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2 O TEMPO DO PROCESSO: PRINCÍPIO DA CELERIDADE E RAZOÁVEL

2.3 Duração do processo no Brasil e novas alternativas nascidas com a

2.3.2 Mecanismos de aceleração do processo

Através do presente estudo, verifica-se que a morosidade processual é decorrente de diversas causas. Porém, com o objetivo de reformar o Judiciário, além do inciso específico prevendo a celeridade e razoável duração do processo, diversos outros dispositivos presentes na EC nº45/2004 podem ser apontados como importantes para garantir o direito à prestação jurisdicional em um prazo razoável, bem como várias alternativas foram apresentadas a fim de proporcionar o acesso à justiça com a tão almejada duração razoável do processo.

Nesse sentido, a EC nº 45/2004, dentre outras alterações constitucionais, introduziu: a) a proporcionalidade entre o número de juízes na unidade jurisdicional e a efetiva demanda judicial e a respectiva população (art. 93, XIII, CF); b) funcionamento ininterrupto da atividade jurisdicional (art. 93, XII, CF); c) distribuição imediata dos processos em todos os graus de jurisdição (art. 93, XV, CF); e d) instituição do Conselho Nacional de Justiça (art. 92, I-A e art. 103 –B, CF). Importante mencionar ainda a “previsão de real cumprimento do princípio do acesso à ordem jurídica justa, estabelecendo-se a Justiça itinerante e a sua descentralização” (LENZA, 2011, p. 633), conforme previsão dos artigos 107, §§2º e 3º; 115, §§1º e 2º e 125, §§ 6º e 7º da CF.

Segundo Hote (2007), as mudanças trazidas pela Reforma do Poder Judiciário consistem, resumidamente, na:

a) Atividade jurisdicional ininterrupta com a proibição de férias coletivas em todas as áreas da Justiça; b) Criação de novas normas acerca dos deveres e direitos dos magistrados; c) Estabelece algumas regras sobre a estrutura

do Poder Judiciário; d) Cria órgão administrativo com poder disciplinar e censório, o Conselho Nacional de Justiça; e) Estabelece ouvidorias de justiça no âmbito das Justiças da União e dos Estados, visando captar sensações e reclamações dos cidadãos em relação aos órgãos do Judiciário; f) Possibilita a criação de súmulas vinculantes pelo Supremo Tribunal Federal; g) Na alteração na competência originária e recursal do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, em relação à admissibilidade de recurso extraordinário e especial; h) Necessidade do requisito da repercussão geral para a admissibilidade do recurso extraordinário; i) Distribuição imediata de todo feito ou recurso, perante todo juízo ou tribunal; j) Recomenda o automatismo judicial, para que juízes deleguem a serventuários da justiça a prática de atividades administrativas e atos de impulso processual sem cunho decisório; k) Apresenta uma série de disposições sobre o Ministério Público; l) Cria um Conselho Nacional do Ministério Público e ouvidorias do Ministério Público (HOTE, 2007, p. 471). Na mesma linha, cabe mencionar, nos dizeres de Carvalho (2005, p. 222), algumas das inovações que igualmente incorporam o texto da EC nº45/2004 e que também colaboram para a duração razoável do processo, sendo manifestações diretas ou indiretas do princípio da celeridade, a saber:

a) aferição do merecimento conforme o desempenho e pelos critérios objetivos de produtividade e presteza no exercício da jurisdição, bem como pela frequência e aproveitamento em cursos de aperfeiçoamento, oficiais ou reconhecidos;

b) não promoção do juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu poder além do prazo legal, não sendo possível devolvê-los ao cartório sem o devido despacho ou decisão;

c) atividade jurisdicional ininterrupta, com vedação de férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, bem como manutenção de juízes de plantão permanente, nos dias em que não houver expediente forense normal;

d) o número de juízes na unidade jurisdicional será proporcional à efetiva demanda judicial e à respectiva população;

e) delegação aos servidores para a prática de atos de administração e atos de mero expediente, sem caráter decisório;

f) distribuição de processos imediata, em todos os graus de jurisdição;

g) as decisões definitivas de mérito, proferidas pelo STF, nas ações diretas de inconstitucionalidade (ADI) e nas ações declaratórias de constitucionalidade (ADC) produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal;

h) o recorrente, no recurso extraordinário, deverá demonstrar repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros;

i) os Tribunais Regionais Federais (TRF), os Tribunais Regionais do Trabalho (TRT) e os Tribunais de Justiça (TJ) instalarão a justiça itinerante, com a realização de audiências e demais funções da atividade jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários;

j) os Tribunais Regionais Federais (TRF), os Tribunais Regionais do Trabalho (TRT) e os Tribunais de Justiça poderão funcionar de forma descentralizada, constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo;

k) o Tribunal de Justiça, para dirimir conflitos fundiários, proporá a criação de varas especializadas, com competência exclusiva para questões agrárias;

l) a distribuição de processos no Ministério Público (MP) será imediata; m) criação de súmula com efeito vinculante;

n) criação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Salienta-se que, apesar de cada inovação proposta pela Reforma do Judiciário amparar e merecer grandes estudos e discussões aprofundadas, o presente trabalho busca tecer apenas um breve relato das modificações, especialmente daquelas que de alguma forma estão interligadas à busca pela celeridade e razoável duração da prestação jurisdicional. Da mesma forma, também apresentar algumas técnicas para a aceleração do processo e modificações legislativas ocorridas para atingir tal objetivo.

