnologia “ao homem e ao meio”, com o objetivo de procurar uma maior racionalidade em seu uso. Adere também ao campo de análise sobre as condições institucionais e individuais para a geração de tecnologias, “onde a inovação, a criatividade e o empreendedorismo são temas centrais”, desdobrando-se nas compreensões sobre as “condições institucionais gerais criadoras de sociedades e de indivíduos empreendedores.” (UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ, 2013b).

1.6.3 À COMUNIDADE ACADÊMICA

O esforço de detalhar os procedimentos metodológicos adotados nesta tese reflete no primeiro produto à comunidade acadêmica. Nas conclusões do estudo pretende-se responder à academia sua validade epistemológica, teórica e prática, por meio da indicação de novos estudos complementares e continuados relativos ao tema abordado.

Ao alinhar-se com o PPGTE, o objeto de estudo, “tecnologia social”, retorna ao meio acadêmico os anseios que se tem sobre esta parcela do conhecimento humano. O estudo também serve de base comparativa e estruturada para a elaboração de projetos acadêmicos. Pode ser utilizado como orientação para elaboração de modelos metodológicos, principalmente no que

diz respeito ao uso da Análise de Redes Sociais (ARS) como instrumento de investigação da área da pesquisa social aplicada.

Quanto aos preceitos éticos, pretende-se preservar o discurso científico, mesmo que seja necessária a utilização de documentos de natureza operacional e política para análise. Por fim, confere-se o respeito aos estudos até então realizados, na contínua construção do conhecimento sobre “tecnologia social”. Esta tese opera, portanto, em duas vertentes: a de complementar as discussões teóricas sobre a “tecnologia social” e a de propor um modelo metodológico para caracterização desta tecnologia.

1.6.4 À SOCIEDADE E À COOCAT-MEL

À atuação de entes de interesse importa o conhecimento ou o autoconhecimento de redes locais, como aprendizagem de planejamento, proposição e criação de ações alternativas pró-sustentabilidade. São exemplos de organizações que se propõem, de alguma forma, a agir para a sustentabilidade: organismos nacionais e internacionais que defendem, discutem e viabilizam programas e projetos para o desenvolvimento local; entes públicos que constituem políticas públicas e ações para a melhoria da condição de vida da população; organizações e representações de classes da sociedade civil, que defendem os interesses de parcelas específicas da população ou de atividades econômicas; organizações privadas que realizam ações de responsabilidade social; as Instituições de Ensino Superior (IES) que realizam a extensão universitária; os voluntários; as cooperativas e estabelecimentos chamados de “economia solidária” que captam alternativas ao seu próprio desenvolvimento; entre outras formas de organização da sociedade.

A operacionalização do conceito “tecnologia social” tem como objeto de estudo uma rede social estruturada em uma comunidade local. Neste estudo o objeto foi a Cooperativa dos Apicultores e Meliponicultores Caminhos do Tibagi (COOCAT-MEL). Nesse sentido, os tipos de estratégias institucionais de inserção da pesquisa na comunidade local foram explicitados, preservando as questões éticas de compartilhamento do conhecimento e da construção conjunta de soluções em prol do desenvolvimento local. Foram expostas à comunidade local as justificativas de sua escolha e a apresentação das possíveis contribuições dos resultados para a melhoria da condição de vida.

A comunidade escolhida como objeto de análise teve informações que lhe garantem o autoconhecimento para posterior posicionamento estratégico de ações articuladas, de políticas

públicas, de responsabilidade social, de extensão acadêmica, entre outras. A COOCAT-MEL é parte constituinte do processo de desenvolvimento local, por participar, em construção conjunta, do conhecimento detalhado sobre a rede da cooperativa. Pode utilizar o estudo como base de elaboração de projetos para recursos públicos, fontes de financiamentos e propostas de responsabilidade social, entre outras. Por outro lado, órgãos públicos, privados e da sociedade civil organizada terão um instrumento para identificar meios de potencializar, refinar e articular com cuidado as ações propostas, em construção conjunta de alternativas pró-sustentabilidade. Contudo, a observação prática do objeto de tese teve cuidado e preocupação com a qualidade das relações estabelecidas com a comunidade local, no processo de obtenção de dados e informações, estruturação de relatórios parciais e apresentação dos resultados finais da pesquisa desenvolvida.