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Apêndice 08 – Parecer do Comitê de Ética em pesquisa UNIJUI

3.4 ANÁLISE DOS DADOS

3.4.1 Desconstrução ou unitarização

Moraes; Galiazzi (2013) utilizam vários termos para expressar esse procedimento a ser adotado na análise do material discursivo da pesquisa: desconstrução, desmontagem, desintegração, decomposição e desconstituição. O prefixo des expressa a ideia separação e de ação contrária. É, portanto, o momento da fragmentação do material discursivo em partes com o objetivo de identificar unidades de análise que permitam a sua compreensão. Em síntese, “unitarizar um texto é desmembrá-lo, transformando-o em unidades elementares, correspondendo a elementos discriminantes de sentidos, significados importantes para a finalidade da pesquisa, denominadas unidades de sentido ou significados” (MORAES; GALIAZZI, 2013, p. 49). Essa é uma etapa considerada pelos autores como das mais difíceis, porque envolve incerteza e insegurança dado seu caráter cíclico e, por isso, recomendam alguns passos que podem facilitar essa tarefa:

a) Leitura

Para compreender os diversos sentidos e significados contidos nos textos – de forma implícita ou explícita – é preciso reconhecê-los em profundidade, apropriar-se de suas ideias tentando compreender o todo, pela leitura de reconhecimento. Moraes; Galiazzi chamam a atenção para a importância dessa tarefa:

Um dos segredos cruciais de uma Análise Textual Discursiva bem sucedida é uma intensa impregnação com os materiais de análise. É importante que o pesquisador aproveite todas as oportunidades que se oferecem para se envolver intensamente com seu “corpus”, atingindo uma efetiva impregnação. Esta pode se dar de muitos modos. Um deles é a transcrição e preparação dos materiais e entrevistas pelo próprio pesquisador. Também as leituras e releituras exaustivas do material de análise na unitarização e categorização constituem formas de impregnação com os fenômenos sob investigação, criando as condições para a emergência do novo (2013, p. 170-171).

O propósito, nessa etapa, é obter a máxima familiaridade com os dados da pesquisa, de modo a compreender seus possíveis sentidos simbólicos, o que exige a leitura denotativa – do manifesto, do explícito - e conotativa, dos sentidos subjacentes à superfície do texto. Embora seja a primeira etapa da análise de dados, pode ser feita diversas vezes, já que o pesquisador precisa retornar com frequência aos dados para perceber outras nuances.

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Nesta pesquisa, os textos do corpus foram lidos para identificar as informações necessárias. Nos documentos emitidos pela instituição e no currículo lattes, as informações requeridas não demandaram esforços de interpretação, pois se referiam a dados (nome, idade, titulação, tempo de experiência profissional e no magistério, produção acadêmica, etc). Assim, estes foram lidos, registrados e organizados em tabelas (capítulo 4).

Em relação às entrevistas, após a transcrição o conteúdo foi impresso e lido com cuidado para identificar as ideias contidas no corpus e, pelo recurso do sublinhado, destacamos as ideias principais de cada entrevista. Da mesma forma, o diário de campo produzido permitiu a retomada da leitura dos registros.

b) Fragmentação do texto e codificação em unidades de análise

Nessa etapa, tem início a análise dos dados propriamente dita, quando o corpus é desconstituído, identificados seus elementos para isolar os detalhes e pormenores, que dão origem as unidade de sentido ou de significado “[..] sempre identificadas em função de um sentido pertinente aos propósitos da pesquisa” (MORAES; GALIAZZI, 2013, p. 19). São essas unidades de análise que darão origem às categorias na etapa posterior.

Para proceder a essa decomposição, tem papel relevante a definição de categorias de análise, que podem ser estabelecidas a priori ou ser emergentes. Como sugere a expressão, categorias a priori são identificadas quando o pesquisador já conhece de antemão os temas e subtemas da análise e a tarefa consiste em separar as unidades de acordo com esses temas. Já as categorias emergentes são construídas pelo investigador a partir dos seus conhecimentos tácitos e de acordo com os propósitos da pesquisa (MORAES; GALIAZZI, 2013). Em alguns casos a categoria antecede as unidades de sentido, enquanto em outros ela deriva dessas.

