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O uso do chat do Facebook no contexto educacional

2.2 Ensino e tecnologias

2.2.2 O uso do chat do Facebook no contexto educacional

O Facebook é uma rede social que possibilita a interação entre as pessoas a partir de diferentes critérios como, por exemplo, amizade e interesses comuns. Além disso, de acordo com Phillips, Baird e Fogg (2011), o Facebook pode ser uma forma de aproximar os professores da aprendizagem digital para que seja possível oferecer aos alunos estilos inovadores de aprender. Eles devem ser capazes de motivar o estudante em relação ao conteúdo da aula e também de atender às reais necessidades e expectativas dos alunos correspondentes à aprendizagem.

As redes de aprendizagem não precisam necessariamente ser desenvolvidas em espaços virtuais criados especificamente para fins educativos (CARVALHO, 2009). Por tal motivo, os aplicativos do Facebook podem ser utilizados para se atingir metas educacionais, desde que se tenha um “objetivo educativo explícito, uma proposta inicial para a aprendizagem e um ou mais professores” (CARVALHO, 2009, p.66).

Segundo Alegretti et al (2012), o Facebook corresponde a uma rede social interessante de ser utilizada na esfera educacional porque ela possibilita a construção do conhecimento de forma individual ou coletiva, permite “a aprendizagem participativa, a autoria e coautoria, o compartilhamento, a integração das tecnologias digitais ao currículo, a comunicação e aprendizagem interativas e a possibilidade de transgressão do currículo escolar tradicional” (p. 55). Ferreira et al (2014) defendem inclusive que o Facebook tem forte potencial para ser utilizado no contexto acadêmico, pois essa plataforma possibilita o compartilhamento de informações, facilitando as reflexões sobre conteúdos acadêmicos.

Campos e Barcelos (2012) desenvolveram um trabalho no qual o Facebook foi utilizado como ferramenta pedagógica complementar às aulas presenciais. A pesquisa mostrou uma ampliação do conteúdo abordado em sala, pois o Facebook permitiu uma maior interação entre os alunos e, consequentemente, houve um debate mais intenso sobre a matéria no espaço on-line do que em sala de aula. Segundo os autores, a postura mais participativa dos alunos no meio virtual ocorre porque muitos deles são tímidos e,

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por isso, geralmente não manifestam suas opiniões em sala de aula. Além disso, os estudantes já dominam grande parte das ferramentas presentes no Facebook e isso os ajuda a terem menos resistência para utilizá-las a favor da aprendizagem (ALENCAR; MOURA; BITENCOURT, 2013).

Uma pesquisa realizada por Magalhães et al (2013), mostrou que, embora muitos professores universitários acessem ao Facebook e o considerem um recurso favorável ao ensino e à aprendizagem, a maioria deles não estimula o seu uso para a realização de atividades acadêmicas. Uma justificativa encontrada pelos autores em relação a essa contradição corresponde ao receio dos professores em utilizar uma rede social mais dominada pelos alunos do que por eles. Além disso, ainda há dificuldades a serem enfrentadas no que se refere ao seu emprego no contexto educacional, pois muitos ainda têm receio em aceitar a utilização de uma ferramenta, que geralmente é empregada para o lazer, na aprendizagem (ARAUJO; SOARES; PEREIRA, 2013).

Entretanto, a pesquisa desenvolvida por Patrício e Gonçalves (2010) mostra que o emprego do Facebook na educação pode ser muito mais proveitoso do que as plataformas criadas especificamente para o ensino, pois o acesso dos alunos é muito limitado nesses ambientes virtuais de aprendizagem. Os autores sugerem, portanto, o uso do Facebook no lugar dessas plataformas educacionais, pois ele se caracteriza por ser um recurso que já é utilizado pelos alunos no dia-a-dia e, portanto, é mais fácil promover a aceitação dos estudantes em relação ao seu uso como ferramenta pedagógica. Além disso, geralmente os alunos demonstram interesse em saber como o Facebook será utilizado a favor da aprendizagem, já que os jovens normalmente gostam de acessar esta rede social. O estudo dos autores mostrou que eles se adaptam e aceitam melhor os instrumentos pedagógicos quando estão conectados com seus interesses e necessidades pessoais.

