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2.3 Desenho Universal (DU)

2.3.2 Desenho Universal no Brasil

Apenas em meados dos anos 80 iniciou-se um debate popular sobre acessibilidade no Brasil, surgindo leis, decretos e documentos técnicos que visavam à garantia do direito de acessibilidade ao meio físico, às pessoas com deficiência.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 2004) é o Fórum Nacional de Normalização, cujo conteúdo é de responsabilidade dos Comitês Brasileiros (ABNT/CB), dos Organismos de Normalização Setorial (ABNT/ONS) e das Comissões de Estudo Especiais Temporárias (ABNT/CEET). Em 1985, é publicada a primeira norma técnica brasileira sobre Adequações das Edificações e do Mobiliário Urbano à pessoa deficiente – a NBR 9050:1985.

Inicia-se em 1991, a revisão da NBR 9050:1985 e em junho de 1994, na cidade do Rio de Janeiro, deu-se o VI Seminário Ibero-Americano de Acessibilidade ao Meio Físico - SIAMF, onde apresentou-se o conceito de Desenho Universal no Brasil, pelo arquiteto americano Edward Steinfeld. O conceito é incorporado ao texto da NBR 9050:1994 e é publicada uma nova revisão desta norma (PRADO et al., 2010).

A Declaração de Salamanca, surgida após a Conferência Mundial sobre Educação de necessidades Especiais: Acesso e Qualidade, tratou da inclusão na educação, surgindo assim o direito de exigir sua inclusão em todos os aspectos da vida em sociedade. Em 1999, foi realizada a Convenção de Guatemala, Convenção Interamericana para a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra Pessoas com Deficiência. Atualmente, a expressão pessoas com deficiência passou a ser utilizada, fazendo parte do texto da Convenção Internacional para Proteção e Promoção dos Direitos e Dignidade das Pessoas com Deficiência, elaborado pela ONU (PRADO et al., 2010).

No ano de 2000, são publicadas pelo Governo Federal duas leis que objetivavam a garantia da acessibilidade:

- A lei 10.048/00 (BRASIL, 2000) que obriga a dispensa de atendimento prioritário às pessoas com deficiência e acessibilidade nos transportes públicos. A lei demonstra que acessibilidade não se dá apenas na adaptação de ambientes, mas exige uma mudança de postura das pessoas, através do acesso e atendimento prioritário.

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condição de alcance para a utilização dos espaços mobiliários e equipamentos urbanos, com segurança e economia, nas edificações, transporte, sistemas e meios de comunicação, por pessoa com deficiência física ou mobilidade reduzida.

Devido ao número elevado de normas desenvolvidas e estudos referentes ao tema Acessibilidade, no ano de 2000 é criado o Comitê Brasileiro de Acessibilidade – CB 40, na Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, com a Comissão de Estudos Acessibilidade a Edificação e Meio – CE01. Posteriormente, são formadas as Comissões de Estudos de Transporte com Acessibilidade (CE – 02) e Acessibilidade em Comunicação (CE – 03) e em seguida Acessibilidade e Inclusão Digital (CE – 04).

Em 2003, cria-se o Estatuto do Idoso, Lei 10.741/03 (BRASIL, 2003), que assegura por lei ou por outros meios, “todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade”, e o Ministério das Cidades.

Em 2004 é publicado o Decreto-Lei 5.296/04 (BRASIL, 2004), o decreto da acessibilidade, como ficou conhecido no Brasil, regulamentando as Leis Federais 10.048 e 10.098 de 2000, que concedem:

[...] prioridade de atendimento às pessoas portadoras de deficiência, os idosos com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, as gestantes, as lactantes e as pessoas acompanhadas por crianças de colo, e, que estabelecem normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida (BRASIL, 2004, s/p.).

No mesmo ano, após três anos de revisão, foi publicada a nova revisão da NBR 9050, a NBR 9050:2004 (ABNT, 2004), que contém um prefácio e mais 97 (noventa e sete) páginas divididas em: objetivo, referências normativas, definições, parâmetros antropométricos, comunicação e sinalização, acessos e circulação, sanitários e vestiários, equipamentos urbanos e mobiliários. Frequentemente no Brasil, o termo acessibilidade refere-se a questões ligadas a espaços pensados para todas as pessoas. Segundo a NBR 9050 (ABNT, 2004, p. 2), acessibilidade é “possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para utilização com segurança e autonomia de edificações, espaço, mobiliário, equipamento urbano e elementos”.

