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Os desdobramentos do Renascimento

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 32-42)

1. A DIVINA COMÉDIA : REPERCUSSÃO NOS CAMPOS LITERÁRIO E

1.2. Os desdobramentos do Renascimento

Esta segunda subseção tratará, como o próprio título diz, dos desdobramentos do Renascimento e, para tanto, será necessário apresentar pontos cruciais para o entendimento de como se deu o surgimento do Renascimento, suas características, como eram os estudos dos artistas, sobretudo de pintores e ilustradores. Não só isso, mas entender também como se dava o tratamento entre o mecenas e seu cliente, no caso o artista, enfim, todas essas minúcias relevantes para encaminhar o ponto principal da Dissertação que é, posteriormente, mostrar como se deu a retomada da obra dantesca por Botticelli.

Deste modo, para o entendimento razoável do que ocorreu no período do Renascimento, faz-se necessário buscar as motivações que aconteceram no Humanismo, ocorrido no período anterior ao grande movimento artístico. Sendo assim, a afirmação de FERRONI (1992: 131 – 132) a esse respeito define bem esse movimento:

Il concetto di Umanesimo si riferisce a una cultura piú strettamente vicina agli uomini nella loro individualità e concretezza. Nello sviluppo di questa cultura gioca un ruolo fondamentale l’attenzione riservata al mondo classico, visto in contrapposizione alla mediocrità del presente. Ai toni elegiaci, nostalgici, patetici dell’atteggiamento tardo-gotico, quello umanistico sostituisce valori positivi e di equilibrio.13

Esse movimento intelectual acompanhou o nascimento e o desenvolvimento do Renascimento, da segunda metade do século XIV até o XVI. Foi caracterizado pela vontade de redescobrir a cultura antiga, ou seja, a clássica, em seus valores primitivos, originais. Visou à aprendizagem da língua dos clássicos e um modo de escritura, em latim, o mais próximo dos antigos escritores. Além disto, como característica, CHASTEL (2012: 448) acrescenta:

13 “O conceito de Humanismo se refere a uma cultura estreitamente próxima aos homens na sua individualidade e concretude. No desenvolvimento dessa cultura apresenta um rolo fundamental, a atenção reservada ao mundo clássico, vista em contraposição à mediocridade do presente. Aos tons elegíacos, nostálgicos, patéticos do movimento tardo-gótico, aquele humanístico substitui valores positivos e de equilíbrio”. (Tradução própria)

O “humanismo” busca, por todos os meios, justificar todos os aspectos do homem; sem atentar um instante sequer contra a grandeza do santo, sustenta a grandeza da personalidade forte, do “herói”.

Os humanistas também tinham por característica refutar o pensamento metódico dos séculos precedentes, desta maneira estudando o homem, a sua palavra, o seu comportamento, e não mais o cosmos ou as essências metafísicas. Para esses intelectuais, a exaltação da virtude do homem significava saber as suas manifestações individuais, mundanas e sociais. Além disto, eles colocavam-se no centro do mundo, quer dizer, eram antropocentristas e, não mais teocentristas, como antes.

Os séculos foram passando e, no século XVI, segundo BURCKHARDT (2009: 253), continuava-se a falar, compor e escrever poemas humanisticamente, entretanto, ninguém mais queria fazer parte do grupo dos humanistas, devido às acusações que eles recebiam, de serem presunçosos, da sua devassidão e, principalmente, devido à irreligiosidade, já que a Contra-Reforma estava brotando. A partir de então, observa-se que o humanismo começou a caminhar para o seu arremate.

