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Na definição e construção do objecto de estudo e tendo em consideração os objectivos propostos, tornou-se desde logo evidente a escolha de uma estratégia metodológica assente fundamentalmente, numa abordagem qualitativa. Esta estratégia impôs-se por várias razões. A complexidade humana representa um dos maiores obstáculos que qualquer investigador enfrenta sempre que o objecto é o Homem. Cada ser humano é singular quanto à personalidade, valores, ambiente social e condutas sociais. O próprio conceito de saúde é variável e carregado de subjectividade. É difícil para uma pesquisa científica - que caracteristicamente foca somente uma parte da experiência humana - apreender de modo abrangente toda essa complexidade. Para minimizar essa limitação, entendi vantajoso optar por uma estratégia assente no modelo qualitativo, que me fornece a perspectiva do indivíduo em análise, dando ênfase à compreensão da experiência vivida, através da recolha de narrações feitos pelo próprio. Este modelo de investigação, também chamado de fenomenológico, surgiu “como modelo alternativo de investigação, cujas raízes intelectuais repousam na tradição filosófica” (Polit e Hungler 1995: 17). As mesmas autoras consideram que este método tem as suas bases assentes em diferentes pressupostos acerca da natureza do ser humano e da forma como deve ser compreendida, salientando a complexidade inerente às pessoas e à sua capacidade de modelar e criar as suas próprias experiências.

Ao escolher apenas quatro serviços de um Hospital Distrital, em vez de os incluir todos e, ao limitar a colheita de dados num período de tempo, estava intencionalmente a restringir o número de casos, para os poder analisar com maior profundidade. Privilegiou-se, deste modo, o método de análise intensiva ou estudo de caso. Segundo Greenwood este método consiste “no exame intensivo, tanto em amplitude como em profundidade, utilizando todas as técnicas disponíveis, de uma amostra particular, seleccionada de acordo com determinado objectivo, de um fenómeno social, ordenando os dados resultantes de forma a preservar o carácter unitário

da amostra, com a finalidade última de obter uma ampla compreensão dos fenómenos na sua totalidade” (Lima 1995: 18).

Por considerar esta problemática, ao nível deste hospital regional, pouco estudada e até mal conhecida, entendi necessário e conveniente orientar-me para um estudo exploratório, podendo a partir daí formular hipóteses, explorar pistas para outras pesquisas e cumulativamente contribuir para melhorar a prática. O interesse centrou-se na descrição crítica da realidade encontrada; consiste num relato essencialmente descritivo, podendo, ao longo do trabalho, ser enriquecido numa perspectiva comparativa e analítica, ao extrair as variáveis que explicam as variações dos comportamentos e atitudes da população estudada.

As grandes vantagens deste método de análise intensiva assentam em três aspectos principais, característicos do próprio método e que se adequam, favoravelmente, ao estudo pretendido. São elas a intensidade, isto é, a multiplicidade de facetas a explorar e com a profundidade e compreensão do fenómeno social; a flexibilidade do próprio método, que se traduz numa selecção e utilização relativamente livres das técnicas a utilizar; e a quantidade de material informativo recolhido sobre as unidades de análise a partir das diferentes técnicas e que enriquecem a pesquisa (Lima 1995).

De acordo com estes princípios metodológicos, recorri a várias técnicas para a recolha de informação, usadas em simultâneo: pesquisa bibliográfica, entrevista estruturada às famílias dos doentes terminais internados nos serviços escolhidos; pesquisa documental feita a partir do processo clínico e individual de cada doente e da observação directa não participante dos actores envolvidos no processo. Foram inquiridas 54 familiares, número possível do conjunto de

± 70 casos.

Em estudos desta natureza, as dificuldades surgem porque apesar da grande quantidade de material informativo, não é possível generalizar com rigor as conclusões para todos os casos, de que são representativos os inquiridos, por não haver aleatoriedade na sua selecção. No entanto, seria metodologicamente inadequado optar por um método de análise extensiva, aplicado a uma amostra representativa obtida aleatoriamente, na tentativa de quantificar as diversas facetas da realidade. Tal era inviável e nem sequer desejável. Seria difícil, nessa análise, controlar o peso das múltiplas interferências introduzidas por variáveis estranhas ligadas às diferenças estruturais e funcionais dos serviços, às diferentes

características das famílias e dos próprios doentes. Naquele caso, impunha-se a adição de uma análise qualitativa, para captar toda a rede de subjectividade implícita.

A preferência pela abordagem qualitativa, pretende reforçar a preocupação em evidenciar mais o significado dos dados do que propriamente encontrar definições técnicas e restritas; “o interesse fulcral da investigação interpretativa ou qualitativa é pelo significado conferido pelos actores às acções nas quais se empenharam” (Lessard et al. 1990).

A investigação qualitativa está, especialmente indicada para estudos em que se pretende descrever um fenómeno ou uma realidade, sobre a qual existe pouca informação; a descrição é feita pelos próprios sujeitos implicados e são os próprios que definem e caracterizam a situação.

Neste estudo, a análise incidirá sobre o conteúdo das entrevistas, registadas por escrito, em impresso próprio; sobre o diário pessoal que fui elaborando paralelamente ao decurso das entrevistas, com base na observação e nos dados retirados dos processos clínicos.

Arquitectei, intencionalmente, o guião da entrevista de forma estruturada, no sentido de aplicar as mesmas questões, numa sequência e ordem invariáveis à globalidade dos inquiridos, podendo, assim, obter resultados comparáveis caso a caso ou no seu todo.

Após a obtenção dos resultados surgem as categorias e a necessidade de quantificar o número de respostas incluídas em cada uma, só assim se revelam significativos os diversos aspectos considerados. A esse respeito, refere Moreira “pelo facto da recolha de dados ser definida como qualitativa, isso não significa que se devam na análise, evitar todos os elementos quantitativos” (Moreira 1994 : 102). A conciliação entre a abordagem qualitativa e a quantitativa é possível e aceitável. Os investigadores combinam, cada vez mais, as duas perspectivas. A tese de um continuum metodológico entre uma e outra é cada vez mais defendida, verificando- se que as abordagens puramente quantitativas, vieram a posteriori propor investigações que tomam em linha de conta os contextos do objecto e a dimensão interpretativa (Boudon 1990).