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3 PROCESSO ELETRÔNICO COMO FORMA DE EFETIVAÇÃO DO ACESSO À

3.2 Experiência prática do Tribunal Regional Federal da 4ª Região

3.2.3 Desafios a serem enfrentados

Embora seja perceptível a importância do emprego da tecnologia a favor do Judiciário, observa-se que muitas pessoas são contrárias à ideia de adoção destas medidas inovadoras. Para tanto, uma das justificativas seria a de que o meio digital geraria insegurança, devido à facilidade com que os chamados crackers35 invadem

os sistemas informatizados, roubando dados, alterando-os ou apagando-os. Em relação a alegada insegurança, tal justificativa não merece acolhimento, pois sempre

35 Em relação ao termo “cracker”, faz-se a seguinte ressalva: o termo “cracker” costuma ser

confundido com “hacker”. Todavia, “em informática, o hacker é um indivíduo que se dedica, com intensidade incomum, a conhecer e modificar os aspectos mais internos de dispositivos, programas e redes de computadores”, usando seus conhecimentos para aprimorar os componentes de segurança. Já “cracker é o termo usado para designar o indivíduo que pratica a quebra (ou cracking) de um sistema de segurança, de forma ilegal ou sem ética”. Assim, os “hackers que usam seu conhecimento para fins imorais, ilegais ou prejudiciais são chamados crackers”. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Hacker> e <http://pt.wikipedia.org/wiki/Cracker>. Acesso em 05 set. 2013.

que existir má-fé, existirá insegurança. Nesse sentido, os autos processuais físicos também estão sujeitos a diversas ameaças, como folhas sumindo, sendo extraviadas, adulteradas, queimadas, rasgadas, ou até mesmo autos inteiros não sendo devolvidos ou desaparecendo de dentro dos cartórios judiciais. Dessa forma, muitos destes problemas poderiam inclusive ser evitados com o processo eletrônico, o qual traz mais benefícios do que prejuízos em relação a sua segurança e preservação.

Quanto a segurança do sistema, há constantes backups, que consistem em cópias dos dados de um dispositivo para outro, objetivando recuperá-lo posteriormente, sendo similar a uma segunda via do arquivo, que pode ser feita por todas as partes envolvidas no processo. Ademais, em relação a possibilidade de adulteração de documentos, há previsão no art. 11, §3º da Lei 11.419/2006 de que os documentos originais que forem anexados por quaisquer das partes deverão ser preservados pelo detentor até o trânsito em julgado da sentença, ou, se for o caso de admissão, até o prazo final para interposição de ação rescisória. Assim, como tais documentos já existem materialmente, observa-se a importância de tal armazenamento, possibilitando verificação de tentativas de fraudes, bem como a responsabilização de quem tentar burlar o sistema.

Verifica-se, ainda, que parte dos operadores do Direito está acostumada a se dirigir ao fórum, para protocolar a sua petição e receber o carimbo, razão pela qual não veem com bons olhos essa nova realidade processual. Todavia, a evolução tecnológica não pode ser obstada pelo medo e pelo conservadorismo. O processo eletrônico deve utilizar a devida proteção tecnológica do sistema, utilizando sistemas anti-invasões, os quais devem estar sempre evoluindo para estar à frente da tecnologia dos invasores virtuais, assim como já ocorre com outros sistemas disponibilizados através da internet. Como exemplo é possível citar o pagamento de contas bancárias pela utilização segura da Internet, bem como a realização da Declaração de Imposto de Renda de Pessoa Física. Os avanços tecnológicos estão em constante aperfeiçoamento e o processo eletrônico, embora visto com descrença por alguns, tem potencial para substituir o processo físico.