O conceito de Desenho Universal está definido pelo Decreto-Lei 5296 (BRASIL, 2004) e pela norma técnica NBR 9050:2004 (ABNT, 2004). Em ambos os casos, as disposições são

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importantes como referenciais de soluções para uso dos elementos ambientais pelo maior número possível de pessoas, independentemente de suas características físicas, faixa etária e habilidades (GUIMARÃES, 2008).

A NBR 9050:2004 (ABNT, 2004) - Acessibilidade a edificações, mobiliário espaços e equipamentos urbanos9, classifica os deficientes em: Pessoa com Deficiência Visual (cegueira); Pessoa com Deficiência Auditiva (surdez) e Pessoa com Mobilidade Reduzida. A norma contempla superficialmente os aspectos essenciais relativos às necessidades das pessoas com deficiências sensoriais, que experimentam dificuldades referentes à orientação e comunicação durante a utilização dos espaços e não contempla as questões relativas aos problemas cognitivos. “No entanto, estas classificações, são essencialmente baseadas em estudos da área da saúde, pouco explicitando de que forma as deficiências afetam a utilização do espaço pelo indivíduo, seja em edificações ou no meio urbano” (CARLIN, 2004, p. 32).

Para demonstrar a ampla diversidade de usuários, Bins Ely et al. (2001 apud CARLIN, 2004, p. 32-33) classifica as deficiências em: sensoriais, “perdas significativas nas capacidades dos sistemas de percepção”; cognitivas, “baixa capacidade de compreensão e comunicação das informações, implicando, em geral, uma baixa adaptabilidade do convívio social”; físico-motoras, “não satisfação da demanda de atividades que necessitam a força física (agarrar, puxar, alcançar, etc.), de coordenação motora e precisão (rotacionar, pinçar etc.), ou ainda aquelas relativas à mobilidade (caminhar, correr, pular, etc.)”; múltiplas, “indivíduo apresenta a associação de mais de um tipo de deficiência primária”, estudo realizado em função das relações indivíduos/indivíduos e indivíduos/meio-ambiente.

É possível notar que a NBR 9050 (ABNT, 2004) vem sofrendo revisões e alterações na tentativa de aprimoramento dos conceitos em relação à concepção de um Desenho Universal e não somente de uma solução acessível. Entretanto, por ser uma norma técnica, fica vinculada às soluções técnicas e não traz exemplos conceituais. Recomendações mínimas de normas técnicas geram soluções restritas para uso em ocasiões especiais por pessoas especiais com necessidades incomuns (GUIMARÃES, 1998, s/p.). Atualmente, a norma está novamente em revisão e em uma tentativa inédita de aprimorar as soluções oferecidas, a Associação Brasileira de Normas Técnicas

9É necessário destacar que desde junho de 2004, através de um acordo entre a ABNT e o Ministério Público, a

sociedade brasileira pode ter acesso gratuito às normas técnicas da ABNT relativas à acessibilidade, objetivando contribuir para a eliminação de barreiras arquitetônicas e a inclusão social.

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(ABNT) abriu uma consulta pública nacional no ano de 2012, para que a população possa contribuir com sugestões de como tornar a norma mais eficiente, acrescentando dessa forma experiências e ideias de pessoas envolvidas com a acessibilidade.

Os sete princípios do Desenho Universal demonstram claramente que o espaço acessível se apresenta além das Normas de Acessibilidade NBR 9050:2004, devendo ser convidativo, de fácil percurso, possuir atrativos e principalmente, reduzir a distância funcional entre os elementos do espaço e as capacidades das pessoas (GUIMARÃES, 2010). Além disso, a aplicação do Desenho Universal exige a integração dos recursos de acessibilidade e usabilidade desde o início, eliminando qualquer estigma e resultando na inclusão social de uma ampla diversidade de usuários (AFACAN; ERBUG, 2009). “A acessibilidade espacial diz respeito às condições dos ambientes, de forma a permitir o acesso, o deslocamento, a orientação e o uso dos equipamentos para qualquer indivíduo, sem necessitar o conhecimento prévio de suas características” (BERNARDI et al., 2011, p. 223).