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Escolas Participantes

4.3. Desenho do Estudo

Nesta secção descreve-se o desenho do estudo, pormenorizando as diferentes fases que o constituíram. Na figura 4.2. estão ilustradas essas fases que, para além de sequenciais, também se interpenetram, ocorrendo em determinados momentos de cada fase, a emergência de elementos, que se organizaram como ponto de partida ou parte integrante da fase seguinte. O objectivo era verificar como se aplicavam e reflectiam as TIC numa perspectiva de Tecnologias Solidárias, o que exigiu um estudo pormenorizado, aprofundado e global dos intervenientes, dos recursos e das práticas prosseguidas por cada uma das escolas participantes. Face à abrangência das questões, o modo mais adequado de lhes dar resposta foi basear a investigação na análise de situações reais segundo uma abordagem fenomenológica, de acordo com Cohen, Manion & Morrison (2000, p. 223), como “um procedimento essencialmente in loco, com vista a lidar com um problema concreto localizado numa situação imediata [...]”, uma característica desta investigação na qual os participantes do estudo observaram, indagaram e focalizaram determinados aspectos, através de reajustes constantes que melhoraram a qualidade e a adequabilidade da sua prática.

Um estudo com estas características aproximou-se do estudo de caso qualitativo que, segundo Merriam (1991), se caracteriza por ser: 1) particularista, ou seja, centrou-se numa situação particular ou num fenómeno, neste caso o CANTIC/CRTIC da Amadora com cada uma das suas instituições consideradas; 2)

descritivo, porque visou uma exposição detalhada dos participantes e dos

processos sob observação; 3) heurístico ou interpretativo, porque essa descrição pormenorizada trouxe novas explicações, gerou novas hipóteses e significados, acerca dos processos em estudo; 4) indutivo, atendendo a que o propósito era descobrir novas relações e conceitos ou construir categorias teóricas, em lugar de testar hipóteses predeterminadas; 5) naturalista, porque como investigadora me focalizei nos comportamentos e nas situações naturais, não procedendo à manipulação de variáveis própria de contextos experimentais controlados; 6)

100 campo, uma vez que, como investigadora, estive presente no local em que o

processo em estudo ocorreu naturalmente; 8) como investigadora fui o principal

instrumento de recolha e análise de dados.

Figura 4.2. Desenho de estudo19

4.3.1. Definição e Concretização da Fase Exploratória

Na fase exploratória traçou-se o diagnóstico das condições existentes nas salas de aulas das escolas participantes mediadas pelo CANTIC/CRTIC da Amadora, o que permitiu traçar o perfil dos alunos hospitalizados e dos

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professores, as características das tecnologias de apoio que eram utilizadas e o potencial campo de implementação das Tecnologias Solidárias.

Desde o primeiro momento e na minha primeira visita apresentei as minhas motivações e os objectivos da investigação às três escolas em estudo. As professoras, educadoras de infância, auxiliares de educação e directores clínicos dos serviços de pediatria acolheram a investigação de braços abertos, integrando- me nos seus projectos e nas estratégias de curto, médio e longo prazo, porque todos eles lidavam com falta de recursos humanos e meios e a presença de mais uma docente na sala de aula, apesar de estar em trabalho de observação, poderia ajudar muito a manter as sinergias escolares. Neste sentido e atendendo ao tipo de trabalho que era desenvolvido pelo CANTIC/CRTIC da Amadora, estabelecendo a ligação entre a escola de origem e os outros locais onde os alunos se encontravam (ex. hospital, casa, serviço de reabilitação) foi decidido em conjunto com aquele organismo e a DRELVT que eu podia conduzir o estudo nas escolas consideradas e que desde o início passavam a ser designadas por Escolinha do IPO, Escola do CMRA e Escola do Garcia d‟Orta. Pretendeu-se, de acordo com as questões orientadoras e os objectivos da investigação, esclarecer e efectuar uma análise aprofundada dos processos em curso nessas instituições o que contribuiu para um quadro de referência em que se explicitou:

 como é que as TIC eram usadas no ensino-aprendizagem das várias disciplinas em geral e das Ciências em particular, consoante as caracterísiticas individuais dos alunos;

 perfil dos utilizadores (intervenientes no processo de ensino- aprendizagem);

 as características técnicas e tecnológicas, nomeadamente a acessibilidade e usabilidade dos equipamentos e recursos educativos digitais.

Destes elementos foi possível extrapolar a viabilidade do conceito de Tecnologias Solidárias no sentido de tecnologias acessíveis a todos e identificar necessidades e desafios que pudessem ser ultrapassados, com eventuais aplicações específicas da Web 2.0 para o ensino-aprendizagem das várias disciplinas e das ciências em particular, concebidas e criadas à luz das Tecnologias Solidárias ou

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seja hardware, software e gadjets adaptados de acordo com a ergonomia, a acessibilidade e usabilidade para que os alunos usufruíssem delas plenamente. Pretendia-se uma via de inclusão para todos os que tivessem dificuldades de aprendizagem ou incapacidades.

Sendo consistente com as características do estudo de caso qualitativo foram seguidos diferentes métodos de recolha de dados que estão resumidos na tabela 4.3.

Tabela 4.3.

Fase exploratória: Métodos de recolha de dados

Descrição Métodos Tratamento

 Descrever factores que influenciam o uso das TIC na generalidade e no ensino-aprendizagem das ciências em particular.

 Caracterizar o perfil dos utilizadores (intervenientes no processo de ensino aprendizagem).

Enumerar as características técnicas dos equipamentos.