Todavia, outros desafios são a uniformização dos procedimentos adotados pelos Tribunais e a integração entre os sistemas. Isso porque existem tantos modelos de processo eletrônico quanto o número de Tribunais Regionais Federais, bem como há sistemas sendo desenvolvidos para o STF, STJ, assim como para os

Tribunais Estaduais. Tal problema decorre da autonomia administrativa dos órgãos do Poder Judiciário e da faculdade conferida pela Lei de informatização do processo judicial para os Tribunais implementarem sistemas eletrônicos de processamento de ações judiciais, o que acaba gerando uma diversificação de sistemas que cada tribunal poderá adotar, sem uma unificação mínima dos procedimentos que permita a interoperabilidade, a fim que de os sistemas “se conversem”. A unificação dos procedimentos acaba sendo um grande entrave ao desenvolvimento do processo eletrônico como um todo, pois o advogado que quiser ajuizar uma demanda no TRF4, utilizando-se do e-proc, deverá estar atento ao regulamento seguido por esta Corte (no caso, a Resolução nº 17, de 26 de março de 2010). Todavia, caso queira ajuizar uma demanda em outra localidade, também deverá se certificar dos procedimentos a serem adotados naquele outro juízo.

Nesse sentido, importante e necessária é uma padronização mínima das regras de regência do processo eletrônico em todo o Brasil, bem como a criação de sistemas interoperáveis, facilitando a utilização pelos usuários. Isso “porque não é razoável que o usuário tenha que aprender a utilizar diversos sistemas de processo eletrônico, um para cada Tribunal de Justiça, um para cada Tribunal Regional Federal, etc” (GAZDA, 2011, pp. 181-182). Ademais, a compatibilização entre os sistemas torna-se imprescindível, a fim de se possibilitar que uma ação possa ser remetida eletronicamente entre os diferentes Tribunais e Justiças, em caso de declínio de competência, por exemplo, bem como para que os recursos possam seguir na via eletrônica, quando remetidos para os Tribunais. Salienta-se que o que se defende aqui é uma padronização mínima das regras dos Tribunais e a possibilidade de interoperabilidade entre os sistemas adotados, mas não a imposição de um sistema único, como parece querer o CNJ.

Quanto a essa questão, cabe mencionar que o CNJ vem trabalhando na padronização, todavia buscando instituir o sistema do Processo Judicial Eletrônico (PJe) como sendo o processo judicial informatizado no Poder Judiciário. Nesse sentido, inclusive já elaborou uma minuta de resolução a qual “definirá as regras para a implantação e o funcionamento do Processo Judicial Eletrônico (PJe) nos tribunais de todo o País” (Agência CNJ, 2013). Embora o relator que vai levar a proposta a votação no Plenário do CNJ, conselheiro Rubens Curado, afirme que a resolução “não obrigará nem dará prazo para que os tribunais troquem de sistema” (CRISTO, 2013), a alegada facultatividade é uma falácia, considerando que o artigo

44 da minuta, além de proibir a criação, contratação e instalação de novas soluções de informática para o processo judicial eletrônico, ainda não em uso em cada tribunal, veda a realização de investimentos nos sistemas já existentes, ressalvando apenas as manutenções necessárias ao funcionamento. Dessa forma, caso seja aprovada a resolução com a atual minuta, indiretamente obrigaria os tribunais a adotarem o PJe do CNJ, pois os sistemas em uso nos tribunais que já adotam outras formas de processo eletrônico tenderiam a se tornarem obsoletos e defasados.

Cabe registrar que obrigar a utilização de um sistema que ainda está em desenvolvimento, visto que o PJe surgiu em 2009, e sequer funciona de forma adequada, seria um grande retrocesso a tudo o que já foi desenvolvido a título de processo eletrônico, especialmente em relação ao e-proc desenvolvido pelo TRF4, que foi o pioneiro na informatização dos processos judiciais. Destaca-se que, segundo Sérgio Tejada Garcia, “O eProc é o único sistema de processo eletrônico no mundo que absorve 100% das ações judiciais, desde as ações cíveis em geral, de todas as classes, até as ações penais, incluindo todos os seus incidentes, sigilosos ou não, contemplando diversos níveis de sigilo processual, que o PJe do CNJ sequer planeja ter.” (GARCIA, 2013).

