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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1.2 Descrição da perícia

O especialista consiste em um indivíduo que acumulou experiência e conhecimento específico, como resultado de fazer parte de uma organização e desempenhar atividades específicas por um longo período (GAVRILOVA; ANDREEVA, 2012; ERICSSON, 1993). Esses recursos de conhecimento são chamados de perícia. A perícia é definida como o conjunto de conhecimentos, competências e habilidades de alto

nível sobre uma área, tarefa ou situação específica, que são dependentes, principalmente, do conhecimento tácito (PACHARAPHA; RACTHAM, 2012; SALAS 2010; KLEIN, 2015).

Sendo assim, quem são os especialistas e o que eles fazem de forma diferente dos outros que não são especialistas? Especialistas, em qualquer domínio, são identificados por suas capacidades de desempenho de alto nível, marcadas pela habilidade, velocidade e precisão. Depois de atingir um nível de desempenho de perito, prossegue o aperfeiçoamento contínuo e a prática apresenta uma distância cada vez maior dos níveis básicos, criando categorias progressiva e finamente diferenciadas (ERICSSON; SMITH, 1991).

Alguns autores comparam especialistas e novatos, na tentativa de entender como se aplica a perícia (DREYFUS; DREYFUS, 1980; DREYFUS, 1997; WILKESMANN; WILKESMANN, 2011; LIPSHITZ; BEM SHAUL, 1997).

Ericsson e Simon (1993) analisaram especialistas em domínio e descobriram que os especialistas só produziam o seu melhor trabalho após pelo menos 10 anos de aprendizado intensivo e focado. Obviamente, o tempo na tarefa é necessário para alcançar altos níveis de desempenho e é um fator importante para a perícia cognitiva (ANDERSON 2000; KINTSCH; GREENO, 1985).

Usando uma estratégia de prática focada, o mesmo desempenho nunca é repetido, mas é progressiva e positivamente alterado (HALL, 1991), devido ao aumento da percepção e foco. A aprendizagem conceitual pode ser produtiva apenas quando associada a um feedback crítico e detalhado como resultado do monitoramento das qualidades essenciais de um desempenho e uma comparação crítica com o desempenho ideal (BENNER, 1984).

Modelos de raciocínio baseado em casos mostram especialistas invariavelmente pesquisando em suas bibliotecas de memória que foram formadas a partir de uma vasta experiência. Os peritos recuperam rapidamente o conhecimento em resposta a um contexto problemático, quando fornecem uma solução num contexto desconhecido ou numa situação complexa (SCHANK, 1999). A resolução de problemas executada por especialistas é tanto uma atividade conceitual baseada no contexto, quanto na experiência (CHASE; SIMON, 1973). Como tal, a experiência relevante armazenada é recuperada quando características perceptivas ativam associações anteriores (BARSALOU, 1983), ou recordam o resultado de uma experiência anterior (BIEDERMAN; SHIFFAR, 1987). Os especialistas usam seu conhecimento amplo, profundo, experiência conceitual e potencial flexibilidade de

experiências recordadas para interpretar e resolver problemas dentro de seu domínio (GOLDSTONE; ROGOSKY, 2002). Para aplicar seus recursos de resolução de problemas, os especialistas se destacam no reconhecimento dos pontos estruturais importantes de um problema, usando suas associações conceituais para soluções.

Peritos, entenda-se especialistas, são reconhecidos como pessoas que demonstram desempenho excepcional dentro de um domínio focalizado. A experiência é adquirida a um custo de prática prolongada, deliberada, monitorada, sobreposta a um rico conhecimento de fundo do domínio.

A recuperação organizada com a elaboração de conhecimento conceitual promove o crescimento contínuo de especialistas (CHASE; ERICSSON, 1982, HALL, 1991). Um exemplo de elaboração de conhecimento bem-sucedido é demonstrado por Anderson e Bower (2014), onde os participantes recordavam frases simples, porém, quando precisavam criar uma elaboração pessoal, lembraram detalhes das sentenças significativamente melhor usando suas elaborações pessoais. Ao formar construções cognitivas, a informação associada é recuperada e a capacidade de processamento cognitivo se expande (PALMERI; NOELLE, 2002).