Observa-se que algumas técnicas são propostas por Gajardoni (2003), como formas de aceleração do processo, e estão transcritas a seguir:

a) técnica extraprocessual: reorganização judiciária, investimentos tecnológicos e materiais no Judiciário, mudança do perfil do operador jurídico e alteração no regime de custas processuais;

b) técnica extrajudicial: autocomposição extrajudicial, heterocomposição extrajudicial e autotutela;

c) técnica judicial: autocomposição judicial, desformalização do processo, diferenciação da tutela jurisdicional, sumarização procedimental, tutela jurisdicional coletiva, julgamento antecipado do mérito, abreviação do procedimento recursal, limitação de acesso aos tribunais, execução por título executivo extrajudicial, execução provisória da sentença, manipulação do fator despesas processuais e honorários advocatícios e sanções processuais ao protelador (GAJARDONI, 2003, pp. 76-77).

Visando alcançar maior celeridade procedimental, podem ser citados como alguns exemplos das diversas alterações legislativas ocorridas, a Lei 11.280/2006 que, inserindo o §5ºno art. 219 do CPC/73, prevê a possibilidade de declaração, de ofício, pelo juiz, da prescrição. A mesma lei introduziu o parágrafo único no art. 154 do CPC/73, prevendo a possibilidade dos Tribunais disciplinar a prática e a comunicação oficial dos atos processuais por meios eletrônicos, dentre outras disposições da referida lei. Ou a Lei 11.277/2006, da sentença liminar ou julgamento prima facie, que inseriu o art. 285-Ano CPC/73, prevendo a possibilidade do juiz julgar liminarmente o pedido do autor, antes mesmo da citação do réu, se, verificar que a pretensão se trata de matéria unicamente de direito e, no mesmo juízo, houver sentença de total improcedência. Também a Lei 11.276/2006, a qual inseriu o §1ºdo art. 518 do CPC/73, que prevê a possibilidade do juiz não receber o recurso de apelação acaso a sentença estiver em conformidade com súmula dos Tribunais Especiais (STF ou STJ). Ademais, atualmente conta-se ainda com a Súmula Vinculante (art. 103-A da Constituição Federal), a Repercussão Geral (Lei nº 11.418/2006) e a Lei dos Recursos Repetitivos (Lei nº 11.672/2008) para tentar impedir recursos protelatórios às Cortes Superiores (FERNANDES, 2012).

Apesar da autoaplicabilidade do art. 5º, LXXVIII, da CF, outras normas jurídicas foram elaboradas para a implementação do referido dispositivo, e que também podem ser citadas como exemplo de normas que objetivam otimizar o tempo da duração processual. Nesse sentido é a Lei 11.287/2005, conhecida como a Nova Lei do Agravo, que tem como objetivo reduzir o número de recursos de agravo existente, convertendo o agravo de instrumento em agravo retido. Também a Lei 11.232/2005, do Processo de Execução, que prevê o sincretismo processual, no qual a execução irá acontecer como uma fase após a sentença, nos próprios autos. Como último e principal exemplo para o presente trabalho, cita-se a Lei 11.419/2006, que é a Lei da Informatização do Processo Judicial, a qual dispõe sobre o processo eletrônico e dá outras providências.

Nesse sentido, o principal meio para tornar efetivo o princípio da celeridade processual e garantir que o processo tramite em um tempo razoável, consiste na utilização de avanços tecnológicos nos processos. A tecnologia está presente na vida das pessoas, fazendo parte do seu cotidiano e deve fazer parte também do cotidiano do Judiciário. Dessa forma, o Judiciário precisa se adequar aos avanços

tecnológicos, garantindo assim um processo muito mais célere, desafogando o seu número de processo e também beneficiando as partes.

Observa-se que o avanço tecnológico já permitiu algumas medidas ao meio processual que deram maior celeridade à tramitação judicial, como o protocolo integrado, a possibilidade de interposição de petições por fax e correio eletrônico, o acompanhamento processual via internet, a oitiva de réu preso através de videoconferência, etc. Todavia, o avanço fundamental é a transformação dos autos no formato digital, tornando-os mais práticos, econômicos e de maior acessibilidade para as partes e interessados. E isso é possibilitado com a adoção do processo eletrônico, que é uma das formas de efetivar a razoável duração do processo, propiciando uma prestação jurisdicional mais rápida e eficiente.

Salienta-se, por oportuno, que em 13 de abril de 2009 foi assinado, novamente pelos representantes maiores dos três poderes, um novo pacto republicano, intitulado de II Pacto Republicano de Estado, por um sistema de justiça mais acessível, ágil e efetivo. Os objetivos de tal pacto, segundo Fortes (2009), foram reafirmar, fortalecer e ampliar as medidas de proteção dos direitos humanos, da efetividade da prestação jurisdicional e do acesso universal à Justiça. Destaca-se que mais uma vez, dentre os diversos compromissos firmados para se atingir os objetivos, há a previsão da informatização, como uma forma de melhorar a qualidade dos serviços prestados à sociedade, possibilitando maior acesso e agilidade. Assim, a informatização passa a ser um dos maiores trunfos na tentativa de se trazer maior acesso à justiça, com um tempo adequado de duração do processo, como se verá no capítulo a seguir.

3 PROCESSO ELETRÔNICO COMO FORMA DE EFETIVAÇÃO DO ACESSO À