A resolução, da forma como se encontra minutada, prejudicaria os tribunais em estágio avançado no desenvolvimento do processo eletrônico, como é o caso do TRF4, sendo que a migração para o PJe, neste momento, seria um processo caro, demorado e retrógado. Antes de ocorrer uma possível unificação dos sistemas, é necessário que primeiro haja uma padronização mínima das regras de regência do processo eletrônico, pois embora exista a Lei do Processo Eletrônico, que é nacional, são diversas as resoluções próprias criadas por cada Tribunal com determinações específicas. Também é preciso que ocorra a interoperabilidade entre os sistemas existentes, permitindo que haja uma “conversação” que possibilite a remessa de processos entre os tribunais com diferentes sistemas. Por fim, o sistema a ser escolhido para ser adotado como padrão necessita alcançar o grau dos atualmente no mercado, pois segundo bem assinalado pelo presidente do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul, desembargador Joenildo de Sousa Chaves,

[...] a substituição de software em elevado grau de aprimoramento e efetividade por alternativa pública de menor envergadura compromete sobremaneira os princípios da eficiência, razoabilidade, vedação ao retrocesso social e livre iniciativa decorrentes do regime constitucional vigente (CRISTO, 2013).

Também analisando os desafios a serem enfrentados pelo processo eletrônico, Tejada Garcia (2006) manifesta que:

Evidentemente que, em que pese ser o processo eletrônico o melhor remédio para desburocratizar a Justiça, torná-la mais ágil e econômica, etc., tem também seus defeitos, que, por certo, são superados pelas vantagens. É muito comum usuários reclamarem do desconforto de ler petições diretamente na tela do computador, ou muitas vezes terem que examinar documentos mal digitalizados ou poucos legíveis. Há também, eventualmente, problemas de velocidade de rede de acesso à Internet. Há ainda limitações no desenvolvimento do software, que nem sempre contempla todas as situações que surgem no dia-a-dia do processamento de causas judiciais (GARCIA, 2006).

Dessa forma, segue o autor afirmando que deve haver investimento para os problemas serem superados, visto que o processo eletrônico recebeu muito pouco investimento por parte do Poder Judiciário (GARCIA, 2006). Isso porque o objetivo que sempre se buscou com o projeto foi de melhoria da prestação jurisdicional e não lucro financeiro. Todavia, para Garcia (2006), alguns dos servidores dispensados dos setores de distribuição poderiam ser deslocados para trabalhar na melhoria do programa informático. Também pelo menos uma parte dos valores economizados até agora com materiais de expediente, especialmente papéis, bem como com os aluguéis de espaços para arquivos, poderiam ser redirecionados para investimento na melhoria de equipamento e das condições de trabalho da equipe de servidores que cuidam do processo eletrônico.

Em relação aos operadores que trabalham continuamente com o processo eletrônico, há que se destacar a crescente preocupação em relação à saúde ocupacional destes. Isto porque o uso prolongado do processo eletrônico, de maneira exaustiva, tende a provocar doenças ocupacionais, sendo necessária a implantação de medidas preventivas, como forma de política institucional. Considerando que o processo eletrônico modifica a forma de trabalho das pessoas, é necessário “aprender a trabalhar dessa nova maneira sem que aumentem os riscos de adoecimento” (GAZDA, 2011, p.196). Assim, na Justiça Federal da 4ª Região algumas interessantes medidas já foram implantadas, tais como:

[...] o uso de 2 monitores de LCD em cada computador, diminuindo o esforço e cansaço visual, a aquisição de móveis ergonômicos, a criação de escola de postura pela Direção do Foro de Santa Catarina36, o incentivo à realização de intervalos de 10 minutos a cada 50 trabalhados em frente ao computador, a realização de ginástica laboral, realização de palestras sobre saúde ocupacional, entre outras (GAZDA, 2011, p. 196).

36 A Direção do Foro da Seção Judiciária do Rio Grande do Sul também já implantou e mantém

Segundo Emmerson Gazda (2011), tais medidas servem como início para uma reflexão mais profunda que deve ser feita sobre a questão. Nesse sentido, como há um ganho considerável de tempo na tramitação do processo com o uso do processo eletrônico, é razoável que o Judiciário destine parte deste tempo em assegurar a prevenção dos usuários do sistema contra os riscos que ocorrem com o uso exaustivo das novas tecnologias da informação.

Há que se salientar ainda, quando se fala de informática e direito, a questão da inserção digital, que é um ponto que vem sendo debatido no mundo inteiro. Esse, talvez, seja o maior desafio relativo ao sucesso do processo eletrônico. Segundo Almeida Filho (2012, p. 95), com “a inserção digital, teríamos a implantação do Processo Eletrônico de forma mais eficaz e, com isto, a concretização de um ideal, que é o da Justiça célere”. Observa-se que o progresso do sistema processual eletrônico está diretamente ligado com o desenvolvimento das novas tecnologias, especialmente a internet, tanto na sua face tecnológica, quanto em relação a sua expansão, a fim de favorecer a inclusão digital. Para uma real inclusão digital, o indivíduo deve ter consciência da apropriação da tecnologia, sendo capaz de tomar decisões sobre como, quando e para que utilizá-la.

