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Demanda e matrícula na educação de adultos entre 1990 e 2011

CAPÍTULO 2 O PROGRAMA CHILECALIFICA E A CERTIFICAÇÃO DE JOVENS E

2.2. A educação de adultos no Chile a partir dos anos 1990

2.2.1. Demanda e matrícula na educação de adultos entre 1990 e 2011

Em 1990, 482 636 chilenos com 15 anos ou mais não sabiam ler e escrever, representando 5,2% da população dessa faixa etária. Em 2011 eram 340 838, representando 2,5% da população com 15 anos ou mais. O maior percentual de pessoas que não sabem ler e escrever, tanto em 1990 quanto em 2011 refere-se às pessoas com 60 anos ou mais. Quanto menor a faixa etária, menor o número de pessoas analfabetas. Entre 1990 e 2011 houve uma redução significativa do número de analfabetos em todas as faixas etárias, ainda que não tenha mudado a correlação entre as faixas etárias, quer dizer, manteve-se o mesmo comportamento, no qual os mais jovens continuaram a ser os mais alfabetizados, aumentando gradativamente o total de analfabetos conforme avançava a idade. Isso indicou que houve uma política de inclusão dos mais jovens, mas não necessariamente um esforço para alfabetizar aqueles que já estavam em uma faixa de idade mais avançada. Mesmo assim, para Corvalán (2008, p. 56), já em 2003, “considerado en su conjunto el analfabetismo es una temática relativamente menor en Chile, con niveles que alcanzan un 4% de la población mayor de 15 años.

Gráfico 06 – Percentual de pessoas com 15 anos ou mais que não sabiam ler e escrever no Chile por faixa etária entre 1990 e 2011

Fonte: Encuesta CASEN, 1990 e 2011.

Corvalán (2008) também chamou a atenção para os estudos realizados pela OCDE em 1994 e 1998, que mostraram que a população chilena tinha um baixo nível de

1,7 2,7 5,2 9,2 15,8 0,4 0,9 1,9 2,7 7,7 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0 18,0

15 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos 60 anos ou mais

1990 2011

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letramento. Mesmo havendo um número não tão elevado de analfabetos absolutos, grande parte da população alfabetizada apresentava dificuldades para utilizar a leitura e a escrita em suas práticas sociais, o que indica um grave problema que atinge a população jovem e adulta do país.

Este estudio buscó clasificar la población entre 15 y 65 de Chile y otros países en cinco niveles de capacidad lectora, de la manera siguiente: a) el nivel 1 representa un nivel muy insuficiente, lo que podría asemejarse a un cierto analfabetismo para el manejo adecuado en el mundo actual; b) el nivel 2 se refiere a una capacidad muy básica de lectura; c) el nivel 3 señala el punto en que se alcanza un nivel de lectura acorde para el mercado laboral de una sociedad moderna; d) los niveles 4 y 5 dan cuenta de capacidades avanzadas de dominio lector. Los autores concluyen: como se puede apreciar, la situación de Chile es muy insatisfactoria: la mitad de la población nacional entre 16 y 65 años posee una capacidad insuficiente de lectura de documentos, por lo que ha sido clasificada en el nivel 1. (CORVALÁN, 2008, p. 56-57).

Um novo estudo se realizou em 2013 sob a liderança do Centro Microdatos, da Universidade do Chile e da Corporação de Capacitação para a Construção. Seguindo o modelo de avaliação de alfabetismo para adultos proposto pela OCDE a partir dos anos 1990 e a aplicação realizada em 1998, foram entrevistadas pessoas de 15 a 65 anos em três âmbitos: prosa, documentos e quantitativa, que são os mesmos domínios da avaliação IALS proposta pela OCDE, que no Chile foi denominada como SIALS. Os resultados mostraram que não houve significativa mudança entre 1998 e 2013, sendo que somente 1,6% da população obteve os níveis mais elevados de alfabetismo no domínio prosa, 1,4% no domínio documentos e 2,7% no domínio quantitativo. Ao analisar esta avaliação, Carolina, Castilloe Undurraga (2013) informaram que:

De acuerdo con el estudio del Centro Microdatos (2013) un 44,3% de la población adulta se encuentra en situación de analfabetismo funcional en textos, 42% en documentos y 51% en el área cuantitativa. Comparado con los datos del año 1998, prácticamente no hubo avances, salvo que un 7% de la población pasó de tener Nivel 1 a Nivel 2 en cuanto a documentos, según la metodología de clasificación especificada en el mismo estudio. (CAROLINA; CASTILLO; UNDURRAGA, 2013, p. 240).

