• Nenhum resultado encontrado

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.3 PROCEDIMENTOS ADOTADOS PARA A COLETA DE DADOS

3.3.1 Entrevista semiestruturada

A entrevista é a principal técnica utilizada na pesquisa qualitativa, sendo um dos elementos relevantes na compreensão dos fenômenos da ciência social. Objetiva construir a essência do real através da interação social entre o pesquisador e o informante, demonstrando uma descrição detalhada de um certo meio social, podendo ser combinada com outros métodos (HAGUETTE, 2001; BAUER; GASKELL, 2002). Trata-se de um processo ativo de empenho colaborativo entre o sujeito da pesquisa e o entrevistador e envolve motivos e sentimentos inconscientes (DENZIN; LINCOLN, 2000). A entrevista é uma das formas de análise acadêmica mais relevantes para compreensão do comportamento humano individual ou de um grupo.

As entrevistas representam perguntas orais formuladas a um determinado indivíduo no qual as respostas são coletadas diretamente pelo pesquisador sendo registradas para posterior análise (RUDIO, 2009). No roteiro de entrevista utilizam-se perguntas abertas ou determinados tópicos advindos do recorte teórico do pesquisador (THIOLLENT; ROESCH, 2005; TRIVINÕS, 2009). A qualidade dos dados depende da habilidade do pesquisador, no nível de confiança entre os atores evitando que ela exponha suas opiniões na entrevista. A entrevista semiestruturada envolve a coleta no campo, sendo do tipo diretiva típica da proposta de pesquisa fenomenológica (DENZIN; LINCOLN, 2000). A finalidade é ampliar o

escopo de interpretação no fenômeno que se está pesquisando.

Haguette (2001), alerta à necessidade de o pesquisador identificar, na entrevista, informações de caráter subjetiva e objetiva. Deve-se atentar de que as informações do sujeito da pesquisa representam sua percepção modificada por reações cognitivas informadas pela sua capacidade de verbalização. Cabe ao pesquisador ter o conhecimento de que este é o retrato da realidade do entrevistado avaliando sua relação com a realidade objetiva. Para que isso ocorra é necessário que se demonstre ao entrevistado a relevância de suas informações para o trabalho. Dessa forma, a presença do pesquisador, na entrevista semiestruturada, possibilita que o sujeito da pesquisa tenha a liberdade necessária para expor seu entendimento acerca do propósito do estudo (TRIVINÕS, 2009). O autor assevera que, ao realizar uma entrevista, esta deve ser imediatamente transcrita e analisada. Somente após este processo é que se deve realizar a entrevista seguinte.

Dado a subjetividade dos tópicos da entrevista semiestruturada, cabe ao pesquisador ser o responsável pela mediação da entrevista no que tange aos inputs obtidos e ao propósito da pesquisa (FLICK, 2004). Segundo Denzin e Lincoln (2000), tanto o entrevistado quanto o pesquisador geram um evento linguístico onde os entendimentos são construídos em conjunto.

Sendo assim, as questões qualitativas desenvolveram-se tomando por base o estudo da rotina de alto nível através da conjunção dos princípios evolucionários: (1) variação, seleção e retenção. Também foram desenvolvidas questões do individualismo metodológico interacionista. A partir destes pressupostos, o roteiro de entrevista, inicialmente foi validado por três especialistas da área, conforme Figura 24.

Figura 24 - Processo de validação do roteiro entrevista

Inicialmente tinha-se a finalidade de validar as questões qualitativas com especialistas internacionais e nacionais. Assim contatou-se um dos expoentes no estudo da rotina a nível de Brasil, no dia 25 de outubro de 2016. Entretanto, não acusou recebimento. Foram efetuados mais dois contatos, 5 dias após o primeiro, contudo, sem resposta. Tendo a necessidade da validação do roteiro de entrevista, contatou-se via e-mail, no dia 21 de novembro de 2016, um pesquisador da Universidade Federal de Santa Maria, com pesquisas na área da economia evolucionaria. Na ocasião enviou-se o problema da pesquisa, os objetivos e o roteiro de entrevista.