 Questionário aos alunos  Entrevistas semi-estruturadas

(responsáveis, docentes, alunos).20

 Análise de documentos (currículo de Ciências, planos personalizados de apoio educativo).

 Observação participante.  Análise de hardware, software,

conteúdos interactivos, tendo em conta os requisitos da heurística semiótica.

 Análise descritiva.  Análise de conteúdo

categorial.

Tal como foi referido anteriormente, as escolas dos hospitais foram seleccionadas após a obtenção das autorizações indispensáveis para realizar o estudo, que foram concedidas por parte da DRELVT e do CANTIC/CRTIC da Amadora em colaboração com as professoras das escolas visadas e das respectivas direcções dos três serviços de pediatria onde se situavam fisicamente (Apêndices 8, 9, 10). As escolas situavam-se na região de Lisboa concretamente na Praça de Espanha, Alcabideche e Almada; eram de fácil acesso e todos os intervenientes estavam preparados para me receber como investigadora durante um ano lectivo, de acordo com um horário pré-estabelecido, semana a semana, que se coadunava com a minha actividade lectiva como professora que, na altura me encontrava a leccionar numa Escola EB 2.3 nos arredores de Lisboa.

A orientação do CANTIC/CRTIC da Amadora foi decisiva para conseguir acesso à informação disponível sobre cada escola, assegurando-me condições para conhecer um pouco melhor todas as instituições envolvidas e o modo como a

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tecnologia atravessava o (s) currículo(s) ali praticado(s) e como era utilizada. Para isso foram efectuadas duas reuniões preparatórias com a responsável pelo CANTIC/CRTIC da Amadora onde se traçaram, em termos gerais, as linhas mestras do projecto de investigação comum a decorrer nas três escolas, os recursos tecnológicos a utilizar e a metodologia usada na TeleAula, assim como algumas coordenadas fornecidas pelas professoras que iriam acompanhar, as diversas fases de investigação.

A decisão de prosseguir a metodologia de um só estudo de caso deveu-se ao facto das três escolas (do IPO, do CMRA e do Hospital Garcia d‟Orta) partilharem o enquadramento e estruturas únicas, como por exemplo o destacamento das professoras, a afectação dos recursos de informática e os sistemas de videoconferência da responsabilidade do CANTIC/CRTIC da Amadora. Para além disso repartiam tarefas e objectivos comuns (extensíveis às restantes duas escolas localizadas em outros hospitais) como o projecto Comenius 1 denominado “Percursos” em que se procurava colaborar para o desenvolvimento da escolaridade e socialização dos alunos internados em vários hospitais da Europa, através da partilha de conhecimentos e experiências similares, por parte de professores e alunos no sentido de alertar para a riqueza da dimensão Europeia. Este projecto esteve orientado para a criação de mecanismos de reunião de experiências e de construção de ambientes de aprendizagem, suportados por tecnologias de comunicação a distância síncrona (chat, videoconferência) e assíncrona (fóruns, e-mail, páginas Web). Tinha como fundamento pedagógico princípios construtivistas e de trabalho colaborativo, sendo constituído por áreas de incidência curricular organizadas de acordo com um só tema, partilhado e construído entre as diferentes escolas de hospitais envolvidas e cujo objectivo comum, a longo prazo, era contribuir para a construção de uma Rede Europeia de Escolas de Hospital21.

O facto de todas as professoras das escolas em estudo terem frequentado no ano lectivo de 2006/2007 duas acções de formação – “A Escola e as Necessidades

21 Em Portugal, colaboraram na execução do projecto todas as Escolas de Hospital coordenadas pelo

CANTIC - a Escola do Hospital de Dª Estefânia (parceiro directo português), Santa Maria, Garcia de Orta, IPO e Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão.

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Educativas Especiais” e “Inclusão de alunos com Deficiência Motora Severa: Metodologias e Recursos de Aprendizagem” – com a duração de cinquenta horas cada uma, permitiu que desenvolvessem as competências necessárias para frequentarem a plataforma MOODLE do CANTIC/CRTIC da Amadora, denominada TeleAula, onde aconteceram as horas de trabalho autónomo.

De alguma literatura que refere o estudo de caso, Cohen, Manion & Morrison (2000) apresentam algumas características metodológicas, particularmente relevantes para a descrição da presente investigação:

1) um único caso com certos limites – um estudo de três escolas de hospitais reguladas pelo CANTIC/CRTIC da Amadora, seus alunos, cinco professoras, encarregados de educação e outros participantes na investigação no contexto das tecnologias acessíveis a todos; 2) um sistema integrado – pelo interesse em clarificar o conceito de Tecnologias Solidárias através da observação das interacções entre alunos, entre estes e os professores, entre os recursos na sala de aula e o currículo, assim como os utilizados na TeleAula em ambientes de aprendizagem nas três escolas do CANTIC/CRTIC da Amadora; 3) um estudo longitudinal – por se estender por mais de um ano lectivo na procura da clarificação do conceito de Tecnologias Solidárias, nomeadamente através da utilização do protótipo SaberSimples.net e da alteração das interfaces no sentido de favorecerem a inclusão dos alunos hospitalizados; 4) um processo – através do qual se monitorizou e examinou o progresso das diferentes fases da investigação até à aplicação do protótipo.

Ao longo de todo o processo procurei, como investigadora, descrever detalhadamente a situação como um todo, como um fenómeno ancorado na vida real e com significados profundos, permitindo, a quem se debruçar sobre o assunto que o estudo versa, extrair, a partir dele, ensinamentos e expandir as suas experiências.