A fundação Educación 2020, que reúne estudantes, professores e outras pessoas interessada na construção de políticas educativas para o país, elaborou um boletim sobre a nova avaliação realizada, no qual considerou grave o país não ter avançado e ter ocorrido um estancamento das políticas educacionais. Segundo Carlos Figueroa, pesquisador de política educativa da Educación 2020, “este estancamiento es, en realidad, un retroceso. Significa que Chile no está educando a sus niños, jóvenes y adultos para su desarrollo personal y para los desafíos de un país que aspira al generar un desarrollo productivo y democrático” (EDUCACIÓN 2020, 2013, p. 1).

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Aqueles que desejam retomar os estudos no Chile podem recorrer a duas modalidades: regular e flexível. Há também a possibilidade de inserir-se em um programa de validação de estudos, que pode certificar um determinado nível de ensino por meio de provas, sem a necessidade de frequentar qualquer curso presencial. A modalidade regular já existe desde os anos 1980 e a modalidade flexível foi criada em 2000. Há também alguns programas destinados a populações específicas, como a modalidade flexível com apoio de rádio, criado para as zonas rurais, para populações indígenas e pessoas encarceradas. Vamos inicialmente esboçar um quadro geral da modalidade regular, que oferece cursos de educação para jovens e adultos em escolas que contam com sistema de avaliação e certificação formulado pela própria instituição escolar. Já a modalidade flexível, que será objeto especial de atenção, conta com processo de certificação por meio exame nacional realizado pelo Ministério da Educação.

A seguir, o quadro demonstrativo da organização da Educação de Jovens e Adultos na modalidade regular no Chile conforme foi estabelecido no Decreto 257 de 2009, que estabeleceu os objetivos fundamentais e conteúdos mínimos obrigatórios para a educação de adultos.

Quadro 01 – Organização da modalidade regular da educação de jovens e adultos no Chile

Nível mínimaIdade 25F

26 veis Ní- Equivalência Carga horária mínima

Educação Básica Pessoas com 14 anos ou mais sem escolaridade ou inferior ao 4o ano do ensino básico.

3 1educação básica o a 8o ano da

Nível 1: 360 horas anuais e pelo menos 10 horas de aula por semana.

Níveis 2 e 3: 572 horas anuais e pelo menos 16 horas de aula por semana.

Educação média

Científico

humanista 17 anos 2 1o ao 4o ano médio

24 horas semanais em dois anos. Técnico profis- sional 17 anos 3 1o ao 4o ano médio. Recebe certificação como técnico de nível médio. 24 horas semanais e três anos.

Fonte: Mineduc, Chile.

No que se refere à educação básica, desde 2007 o Decreto Exento 584 definiu que, no primeiro nível, os educandos estudariam 5 horas por semana de castelhano e 5

26 Em 2012, o decreto 332 do Mineduc alterou a idade mínima para a educação regular de adultos, fixando

em 18 anos para a educação básica, 17 anos para o primeiro nível da educação média e para 18 anos o ingresso no segundo nível da educação média.

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horas por semana de matemática. Nos demais níveis, acrescentavam-se quatro horas semanais de estudos sociais e de ciências naturais, reduzindo-se para 4 horas semanais a carga horária de matemática e castelhano.

Na educação média científico-humanística, nos dois níveis, o foco está no que se denomina de formação geral. Os estudantes devem se dedicar 4 horas por semana a cada uma das disciplinas: matemática, língua castelhana, estudos sociais, ciências da natureza e inglês (DECRETO 1000 EXENTO, 2009, art. 1o). Existem ainda duas horas adicionais para o que se denomina de formação diferenciada, que segundo o Decreto Supremo 239 de 2004, refere-se a um

[…] tipo de formación que, sobre una previa base adquirida de capacidades y competencias de carácter general, apunta a satisfacer intereses, aptitudes y disposiciones vocacionales de los alumnos, armonizando sus decisiones con requerimientos de la cultura nacional y el desarrollo productivo y social del país (DECRETO SUPREMO 239, 2004, art. 1º).

No Decreto Exento de 2009 se definiu que, na formação diferenciada, devem ser oferecidasdisciplinas optativas de Filosofia, Comunicação e Língua Inglesa ou Educação Física (DECRETO 1000 EXENTO, 2009, art. 4o).

Na educação média técnico-profissional há a mesma carga horária das disciplinas da formação geral no primeiro nível. Nos outros dois níveis, há uma redução da carga horária destas, abrindo espaço para a formação diferenciada e instrumental. O Decreto de 2009 definiu como formação instrumental a presença de cursos relacionados à convivência social, consumo e qualidade de vida, inserção laboral e tecnologia da informação e telecomunicações.

