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4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

4.1. Análise comparativa dos movimentos retóricos entre as duas produções textuais

4.1.1 Analisando o movimento 1: apresentação do artigo

4.1.1.4. Descrição da organização do artigo

A descrição da estrutura do artigo também é um dado importante da resenha acadêmica, pois geralmente o leitor não conhece a obra e/ou o artigo apreciado e, portanto, é interessante que ele tenha uma visão prévia da sua organização. Isso permitirá a identificação dos principais tópicos que estão sendo discutidos e enfocados pela autora. Essa informação também ajuda o leitor a perceber se o artigo realmente atenderá às suas expectativas e aos seus interesses no que se refere aos conteúdos que serão abordados. O resenhista pode optar por fazer um resumo sobre o que a autora discute em cada seção ou pode apenas citar o título das mesmas. Observe o gráfico a seguir:

Gráfico 3 - Descrição da organização do artigo-fonte

Esperávamos que um maior número de alunos realizasse um breve resumo na segunda versão ao invés de simplesmente quantificar e/ou citar as seções do artigo, pois, na tabela de correção, demos uma pontuação um pouco maior para quem fizesse uma síntese de cada tópico do artigo. Isso se justifica porque consideramos importante a menção de informações prévias sobre os conteúdos abordados na obra a fim de contextualizar melhor o leitor da resenha. Entretanto, acreditamos que muitos estudantes tenham optado por realizar esse passo de maneira mais simplificada com o intuito de terem mais espaço disponível para o desenvolvimento de outros passos considerados

37,50% 34,38%

28,13% 46,88%

28,25% 25%

Apenas quantifca e/ou citas as seções

Faz um breve resumo sobre cada seção

Não

O resenhista descreve a

organização do artigo?

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talvez mais relevantes, tendo em vista que a resenha tem uma extensão pequena. Torna- se importante lembrar da flexibilidade do modelo e, portanto, nada impede o resenhista de escolher a forma que considera mais adequada para a realização ou omissão de um determinado passo dentro de um movimento retórico.

Essa possibidade de haver mudanças no modelo da resenha representa bem o conceito criado por Bakhtin (2003 [1979]) de que os gêneros são relativamente estáveis. Isso se justifica porque o filósofo se referia, nesse caso, principalmente aos aspectos ligados à composição dos gêneros, ou seja, aos aspectos mais formais. Entretanto, consideramos que essa ideia de relativização dos gêneros não deve ser limitada a questões formais, pois a estabilidade do gênero é influenciada também pelo estilo adotado pelo autor. Além disso, o autor considera que os aspectos formais são influenciados pelo contexto de produção do gênero, ou seja, o autor irá adequá-los às exigências da situação comunicativa na qual está atuando.

Apesar dessa flexibilidade do modelo da resenha, os dados presentes no quadro mostram que a maior parte dos alunos considera relevante mostrar ao leitor da resenha a estruturação da obra, pois apenas 28,13% dos graduandos não disponibilizaram essa informação na primeira produção textual, lembrando que esse número foi reduzido para 25% na segunda versão. Acreditamos que grande parte dos graduandos descreveu a organização do artigo, porque a própria autora assim o faz em seu texto, ou seja, Bentes (2009) destina um parágrafo, na introdução do artigo, para resumir o que será discutido nas principais seções do seu trabalho. Dessa forma, percebemos uma tendência dos alunos em copiarem alguns trechos do texto-fonte no momento de elaborarem a sua síntese.

O fragmento abaixo demonstra o exemplo de uma resenhista que mencionou superficialmente a organização do artigo, pois ela simplesmente abordou que o livro é organizado em cinco seções, lembrando que tal informação foi utilizada como um argumento avaliativo. Percebemos que ela não citou os tópicos nos quais o artigo de Bentes (2009) se subdivide e nem fez um breve resumo sobre o que a autora discute em cada um deles. A ausência dessa informação dificulta a criação de uma visão global da estruturação da obra durante a leitura da resenha. Observe:

Sobre o texto da Bentes, podemos perceber que a autora o elabora em cinco seções, essa estrutura é positiva para os leitores que conhecem o tema tratado com facilidade, mas poderá dificultar para os que não dispõem de conhecimentos

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específicos para a compreensão do mesmo. (Aluna 23, 1ª versão, grifo nosso).