Para Benner e Dreyfus (1984), a experiência é tanto uma compreensão do conhecimento formal, explícito, como o desenvolvimento do conhecimento prático, pessoal. Benner salienta que o processo de se tornar um perito simplesmente não é dependente de longevidade, ou fazer algo por um determinado período de tempo, mas em vez disso, é um processo ativo, onde noções preconcebidas e teorias são refinadas através de envolvimento com situações práticas (BENNER, 1984). Assim, com o exemplo citado por Polanyi referente ao estudante de medicina, o processo de desenvolvimento do olhar de um perito radiologista envolve não apenas aprender a língua de radiologia e ler livros, mas olhar atentamente novas imagens e se engajar ativamente com o que está acontecendo em torno dela. Benner também reconhece que nem todos os tipos de competências são igualmente valorizados na medicina e na sociedade de forma mais ampla.

A pesquisa de Ilgen et al. (2012) concluiu que as estratégias gerais de resolução de problemas não podem ser eficazmente ensinadas, aprendidas, ou aplicadas (CODERRE et al., 2003). Um estudo clássico de Elstein et al. (1978) demonstrou que os especialistas têm mais conhecimento do que os novatos e é por isso que o aumento do conhecimento lhes permite alcançar uma maior taxa de precisão de

diagnóstico, ao invés das habilidades gerais de resolução de problemas. Não é apenas a quantidade de conhecimento, mas também a maneira pela qual esse conhecimento é organizado nas memórias dos médicos que facilita o raciocínio diagnóstico preciso (EVA et al., 2007). Em comparação com os novatos, os médicos especialistas estão em melhores condições de acesso ao conhecimento, precisamente devido à sua experiência, enquanto que os novatos podem ser incapazes de conectar o conhecimento existente para um novo problema clínico (BOSHUIZEN; SCHMIDT, 1992; EVA et al., 2007). Pela experiência, os médicos acumulam uma vasta "biblioteca de imagens” que pode ser acessada rápida e inconscientemente para fins de geração de hipóteses e de diagnóstico para tomada de decisão (SCHMIDT; NORMAN; BOSHUIZEN, 1990).

2.1.3 Considerações

Neste subitem, foram expostos entendimentos sobre conhecimento, tipos de conhecimento, criação de conhecimento e aspectos relacionados ao conhecimento que fazem parte dos processos de uma organização. É possível observar que as características do conhecimento podem auxiliar na identificação de elementos que esclareçam como ocorrem os mecanismos de compartilhamento do conhecimento. A categorização pode ser uma forma de entender porque alguns tipos de conhecimentos são mais difíceis de serem compartilhados. Considerar as características do conhecimento organizacional significa delimitar as práticas de compartilhamento do conhecimento a serem adotadas pelas organizações.

Conforme abordado, os especialistas, muitas vezes, não possuem noção de todo o conhecimento que detém, devido à natureza, em grande parte tácita, de seu conhecimento. De forma oposta, os novatos não possuem tanto autoconhecimento, o que os impede de realizar perguntas específicas dentro de um novo domínio de conhecimento. Diante dessa realidade, entender como novatos alcançam a perícia ajuda a diminuir essa lacuna de conhecimento.

Uma organização de Radiologia é, por natureza, intensiva em conhecimento. Logo, a discussão do conhecimento no processo de diagnóstico por imagens requer ponderação para êxito do laudo diagnóstico que é entregue ao paciente. Desse fato decorre a importância de se ter assertividade quanto a esse laudo.

O subitem 2.2 abordará o compartilhamento do conhecimento de modo a apoiar a verificação empírica e a compreensão de como os radiologistas compartilham seus conhecimentos.