Já a formação diferenciada refere-se à especialização profissional mais específica, incluindo cursos de floresta, produtos de madeira, agropecuária, indústria alimentícia, instalações sanitárias, mecânica industrial, mecânica automotriz, eletricidade, eletrônica, telecomunicações, atenção a idosos e serviços hoteleiros.

(DECRETO 1000 EXENTO, 2009, art. 2o).

É importante destacar que, em 2004 iniciou-se o processo de reforma curricular e de renovação da educação de adultos, que teria como pressuposto o desenvolvimento de uma proposta de educação permanente, a qual deveria permitir que, no contexto do mundo globalizado, as pessoas pudessem ter domínio de conhecimentos, habilidades e atitudes.

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Os três objetivos fundamentais da reforma eram ampliar a cobertura, renovar a oferta e melhorar a qualidade da aprendizagem. (CHILE, 2007, p. 9).

Entre 1990 e 2011, houve um significativo crescimento do número de matrículas na modalidade regular da EDA, saltando de 72795 em 1990 para 146057 em 2011. Em 2009, houve o registro do maior número de matrículas: 159634.

Também chamou atenção como a lógica neoliberal de redução da presença do Estado no campo da educação estava presente na educação de jovens e adultos. O gráfico a seguir mostra que o crescimento observado na educação de jovens e adultos ocorreu fundamentalmente pelo crescimento das escolas privadas subvencionadas. As matrículas da rede municipal tiveram crescimento significativo entre 1998 e 2003, mas começaram a recuar novamente depois disso. Em 1990 eram 61167 matrículas na rede municipal e 4758 na rede privada subvencionada. Já em 2011 eram 69417 na rede municipal e 72207 na rede privada subvencionada.

Gráfico 07 – Matrículas na educação de jovens e adultos na modalidade regular no Chile (1990-2011)

Fonte: Encuesta CASEN, 1990 e 2011.

0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000 80000 90000 100000 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

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Tabela 02 – Chile: Matrículas na educação de jovens e adultos na modalidade regular por dependência administrativa (1990-2011)

Ano

Dependência administrativa

Total Municipal subvencionada Particular Particular pagada Corporações

1990 72795 61167 4758 4263 2607 1991 74361 59328 5138 7771 2124 1992 67217 54032 4900 7935 350 1993 72621 60809 6153 5176 483 1994 72581 60070 6635 5434 442 1995 74061 60560 6770 5544 1187 1996 82924 61268 10192 10803 661 1997 90294 67254 11310 11117 613 1998 97612 72068 13104 11468 972 1999 104396 74831 18591 10151 823 2000 111409 81697 20502 8425 785 2001 117762 84568 26214 6328 652 2002 128062 88413 32906 6195 548 2003 125994 82803 37911 4623 657 2004 130458 82189 43132 4686 451 2005 126049 74408 48318 3064 259 2006 123888 66684 53508 3443 253 2007 120174 62279 54092 3648 155 2008 129489 64218 60898 4276 97 2009 159634 79106 75258 5137 133 2010 144151 69169 69956 4916 110 2011 146057 69417 72204 4357 79

Fonte: Mineduc, dados estatísticos, 2001-2011.

Mesmo tendo aumentado significativamente o número de matrículas entre 1990 e 2011, a demanda potencial por educação de pessoas jovens e adultas continuou a referir- se a quase metade da população do país com 15 anos ou mais, tal qual como ocorria nos anos 1990. Mais uma vez, evidenciou-se que, quanto maior a faixa etária, maior a demanda potencial pela educação de pessoas jovens e adultas. Na faixa de 30 a 39 anos, 9,4% da população não concluiu a educação básica e 21,9% dos que o fizeram, não concluíram a educação média. Na faixa etária de 60 anos ou mais, houve 40,7% de não concluintes do ensino fundamental.

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Tabela 03 - Nível educacional da população do Chile e demanda potencial por educação de pessoas jovens e adultas – 2011

Nível educacional/Faixa

etária 15-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60 ou mais TOTAL

Sem educação formal ou

básica inc. 110525 101006 192690 366944 485390 1074971 2331526

Demanda potencial ed. Básica 7,3 3,6 9,4 16,1 23,3 40,7 17,4

Básica completa e média

incompleta 1038983 444330 450068 664238 671229 886746 4155594

Demanda potencial ed. Média 68,9 15,7 21,9 29,1 32,2 33,6 31,0

População total faixa 15 anos

ou mais 1506874 2828948 2051794 2279502 2087647 2638351 13393116

Fonte: Encuesta Casen, 2011.