A partir do excerto citado, percebemos que a estudante relaciona a organização do artigo com o leitor da resenha, mostrando como a sua estruturação pode afetar distintamente o leitor conhecedor e o não conhecedor da temática abordada por Bentes (2009). Entretanto, observamos que a resenhista mencionou muito superficialmente a estrutura do artigo, pois abordou simplesmente que ele é dividido em seções sem explicitar quantas são e qual o conteúdo trabalhado em cada uma delas por Bentes (2009). Assim, o leitor não conseguirá ter uma visão geral efetiva de como os assuntos são organizados e discutidos por Bentes (2009). Isso ocorre por que a resenhista não cita nem mesmo o título das seções, de modo que a informação dada por ela passa a não ter muita relevância, pois há apenas uma quantificação do número de seções presentes no artigo. Desse modo, a estudante parece não saber verdadeiramente qual é a importância e qual é o objetivo de mostrar ao leitor a organização do objeto resenhado.

Comparando a primeira e a segunda versão das resenhas produzidas pela aluna 23, observamos que ela modificou pouca coisa em relação à maneira como realiza esse passo. Isso se justifica porque a resenhista 23 apenas utilizou o termo partes ao invés de seção na segunda versão e mencionou que há uma introdução e outros tópicos, porém também não os especifica, pois não aborda quais temas são trabalhados por Bentes (2009) em cada um deles. Por outro lado, o excerto abaixo apresenta mais detalhes em relação aos principais tópicos abordados durante o desenvolvimento do artigo. Observe: Este tem por objetivo discutir as explicações feitas pela Linguística Textual que consideram três pontos de vistas diferentes: o linguístico, o cognitivo e social. Por isso, está estruturado em três partes com o objetivo de demonstrar porque a LT é um tipo de estudo que integra diversas ciências. A estruturação do artigo dificulta a compreensão do leitor, pois nas divisões a autora fala suscintamente de cada uma. E, por não fazer uma abordagem profunda de cada parte um leitor iniciante na área da LT terá que buscar preencher grandes lacunas referentes ao assunto tratado. (Aluna 9, 2ª versão, grifo nosso) Observamos que a resenhista 9 não apresentou ao seu leitor uma síntese sobre quais assuntos seriam discutidos em cada subtópico do artigo, entretanto ela relacionou o objetivo geral da autora com a organização da obra. Além disso, a estudante

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mencionou a estruturação do artigo como argumento para mostrar um aspecto negativo do texto e também para abordar indiretamente o seu público-alvo. Observamos, nesse caso, que a aluna conseguiu articular as informações no decorrer da resenha e, consequentemente, elas não se tornarão vagas para o leitor. Isso demonstra que a aluna está desenvolvendo habilidades mais complexas exigidas na elaboração textual desse gênero, pois, na primeira versão, a aluna 9 apresentou a organização do artigo através da modificação de apenas algumas palavras do texto-fonte e, portanto, houve cópia parcial do texto-base.

Acreditamos que essa melhora seja consequência principalmente das aulas no chat, pois, nesse ambiente, os alunos tiveram a oportunidade de perceber que os passos de todos os movimentos retóricos da resenha precisam estar harmonizados com a avaliação da obra que, no caso, é a principal particularidade da resenha. Embora não tenhamos discutido o movimento 1 nas aulas virtuais, percebemos que alguns alunos aplicaram os conhecimentos adquiridos, durante o chat, em relação aos outros movimentos retóricos no momento de apresentar o artigo.

Essa habilidade demonstra que, de fato, os alunos se apropriaram da discussão e compreenderam o conteúdo discutido, já que conseguiram ampliar a sua aplicação para um movimento retórico que não tinha sido discutido durante o chat. Acreditamos que, se o movimento 1 tivesse sido abordado diretamente no chat, os alunos teriam desenvolvido melhor todos os demais passos desse primeiro movimento retórico e, por isso, um número maior de alunos seria capaz inclusive de relacionar, por exemplo, as informações sobre o contexto profissional de Bentes (2009) com os demais movimentos retóricos.

Durante a análise, verificamos que 7 alunos, na primeira versão, e 8 alunos, na segunda versão, utilizaram a descrição do artigo como um argumento capaz de embasar a avaliação. Esperávamos que essa prática aumentasse ainda mais após o chat, pois destacamos, no decorrer das aulas virtuais, a importância de sempre utilizar aspectos presentes no artigo para justificar a avaliação positiva e/ou negativa do artigo.

Apesar disso, percebemos que alguns estudantes apresentam consciência da importância de apontar características do artigo como argumentos capazes de fundamentar a apreciação desenvolvida. Desse modo, eles parecem olhar, de forma mais atenta, para as particularidades do objeto resenhado, já que reconhecem a relevância de selecionar cada informação com o intuito de sempre buscar atender ao maior propósito

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comunicativo da resenha: avaliar o artigo. Uma possível explicação para isso seria a maior experiência desses alunos com a escrita de resenhas durante a vida acadêmica.