Assim, o Renascimento, como um movimento que se iniciou quando o Humanismo já havia sido constituído, trouxe à luz muito dos ideais humanistas, como o uso da razão, a evidência empírica, o antropocentrismo e, principalmente, o retorno aos clássicos, para o seu contexto, adaptando-o ao seu momento, buscando a perfeição e a harmonia nas artes. E, para caracterizar esta principal característica ASOR ROSA (1985: 114) declara:

Umanesimo significa appunto, da una parte, studia humanitas, cioè culto, amore ed interpretazione di quei testi classici in cui si può identificare una più propria e diretta nozione dell’umano; dall’altra centralità, essenzialità e preminenza dell’uomo nella costruzione e valutazione dell’universo.14

14 “Humanismo significa de fato, por um lado, studia humanitas, isto é culto, amor e interpretação daqueles textos clássicos, no qual se pode identificar uma própria e direta noção do humano; por outro lado, a centralização, essencialidade e primazia do homem na construção e avaliação do universo”. (Tradução própria)

Enfim, o Renascimento está estreitamente relacionado ao Humanismo, sendo este a sua primeira expressão, cujo fundamento estava na redescoberta e na reproposta da cultura clássica. Foi marcado por fenômenos que tiveram início no século XV, fenômenos estes de desenvolvimento de novas formas culturais, uma abundante produção artística, retomada de atividades econômicas e uma nova atenção à vida terrena.

A concepção de Renascimento relaciona-se com a sociedade italiana dos séculos XV e XVI, e entende-se por ele o “renascer” do homem, do seu desempenho social e cultural. Pode-se articular ainda que, dentre as inovações revolucionárias desta época, estão o novo interesse pela natureza e um vital otimismo que engrandece o homem como senhor da natureza. Um dos pontos destas inovações pode ser conferido no retorno da literatura em língua vulgar, que no Humanismo foi difundida somente em pequenos grupos de intelectuais, mas que, no Renascimento, foi posta à disposição da população, uma vez que existia um enorme desenvolvimento da imprensa, cujo trabalho havia favorecido a multiplicação do público de leitores.

A primeira manifestação cultural renascentista ocorreu na Península Itálica, na região da Toscana, e teve como principais centros duas cidades em particular, Florença e Siena. A partir de então, este movimento difundiu-se pela Europa Ocidental, mas a Península Itálica continuou sendo o local em que este movimento das artes teve maior expressão, graças à quantidade de artistas que predominavam nestes centros e também ao ambiente de mecenato, motivando a produção de obras de alto valor artístico.

Os homens do século XV e da primeira metade do século XVI possuíam uma grande percepção do revigorar da vida civil, dos estudos e das técnicas, e tal percepção fez-se notória por meio do duradouro processo de reestruturação da sociedade italiana na saída da crise econômica do século XIV e também da peste que assolou a Europa. Naquele momento histórico, os estudiosos e os artistas italianos renascentistas tiveram, então, a convicção de serem, realmente, o centro da sociedade europeia, sentindo-se guias da cultura dos demais países, que ainda não haviam saído da crise.

É conhecido que os séculos XV e XVI, na Itália, representaram um período muito importante para as artes, com grandes inovações, gêneros, técnicas, estilos. A primeira gravura em madeira, por exemplo, foi realizada no século XV, o primeiro livro impresso foi a Bíblia, no século XIV, por Johannes Gutenberg, e, ainda, nesse mesmo

período, foi feita a primeira pintura a óleo e também foram descobertas as regras da perspectiva linear.

Nessa época, os artistas italianos15 abandonaram a tradição pictórica medieval16, recusando-a em nome de uma mais antiga, ou seja, romperam com a tradição medieval em favor da tradição clássica. Assim sendo, este apreço pela Antiguidade clássica17 foi uma das principais características do movimento renascentista. Segundo BURKE (2010: 26), o rompimento existente com a tradição, na realidade, não ocorreu inteiramente, uma vez que, em muitas obras produzidas naquele momento artístico, é possível verificar uma série de características de ambos os períodos Medieval e Renascentista e ainda de outras obras que não seguiram nenhuma das características comuns a esses períodos artísticos. A rigor, a tradição medieval foi, aos poucos, sendo deixada de lado em busca de um novo ponto de vista pictórico, quando teve início a releitura dos clássicos.

Esse fervilhar artístico ocorrido, no momento histórico do Renascimento, particularmente em duas cidades da Itália, não foi acompanhado igualmente pela literatura em vernáculo, pois a península itálica, ainda não era concebida como um reino e encontrava-se totalmente fragmentada em regiões isoladas quer politicamente quer linguisticamente.

