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3 PROCESSO ELETRÔNICO COMO FORMA DE EFETIVAÇÃO DO ACESSO À

3.2 Experiência prática do Tribunal Regional Federal da 4ª Região

3.2.1 Implantação do processo eletrônico no TRF4

Na linha da busca pela celeridade com a utilização da informatização e virtualização dos autos processuais, verifica-se, no site institucional (PORTAL, 2012), que o TRF4 criou o processo eletrônico antes mesmo da Lei 11.419/2006. Salienta-se que “embora desde o início a intenção sempre fosse a de melhorar o acesso à Justiça e de desburocratizar as ações judiciais, o processo eletrônico começou de forma muito menos ambiciosa que a evolução que acabou tendo”

30 Resolução nº 13, de 11 de março de 2004, art. 2º, §1º: Em cada Subseção Judiciária será instalada

uma sala de auto-atendimento, com acesso a sistema de escaneamento e computador ligado à rede mundial para uso dos advogados e procuradores dos órgãos públicos e consulta pelas partes.

31 Art. 10, §3º - Os órgãos do Poder Judiciário deverão manter equipamentos de digitalização e de

acesso à rede mundial de computadores à disposição dos interessados para distribuição de peças processuais.

(GARCIA, 2006, p. 10). Nesse sentido, cabe mencionar que inicialmente era somente uma forma de peticionamento eletrônico, através da Internet, desenvolvido exclusivamente para o Juizado Especial Federal da Subseção de Rio Grande, instalado em meados do ano de 2002 (GARCIA, 2006). Após, observou-se que o projeto poderia evoluir para um sistema processual completo, o que acabou sendo feito com o suporte do TRF4.

Assim, segundo Tejada Garcia (2006), foi nomeada uma comissão de juízes federais que em março de 2004 apresentou o projeto ao Conselho de Administração do Tribunal, o qual o aprovou, autorizando o desenvolvimento de um software e a instalação em quatro juizados pilotos para o teste de seu funcionamento. Dessa forma, os Juizados Especiais Federais (JEF’s) que foram pioneiros na tramitação dos autos judiciais sem papel foram nas Subseções Judiciárias de Londrina (PR), Florianópolis (SC), Blumenau (SC) e Rio Grande (RS), os quais tiveram o programa instalado em julho de 2004. Tal projeto foi desenvolvido a partir de um programa de automação judiciária denominado E-Proc, visando aparelhar os Juizados a fim de tornar a tramitação processual mais célere. De acordo com Alexandre Atheniense (2010, p. 330), o “E-Proc foi o primeiro sistema adotado pelos órgãos do Poder Judiciário no Brasil, objetivando a celeridade processual por meio da tramitação dos autos judiciais em formato digital, hospedado e acessado pela internet”.

Considerando-se o sucesso da iniciativa, a implantação do processo eletrônico, que havia sido regulamentada por meio da Resolução nº 13, de 11/03/2004, a qual estabeleceu normas para o funcionamento do processo eletrônico nos JEF’s no âmbito da Justiça Federal32 da 4ª Região, passou a ser

expandida. Assim, com a Resolução nº 75, de 16/11/2006, o processo eletrônico foi

32 A Justiça Federal foi criada pelo decreto nº 848, de 11 de outubro de 1890. Sua instituição foi

confirmada pela Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 1891. Após ser suprimida pelo presidente Getúlio Vargas, em 1937, durante o Estado Novo, a Justiça Federal de primeira instância só seria reimplantada durante o regime militar, recriada pela lei n° 5.010, de 30 de maio de 1966. No Rio Grande do Sul, a Justiça foi instalada nos meses de maio e junho de 1967. Com o passar do tempo, a instituição foi se ampliando e interiorizando. As primeiras varas federais no interior foram implantadas em Rio Grande, Santa Maria e Passo Fundo, no ano de 1987. Em 30 de março de 1989 foi instalado, em Porto Alegre, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, responsável pelo julgamento dos recursos originários dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Em maio de 1997, a sede da Seção Judiciária mudou-se para a Rua Otavio Francisco Caruso da Rocha, 600, no centro administrativo federal, junto ao Parque Maurício Sirotsky Sobrinho (Parque da Harmonia), em Porto Alegre, onde até hoje se encontra fixada. A Seção Judiciária do Rio Grande do Sul, juntamente com a de Santa Catarina e a do Paraná, formam a primeira instância da 4ª Região, vinculando-se ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, órgão de segunda instância, sediado em Porto Alegre. Disponível em: <http://www.jfrs.jus.br/>. Acesso em: 05 set. 2012.

