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2.4 COMPLEXIDADE CONCEITUAL DO INDIVIDUALISMO METODOLÓGICO

2.5.5 Rotinas e capacidades dinâmicas

As capacidades dinâmicas da organização, tem como fundamentação a perspectiva baseada em recursos e envolvem a explotação de recursos internos e externos, que fazem com que a organização melhore sua performance, por meio de fontes competitivas (TEECE; PISANO; SHUEN, 2007). As capacidades dinâmicas, conforme Teece, Pisano e Shuen (2007) são oriundas das bases teóricas de Schumpeter (1934) e Penrose (2006). Parte do princípio de que são os recursos escassos da organização e não apenas os lucros decorrentes do posicionamento de mercado que promovem vantagem competitiva. Percebe-se, portanto, que as capacidades dinâmicas estão relacionadas à estratégia descritiva, apresentam heterogeneidade e qualidade como uso competitivo de recursos e deliberação de ação (WOLLERSHEIM; HEIMERIKS, 2016).

A dinâmica das capacidades refere-se a renovação das competências para fazer frente ao ambiente dinâmico de mercado. As capacidades abrangem a ação do gerenciamento estratégico quanto adaptação, integração, reconfiguração de habilidades, recursos e competências funcionais (TEECE; PISANO; SHUEN, 2007).

As capacidades dinâmicas são competências que fazem com que a organização tenha a habilidade de construir, configurar e integrar recursos internos e externos para modelar um ambiente competitivo (TEECE, 2012). As capacidades dinâmicas referem-se ao nível estratégico da organização (WOHLGEMUTH; WENZEL, 2016). Quando combinadas com a estratégia fazem com que a organização desenvolva produtos certos para os mercados desejados. Isso decorre através da relação entre capacidades dinâmicas e reconfiguração do conhecimento organizacional (WOHLGEMUTH; WENZEL, 2016). A formação das capacidades dinâmicas, que geram vantagem competitiva, frente aos concorrentes, contudo, necessitam de processos e estruturas flexíveis (WILLIAMSON, 2016).

Existe, contudo, uma diferença entre capacidades dinâmicas e capacidades ordinárias (TEECE, 2012). As primeiras são estratégicas e as segundas referem-se a eficiência de

performance das atividades e abrangem objeto da ação (WOHLGEMUTH; WENZEL, 2016). As capacidades ordinárias são representadas mais pelas rotinas, dada a sequência de ações e não pelas capacidades dinâmicas. As capacidades ordinárias são responsáveis pela eficiência na realização de tarefas ou processos (TEECE, 2016). As rotinas são responsáveis pela transformação organizacional, indo além dos indivíduos envolvidos. Relevante, portanto, que as rotinas podem ser estudadas sob o enfoque de como pensam os múltiplos colaboradores.

Contudo, as capacidades surgem na aprendizagem da coletividade dos atores que trabalham em conjunto (TEECE, 2012). Alguns autores identificaram também elementos responsáveis pela microfundação das capacidades. Entre estas destacam-se elementos relevantes nas capacidades dinâmicas, tais como: equipes de pesquisa e desenvolvimento, rotinas de controle de qualidade e novas rotinas de desenvolvimento de produto (EISENHARDT; MARTIN, 2000).

Acerca da relevância das rotinas nas capacidades dinâmicas, reconhece-se o papel das rotinas de mudança de alto nível que requerem investimentos e manutenção (WINTER, 2003). Segundo Teece (2007), as metodologias analíticas e as mudanças de rotinas são também consideradas blocos construtores das capacidades dinâmicas. As capacidades dinâmicas são os resultados do processo de aprendizagem por meio dos quais a organização sistematicamente modifica-se em busca de efetividade (WOLLERSHEIM; HEIMERIKS, 2016).

As capacidades dinâmicas no nível empreendedor, segundo Teece (2012), vão além da agregação de rotinas. Segundo ele, as rotinas referem-se a como os projetos desenvolvem- se e menos sobre como são identificados e selecionados. Ações estratégicas não são replicações. Toda rotina, nas capacidades dinâmicas empreendedoras, deve estar voltada para criação do conhecimento em tempo real e não para aprendizagem do passado apenas.