No caso desta pesquisa, a entrevista semiestruturada foi realizada a partir de um roteiro de questões, que constituíram as primeiras categorias. Porém, como foi conduzida de forma aberta e os entrevistados falaram livremente sobre os temas, foi necessário retomar a leitura (do texto impresso e digital) e o conteúdo foi codificado com o uso de cores (recurso do realce de texto do word), atribuindo cor diferente para cada temática. Com o uso de uma planilha no excel, elaboramos tabela com as colunas entrevistados/temáticas, recortamos e colamos o conteúdo agrupando as respostas por cor. Foi necessário ler novamente para verificar se de fato o texto transcrito tratava do tema em

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questão, reposicionando-os conforme o seu conteúdo, que deu origem a uma primeira classificação por categorias a priori.

Retornando ao texto original identificamos trechos que não haviam sido realçados. Estes foram lidos para verificar se se tratavam de complementações de informações, alterações do foco da questão proposta ou, ao contrário, tratavam de aspectos relevantes e não previstos. Esses dados originaram as categorias emergentes que, após analisados, foram transcritos em outro local na tabela original.

Com relação à entrevista estruturada, após as observações lemos as anotações do diário de campo e constatamos ausência de informações, especialmente em relação às seguintes dimensões: tipo de conteúdo; fontes do conteúdo e sua transformação; conhecimento sobre a turma e adequação do conteúdo à sua realidade. Essa ausência era decorrente da não ocorrência daqueles aspectos durante o período observado (ex: estratégias de reconhecimento da turma, avaliações, etc) ou àqueles aspectos foram elaborados na ausência da pesquisadora, no planejamento das aulas (ex: fonte consultada para seleção e procedimento de transformação do conteúdo). A partir disso elaboramos o roteiro da entrevista estruturada e na análise das respostas seguimos o mesmo procedimento descrito em relação à semiestruturada.

Os registros das observações também foram feitos segundo as dimensões e aspectos que apresentaremos no quadro 6 (p. 168), portanto, também nesse caso houve pré- categorização. Da mesma forma que a entrevista, procuramos organizar o corpus agrupando os dados das aulas observadas por temas.

c) Reescrita de cada unidade

Nessa etapa, segundo Moraes; Galiazzi (2013), o pesquisador reescreve as unidades de análise explicitando sua compreensão acerca dos sentidos construídos, a partir do contexto de sua produção, mantendo vínculos com os significados originais do corpus, o que implica em “[...] incluir alguns elementos de unidades anteriores e posteriores dentro da sequência do texto original” (MORAES; GALIAZZI, 2013, p. 20) de modo a evitar o seu isolamento e garantir a sua fidelidade em relação ao expresso pelos pesquisados.

É na reescrita que o pesquisador assume a condição de autoria que inicialmente é bastante dependente do material discursivo que lhe deu origem, mas paulatinamente dele se distancia pelas marcas da sua interpretação que resultam, enfim, na produção posterior dos metatextos da fase final do ciclo da ATD. Nesta pesquisa, a reescrita dos aspectos

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coletados na entrevista semiestruturada iniciamos com a transcrição das falas agrupadas por tema, que constituíram a estrutura inicial dos capítulos 4 e 5, complementada posteriormente com a atribuição de título provisório para cada tema, conforme descrito por Moraes; Galiazzi (2013).

d) Atribuição de nome ou título para cada unidade produzida

A sugestão dos autores, nessa etapa, é nomear ou intitular cada unidade de análise de modo que represente a sua ideia central, pois isso facilita posteriormente a elaboração de categorias. Essa tarefa, portanto, guarda relação com a próxima etapa, a categorização, já que essa deriva da classificação das unidades de sentido. Em síntese, no procedimento de unitarização o pesquisador, segundo MORAES; GALIAZZI (2013, p. 72).

De um conjunto ordenado de textos, representando um nível consciente de compreensão do fenômeno sob investigação, encaminha-se uma “explosão de ideias”, movimento para o inconsciente e o caos, capaz de propiciar as condições de emergência de novas compreensões e aprendizagens, a serem expressas e comunicadas nas etapas posteriores da análise.

Na próxima etapa, o esforço do pesquisador concentra-se em estabelecer relações entre as unidades de sentido dando origem às categorias.