adotado para todas as ações de competência dos JEF’s da 4ª Região. Na sequência, foi prevista a implantação do processo eletrônico de forma gradativa também para os processos do juízo comum cível e criminal, no âmbito da Justiça Federal de 1º e 2º graus da 4ª Região, conforme a Resolução nº 64, de 17/11/2009, do TRF4. Posteriormente, o TRF4 editou a Resolução nº 17, de 26/03/2010, regulamentando uma nova versão do processo judicial eletrônico no âmbito da Justiça Federal da 4ª Região, fazendo com que todas as ações do juízo comum cível e criminal, ajuizadas a partir dessa nova versão, tramitem pelo meio eletrônico, remanescendo em meio físico (papel) apenas as ações previamente ajuizadas.

Ainda no site institucional do TRF4 (PORTAL, 2012), verifica-se que os principais objetivos do processo eletrônico implantado na Justiça Federal da 4ª Região são a facilitação do trabalho dos advogados e procuradores dos órgãos públicos, a melhoria da qualidade de atendimento às partes, a agilização dos serviços dos servidores, a segurança e rapidez na atuação dos magistrados e a agilização no trâmite dos processos, tendo como meta principal a economia e celeridade na tramitação dos processos. Assim, com a tramitação dos processos de forma totalmente digital, através de registro automático de eventos, é possível permitir a “economia de ações e o aperfeiçoamento da qualidade, segurança e rapidez na prestação jurisdicional” (CRUZ; OLIVEIRA, 2012, p. 108).

A fim de se utilizar o processo eletrônico da Justiça Federal da 4ª Região, com o envio de petições, de recursos e a prática de atos processuais por meio eletrônico, através da internet, é possibilitado ao usuário fazer um prévio cadastramento perante a Justiça Federal, para fornecimento de um código de acesso (login e senha), em consonância com o art. 1º, §2º, III, b, da Lei 11.419/2006, ou acessar o sistema através de certificado digital33, de acordo com o art. 1º, §2º, III,

a, da Lei 11.419/2006. Para o acesso através de usuário e senha, no caso de advogado, após solicitar no site da Justiça Federal o seu cadastramento, deverá comparecer à sede da Justiça Federal para ativar a sua senha, que é pessoal e intransferível, momento em que deverá apresentar sua identidade da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), nos termos do art. 9º, IV, da Resolução nº 17, de 26 de março de 2010, do TRF4. Tal procedimento é feito por questões de segurança,

33 Tal ferramenta de “acesso digital” foi disponibilizada pelo sistema, que está em constante

atualização, a partir de 09/10/2013 para o Paraná e de 10/10/2013 para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, sendo que inicialmente somente era possível o acesso do processo eletrônico da Justiça Federal da 4ª Região, conhecido por E-proc V2, através do sistema de usuário e senha.

protegendo o advogado que faz o cadastramento e a própria categoria, evitando que alguém sem habilitação se faça passar por profissional do Direito. Com a senha ativada, o advogado não precisa mais comparecer pessoalmente na sede da Justiça Federal, pois através de seu login e senha poderá trabalhar no processo eletrônico diretamente do seu escritório ou de qualquer lugar do mundo que tenha acesso a um computador conectado à internet. Já no acesso com certificado digital, inicialmente o usuário escolhe uma Autoridade Certificadora (AC) credenciada da ICP-Brasil e solicita a emissão de certificado digital de pessoa física ou jurídica. Todavia, para a emissão de um certificado digital, é necessário que o solicitante vá pessoalmente a uma Autoridade de Registro (AR) da Autoridade Certificadora escolhida para validar os dados preenchidos na solicitação.

Isso porque o processo eletrônico do TRF4 é totalmente virtual, sendo que os atos processuais, os quais são chamados de eventos, são gerados e registrados automaticamente, em ordem cronológica dos acontecimentos do processo. Também os documentos que integram o processo, como a petição inicial, petições em geral, contestação, despachos, decisões interlocutórias, sentenças, acórdãos, etc., são produzidos eletronicamente e armazenados em um banco de dados desenvolvido para essa finalidade. Assim, toda a tramitação do processo ocorre por meio virtual, desde a distribuição até o cumprimento da sentença. Os documentos que eventualmente instruam a causa também são transferidos para o meio digital através do “escaneamento”, sendo assim “anexados” aos processos virtuais (GARCIA, 2006). Dessa forma, com a implantação do processo eletrônico há diversas vantagens, como se verá a seguir, mas também devem ser observados alguns requisitos para o seu bom funcionamento.