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3.1 FASES DA METODOLOGIA DA PESQUISA

3.1.2 Exercício da observação de fenômenos e fatos

Da opção pela complexidade e das compreensões sobre a interdisciplinaridade resulta uma característica relevante à compreensão das opções sobre os procedimentos metodológicos e da observação dos fatos sociais pela indução: a aleatoriedade e predominância de dados não experimentais. A variável aleatória é aquela cujo valor é determinado pelo resultado de um experimento ao acaso e os dados não experimentais figuram a ausência de controle do pesquisador (GUJARATI, 2000). Apesar disto, compreendem como fonte de dados a este estudo os de natureza qualitativa, principalmente, e a partir de parametrizações, aqueles de natureza quantitativa.

Há uma distância no comprimento das linhas do tecido que relacionam teorias e fatos, principalmente no exercício de contextualização, leitura e interpretação, que estão de acordo com a assimilação conceitual e a escolha das teorias que explicam a revelação dos fatos que se deseja observar. Em um estudo multidisciplinar, as disciplinas das diversas áreas do conhecimento podem auxiliar a desmistificar equívocos de interpretações e a reduzir a distância entre fato e teoria. Lakatos (2008, p. 116) mostra esta distância pelas distintas interpretações da realidade de distintas partes do tecido social.

O senso comum tende a considerar o fato como realidade, isto é, verdadeiro, definitivo, inquestionável e auto-evidente. Da mesma forma, imagina teoria como especulação, ou seja, idéias não comprovadas que, uma vez submetidas à verificação, se se revelarem verdadeiras, passam a constituir os fatos e até leis.

Sob o aspecto científico, entretanto, se fato é considerado uma observação empiricamente verificada, a teoria se refere a relações entre fatos ou, em outras palavras, à ordenação significativa desses fatos, consistindo em conceitos, classificações, correlações, generalizações, princípios, leis, regras, teoremas, axiomas etc.

A construção indutiva requer o exercício da não deturpação de fatos, que pode ser amenizada pela construção de uma aprendizagem com aquilo que se revela, como um exercício de leitura dos fatos no processo de conscientização. Outro mecanismo para amenizar as cegueiras de um único observador é a troca de: experiências; formas de leitura; exposição de interpretação; e conhecimento da diversidade das revelações. Um exercício de escutar “pontos de vista diferentes” para reduzir ou não atribuir juízo de valor. Uma ciência com a consciência de que a humanidade é mais inteligente que um único indivíduo na construção de soluções ótimas para a vida.

A busca para resguardar o discurso científico, seguindo “as regras próprias da ciência”, na interpretação correta da realidade é uma abordagem de Libanio (2001, p. 183), que pode ser

complementada pelo entendimento de que a realidade é inerente a cada um. Por mais que se exercite incansavelmente a não deturpação de fatos, eles sempre poderão ser interpretados e receber contribuições de mais de um indivíduo e áreas do conhecimento, como uma curva de aprendizagem da humanidade. Desta forma, Libanio (2001, p. 188) apresenta que o universo hermenêutico relativista merece atenção porque “caracteriza a maneira mais comum do pensamento moderno. As realidades, os objetos, os significantes estão aí e o sujeito, segundo sua pré-compreensão cultural, social, religiosa, de gênero, de classe, etc. interpreta diferentemente”, mas sem se aproximar de um extremo relativismo. Também se considera o universo hermenêutico holístico, que supera uma relação apenas interpretativa entre sujeito e objeto, guiando o conhecimento de modo mais intuitivo e inclusivo. Assim, entende-se que conhecimento e sujeito confundem-se “numa unidade radical, harmônica, includente”.

As ciências, por meio da constituição de seus objetos teóricos e de seus sistemas conceituais, dão conta de processos reais. O “conceito” de um objeto empírico (uma mesa, um homem) não é objeto de nenhuma ciência. Os entes empíricos são, sem dúvida, objetos de percepções em que se funda um processo de abstração de suas “essências”, do que deriva tanto um saber formal como um saber prático, técnico, operacional sobre as coisas. Mas os objetos de conhecimento das ciências são as relações estruturais do real, dos processos materiais que produzem como efeito de todas estas coisas, objetos de um saber empírico (LEFF, 2002, p. 26).

O fato é passível de verificação empírica e possibilita a observação fatual da relação entre tecnologia e sociedade. Contudo a captação da tecnologia abre-se em abstrações que são dinâmicas e podem se alterar conforme a opção dos indivíduos, ao optarem pela forma de comportamento em relação a cada fato. Estas são variações consideráveis sobre a compreensão de momentos nos fenômenos de revelação.