Em relação a tal assunto, sabe-se que nem toda a população está incluída digitalmente. Todavia, foi identificado através de pesquisas realizadas no Grupo de Pesquisas da Universidade Católica de Petrópolis, Direito Econômico e Cidadania, devidamente registrado no CNPq, que “há uma parcela grande da sociedade que possui acesso à Internet, mas somente a utiliza para jogos etc” (ALMEIDA FILHO, 2012, p. 95), não se dando conta do instrumento de efetivação da cidadania que possuem. Nesse sentido, é importante que sejam elaboradas políticas públicas de conscientização e inclusão digital, contando com o auxílio da própria sociedade civil, a fim de reduzir o déficit educacional e tecnológico que pode ser um empecilho para a realização do processo eletrônico.

Como já mencionado anteriormente, na análise do princípio da igualdade, vários programas estão sendo implantados para a efetivação de uma maior inclusão digital. Todavia, salienta-se que a exclusão digital está diretamente relacionada com a exclusão social, sendo uma de suas formas de manifestação. Nesse sentido, conforme destacado por Rodrigues (2005), embora tenham efeitos positivos as reformas processuais e criação de novas leis, tais instrumentos são paliativos de um sistema precário que urge por modificações estruturais, visto que:

Não se resolverão os problemas da administração da justiça sem uma política séria de ampliação do alcance do acesso à justiça que passe por uma melhor distribuição de renda, pela ampliação das oportunidades de trabalho, pelo pleno acesso à educação de qualidade, pelo combate à corrupção e ao nepotismo ainda presentes em parte da estrutura estatal e judicial e por uma verdadeira revolução no campo da técnica processual, que deve passar não mais por meras reformas, mas por reformas radicais ou, quem sabe, pela substituição do próprio sistema (RODRIGUES, 2005, p. 285).

Porém, embora muito ainda seja necessário fazer para uma plena inclusão digital, não é possível atribuir à internet a culpa pelas mazelas que a sociedade vem sofrendo há muito tempo. O cerceamento do uso da internet e das novas tecnologias, como o processo eletrônico, não irá solucionar os problemas de exclusão social de grande parte da população. É necessário mais investimentos na área, possibilitando que cada vez mais aumente o número de pessoas com acesso a tais tecnologias e integradas com o mundo globalizado. Cabe ao Estado promover políticas públicas de inclusão social, fornecendo o suporte que por preciso para garantir os serviços de assistência judiciária à população que não tiver meios próprios de obter o acesso a tais recursos.

Nesse sentido, reforça-se o fato de que na implantação do processo eletrônico na 4ª Região, a Justiça Federal, conforme apontado pelo juiz federal João Batista Lazzari (2007), tem realizado treinamentos sobre a utilização do sistema, bem como fornecido o suporte necessário a fim de permitir o trabalho dos advogados que não disponham de acesso à internet e/ou sistema de digitalização de documentos. Assim, cada Subseção Judiciária possui à disposição uma sala com computador conectado à internet e scanner de alta velocidade para envio de petições, consultas processuais e escaneamento de documentos a serem anexados ao processo eletrônico. Também os serventuários da justiça prestam o auxílio necessário, garantindo que a adoção do sistema virtual não cause qualquer dificuldade no acesso à justiça. Ainda, é disponibilizado para os usuários, no próprio sistema, um manual contendo todos os passos para acessar e peticionar no processo eletrônico.