Conforme Teece (2012) a capacidade ordinária da empresa é baseada em processo onde o desenvolvimento do produto é consequência de diversas partes da rotina e também de algo mais. Este algo mais, segundo o autor, representa a atividade empreendedora não rotinizada, algo que surge “aqui e agora”. Na concepção empreendedora, o autor infere que as capacidades dinâmicas estão mais inseridas nas habilidades dos indivíduos do que nas rotinas organizacionais. Infere-se, ainda, que cabe a organização, na concepção empreendedora, criar um modelo que contemple a rotinização destas habilidades, para gerar e fazer frente as mudanças competitivas de mercado.

compõe, como recursos, rotinas e capacidades. Os recursos, dizem respeito a vantagens tangíveis e intangíveis que podem ser utilizados no sistema produtivo (GRANT, 1991). As rotinas são processos organizacionais que utilizam um conjunto de recursos para se obter determinado resultado (GRANT, 1991). E, as capacidades referem-se a rotinas de alto nível ou conjunto de rotinas (WINTER, 2003). Existe uma interação dinâmica entre estes três elementos, que são específicos de determinadas firmas, sendo intransferíveis. Ainda na relação entre rotinas e capacidades, infere-se que estas surgem a partir de escolhas gerenciais, na identificação e desenvolvimento e integração de rotinas (PENG; SCHROEDER; SHAH, 2008).

A combinação destas rotinas gera capacidades de inovação e de melhorias. A capacidade de melhoria está relacionada a combinação de rotinas que geram melhorias incrementais em produtos e processos, caracterizando a explotação. A capacidade de inovação refere-se ao conjunto de rotinas que desenvolvem novos produtos e processos, típico da inovação radical, baseada na exploração. Para isso, é preciso mapear as rotinas que compõe a capacidade de melhoria incremental:

a) habilidade de aplicar conhecimento;

b) habilidade de remover atividade que não agregam valor, como por exemplo, redução de custo;

c) habilidade de motivação funcional para obtenção da efetividade.

Essas melhorias contínuas, embora, incrementais, em sua coletividade, contribuem para uma performance superior. A capacidade de inovação está ligada ao conhecimento da organização em descobrir novos modelos de tecnologia, de produto e processo (PENG; SCHROEDER; SHAH, 2008). Existem duas formas da organização conseguir isso, desenvolvimento interno ou externo:

a) desenvolvimento de processo e equipamento interno: envolve a interação interna entre diferentes áreas funcionais da organização. Tem a vantagem de redução de custo com customização das necessidades da organização;

b) busca de novas tecnologias externas.

Em termos estratégicos, como mudança e melhorias, as rotinas de pesquisa ocupam relevância na construção das capacidades dinâmicas e na criação de capacidades estáticas (PENG; SCHROEDER; SHAH, 2008). Essas são responsáveis pela reconfiguração dos processos gerando vantagem competitiva por meio de diferenciação através de uma adaptação evolucionária (TEECE, 2016). As rotinas de pesquisa envolvem a execução de procedimentos que geram mudanças nas rotinas existentes e que também geram novas rotinas. As

capacidades dinâmicas, que decorrem desta coleção de rotinas de pesquisa, dizem respeito as rotinas organizacionais que alteram recursos de base e as rotinas que promovem a evolução da firma através da reconfiguração dos recursos. Contudo, as rotinas, que criam capacidades estáticas, referem-se à habilidade de realizar determinadas atividades em uma integração gerencial, atividades que a firma faz de melhor em comparação ao concorrente, a combinação de processos organizacionais para implantar certos recursos e conhecimentos e habilidade local para solução de determinadas restrições.

A Figura 15 demonstra a diferença entre capacidades dinâmicas e capacidades ordinárias, juntamente com proposição de interligação destas capacidades.

Figura 15 - Diferenças entre capacidades dinâmicas e ordinárias e proposição de conjunção

Fonte: elaborado a partir Teece, Pisano e Shuen (1997), Teece (2007; 2012), Einsenhardt e Martin (2000) e Peng, Schroeder e Shah (2008).

A tese doutoral objetivou estudar a rotina de alto nível também identificada como rotinas de busca, analítica ou desenvolvimento, que representa aquela que altera padrões organizacionais. A rotina de alto nível promove mudanças das demais rotinas e de produto sendo considerada o bloco construtor das capacidades dinâmicas.