A leitura de fatos como revelação de técnicas e de conhecimentos pode ser entendida como a observação da parte material de sistemas tecnológicos, que difere do processo de captação da interação de técnicas e de conhecimentos imateriais, que ainda estão por se revelar a partir das escolhas de comportamentos das pessoas nas diversas relações sociais que estabelecem no tecido da sociedade. O fato revelado é um produto, que merece atenção e delicadeza em sua interpretação. A cada novo fato há uma nova forma de opção de revelação de comportamento. Aquilo que é captado é incerto de revelação porque pode ser normatizado e está sujeito à imprevisibilidade das escolhas do comportamento humano.

A leitura do processo de revelação na construção de um estado de sustentabilidade é baseada em princípios e diretrizes de comportamentos, nesta era da sinestesia, a era que sucede a era do conhecimento, da informação e da tecnologia. A compreensão da revelação caracteriza este momento como a era de conscientização da humanidade. Este processo de revelação

composto de partes materiais e imateriais é objeto de estudo interdisciplinar e pode ser interpretado pelas diversas áreas do conhecimento, no que concerne aos seus elementos biológicos, físicos, químicos, sociais, entre outros.

Na Figura 09 há um detalhamento daquilo que foi utilizado de referências para o tratamento nos âmbitos teórico e empírico, para leitura, interpretação e transcrição dos fatos. Na construção metodológica interativa, o estudo tem como centro a “tecnologia social”, que se constitui de relações entre áreas do conhecimento, tratadas em um segundo nível da Figura 09, por abordagens teóricas multidisciplinares, consideradas mais superficiais que o aprofundamento dado ao meio do ineditismo. Em meio ao volume de abordagens teóricas multidisciplinares da sustentabilidade e da tecnologia, foram selecionados os temas necessários para o fundamento do modelo interativo da “tecnologia social”. Da sustentabilidade emanaram os princípios e as diretrizes dos comportamentos, e da tecnologia fluiu a concepção de um sistema tecnológico das pessoas, pelas pessoas e para as pessoas.

A sobreposição em sequência da Figura 09 poderia ser comparada ao tecido conjunto em expansão orgânica do aprendizado social. Dedutivamente, as formulações teóricas do modelo metodológico interativo chegaram ao limite da verificação empírica e seguiram em método indutivo por meio da construção conjunta, fundamentada pela pesquisa-ação. Depois de um tempo de observação das revelações do comportamento humano, por meio do conjunto de percepções contidas no terceiro nível da Figura 09, iniciou-se, em sequência, a reconstituição do eixo, até atingir a validação do modelo em teorias e leis do comportamento humano.

O terceiro nível foi fundamental para a construção metodológica e para a posterior validação do modelo, porque, embora não apresente relevância teórica, diz respeito ao conjunto de elementos que argumentam a proposição indutiva do tema. No terceiro nível está o senso comum expresso por diversas abordagens captadas, que fluíram do processo tecnológico e passaram à revelação do comportamento humano em sociedade. Nela estão as revelações culturais pelas artes, pela música, pela moda, pela política, por informações do estado do mundo, da pobreza, da miséria, do trabalho, da produção, da financeirização, por revelações publicitárias, da internet, de jornais e revistas de diversos temas, por comportamentos de familiares, de amigos, por sensações, emoções e descrição de percepções de pessoas no trabalho, na rua e na rede social estudada, além dos conhecimentos culturais, de experiências de viagens e históricos de outros níveis de educação, como o fundamental e médio. Também foram observadas experiências cotidianas de inúmeras pessoas, bem como alternativas para a sobrevivência, a vida e a felicidade. Os elementos do terceiro nível da Figura 09 são revelações do comportamento humano em sociedade que se originam em interações de técnicas e

conhecimentos, constituem o fato e a parte material de sistemas tecnológicos. Foi o conjunto da repetição da observação de comportamentos cotidianos e de senso comum que possibilitou a reestruturação da fundamentação teórica do modelo com base em leis do comportamento humano. São estas observações que levaram à construção de um posicionamento sobre princípios e diretrizes de comportamentos pró-sustentabilidade (Figura 09).

FIGURA 09 – COMPOSIÇÃO ORGÂNICA DA “TECNOLOGIA SOCIAL”, MULTIDISCIPLINAR, CONSTITUÍDO PELAS ÁREAS DO CONHECIMENTO, CIRCUNDADO PELA SUSTENTABILIDADE, PELA TECNOLOGIA E POR ÁREAS DO CONHECIMENTO, QUE, INTERATIVAMENTE, COM O SENSO COMUM, REVELAM-SE NA CONSTRUÇÃO DE UM MODELO INTERATIVO POR PESQUISA-AÇÃO.