A manutenção de uma grande demanda potencial por educação de adultos no Chile, apesar do crescimento das matrículas ao longo desses anos, se explica, em parte, pela sensível mudança do perfil etário da população nesse período. Houve uma redução da população mais jovem e um crescimento da população com 30 anos ou mais. Assim, a demanda por educação da população dessas faixas etárias superiores passou a ser maior, uma vez que grande parte também não concluiu a educação básica na idade esperada. De qualquer forma, ficou evidente a insuficiência da política pública de EDA para atender a demanda potencial, uma vez que o total de matrículas em 2011 estava próximo de 175 mil pessoas na educação de jovens e adultos considerando a modalidade regular e a modalidade flexível. No entanto, havia 6,4 milhões de chilenos com 15 anos ou mais frequentando algum tipo de formação básica ou média. Isso significa que apenas 2,7% da demanda estava sendo atendida nesse ano.

Gráfico 08 – População do Chile por faixa etária em percentual – 1990 e 2011 Fonte: Encuesta Casen, 1990, 2011.

O aumento de vagas para a educação de pessoas jovens e adultas não conseguiu efetivamente fazer que essas pessoas concluíssem a educação básica e média.

28,4 9,6 19,1 14,4 10,6 7,8 10,1 21,0 8,9 16,7 12,1 13,4 12,3 15,6 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 0-14 15-19 20-29 30-39 40-49 50-59 60 ou mais 1990 2011

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Em 2011, na educação básica regular de adultos, 30,3% dos estudantes abandonaram o curso, enquanto outros 19,8% foram reprovados, de modo que metade dos matriculados não concluíram esta etapa. No ensino médio, ocorreu o mesmo fenômeno, sendo que cerca de 32% abandonaram o curso e cerca de 18% foram reprovados (MINEDUC, 2011, p. 46-48).

Ao observar as matrículas na modalidade regular da educação de jovens e adultos, houve uma grande concentração na educação de nível médio e um número mais reduzido de matrículas em turmas da educação básica, havendo um crescimento das matrículas no ensino médio enquanto a educação básica permaneceu no mesmo patamar entre 2001 e 2011.

O ensino médio na modalidade regular da educação de jovens e adultos se dividiu em dois formatos: científico humanista e técnico profissional. O primeiro modelo absorveu a maioria das matrículas entre 2001 e 2011. Eram 82490 em 2001 e 109594 em 2011. Já o formato de curso técnico profissional reunia apenas 11457 educandos em 2001 e 13265 em 2011. Assim, apesar do discurso existente no país ao longo dos anos 1990 sobre a falta de mão de obra especializada, o ensino técnico profissional não conseguiu ampliar significativamente o número de matrículas, predominando a opção de jovens e adultos pelo ensino científico humanista, o qual pode ser porta de entrada para o nível superior, que possui maior valor social do que o ensino técnico. No que se refere às faixas etárias, em 2002, por exemplo, 87,8% dos estudantes do ensino médio técnico profissional tinham entre 15 e 29 anos, enquanto 85,1% estavam nessa faixa etária no ensino médio científico humanista. Em 2007, ocorreu maior concentração de jovens no ensino científico humanista, de modo que 80,6% tinham entre 15 e 29 anos e apenas 62,5% dos estudantes com a mesma faixa etária estavam no técnico profissional. A mesma tendência se repetiu em 2008, com 69,3% dos estudantes entre 15 e 29 anos no formato técnico profissional e 84,5% no formato científico humanista. É evidente que, em qualquer um dos formatos, a grande maioria dos estudantes da educação média da EDJA na modalidade regular eram jovens entre 15 e 29 anos.

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Gráfico 09 – Matrículas na educação de jovens e adultos na modalidade regular da educação básica e média no Chile (2001-2011)

Fonte: MINEDUC, Centro de Estudios. Estadísticas 2001-2011.

Por fim, é possível constatar ainda que, conforme avançou a idade, cresceu o interesse pela formação técnico-profissional, certamente pela necessidade de inserir-se mais rapidamente no mercado de trabalho. Quanto aos mais jovens, de 15 a 19 anos, a busca pelo ensino superior pareceu ganhar mais força do que a formação técnica.

Tabela 04 - Percentual de estudantes na educação média técnico-profissional de adultos por faixa etária (2002 – 2008)

Idade/

Formato CH 2002 TP CH 2007 TP CH 2008 TP

15-19 89,5 10,5 96,7 3,3 94,6 5,4 20-24 82,5 17,5 90,1 9,9 88,4 11,6 25-29 81,9 18,1 84,1 15,9 82,8 17,2

Fonte: Mineduc, Centro de Estudios, Estadísticas de la educación, 2002, 2007 e 2008.