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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA

No método define-se a amostra, as técnicas de obtenção e análise dos dados. A Figura 22 sintetiza o paradigma de pesquisa.

Figura 22 - Paradigma e método doutoral

Fonte: elaborado pelo autor (2016).

Tendo conhecimento de que o método é dependente da postura filosófica do pesquisador utiliza-se nesta tese o paradigma interpretativista. O paradigma, refere-se ao entendimento filosófico do pesquisador sobre como investigar a realidade a partir de sua visão de mundo (ROESCH, 2005). Ademais, a verdade na ciência é acessada através da compreensão dos fenômenos evitando percepções errôneas, controvérsias e outros ídolos (DENZIN; LINCOLN, 2000).

Esse corte paradigmático interpretativista tem ênfase, portanto, na abordagem da pesquisa qualitativa usando-se da lógica indutiva (SACOOL, 2009). O paradigma interpretativista foi influenciado pela ontologia interação sujeito-objeto e pela epistemologia construtivista, debatidos anteriormente.

Neste paradigma de pesquisa, a finalidade não é estabelecer a medição de determinados fatores, mas de compreender os significados que os atores estabelecem em determinadas situações, não utilizando, para tanto, determinadas leis e causas externas para

explicação de um certo comportamento (ROESCH, 2005). O paradigma interpretativista ou antipositivista advém das teorias compreensivas que demonstram a ruptura com os fenômenos naturais. Essa abordagem compreensiva advém da sociologia compreensiva através de Dilthey e Max Weber, da filosofia alemã, onde afirmam que os fatos humanos não podem ser explicados a partir da objetivação, pois cada ator é singular (MINAYO, 2013).

No planejamento e desenvolvimento de um projeto é relevante que o delineamento de pesquisa seja adequado ao problema e objetivos propostos (ROESCH, 2005). Todos os projetos usam um determinado tipo de metodologia, especialmente, aqueles que envolvem pesquisas empíricas. Nesse sentido, a tese doutoral, dada a relevância do indivíduo nas rotinas organizacionais, desenvolve a pesquisa com abordagem qualitativa, com objetivo exploratório e descritivo tendo como estratégia estudo de caso.

A abordagem de pesquisa diz respeito ao entendimento filosófico e ao nível de abstração do pesquisador em sua intenção de elucidação de um determinado fenômeno (LAKATOS; MARCONI, 2001). A pesquisa qualitativa tem origem ontológica e gnosiológica nas abordagens subjetivistas-compreensivistas e crítico-participativos com visão histórica estrutural (TRIVINÕS, 2009). Os primeiros, isto é, subjetivistas compreensivistas estão direcionados para os aspectos subjetivos dos atores como percepções e da relevância dos fenômenos pelos significados que eles têm para o sujeito apresentando fundamentação em Husserl, Heidegger, Weber, entre outros (GOLDENBERGS, 1999). O enfoque crítico participativo, parte da dialética da realidade social para conhecer a realidade e transforma-la em contextos, fundamentado pelas ideias de Marx, Engel, Adorno, Horkheimer, entre outros.

A pesquisa qualitativa, sendo assim, utiliza várias formas de atividades interpretativas para compreensão do fenômeno que se busca pesquisar, especialmente no momento em que a fragmentação dos agrupamentos, antes estáveis, tem sido uma constante (FLICK, 2004). É preciso que se construa uma nova estrutura de pensar considerando a individualidade e as descontinuidades, formalizando a partir desta diversidade um senso de encadeamento lógico.

Nesse sentido, a pesquisa qualitativa é aberta podendo ser desenvolvida a partir de observação participante, estudos culturais, hermenêutica, feminismo, semiótica e narrativa (DENZIN; LINCOLN, 2000). Contudo, nenhum destes métodos ou práticas se sobrepõe a outro justificando que o pesquisador qualitativo adere ao modelo de multimétodo, sendo direcionado a interpretação da experiência humana.

A pesquisa qualitativa envolve também a qualidade das entidades e os significados que não podem ser experimentalmente medidos quantitativamente sejam em termos de

intensidade e frequência e representa a compreensão da complexidade do real social (DENZIN; LINCOLN, 2000; TRIVINÕS, 2009). Busca caracterizar determinadas respostas que envolvem a experiência social e seus significados. Através dela é possível observar, de forma objetiva, como são construídas as realidades e as imagens humanas de mundo. Envolve, portanto, o estudo das interpretações, das crenças e atitudes do sujeito e de suas relações sociais, promovendo a recriação de novos conceitos de determinados grupos particulares (MINAYO, 2009).