Prontamente aceitou o convite enviando as considerações 20 dias após o contato. No dia 24 de novembro, por indicação do orientador, contatou-se também, um pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul que aceitou e após 10 dias, enviou a validação do roteiro, sugerindo união dos blocos de variações por afinidade. Na mesma data, foi contatado um pesquisador da Universidade de Passo Fundo que prontamente apontou as mudanças necessárias do roteiro de entrevista, solicitando encontro pessoal, que fora realizado no dia 06 de dezembro de 2016, às 10 horas, onde indicou as necessidades de mudanças do roteiro também em relação à conjunção dos blocos de variações. Antes, porém, foram contatados dois outros especialistas de rotinas organizacionais, sendo um deles da Michigan State University e outro da Stanford State University, no dia 23 de novembro de 2016. Contudo não se obteve retorno. Após 5 dias efetuou-se mais um contato eletrônico, novamente sem êxito.

Entre os apontamentos dos especialistas do processo da validação, um deles sugeriu que o elemento variação englobasse não apenas os tópicos variação cega, seleção racional e imitação, mas os demais: conjunto de conhecimento tácico e explicito, padrões, imitação, endógena, institucionalização de fatores emergentes e repertório individual. Outro especialista sugeriu que os blocos analíticos fossem reduzidos por similaridade, pois segundo este facilitaria a análise. Assim dos nove blocos, foram unidos no bloco variação cega os sub- blocos erros e oportunidades, no bloco micromudanças eventos mutagênicos e engatilhadores de ação, no bloco padrões adicionaram-se padrões de interação e padrões de interação não observáveis e no bloco repertório individual colocaram-se dois sub-blocos denominados de convenções singulares e conhecimentos de técnicas únicas.

Outro especialista, apontou a necessidade de alterações de questões em termos linguagem compreensível bem como correções de erros ortográficos. Também demonstrou que algumas questões não eram necessárias ou se repetiam ou ainda questões que estavam fora de contexto do objeto de pesquisa. Esse mesmo especialista, solicitou ainda que ao final das questões qualitativas fossem colocadas, sempre que possível, solicitação de exemplos por

parte dos entrevistados. Assim o roteiro de entrevista fora alterado na íntegra, conforme sugerido pelos três especialistas.

A validação do roteiro de entrevista, com os três especialistas, fez com que o instrumento de coleta de dados fosse composto, portanto, pelo total de 43 questões sendo divididas nos blocos variação: cega (2 questões), racional (1), fatores emergentes (3), imitação concorrentes (1), micromudanças (12), endógena (6), padrões de interação (3), repertório individual (9), conhecimento tácito e explícito (6). A Figura 25 demonstra o processo de construção das questões qualitativas, a seleção dos construtos para estudo das rotinas bem como os autores que as fundamentam.

Figura 25 - Construtos selecionados e autores que fundamentam questões qualitativas

Fonte: elaborado pelo autor (2016).

No bloco variação foram selecionados o total de 14 autores, na micromudanças 35 autores, na variação endógena 10 autores, nos padrões 9 autores, no repertório individual 16 autores e no conjunto de conhecimento tácito e explícito 16 autores.

O bloco analítico 1.1 (variação) fora construído com base nos seguintes autores Massini, Lewin, Numagami e Petigrew (2002), Nelson e Winter (2005), Possas (2008) Johansson e Siverbo (2009), Bataglia e Meirelles (2009) e Evans (2011), Johansson e Kask (2013) abrangendo variação cega, racional, variação propagação seletiva e institucionalização de fatores emergentes, variação imitação de concorrentes. Para investigar a variação cega foram estruturadas 2 questões, orientadas pelos fundamentos teóricos de Porter (1999) Nelson e Winter (2005) e Possas (2008), Evans (2011). A variação racional foi investigada por uma

questão elaborada com base em Johansson e Siverbo (2009), Evans (2011) e Johansson e Kask (2013). Na variação propagação seletiva e institucionalização de fatores emergentes foram estruturadas 2 questões com base em Massini, Lewin, Numagami e Pettigrew (2002); Bataglia e Meirelles (2009); Pentland, Feldman, Becker e Liu (2012). E na variação imitação de concorrentes foi formulada uma questão com base em Massini, Lewin, Numagami e Pettigrew (2002).