Na tentativa de experimentarmos novas ferramentas didáticas para o ensino- aprendizagem da escrita de resenhas acadêmicas, utilizamos o chat do Facebook. O bate-papo se caracteriza por apresentar uma linguagem própria denominada de “internetês”. Ela caracteriza-se pela sua hibridez, pois mescla aspectos da oralidade e da escrita na interação. Além disso, há a influência de outros recursos semióticos que contribuem para atribuir um formato novo à escrita. Esse estilo de linguagem reflete as características próprias desse contexto discursivo mediado pelo computador que, no

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caso, corresponde a um ambiente mais informal e, por isso, apresenta suas particularidades linguístico-discursivas (MAGNABOSCO, 2009).

Outra característica interessante do chat é a possibilidade dos usuários assumirem, inclusive em chats abertos, identidades variadas, durante os eventos conversacionais, de acordo com os seus interlocutores e com os seus objetivos. Entretanto, nos chats educacionais, há uma tendência de os participantes terem uma identidade mais estável durante as interações. Assim sendo, o grau de formalidade entre eles também varia em razão das suas finalidades e do tipo de relação estabelecida entre eles (SILVA, 2011).

Segundo Feitosa, Lima e Vasconcelo (2013), o chat era visto pelos alunos apenas como um recurso capaz de possibilitar o lazer e a descontração. Entretanto, ele passou a ser amplamente explorado na educação à distância por permitir aos estudantes conversarem simultaneamente sobre o conteúdo do curso, fato que os ajudava a tirar dúvidas e a aprofundar a discussão da temática. Assim, percebe-se que o chat é um ambiente capaz de levar à reflexão de conteúdos e, além disso, o aluno consegue perceber o ponto de vista do outro sobre o assunto que está sendo estudando. Isto leva a uma ampliação do conhecimento em relação à temática abordada. Outro ponto positivo é a possibilidade de o professor dialogar diretamente com aluno e, portanto, o docente pode averiguar as dificuldades dos estudantes. Nesse sentido, Silva (2011b) defende que o chat pode estreitar os laços interacionais entre aluno e professor.

Além disso, Pereira (2004) ressalta que o diálogo entre os estudantes também ocorre e, portanto, há intercâmbio de informações, de experiências, de dados e de posicionamentos diversificados sobre a temática que está sendo estudada, permitindo uma aprendizagem pautada na colaboração. Outro ponto positivo do chat corresponde ao desenvolvimento de uma boa percepção do aluno devido à necessidade de processar as informações rapidamente e, portanto, o estudante tende a desenvolver habilidade de síntese e de raciocínio rápido. Entretanto, a autora destaca a importância do mediador observar se as mensagens dos alunos mostram, de fato, um envolvimento crítico- reflexivo com o assunto discutido.

Nesse sentido, percebe-se que o chat pode funcionar como ferramenta auxiliar na sala de aula presencial. Segundo Feitosa, Lima e Vasconcelo (2013), a discussão nesse ambiente se assemelha ao ensino presencial, pois os alunos também podem discutir e questionar sobre a matéria estudada no ambiente presencial e/ou on-line.

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Dessa forma, o professor tem a importante função de gerenciar e intermediar a interação, a fim de que os alunos se concentrem no tópico principal da aula. Assim, eles se engajarão com a temática que está sendo discutida e, por isso, a aprendizagem tende a ocorrer colaborativamente. Pereira (2004) considera tal aspecto relevante porque, no bate-papo, a temática principal gera outros assuntos, impossibilitando a linearidade tópica da conversa. O professor, então, deve saber lidar eficazmente com essa variedade de conteúdos para que o objetivo da aula consiga ser alcançado.

Hernandes, Santana e Falcão (2000) apontam também como vantagem do chat a possibilidade de registrar as discussões da aula. Tal particularidade permite aos alunos acessarem as mensagens para revisar algum aspecto ligado ao conteúdo abordado durante a aula. Elas também possibilitam que o aluno faltoso se aproprie plenamente do assunto trabalhado.

Feitosa, Lima e Vasconcelo (2013) comentam sobre a relevância do chat na socialização entre os participantes, pois o bate-papo pode contribuir para fortalecer os laços entre eles, já que o aluno tende a relacionar o seu conhecimento com o do professor e com o dos outros estudantes. Por outro lado, Hernandes, Santana e Falcão (2000) mencionam como desvantagem do bate-papo a restrição aos aspectos corporais, emocionais e linguísticos, pois a comunicação está limitada à forma escrita.

