• Nenhum resultado encontrado

3. METODOLOGIA

3.2. Aplicação da pesquisa

3.2.2 Etapas e procedimentos da coleta de dados

3.2.2.2 Primeira versão da resenha acadêmica

A primeira versão da resenha do artigo científico A abordagem do texto: considerações em torno dos objetos e unidades de análise textual foi elaborada depois da realização das quatro aulas presenciais. Consideramos, bem como Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), que a realização de uma produção inicial é uma etapa importante para que o professor identifique as habilidades já dominadas pelos alunos e também as dificuldades ainda enfrentadas por eles na elaboração de um gênero. Ou seja, ela funciona como um diagnóstico (CITELLI; BONATTELI, 2004) das habilidades dos alunos em relação ao gênero resenha.

Torna-se importante destacar que criamos uma situação hipotética na qual a resenha seria produzida, ou seja, apresentamos uma situação de produção na qual o gênero se manifestaria. No caso, contextualizamos os alunos de que as resenhas seriam publicadas em um blog do curso de Letras acessado por graduandos de períodos variados, inclusive pelos alunos que cursariam a disciplina de Let 392 na qual o texto provavelmente seria lido novamente. Segundo Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), a situação comunicativa na qual o estudante agirá, através da produção de um gênero, precisa ser explicitada desde a produção inicial a fim de que ele atribua significado às atividades a serem desenvolvidas. Os autores consideram que isso deve ocorrer mesmo que o contexto criado tenha caráter fictício, pois “a motivação pode nascer mais diretamente do desejo de progredir, de adquirir novas capacidades (p. 101).

Os graduandos produziram as resenhas em casa, pois acreditamos que a escrita desse gênero exige um tempo maior para que, de fato, o aluno possa refletir sobre o texto, a fim de avaliá-lo de forma consistente. Além disso, deixamos claro, durante as aulas presenciais, a importância de se buscar por novos textos que também discutam sobre a temática tratada no artigo a ser resenhado, pois o diálogo com outros artigos

49

científicos é uma forma de embasar a opinião do resenhista e de validar o seu posicionamento adotado em relação à obra avaliada. Assim, a inserção da voz de outros autores na resenha é uma estratégia eficaz para mostrar que o resenhista tem propriedade sobre o assunto do artigo, pois ele mostrará ter como base outras leituras sobre a temática abordada.

Após a realização da primeira versão da resenha, ela foi corrigida com anotações e comentários, de caráter mais subjetivo, pautadas em critérios baseados, por exemplo, em problemas de coesão e coerência, de síntese e de paráfrase, de avaliação superficial e de organização do plano global da resenha, lembrando que essa primeira avaliação teve o valor de dez pontos. Dessa forma, os alunos puderam observar individualmente os erros cometidos no decorrer da elaboração da resenha, tendo em vista que a pesquisadora realizou anotações pontuais e específicas no texto do graduando para que ele pudesse identificar, com mais facilidade, as suas falhas, ou seja, aquilo que precisava ser melhorado.

Além dessa primeira avaliação mais subjetiva, os alunos receberam uma tabela de correção objetiva16, detalhada e criteriosa, especificando todos os itens avaliados nas resenhas produzidas pelos alunos. Segundo Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), uma análise pautada em aspectos bem definidos permite ao professor avaliar mais precisamente os pontos fortes e fracos dos alunos. Além disso, os pesquisadores consideram que a explicitação dos aspectos avaliados permite ao aluno, de fato, compreender com base em quais critérios sua produção foi avaliada.

Desse modo, acreditamos que o processo de correção passa a fazer sentido e, portanto, essa etapa passa a ser aproveitada pelo aluno como uma oportunidade de verificar suas falhas a fim de tentar melhorá-las durante uma nova produção textual. Acreditamos, então, que a tabela de correção criada funcionou não apenas como uma avaliação, mas também como elemento motivacional capaz de instigar o aluno a ter o desejo de melhorar suas capacidades ligadas à produção do gênero em questão.

A construção dessa tabela baseou-se no modelo didático de resenha elaborado por Motta-Roth (1995) e, por isso, ela funciona como um quadro avaliativo no qual os alunos podem identificar seus acertos e suas falhas na primeira resenha. Ela serve

16Esta tabela será utilizada também para a análise das resenhas e, portanto, ela será explicada no

su tópi oà Co he e doà aà ta elaà deà a lise à p ese teà aà seçãoà desti adaà à expli açãoà dosà procedimentos utilizados na análise dos dados.

50

também como uma adaptação do modelo didático proposto por Motta-Roth (1995) de acordo com o nosso contexto de ensino-aprendizagem.

Entendemos que a tabela de correção também funciona como um modelo capaz de orientar os graduandos, porque, segundo Machado e Cristovão (2006), um modelo didático permite “a visualização das dimensões constitutivas do gênero e a seleção das que podem ser ensinadas e das que são necessárias para um determinado nível de ensino” (p. 557). Considerando essa informação, podemos dizer que a tabela construída nessa pesquisa mostrou os movimentos retóricos da resenha aos graduandos e algumas estratégias que podem ser usadas durante a realização de cada um deles para a melhora da qualidade do gênero. Dessa forma, consideramos, assim como as autoras citadas, que o modelo não deve se limitar a apresentar apenas um plano global de organização do gênero, pois também deve se preocupar com elementos como coesão, coerência e escolhas lexicais. Em função disso, acrescentamos na tabela aspectos relacionados, por exemplo, com a organização das informações, com a polidez e com a argumentação usada para embasar a avaliação do artigo resenhado.

Machado e Cristovão (2006) consideram essenciais os acréscimos de outros elementos importantes para caracterizar um gênero, pois assim não haverá um mero ajuste de modelos prontos de análise para encaixar textos produzidos em uma situação real e concreta e, por isso, as modificações nos modelos precisam ocorrer constantemente de acordo com as necessidades do contexto no qual o gênero está sendo produzido.

Nesse sentido, destacamos também que Pietro e Schneuwly (2006) consideram as práticas escolares vivenciadas fundamentais para a redefinição dos modelos didáticos em relação ao gênero a ser ensinado. Os pesquisadores também defendem que os modelos podem ter o acréscimo de outras dimensões que podem se tornar objetos ensináveis. Dessa forma, nos preocupamos em inserir no modelo outros aspectos que consideramos importante de serem aprendidos pelos alunos durante a produção da resenha como polidez, argumentação e criticidade.