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3 PROCESSO ELETRÔNICO COMO FORMA DE EFETIVAÇÃO DO ACESSO À

3.1 Processo eletrônico

3.1.2 Objetivos do processo eletrônico

O processo virtual veio adaptar o processo para torná-lo mais célere e eficaz, na busca de um efetivo acesso à justiça. Dessa forma, as alterações mais significativas trazidas pela Lei 11.419/2006 dizem respeito ao combate à morosidade judicial. Entretanto, como os prazos, os recursos, as ações e os procedimentos se mantiveram os mesmos, não houve uma transformação radical no Código de Processo Civil. Em verdade, as modificações ocorreram especialmente quanto à estrutura de tramitação dos procedimentos, pois os autos virtuais podem ser acessados a qualquer momento (24 horas por dia), por qualquer das partes, inclusive de forma simultânea, sem qualquer vinculação aos dias e horários de funcionamento das unidades judiciárias. Com a Lei do Processo Eletrônico, definitivamente passou a ser admitido o uso de meios eletrônicos na tramitação de processos judiciais, comunicação de atos e transmissão de peças processuais, com aplicação, indistintamente, aos processos civil, penal e trabalhista, bem como aos juizados especiais, em qualquer grau de jurisdição, conforme previsto em seu Artigo 1º e parágrafos20.

20 Art. 1o O uso de meio eletrônico na tramitação de processos judiciais, comunicação de atos e

transmissão de peças processuais será admitido nos termos desta Lei.

§ 1o Aplica-se o disposto nesta Lei, indistintamente, aos processos civil, penal e trabalhista, bem

como aos juizados especiais, em qualquer grau de jurisdição. § 2o Para o disposto nesta Lei, considera-se:

I - meio eletrônico qualquer forma de armazenamento ou tráfego de documentos e arquivos digitais; II - transmissão eletrônica toda forma de comunicação a distância com a utilização de redes de comunicação, preferencialmente a rede mundial de computadores;

III - assinatura eletrônica as seguintes formas de identificação inequívoca do signatário:

a) assinatura digital baseada em certificado digital emitido por Autoridade Certificadora credenciada, na forma de lei específica;

A lei que instituiu o processo eletrônico (Lei 11.419/2006) autorizou, em seu Artigo 8º, os órgãos do Poder Judiciário a desenvolver sistemas eletrônicos de processamento de ações judiciais por meio de autos total ou parcialmente digitais, utilizando, preferencialmente, a rede mundial de computadores e acesso por meio de redes internas e externas. Também permitiu aos órgãos do Poder Judiciário regulamentar a lei do processo eletrônico, no que couber, no âmbito de suas respectivas competências, conforme disposto no Artigo 18. Ainda, através de seu Artigo 19, convalidou os atos processuais praticados por meio eletrônico até a data de publicação da Lei, desde que tenham atingido sua finalidade e não tenha havido prejuízo para as partes. Isso porque já havia órgãos utilizando o meio eletrônico para a prática de atos processuais antes mesmo da promulgação da referida lei, como, por exemplo, a Justiça Federal, no âmbito do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, como se verá em item próprio.

Tal lei teve como principal objetivo proporcionar uma maior celeridade no trâmite do processo, visando, especialmente, a atingir a efetividade do acesso à justiça através de uma mudança no modo de ver o processo, na linha defendida por Cappelletti. Ademais, observa-se que podem ser mencionados como outros objetivos importantes almejados com a utilização do processo eletrônico, além da maior celeridade dos procedimentos, a economia de recursos e a maior transparência dos atos.

Quanto a celeridade processual, observa-se com o processo eletrônico o fim dos procedimentos burocráticos, como por exemplo, autuação, carimbos, numeração de páginas, certidões de carga, termos de conclusão, localização física, etc. Nesse sentido, há que se mencionar que conforme pesquisa realizada pelo CNJ, estimou- se que 70% do tempo do processo é gasto justamente com a burocracia, o que é considerado um “tempo morto” do processo. O processo eletrônico também acelera o processo em razão da simplificação dos atos de comunicação (intimações, notificações, citações, publicação), os quais passam a ser, em grande parte, automatizados, consequentemente reduzindo o tempo necessário para a tal finalidade. Dessa forma, é possível o reaproveitamento dos servidores, com o treinamento necessário, para o suporte nas decisões, ensejando maior celeridade e qualidade da prestação jurisdicional.

Em relação à economia de recursos, salienta-se que gera efeitos indiretos em relação ao acesso à justiça, pois os valores economizados podem ser revertidos em

capacitação, infraestrutura e recursos humanos. Ademais, observa-se uma diminuição significativa dos gastos com papel e materiais de escritório através da utilização do processo eletrônico. Nesse sentido, conforme Alexandre Golin Krammes, em palestra sobre “o processo eletrônico como instrumento de acesso à justiça”, proferida na IV Jornada da ESMESC (Escola Superior da Magistratura do Estado de Santa Catarina) em 29 de maio de 2010, observa-se que:

Anualmente são iniciados 25 milhões de processos no Brasil. Estimando-se que um processo tenha a média de 30 folhas, são gastos 750 milhões de folhas por ano, sem contar os produtos químicos, água e demais insumos necessários à fabricação de papel.

O custo médio da confecção de um volume com 20 folhas, computando-se papel, etiquetas, capa, tinta, grampos e clipes, fica em R$20 reais. Ou seja, os 25 milhões de processos anuais custam ao país, somente com insumos, R$500 milhões (KRAMMES, 2010, p. 23).

Ainda em relação a economia de recursos, também se verifica a diminuição da necessidade de deslocamento até fóruns e tribunais, em razão do peticionamento eletrônico, com a consequente diminuição do movimento de partes e advogados nos cartórios, em razão do fim da carga dos autos, o que também impossibilita o extravio desses e a retirada indevida de documentos dos processos.

Quanto à transparência dos atos processuais, percebe-se que o processo eletrônico, por sua própria natureza, é mais acessível que os processos em papel, visto se encontrar disponível em tempo integral através da internet. Ademais, qualquer pessoa poderá acessar a movimentação do processo eletrônico através da internet, bastando para isso ter o número do processo, o nome ou CPF da parte. Em relação à transparência, salienta-se que tal questão será melhor abordada na análise do princípio da publicidade, no item específico dos princípios processuais afetados.

Ademais, embora os objetivos do processo eletrônico sejam positivos, não se pode ser ingênuo a ponto de acreditar que o processo virtual é a solução para todos os problemas da justiça, nem mesmo pensar que tal processo esteja imune a falhas. Na implantação do processo eletrônico, não pode ser deixada de lado a observância dos princípios que regem o ordenamento jurídico, especialmente o Direito Processual Civil, a fim de se manter o equilíbrio do sistema, respeitando especialmente o princípio do Devido Processo Legal, que é norteador do direito processual, como se verá abaixo. Assim, o processo eletrônico deverá incorporar os princípios processuais existentes no ordenamento brasileiro, adaptando-os, na medida do necessário.