Na concepção de Flick (2004), a diversidade de subculturas, estilo de vida, aliadas as desigualdades sociais e a individualização, são fatores que tornam a pesquisa qualitativa relevante. É preciso de conceitos sensibilizantes como forma de compreender, através da lógica indutiva, a diferenciação dos objetos. Dessa forma a lógica indutiva estrutura-se a partir de determinadas observações e de padrões gerais no qual as dimensões de análise surgem a partir desta interação pesquisador e sujeito (PATTON, 2002).

A pesquisa qualitativa é direcionada para elucidar objetos empíricos complexos, como a interação dos atores, através de métodos abertos. Consiste, portanto, não apenas em testar, através das sentenças afirmativas o que já se conhece, mas sim, de desenvolver teorias já embasadas (FLICK, 2004). Nesta abordagem, busca-se caracterizar a variedade de perspectivas do sujeito em estudo sobre determinado objeto por meio de conceitos subjetivos. Portanto, fazem parte da pesquisa, também, a subjetividade do pesquisador no qual sua sensibilidade e observações constituem parte da interpretação.

Enquanto os positivistas optam pela pesquisa quantitativa em decorrência da rapidez da pesquisa e de custos, os qualitativistas, invocam, contudo, a subjetividade, como maneira de entender em profundidade os fenômenos complexos (HAGUETTE, 2001). Objetiva, dessa forma compreender a singularidade e complexidade dos fenômenos sociais. Visam a singularidade do fenômeno por meio do acesso de dados complexos de serem obtidos como motivos e atitudes.

O pesquisador qualitativo pode aplicar a triangulação para o estudo do fenômeno. Pode-se utilizar o Verstehen, isto é, entendimento como princípio epistemológico para compreensão do evento ou fenômeno em estudo através da compreensão de um determinado sujeito ou de diferentes atores. A palavra Versthen surge com Max Weber, um dos precursores da pesquisa qualitativa (BRYMAN, 1998). Pode também aplicar o estudo de caso único. Objetiva-se a construção da realidade a partir de vários níveis e diferentes atores por meio das análises empíricas dos textos produzidos, nesta tese específica, em termos de níveis operacional, tático e estratégico (FLICK, 2004).

O pesquisador qualitativo pode ser definido como um bricoleur, isto é, alguém que agrega determinadas imagens representando um sujeito que desenvolve bricolagem agregando partes de uma representação que são direcionadas a uma determinada situação (DENZIN; LINCOLN, 2000). O processo de investigação, na pesquisa qualitativa, tem origem na percepção abstrata do fenômeno em uma certa situação social.

Dessa forma Goldenberg (1999), novamente citando Pierre Bourdieu, com vistas a evitar controvérsia da pesquisa qualitativa, reitera que se deve buscar a objetivação, isto é, o controle que o pesquisador deve possuir para conter a subjetividade. Isso é possível mediante a imersão e intensidade das técnicas qualitativas da pesquisa, como a entrevista em profundidade, das técnicas projetivas e de outras combinações, conforme adotado nesta tese.

A pesquisa aplica, como abordagem, a pesquisa qualitativa através da lógica indutiva. Na concepção de Roesch (2005), essa enfatiza o sujeito da pesquisa, compreendendo-o a partir de conceitos genéricos onde a pesquisa vai se edificando na fase de coleta de dados. O pesquisador qualitativo é aquele que operacionaliza a ciência soft montando imagens e significados como um bricoleur, unindo representações de determinadas situações para compreensão de um fenômeno complexo (DENZIN; LINCOLN, 2003).

A opção pela pesquisa qualitativa justifica-se pela necessidade de compreender a evolução da rotina da qualidade a partir da dinâmica interna que este construto assume nas organizações. A aplicação desta abordagem fundamenta-se também por detectar determinados padrões que dão singularidade a um determinado fenômeno e por elucidar a forma de percepção dos atores em uma dada situação (PATTON, 2002). Para o autor, a pesquisa qualitativa também trata do estudo da individualidade. Percebe-se, portanto, que a rotina da qualidade como um processo dinâmico, também apresenta similaridade da dinâmica da pesquisa qualitativa. Sabe-se que a rotina é dinâmica e que também necessita do estudo das crenças e percepções do indivíduo (FELIN; FOSS, 2004; LAZARIC, 2011).

