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Em geral, todos se sentem melhor quando a disposição da edificação é inteligível. A disposição compreensível facilita saber onde estamos e como chegar aonde queremos. [...] A edificação bem projetada pode dar uma contribuição significativa à orientação espacial (VOORDT; WEGEN, 2013, p. 185).

Em 1960, o arquiteto e urbanista norte-americano Kevin Lynch em seu livro The Image of the City (LYNCH, 2010) desenvolve critérios claros para a legibilidade ou clareza de bairros e cidades, definida como a “facilidade com que suas partes podem ser reconhecidas e organizadas num modelo coerente (LYNCH, 2010, p. 3), e utiliza pela primeira vez o termo way-finding descrevendo como a navegação individual na cidade utiliza referenciais urbanos e reconhece um padrão relativo à percepção da cidade, desenvolvendo uma classificação dos referenciais urbanos em cinco elementos (LYNCH, 2010, p. 52-53): vias, limites, bairro, pontos nodais e marcos.

Lynch (2010) discorre que a percepção espacial se desenvolve de maneira diferente para cada observador, a imagem é a interação entre o observador e o objeto observado que filtra objetos, barreiras e campo visual distinto. Foi o primeiro a reconhecer a importância da imagem que as pessoas fazem dos ambientes para encontrarem seu caminho e sua pesquisa é baseada no conceito de orientação espacial e em seu quesito anterior, o mapa cognitivo, ou como Lynch (2010, p. 7) se referia, a “imagem”.

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As imagens ambientais são o resultado de um processo bilateral entre o observador e seu ambiente. Este último sugere especificidades e relações, e o observador - com grande capacidade de adaptação e à luz de seus próprios objetivos - seleciona, organiza e confere significado àquilo que vê. A imagem assim desenvolvida limita e enfatiza o que é visto, enquanto a imagem em si é testada, num processo constante de interação, contra a informação perceptiva filtrada. Desse modo, a imagem de uma determinada realidade pode variar significativamente entre observadores diferentes.

“Estruturar e identificar o ambiente é uma capacidade vital entre todos os animais que se locomovem. Muitos tipos de indicadores são usados: as sensações visuais de cor, forma, movimento ou polarização da luz, além de outros sentidos como o olfato, a audição, o tato, a cinestesia” (LYNCH, 2010, p. 3). Esse conceito traduz a orientabilidade utilizada para determinar direcionamento espacial, proporcionando a facilidade ou não de orientar-se no espaço. Também pode ser compreendido como uma reunião de informações e processo de tomada de decisão que as pessoas utilizam para movimentar-se e deslocar-se no espaço, ou seja, como as pessoas se deslocam de um local para outro. “Um ambiente ordenado pode [...] servir como um vasto sistema de referências, um organizador da atividade, da crença ou do conhecimento” (LYNCH, 2010, p. 4-5).

Christian Norberg-Schulz em seu livro Existencia, Espacio y Arquitectura (NORBERG- SCHULZ, 1975), reflete em suas pesquisas os problemas de orientação e sistemas de referência destacados por Lynch, considerando que uma parte necessária da orientação do usuário está na interpretação de esquemas ambientais ou imagens, baseando-se nas teorias de Piaget e na Gestalt. Define os esquemas elementares da organização do espaço e argumenta que a orientação decorre da compreensão das relações de natureza topológica, ou seja, da definição de lugares (fatores de proximidade), caminhos (fatores de continuidade) e regiões (fatores de configuração), e suas inter- relações.

Gordon Cullen em seu livro Paisagem Urbana (CULLEN, 1971) discute a cidade como objeto de percepção entre seus habitantes, “efetivamente, uma cidade é algo mais do que o somatório de seus habitantes: é uma unidade geradora de seu excedente de bem-estar e de facilidades que leva a maioria das pessoas a preferirem – independentemente de outras razões - viver em comunidade a viverem isoladas” (CULLEN, 1971, p. 9), propondo um conceito de paisagem urbana como elemento organizador e recorrendo a três aspectos: ótica, “[...] a paisagem

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urbana surge na maioria das vezes como uma sucessão de surpresas ou revelações súbitas. É o que se entende por VISÃO SERIAL” (CULLEN, 1971, p. 11) ou análise sequencial, ou seja, sucessão de pontos de vista, percepções sequenciais do espaço urbano; local, sentido de localização, “[...] este tipo de percepção integra-se numa ordem de experiências ligadas às sensações provocadas por espaços abertos e espaços fechados” (CULLEN, 1971, p. 11); e conteúdo, relação com a constituição da cidade, “[...] a sua cor, textura, escala, o seu estilo, a sua natureza, a sua personalidade e tudo o que a individualiza” (CULLEN, 1971, p. 13). A discussão proposta por Cullen (1971), aborda a questão ótica como uma visão serial dos objetos à medida que o observador se movimenta pelo local, a apreensão do local e da sua posição em relação à ele e o conteúdo intrínseco formado pelo conjunto das figuras visuais.

Seguindo os conceitos de Cullen (1971), Edmund Bacon em seu livro Design of Cities (BACON, 1976), certifica que a percepção e compreensão do espaço possui um caráter sequencial e deve impulsionar a articulação entre os espaços através do movimento, “[...] o ingrediente básico do projeto de arquitetura consiste em dois elementos, massa e espaço” (BACON, 1976, p. 15, tradução nossa) e a “articulação do espaço só pode ser vivenciada pelo movimento” (BACON, 1967, p. 41, tradução nossa).

Ignacio Solà-Morales em seu livro Territorios (SOLÀ-MORALES, 2002) afirma que a noção de espaço, tal como conhecemos atualmente, faz parte de um pensamento desenvolvido desde início do século XX, com a introdução de dois valores – o da profundidade e o da relatividade. Para o arquiteto, o espaço não é considerado como intervalo entre o chão, as paredes e o teto, mas possui a capacidade de gerar espacialidades, através de várias experimentações no espaço. Em relação a percepção, os espaços são caracterizados pelos usos e atividades. A ordenação do ambiente inclui características do espaço, ou seja, a forma do arranjo físico (layout e sistema de circulação), o zoneamento funcional (separação das diferentes atividades) e a presença de elementos referenciais. A percepção da informação se dá através de canais sensoriais e entre eles temos o sistema básico de orientação.

As metodologias de leitura e interpretação do espaço urbano relatadas apresentam o atributo visual como elemento principal. Mas, e na ausência de visão do usuário? “Ao tratar das características físicas dos espaços e das possibilidades de acesso e uso por parte dos distintos usuários, o tema acessibilidade e Desenho Universal remete à área de estudos Ambiente e

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Comportamento (Environment and Behavior)” (REIS; LAY, 2010, p. 105). Prover o ambiente de informações e soluções espaciais diferenciadas para usuários com diferentes habilidades e limitações, ou seja, intervenções para qualificação da vida urbana, é um grande desafio para os arquitetos e urbanistas. Devido a essa afirmação, a demanda pelo conhecimento específico sobre a natureza das diferentes restrições e suas implicações na utilização do espaço se faz necessária. Portanto, é de extrema importância “discutir a importância da abordagem perceptiva e cognitiva para a análise espacial envolvendo a acessibilidade e Desenho Universal” (REIS; LAY, 2010).