Essa peculiaridade italiana contribuiu sobremaneira para a diminuição da produção literária naquele momento do Renascimento. É notório que os dialetos, diferentes línguas entre si, variavam de região para região, ocasionando, muitas vezes, a dificuldade na interação de indivíduos que moravam até próximos, tornando problemática a comunicação oral, dada a quantidade enorme de dialetos existentes na Península Itálica, conforme é informado por Lanuzza 18. Além disso, cabe dizer que este panorama linguístico, apesar dos esforços das políticas linguísticas, como aqueles promovidos pela Accademia della Crusca19 a favor da língua vernácula italiana prolongou-se por vários séculos, até o século XX.

15 Esses artistas italianos eram os pintores e ilustradores da época do Renascimento, na Itália. 16

A tradição pictórica medieval era basicamente gótica e foi abandonada em favor de uma mais antiga, ou seja, a clássica, grega e romana.

17 A Antiguidade clássica compreende os gregos e romanos. 18

LANUZZA, Stefano. Storia della língua italiana . Roma: Newton Compton editori, 1994. 19 Fundada em 1583, em Florença.

A paisagem linguística italiana do Renascimento era outra, assim com era outra a visão de mundo na época do Renascimento. Pode-se observar que essas visões de mundo têm sua maior expressão na literatura e na arte. A visão da Itália do Renascimento traz uma imagem muito diferente das regiões italianas de outros tempos para além do Humanismo e do Renascimento, as quais foram representadas imageticamente, apresentando uma península italiana do passado, conhecida a partir de obras artísticas humanistas e renascentistas.

Neste momento da Dissertação, é necessário dispensar algumas linhas sobre a

noção de “obra de arte”. A concepção de obra de arte é moderna, por mais que os

museus e as galerias de arte possam indicar o contrário. Além disto, a valorização da obra de arte não era como é concebida hoje. Era outra, visto que, naquela época, no Renascimento, pinturas, esculturas, estátuas etc., eram considerados objetos descartáveis, ou seja, sem valor.

Apesar dessa desvalorização do sentido da obra de arte, sua utilização mais corrente era de sentido religioso. Em suma, as pessoas viam as imagens como sagradas, então elas eram utilizadas, por exemplo, como estímulo à devoção de algum santo ou santa, em particular. A esse respeito, BAXANDALL (1991: 48) afirma:

A maior parte das pinturas do século XV são religiosas. (...) significa que as pinturas eram criadas para preencher fins institucionais precisos, que sustentavam as atividades espirituais e intelectuais e que dependiam também da jurisdição de uma teoria eclesiástica consolidada com relação às imagens.

As pinturas também eram utilizadas dentro das casas, uma vez que causavam efeito moral sobre as crianças, de forma que os meninos deveriam se espelhar no menino Jesus e, as meninas, nas santas e na Virgem Maria, isto a título de aprendizado para as crianças. Outro exemplo de como essas imagens, cujos quadros eram colocados nas paredes das igrejas, em particular o tema dessas pinturas era a via Crucis, de Jesus Cristo, foram empregadas em sentido didático, pois tinham a função de possibilitar a leitura dos iletrados que não teriam como decodificar o texto escrito.

Além do uso religioso, o emprego político das pinturas também existiu nesse período. Eram pintados, normalmente, retratos oficiais de nobres e de cenas de vitórias em batalhas. Exemplo disto foi a destruição dos quadros encomendados por Cascina a Leonardo Da Vinci e a Michelangelo, feita pelos Medici quando retornaram ao poder em 1513. Tal fato é de suma importância nesse período e é o que se pode confirmar nessa breve citação em que BURKE (2010: 165) declara:

O lado positivo é que Cosimo de’Medici demonstrou que tinha consciência dos usos políticos da cultura ao fundar, primeiro, a Academia Florentina e, depois, a Academia do Desenho. Em outras palavras, ele tentou transformar o “capital cultural” toscano (o primado de sua língua, literatura, arte) em capital político para o regime.

A partir dessa afirmação, não se tem dúvida de que a política realmente influenciava as artes de maneira muito envolvente.