No bloco (1.2) micromudanças de March e Simon (1958) estruturam-se questões a partir dos subblocos de análises: eventos mutagênicos de Nelson e Winter (2005) e engatilhadores de ação de Pentland e Feldman (2004). Nos eventos mutagênicos foram estruturadas 6 questões por meio de Porter (1999); Transfield e Smith (1998); Peeters, Massini, Lewin (2014); Chalmers, Vnuk, (2012); Oliveira e Quinn (2015); Verreynne, Hine, Coote e Parker (2016). Nos engatilhadores de ação adapataram-se 6 questões por meio de Pentland e Feldman (2008). Becker e Zirpoli (2008); Bapuji, Hora e Saeed (2012); Labatut, Aggeri, Girard (2012); Chen, Pan e Ouyang (2014); Stiles, Trevor, Farndale, Morris, Paauwe, Stahl e Wright (2015); Verreynne, Hine, Coote e Parker (2016).

No bloco analítico (1.3) variação endógena emergiu o bloco path dependence de Becker (1982) onde foram adaptadas 6 questões tomando-se por base Penrose (2006) Bataglia e Meirelles (2009); Pentland, Feldman, Becker e Liu (2012); Peeters, Massini e Lewin (2014) e Praetorius (2016). No bloco variação padrões (1.4) surgiram dois sub-blocos de análise: padrões de interação e padrões não observáveis de Becker (1982); Felin e Foss (2004). Nos padrões de interação emergiram através de Pentland, Feldman, Becker e Liu (2012) e Dönmez, Grote e Brusoni (2016) duas questões qualitativas. Nos padrões não observáveis adaptou-se uma questão de Becker e Zirpoli (2008).

O bloco analítico variação repertório individual (1.5) de Nelson e Winter (2005) estruturou-se dois sub-blocos de análise: conhecimentos de técnicas únicas de Teece, Pisano e Shuen (1997) e convenções singulares de Diaz-Bone (2011). No primeiro foram adaptadas 5 questões de Penrose (1959); Lockett, Wiklund, Davidsson e Girma (2011); Peeters, Massini, Lewin (2014); Stiles, Trevor, Farndale, Morris, Paauwe, Stahl e Wright (2015); Eriksson (2015). No segundo emergiram 4 questões qualitativas de Pentland; Haerem, Hillison (2010); Pentland, Feldman, Becker e Liu (2012); Cherman e Pinto (2016); Mutch (2016).

O conjunto de variação conhecimentos tácito e explícito os quais formam o bloco analítico (1.6), a referência está em Arboniés (2009) que resultou em 6 questões construídas com base em Becker e Zirpoli (2008); Peeters, Massini e Lewin (2014); Tippaann, Scott e Mangematin (2014) e Stiles, Trevor, Farndale, Morris, Paauwe, Stahl e Wright (2015). Todas

as respostas obtidas com base nas questões propostas foram analisadas com base nas forças de mercado descritas por Porter (1999), na abordagem outside-in e na estratégia inside-out propostas por Penrose (2006). O objetivo é identificar os fatores apresentados na Figura 26.

Figura 26 - Fatores explicitados com método qualitativo

Fonte: elaborado pelo autor (2016).

A aplicação do roteiro de entrevista qualitativo objetivou identificar os padrões de interação e padrões não observáveis de Becker (1982) e Felin e Foss (2004) a partir da rotina de alto nível da organização em estudo, demonstrando e explicitando o conhecimento tácito dos atores (MARCH; SIMON, 1958). Tem-se ainda o objetivo de agrupar informações de mercado e identificar elementos de aprendizagem que podem fortalecer a regeneração estratégica da organização (TEEC et al., 1992; TRANSFIELD; SMITH, 1998). Objetivou-se ainda detectar o conhecimento singular dos agentes, as contradições das convenções, as estratégias emergentes e as rotinas tácitas que podem apoiar formalmente a organização (PENTLAND; RUETER, 1992; TEECE, PISANO; SHUEN, 1997; DIAZ-BONE, 2011).

Após esse período iniciaram-se as coletas dos dados por meio da entrevista semiestruturada no dia 27 de abril encerrando-se no dia 10 de agosto de 2017, tendo a duração, portanto, de 4 meses. Com vistas aumentar o grau de confiança com o sujeito de pesquisa agendou-se previamente o horário e o local da realização da entrevista, o que demonstra respeito para com o entrevistado (TRIVIÑOS, 2009). As entrevistas eram agendadas com sete dias de antecedência por meio da secretaria executiva da empresa em

estudo. Foram entrevistados 10 coordenadores do nível operacional, 9 gerentes representados pelo nível tático e 10 diretores, correspondentes ao nível estratégico. O número de respondentes fora definido a partir da disponibilidade da empresa. Essa quantidade de entrevista possibilitou a saturação do levantamento de dados para investigação do problema de pesquisa. As entrevistas nos três níveis compreenderam ao total de 15 horas 46 minutos de gravação, que após foram codificadas. O Quadro 8 segue com as entrevistas, níveis e duração.