Embora o chat tenha muitas vantagens que podem ser aproveitadas no processo de ensino-aprendizagem, o professor precisa planejar os objetivos da aula e organizar o conteúdo através da elaboração de tópicos e perguntas capazes de orientar a discussão no ambiente on-line. O docente também tem a tarefa de fazer uma mediação adequada entre o aluno e o objeto ensinado com o intuito de evitar conversas sem relação com o tópico da aula (FEITOSA; LIMA; VASCONCELO, 2013).

Para Feitosa, Lima e Vasconcelo (2013), o professor também precisa filtrar as mensagens pertinentes para aquele momento em função do elevado fluxo de informação. Isso é fundamental para o aluno receber o feedback e conseguir repensar sobre o fenômeno estudado. Entretanto, o professor não pode se limitar a perguntas individuais, mas sim a pontos comuns mencionados pelos estudantes. Tais aspectos se tornam importantes, porque, segundo Pereira (2004), conversas on-line com muitas pessoas podem se tornar enfadonhas devido ao longo tempo que se passa sentado digitando e ao grande número de informações lidas.

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Pereira (2004) atribui fundamental importância para a mediação feita pelo professor, pois através desse processo o aluno é motivado a buscar por novos conhecimentos e, além disso, “a relação professor e aluno torna-se mais estreita, pois o professor passa a encarar o aluno através do seu potencial, tendo ele também conhecimentos prévios, colocando para trás a visão de um mero aprendiz” (p. 39). A autora destaca que isso se torna possível apenas se a relação entre aluno e professor tiver como base o respeito e a confiança. Isso tende a facilitar e a motivar o aprendizado, pois ele será construído a partir do diálogo.

Segundo Feitosa, Lima e Vasconcelo (2013), a ação do professor após o término da aula no chat também é importante. O docente deve levar os alunos a refletirem sobre a aula realizada com o intuito de avaliarem se os seus objetivos foram alcançados. O levantamento dessas questões contribuirá para o planejamento da próxima aula, ou seja, é uma maneira de se evitar repetir os problemas que podem ter acontecido durante o encontro. Levando em consideração as tarefas que devem ser desempenhadas pelo professor antes, durante e depois da aula no chat, percebe-se que “todo esse processo de construção e reconstrução do planejamento do chat demanda do professor/tutor flexibilidade, tempo e responsabilidade para aprimorar as questões decorrentes e inusitadas no sentido de atender aos propósitos do curso” (p.85).

Além disso, a postura mediadora do professor é essencial em uma aula no chat, porque “o fato de usarmos o bate-papo, uma ferramenta nova na Educação, não quer dizer que estamos sendo atuais, modernos e inovadores, pois o que vai determinar isto é a postura frente a esta ferramenta” (PEREIRA, 2004, p. 108). Não adianta, portanto, transferir meramente um conteúdo curricular da sala presencial para o bate-papo sem saber aproveitar as potencialidades educacionais da ferramenta escolhida. O professor precisa explorar o chat a fim de “estimular questões, abrir debates, incentivar a participação dos alunos, pedir sua opinião, discordar, concordar e acrescentar dados [...] (PEREIRA, 2004, p.107).

Feitosa, Lima e Vasconcelo (2013) argumentam que o chat é um espaço que promove maior discussão e reflexão em grupo e, portanto, o conhecimento é construído de forma colaborativa. Pereira (2004) comenta que isso ocorre porque os alunos ficam mais à vontade para expor sua opinião, dúvidas e divergências de idéias e, por isso, ela considera o chat “um ambiente democrático onde todos têm vez e voz para expressar pensamentos, conhecimentos e emoções” (p.100-101). A autora argumenta que a

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participação dos estudantes é mais intensa, fato que ajuda na quebra da hierarquia entre professor e aluno.

Nesse sentido, os questionamentos que surgem geralmente são respondidos pelos próprios estudantes que, no caso, se baseiam nos textos teóricos lidos e na sua própria opinião. Entretanto, para que isso aconteça, o professor precisa dar liberdade ao aluno para apresentar suas dúvidas e posicionamentos sobre o assunto que está sendo discutido, levando-o a descobrir novos conhecimentos através da sua curiosidade e do estímulo do professor. Considerando tais aspectos, a autora defende que, para uma participação ativa do aluno, o professor precisa intervir, levando os alunos a questionar, a argumentar e a refletir. Também torna-se essencial atribuir relevância às respostas dos alunos (PEREIRA, 2004).

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