Não se pode esquecer da utilização das obras de arte em seu sentido estrito, ou seja, o uso de pinturas como gosto individual. Existiam os retratos das filhas esposáveis, em negociações com príncipes e também retratos de pessoas comuns. É necessário atentar para o fato de que, ter uma pintura ou uma estátua como decoração, por prazer,

ainda era muito difícil, visto que o conceito de “arte pela arte” estava muito longe de ser

concebido.

No Renascimento, o tema das pinturas era, em geral, de acordo com o gosto dos pintores, como, por exemplo, o gosto pela natureza, tratando das imagens com grande vivacidade, mostrando seu movimento, além da utilização da tridimensionalidade, tendo presente a harmonia renascentista. Havia ainda, naquele momento, a busca do traço da perfeição do belo adônico.

Essa aguçada procura de perfeição, por parte dos artistas, era também marcada pela diferença de gosto entre os indivíduos, mesmo porque, havia diferença entre as artes. Dessa maneira, houve mudança durante o período do Renascimento, a saber: diferenças entre regiões, principalmente entre Veneza e Florença, entre grupos sociais e entre indivíduos contra o Renascimento.

É importante ressaltar o fato de que, segundo BURKE (2010: 191), o Renascimento foi um movimento de minoria, haja vista que a maior parte da população era constituída de camponeses que, por questões peculiares a esse grupo, não teriam tido acesso às obras de arte, no sentido de conhecimento das inovações culturais. Em contrapartida a isso, para os artistas era dado um incentivo muito grande a favor do conhecimento e do aprimoramento de suas técnicas, feitas pelo mecena, ou patrono.

A questão do patronato, ou mecenato, teve grande importância no período do Renascimento, já que esses eram os clientes que faziam suas encomendas para os artistas. Roma foi um centro de patronato, que atraía artistas de várias outras regiões da Itália e da Europa. Tratando da parte geográfica, BURKE (2010: 64) declara que, nos séculos XV e XVI, as regiões mais urbanizadas da Europa localizavam-se na Itália e nos Países Baixos, sendo assim, verificou-se que a maioria dos artistas tinha suas origens ligadas a essas localizações.

É importante ressaltar o fato de que era grande o número de famílias de artistas nessa época, visto que, na Itália renascentista, tanto a pintura quanto a escultura eram

“negócios de família”, ou seja, muitas vezes, o trabalho artístico passava de geração

para geração dentro de uma família. Entretanto, não necessariamente, haja vista que os artistas poderiam ser tratados como membros da família e não terem nenhum tipo de laço sanguíneo, mas o tratamento interpessoal era o mesmo. Nesse sentido, muitos artistas passavam por uma formação, ou seja, para serem recrutados pelos mestres, eles precisavam estudar, sendo assim, faziam parte de culturas diferentes, a saber: a cultura da universidade e a do ateliê.

O estudo no ateliê tinha início quando o artista ainda era menino, durante um ano, com o intuito de obter prática no desenho do painel pequeno. Posteriormente a isto, ele deveria servir no ateliê sob a orientação de algum mestre para aprender a trabalhar em todas as áreas da profissão, para então poder dar início ao trabalho com as cores. Eles aprendiam ainda a mexer com as colas, gessos, modelavam, douravam e imprimiam, num período de seis anos. No total, seriam treze anos de treinamento para tentar chegar à perfeição do trabalho. Merece destaque o fato de que, para fazer parte de uma guilda20, era exigido dos pintores uma série de atividades em vários meios, como

20 Associação de profissionais que surgiu entre os séculos XIII e XV. Existiam vários tipos de guildas, como por exemplo, de comerciantes e de artistas.

trabalhos com telas, pergaminhos, painéis de madeira, gesso, tecido, ferro, vidro etc. Além desses trabalhos, era necessário, no treinamento dos pintores, o estudo e a cópia das coleções de desenhos do ateliê, cuja função era a de preservar a tradição dele e unificar o seu estilo. É preciso levar em consideração que alguns artistas entravam para a guilda já no final da carreira, como foi o caso de Botticelli.