Quadro 8 - Entrevistados na pesquisa qualitativa

(continua)

NÍVEL OPERACIONAL

Cargo Abreviatura Local Data Horário Tempo

Coordenador de

Melhoria Contínua CMC Sede empresa 27/04/2017 11:40hs 46min.40seg. Coordenador

Qualidade-Comercial CQC Sede empresa 05/05/2017 15:00hs 44min.54seg. Coordenador

Planejamento Comercial

CPC Sede empresa 11/05/2017 10:30hs 48min.50seg. Coordenador

Qualidade Industrial CQI Sede empresa 11/05/2017 13:30hs 28min.37seg. Coordenador

Qualidade Industrial 2 CQI2 Sede empresa 11/05/2017 14:30hs 26min 26seg. Coordenador Compras CC Sede empresa 19/05/2017 10:00hs 29min 39seg. Coordenador

Comercial CCom Sede empresa 19/05/2017 11:00hs 32min 54seg.

Coordenador Industrial CI Sede empresa 19/05/2017 13:30hs 42min 55seg. Coordenador

Comercial Mercado Interno

CCOMI Sede empresa 25/05/2017 10:30hs 38min 50seg. Coordenadora

Recursos Humanos CRH Sede empresa 22/06/2017 09:00hs 23min 06seg.

NÍVEL TÁTICO

Cargo Abreviatura Local Data Horário Tempo

Gerente Plásticos GP Sede empresa 27/04/2017 10:00hs 31min.11seg. Gerente Planejamento

Industrial GPI Sede empresa 27/04/2017 13:30hs 45min.12seg.

Gerente Industrial GI Sede empresa 05/05/2017 14:00hs 37min.30 Seg. Consultor

Independente Marketing

CIM Sede empresa 08/06/2017 09:00hs 44min.19seg. Gerente Engenharia GEP Sede empresa 08/06/2017 08:00hs 37min.26seg. Consultor

Independente Comercial

CIMER 29/06/2017 09:00hs 35min.55seg.

Gerente Exportação GE Sede empresa 30/06/2017 11:30hs 30min.43seg. Gerente Comercial GC Sede empresa 07/07/2017 08:30hs 21min.37seg. Gerente Pós-Venda GPV Sede empresa 14/07/2017 10:30hs 48min.35seg.

NÍVEL ESTRATÉGICO

Cargo Abreviatura Local Data Horário Tempo

Diretor de Qualidade DQ Sede empresa 05/05/2017 07:30hs 48min.14seg. Diretor de Compras e

Logística

DCL Sede empresa 19/05/2017 08:00hs 35min.47seg.

Diretor Financeiro DF Sede empresa 25/05/2017 10:00hs Sem áudio

Diretor de Engenharia DE Sede empresa 02/06/2017 10:00hs 38min.35seg. Diretor de Estratégia DES Sede empresa 08/06/2017 11:00hs 23min.58seg.

CEO CEO Sede empresa 30/06/2017 15:00hs 14min.34seg.

Diretor RH DRH Sede empresa 07/07/2017 10:30hs 22min.13seg.

Diretor Comercial DC Sede empresa 10/08/2017 08:30hs 22min.05seg.

Diretor Marca X DV Sede empresa 10/08/2017 10:00hs 25min.26seg.

Fonte: elaborado pelo autor (2017).

O pesquisador antes de efetuar as entrevistas lia e entregava cópia de termo de consentimento livre e esclarecido dando conhecimento da privacidade do entrevistado garantindo sigilo em termos de nomes, sendo identificado apenas o cargo do colaborador entrevistado. No termo (Apêndice G) também constava a garantia de assistência durante a pesquisa em termos de esclarecimentos adicionais sobre o estudo e suas consequências. Com o consentimento livre do entrevistado iniciava-se a entrevista em profundidade com auxilio de um gravador.