A pesquisa exploratória, que não utiliza hipóteses, tem a finalidade de obter a percepção de um determinado fenômeno, descobrindo novas ideais através de descrições precisas das relações entres os elementos (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007). É o tipo de pesquisa destinada quando existe conhecimento insuficiente sobre a problemática estruturada pelo pesquisador. A pesquisa descritiva, que pode assumir modo de estudo de caso, objetiva identificar situações e relações que se desenvolvem em aspectos como comportamento humano, tanto do indivíduo quanto de sua relação com demais grupos sociais (CERVO; BERVIAN; SILVA, 2007). Envolvem ainda técnica padronizada para obtenção dos dados como a observação sistemática (ANDRADE, 2010).

A tese utiliza como estratégia de pesquisa, o estudo de caso. O estudo de caso é uma estratégia de pesquisa indicado a partir do momento em que o pesquisador formata questões referentes a “por que” e “como”, quando os eventos estão inseridos em um certo contexto e quando o pesquisador não tem controle sobre os eventos (YIN, 2001). Os estudos de caso, segundo Trivinõs (2009), representam uma unidade em que se pesquisa profundamente objetivando-se identificar o que é singular no caso.

Assim, os estudos de caso, que podem ser um sujeito, uma organização, um incidente crítico, são indicados quando se objetiva identificar diferenças individuais ou variações singulares de um determinado programa ou organização (PATTON, 2002). O autor assevera, portanto, que o estudo de caso, apresenta maior relevância quando trata de resultados individualizados. São utilizados ainda pelo modo exploratório e descritivo tendo a finalidade de aprofundar o entendimento do fenômeno e também de suas causas (ROESCH, 2005; GIL, 2009).

A vantagem do estudo de caso é que este revela comportamentos singulares dos atores adentrando-se em seus significados afastando a ciência da homogeneidade (GOLDENBERG, 1999). O estudo de caso promove, citando Pierre Bordieu em sua obra Introdução a uma sociologia reflexiva, a demonstração de propriedades gerais intangíveis, que estão ocultas dentro da singularidade dos atores.

São fundamentais à compreensão dos fenômenos individuais e organizacionais, especialmente quando os limites entre o contexto e o fenômeno não estão estabelecidos em sua totalidade e são indicados ainda para estudos de processo organizacionais (YIN, 2001). O estudo de caso, portanto, é condizente com a problemática da tese doutoral, que trata da evolução da rotina de alto nível.

O estudo de caso pode ser instrumental, intrínseco, coletivo ou múltiplo. O estudo de caso intrínseco objetiva estudar um caso particular sem a preocupação de representar outros casos e de desenvolvimento de alguma teoria (GIL, 2009). O estudo de caso intrínseco é direcionado ao pesquisador que não tem possibilidades de acessar outros casos ou quando a organização apresenta uma peculiaridade ou singularidade frente as demais. O estudo de caso instrumental é utilizado para redesenhar uma generalização. E, o estudo de caso múltiplo, típico das ciências sociais, é aplicado para o estudo de um determinado fenômeno ou condição geral (DENZIN; LINCOLN, 2000; GIL 2009).

O estudo de caso requer uma sistemática rigorosa, demandando triangulação, escolha, conhecimento, contexto e atividades (DENZIN; LINCOLN, 2000). Na concepção de Gil (2009), a estruturação de um protocolo auxilia na confiabilidade do estudo de caso,

recomendando os seguintes passos:

a) visão global do projeto: abrange a teoria utilizada, os propósitos e o cenário em que o estudo de caso será pesquisado;

b) procedimentos de campo: referem-se sobre como acontecerá a busca de informações, de coleta dos dados e dos materiais para o estudo de caso;

c) determinação das questões: serão desenvolvidas diretamente aos atores da pesquisa, lembrando ao pesquisador sobre os questionamentos necessários para elucidação da problemática e do fenômeno em estudo.