O mestre, nesse caso, por vezes, era da família dos aprendizes, como citado anteriormente, e era pago para fornecer a eles moradia, alimentação e instrução. Outras vezes ainda, o mestre pagava aos aprendizes quantias que variavam de acordo com a evolução deles. O nome desses mestres tinha muita importância, algumas vezes, sendo adotado pelos aprendizes, como lembrança de sua formação, como foi o caso de Jacopo Sansovino e Domenico Campagnola, que eram aprendizes de Andrea Sansovino e Giulio Campagnola, respectivamente. Determinados ateliês possuíam um grande valor para a arte do período renascentista, como o de Lorenzo Ghiberti, o de Andrea el Verrocchio e o de Rafaello Sanzio, considerado o mais importante da época.

No século XV, havia treze universidades na Itália, sendo elas: Roma, Pisa, Ferrara, Salerno, Siena, Turim, Perúgia, Piacenza, Florença, Pádua, Nápoles, Pavia e Bolonha. Dentre elas, a universidade de Pádua21 era a mais importante da época e, em sequência, vinha a de Bolonha22 que era também muito popular entre a elite e a de Ferrara que era conhecida por seus baixos preços.

O estudo de artes na universidade era baseado nas sete artes liberais, que eram divididas no trivium, que abrangia a gramática, a lógica e a retórica, e o quadrivium, que abarcava a aritmética, a geometria, a música e a astronomia, conforme já explicado antes, quando se tratou da formação intelectual de Dante Alighieri. Posteriormente a isto, o aluno podia seguir seus estudos para níveis mais elevados como a teologia, a lei ou a medicina. Para manter um estudante na universidade o custo era de, aproximadamente, 20 florins por ano, ou seja, um valor muito alto para a época. Esse ponto merece um destaque, já que essa relação de estudo era oriunda da época medieval e, como dito anteriormente, Dante formou-se nesse modelo de aprendizado.

21 Universidade de Pádua: mais importante nas áreas de Filosofia e Medicina, segundo FERRONI, Giulio. Dalle Origini al Quattrocento. Milano: Einaudi Scuola, 1995, p.108 – 159.

22

Universidade de Bolonha: mais importante nas áreas de Direito, Medicina, Ars Dictandi e Tratados de retórica. Ver Ferroni (1995).

A organização das artes, tanto para pintores quanto para escultores, ocorria na

bottega, ou seja, num estúdio, local onde os artistas produziam uma variada quantidade de trabalhos em colaboração uns com os outros. Obviamente, essas botteghe recebiam muitas encomendas, sendo assim, por vezes, era necessário contratar assistentes, além dos aprendizes que já trabalhavam lá, para que essas encomendas fossem realizadas no prazo pedido. Os assistentes eram chamados garzoni (meninos) e, como tratado

anteriormente, eles, provavelmente, pertenciam à “família” do mestre.

Uma problemática existente no período era a da autoria, uma vez que o mestre assinava todas as obras realizadas, porém, nem sempre ele as tinha feito. Um detalhe não deve ser esquecido, uma vez que, pelos traços das obras, era possível identificar o autor delas, já que os pintores eram conhecidos por suas particularidades no trabalho.

Nessa época, era comum a existência de preconceito para com artistas e escritores, uma vez que não eram respeitados por todos. Desta forma, os artistas eram

considerados “desprezíveis”, devido ao caráter manual de seus trabalhos, além de

envolver a venda no varejo, indiciando uma falta de aprendizado. Esse desprezo pelo trabalho manual dos artistas referia-se ao fato de os artistas terem de sujar as mãos para pintarem e, aos nobres, esse tipo de trabalho não agradava. Outro ponto, a venda ao varejo, gerava outro preconceito que os aproximava aos mascates, aos verdureiros e aos pintores. Somava-se a isso ainda o preconceito da elite daquela época em relação ao artista, que era considerado ignorante por não ser treinado em teologia e nos estudos clássicos.

Destarte, apesar de suas investigações e esforços, os estudos das artes “liberais” eram considerados uma arte mecânica. Desse modo, era pouco provável que um pintor tivesse uma condição financeira elevada, que aumentasse seu status. Todavia, alguns recebiam postos administrativos e civis, que tornavam esse status mais elevado, além de lhes render dinheiro.

É notório que os poucos que enriqueceram com esse trabalho aumentavam muito

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 32-42)