Dessa forma, ainda conforme Lazzari (2007), é possível afirmar que o grande desafio atual “é vencer as resistências quanto ao avanço da informatização do processo judicial, para que seja possível a construção de um novo modelo de prestação jurisdicional que atenda aos anseios e necessidades de todos os cidadãos”. Observa-se que quando do surgimento do computador, também

ocorreram muitas resistências iniciais, sendo que hoje, praticamente todas as ultrapassadas máquinas de escrever foram substituídas por computadores. Ademais, a utilização do computador e da internet está cada vez mais difundida, sendo que como afirmava Hugo Leonardo Penna Barbosa, já em 2007:

Compramos pela Internet, pesquisamos pela Internet, alguns até namoram pela rede. O computador serve não apenas para buscar informações, mas também para divulgá-las e, muito mais importante que tudo isso, hoje nós escolhemos nossos representantes pela votação eletrônica, superando inúmeros países mais desenvolvidos do que nós (BARBOSA, 2007, p. 86). Há que se salientar que o problema do efetivo acesso à justiça, além de residir nos fatores econômicos e socioculturais, também está presente no impacto das novas tecnologias nos sistemas judiciários tradicionais, os quais estão assoberbados pela cultura burocrática e tem resistência a implantação de um novo modelo procedimental. Isso porque toda mudança gera críticas e polêmicas, porém é importante a consciência da necessidade do Judiciário adotar medidas urgentes para cumprir seu objetivo essencial de resolver os conflitos de forma ágil e efetiva. Dessa forma, acredita-se que a informatização da justiça com o processo eletrônico interessa a todos os cidadãos, frente a necessidade de acompanhar o avanço tecnológico da sociedade, sendo uma forma de efetivação do acesso à justiça, como se verá no item a seguir.

Em relação à resistência ao novo sistema, cabe referir também que outros fatores de críticas são as alegações de que o processo eletrônico poderia não ser benéfico a todos os tipos de conflitos, bem como de que ele geraria distanciamento entre as partes, advogados e o juiz, com um risco de desumanização do processo. Quanto a tais manifestações, inicialmente observa-se que em relação aos tipos de conflitos que podem ser abrangidos pelo processo eletrônico, verifica-se que não há restrições, tanto que na Justiça Federal da 4ª Região todas as ações novas, desde 26/03/2010, estão sendo processadas pelo meio eletrônico. Embora a implantação ocorra de forma gradativa, com algumas resistências iniciais para algumas matérias, após verifica-se que todas as ações são adaptáveis ao processo eletrônico. Tanto é assim que cabe citar, a título de curiosidade, visto que o presente trabalho tem o foco na Justiça Federal da 4ª Região, o exemplo do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, que na Comarca de Fortaleza, no Fórum Clóvis Bevilaquá, já implantou o

processo eletrônico nas seguintes Varas37: Criminais, Execução Penal, Fazenda

Pública, Execução Fiscal e Crimes contra a ordem tributária, Família, Infância e Juventude, Tóxicos, Trânsito, Penas Alternativas, Júri, Justiça Militar, Falências e Recuperações Extrajudiciais, Sucessões, Registros Públicos, Cíveis e Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. Salienta-se que pesquisa38realizada nas Varas da Fazenda Pública da Comarca de Fortaleza revelou que o andamento das ações em meio eletrônico é, em média, sete vezes mais rápido que o modo tradicional, em papel, o que demonstra que a implantação do processo eletrônico tem proporcionado maior celeridade ao trâmite dessas ações. Já nas Varas de Família do Fórum Clóvis Beviláqua ocorreu um aumento, em setembro de 2011, de cerca de 57% das sentenças proferidas em relação à média que era alcançada antes da virtualização39.

Quanto à alegação de desumanização que seria provocada pelo distanciamento entre juiz, partes e advogados, Flávio Luiz Yarshell (2013) ilustra que, “se hoje, muitos magistrados recusam-se a receber advogados – a pretexto de que protocolada a petição, a conclusão é automática e o que houver para ser dito deve ser expresso no papel – é lícito supor que a forma eletrônica reforçará esse distanciamento”. Todavia, há que se ressaltar que ainda que o processo seja eletrônico, as partes envolvidas no processo são seres humanos, sendo que a relação não deve ser desumanizada, o que depende especialmente do juiz. Nesse sentido, não é o processo eletrônico que pode desumanizar a relação, mas sim a forma como os juízes entendem o processo e utilizam-se da tecnologia. Tanto é assim, que há juízes inclusive promovendo uma maior aproximação com os advogados, utilizando-se das tecnologias para abrir novos canais de comunicações. Um exemplo é o da Ministra do STJ Fátima Nancy Andrighi, a qual “inovou ao propor atendimento de advogados pela tecnologia do skype (sem prejuízo, ao menos até