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Desafios e oportuniDaDes para o futuro

No documento 7Mielitz (páginas 130-133)

De acordo com as principais informações e ideias que foram apresenta- das ao longo do texto, espera-se ter reforçado o argumento de que há um duplo desafio no futuro próximo. Por um lado, buscar novas formas e alternativas de inclusão social e produtiva de milhões de estabelecimentos agropecuários espalhados pelo Brasil, embora se reconheça que há uma forte concentração deles na região Nordeste (Alves et al., 2013). Por outro, consolidar a competi- tividade da agricultura brasileira nos mercados interno e externo, dada a sua importância no atual estágio de desenvolvimento do país.

Para superar esses desafios – que, vistos por outro ângulo, também se colocam como grandes oportunidades para as instituições vinculadas ao mundo rural e agrícola brasileiro –, conta-se com um acúmulo de conhecimentos e tec- nologias, gerados nas últimas décadas em instituições que compõem o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA), que precisam chegar efetivamente aos diversos públicos beneficiários, respeitando-se, é claro, suas realidades e di- ferentes contextos sociais, econômicos, ambientais, culturais e organizacionais. Para tanto, é fundamental que tudo isso seja sincronizado e fomentado, de forma adequada, pelas políticas públicas voltadas tanto para o setor agropecuário (cré- dito, ciência e tecnologia, comercialização, assistência técnica e extensão rural, agregação de valor, sanidade, entre outras) quanto para o desenvolvimento rural (transporte, saúde, educação, formação profissional, comunicação, habitação, segurança alimentar e nutricional, entre outros).

No entanto, também há novos e complexos temas que exigirão um papel de relevo das instituições de pesquisa agropecuária na promoção do avanço do

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conhecimento e no provimento de efetivas soluções tecnológicas15, todos eles permeados pelos desafios da sustentabilidade, que cada vez mais acompanha- rão de perto os caminhos da humanidade.

Em função disso, é importante resgatar uma proposição presente em Silva et al. (2006): os novos modelos de inovação deverão proporcionar e induzir que

(...) cada vez mais a pesquisa agropecuária pública precisa intensificar esfor- ços para a formulação de projetos cujos atributos sejam influenciados por uma visão de mundo em que o contexto seja a referência para as iniciativas de P&D, a interação seja a estratégia crítica para assegurar a criação de espaços democráticos para a participação do maior número possível de atores sociais e institucionais, e a ética seja transformada na premissa central do compro- misso com a sustentabilidade de todas as formas e modos de vida constituti- vos dos grandes biomas do país.

Para isso, novas redes, novas abordagens, novos métodos e novas formas de parceria e financiamento precisarão ser fomentados, principalmente para se atender aos segmentos até então excluídos do processo.

Como se preconiza que a inovação só ocorre quando os novos conheci- mentos e tecnologias são efetivamente incorporados aos processos produtivos e sociais, há uma grande expectativa com uma iniciativa recente do gover- no brasileiro, que se trata do encaminhamento de um Projeto de Lei (PL nº 5.740, de 6 de junho de 2013) com o objetivo de criar a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater)16. Segundo o referido projeto, compete à Anater:

I – promover, estimular, coordenar e implementar programas de assis- tência técnica e extensão rural, com vistas à inovação tecnológica e à apropria- ção de conhecimentos científicos de natureza técnica, econômica e social; 15. Entre eles, podem ser citados: mudanças climáticas; sistemas sustentáveis de produção, incluindo a produção orgânica e agroecológica; novas fontes de fertilizantes com fontes renováveis; novos produtos da agrobiodiversidade em todos os biomas; automação da produção agropecuária; agroenergia; nanotecnologia; novos sistemas de produção para as regiões semiáridas; ganhos de produtividade em várias atividades, com redução de custos e do gap entre agricultores e regiões produtoras; acesso e manejo de recursos genéticos, com participação das comunidades; recursos hídricos.

16. “Art. 1º Fica o Poder Executivo federal autorizado a instituir Serviço Social Autônomo com a finalidade de promover a execução de políticas de desenvolvimento da assistência técnica e extensão rural, especialmente as que contribuam para a elevação da produção, da produtividade e da qualidade dos produtos e serviços rurais e para a melhoria das condições de renda e de desenvolvimento sustentável no meio rural.

§ 1º O Serviço Social Autônomo de que trata o caput, pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos, de interesse coletivo e de utilidade pública, denomina-se Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater).”

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II – promover a integração do sistema de pesquisa agropecuária e do sistema de assistência técnica e extensão rural, fomentando o aperfeiçoamento e a geração de novas tecnologias e a sua adoção pelos produtores;

III – credenciar e acreditar entidades públicas e privadas prestadoras de serviços de assistência técnica e extensão rural;

IV – promover programas e ações para a qualificação dos profissionais de assistência técnica e extensão rural;

V – contratar serviços de assistência técnica e extensão rural conforme disposto em regulamento;

VI – articular-se com os órgãos públicos e entidades privadas para o cumprimento de seus objetivos;

VII – colaborar com as unidades da federação na criação, implantação e operação de mecanismo com objetivos afins aos da Anater;

VIII – monitorar e avaliar os resultados dos prestadores de serviços de as- sistência técnica e extensão rural com quem mantenham contratos ou convênios. Parágrafo único. Os incisos II e IV serão realizados em estreita colabora- ção com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

O futuro dirá se a estratégia de funcionamento da nova agência e sua efetiva integração com o sistema de pesquisa agropecuária surtirão os efeitos esperados, contribuindo para um novo patamar de inclusão e desenvolvimen- to da agricultura e do rural no Brasil17.

Uma última colocação diz respeito à cooperação entre setor público, setor privado e sociedade civil, que é imprescindível para melhorar o desem- penho da pesquisa agropecuária. “As chamadas alianças estratégicas entre o setor público e o privado devem romper esse binômio para incluir também a participação de outros setores da sociedade, cujo papel é representar os que não conseguem ser representados pelas leis da oferta e demanda do merca- do”. Nesse sentido, “o Estado continua exercendo um papel indutor de P&D para a agricultura, em temas, problemas, desafios e questões de interesse público, apesar da tendência para a importância ampliada de participação

17. O desafio é imenso, e o cenário atual é distinto. Nos anos 1990, os prognósticos não eram nada otimistas em relação a esta janela que ora se abre. “Em alguns estados, elas (instituições públicas de assistência técnica e extensão rural) foram praticamente sucateadas. Em outros, tentam encontrar novas formas de organização institucional que permitam garantir alguma prestação de serviço aos agricultores, mesmo que muito precária. Ao mesmo tempo, a insuficiência dos esquemas de assistência técnica oficial tem sido superada, em alguns casos, pelo trabalho de cooperativas, de ONGs e de indústrias integradoras. É difícil imaginar que as redes de assistência técnica estatais possam ser remontadas e desenvolvidas, para que venham a ajudar uma boa parte dos agricultores familiares. Por isso, é necessário procurar um novo caminho, que evite os problemas anteriores. Ou seja, tem-se aqui como pressuposto que os sistemas de assistência técnica montados pela Administração Pública já deram o que tinham que dar. É hora de superá-los” (Veiga, 1997).

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do setor privado, que ocupa um lugar cada vez de maior destaque, mas que ainda não é suficiente para representar os interesses (públicos) da maioria” (Silva et al., 2006).

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