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CAPÍTULO IV – DESENVOLVIMENTO RURAL

6. Desenvolvimento Rural – Que Oportunidades?

Como já foi referido noutros pontos, o modelo de desenvolvimento rural consolida cada vez mais as vertentes económica, social, ambiental. Neste sentido, e se analisarmos estas vertentes no espaço rural português, é clara a existência de estrangulamentos em todas elas.

Relativamente à vertente económica, encontramos um fraco nível empresarial; um importante esforço de investimento, mas com fraco impacto no produto; uma débil organização de fileira e ainda um fraco nível de inovação.

Quanto à dimensão social, para além de encontramos uma população rural envelhecida, com um baixo nível de instrução e de qualificação, é visível uma disparidade ao nível dos rendimentos e de desenvolvimento.

Finalmente, e não menos importante, vemos que, em relação à dimensão ambiental, é frequente existir uma deficiente gestão dos recursos, quer em relação à água, floresta, solo e efluentes, quer nalgumas situações localizadas de degradação ambiental, provocadas, nomeadamente, pelos incêndios.

No entanto, Covas (2004:91) confirma “os territórios rurais possuem muitos atributos e qualidades: fauna e flora, ecossistemas particulares, paisagens humanizadas, modos de povoamento, sítios históricos, aldeias exemplares, tradições seculares, manifestações ancestrais, etc.’’, encontrando-se em todas as vertentes, apesar de maltratadas, um conjunto de oportunidades que, devidamente aproveitadas, poderão impulsionar o desenvolvimento rural sustentável.

No que concerne à vertente económica, encontramos uma maior orientação para o mercado, infra-estruturas de rega, uma procura crescente de produtos diferenciados e de qualidade e ainda um crescimento do mercado interno.

152 Na vertente social, são importantes os índices de qualidade das zonas rurais, as dinâmicas locais estabelecidas, os produtos e os saberes tradicionais e ainda uma base de estrutura familiar na agricultura.

No que diz respeito à vertente ambiental, encontramos uma valorização dos produtos e actividades associadas ao ambiente e paisagem, um património cultural e natural rico e diversificado, uma evolução tecnológica para a agricultura de qualidade e ainda o papel multifuncional da floresta.

Relativamente à agricultura, e tendo sempre presente as orientações estratégicas comunitárias e nacionais, contidas no Plano Nacional de Desenvolvimento Rural, o nosso país e as zonas rurais têm oportunidade de seguir duas vias: a da agricultura industrial (apostando nos transgénicos) e a da agricultura de qualidade juntamente com a valorização dos espaços rurais. Em Portugal, as políticas de futuro do Norte rural, basear-se-ão necessariamente na segunda via, apostando:

- nas carnes e noutros produtos animais com denominações protegidas; - na agricultura biológica39;

- em frutos como a castanha; - nos vinhos de qualidade; - no azeite;

- e ainda no turismo rural40;

39“A agricultura biológica deve ser entendida como componente de um sistema de exploração sustentável e como alternativa viável

em relação a formas mais tradicionais de agricultura. Constitui uma nova forma de encarar a actividade agrícola, aproximando-a nomeadamente das técnicas tradicionais no que estas têm de melhor (carácter não poluente) e utilizando o que a ciência tem de mais inovador, numa perspectiva de preservação ambiental e de manutenção da biodiversidade. Recorre a técnicas fitossanitárias avançadas, embora naturais. Os métodos culturais, biológicos e mecânicos são preferidos aos produtos químicos de síntese. O crescimento da agricultura biológica abre novas perspectivas de emprego ao nível da produção, transformação e serviços afins. Além das vantagens ambientais, estes sistemas de exploração podem produzir benefícios significativos tanto par a economia como para a coesão social das zonas rurais (Guia de Regulamentação Comunitária, 2001).

40Numa perspectiva de desenvolvimento rural, o turismo em espaço rural é uma das actividades mais bem colocadas para assegurar

a revitalização do tecido económico rural, sendo tanto mais forte quanto conseguir endogeneizar os recursos, a história, as tradições e a cultura de cada região (Medeiros, 1996). O saber-fazer turismo em espaço rural (TER) assenta, em grande parte, no fazer-saber, ou seja, na capacidade de comunicação dos rurais (pelas palavras, atitudes, cenário e actividade) com citadinos que perderam o contacto com campo e a natureza, para os quais o mundo rural é gerador de um novo exotismo, o da qualidade, o da simplicidade. Segundo o Decreto-Lei nº 54/2002 de 11 de Março, o Turismo no Espaço Rural compreende os serviços de hospedagem prestados nas seguintes modalidades: turismo de habitação, turismo rural agro-turismo, turismo de aldeia, casas de campo, hotéis rurais e parques de campismo rurais..

- Designa-se por turismo de habitação o serviço de hospedagem de natureza familiar, prestado a turistas, em casas antigas particulares que, pelo seu valor arquitectónico, histórico ou artístico, sejam representativas de uma determinada época, nomeadamente os solares e as casas apalaçadas. O turismo de habitação só pode ser explorado por pessoas singulares ou sociedades familiares que sejam proprietárias, possuidoras ou legítimas detentoras da casa e que nelas residam durante o período de exploração. - Para efeitos do disposto no número anterior, entende-se por “sociedades familiares” as sociedades comerciais em que 80% do respectivo capital social seja detido por membros da mesma família cujo respectivo parentesco não exceda o 6º grau da linha colateral.

- Designa-se por turismo rural o serviço de hospedagem de natureza familiar, prestado a turistas em casas rústicas particulares que, pela sua traça, materiais construtivos e demais características, se integrem na arquitectura típica regional. Aplica-se ao turismo rural, com as necessárias adaptações, o disposto nos nº 2 e 3 do artigo anterior.

153 - na floresta, em produtos lenhosos e não lenhosos, na bioenergia, na caça, nos usos recreativos e nos serviços ambientais41;

Mas, para promover o progresso rural, torna-se essencial que se aposte, em primeiro lugar, na vertente social, traduzida esta na capacidade de os agentes locais se organizarem colectivamente com o intuito de promoverem o desenvolvimento rural em que se inserem. Adoptando uma filosofia diferente da até então seguida, torna-se fundamental que se aposte na qualidade dos produtos. No entanto, para seguir este modelo alternativo à produção tradicional, torna-se necessária uma maior organização e autodisciplina de todos os agentes, ao longo da linha produtiva, inclusive os consumidores. Segue-se uma maior organização colectiva para a abertura à internacionalização e, por último, e porque os consumidores procuram essencialmente os produtos mais baratos, exige uma maior organização colectiva para a promoção

- Designa-se por agro-turismo o serviço de hospedagem de natureza familiar, prestado em casas particulares integradas em explorações agrícolas que permitam aos hóspedes o acompanhamento e conhecimento da actividade agrícola ou a participação nos trabalhos aí desenvolvidos, de acordo com as regras estabelecidas pelo seu responsável.

- O agro-turismo tem por base a agricultura e constitui uma modalidade do TER, de capital importância para a divulgação da cultura rural. Como actividade económica apresenta-se como um factor de desenvolvimento da agricultura e do pastoreio, bem como das actividades florestais e cinegéticas. Os clientes do Agro-turismo procuram produtos agrícolas naturais ou artesanais típicos da região contribuindo para o aumento da sua produção. A agricultura é detentora de um património histórico e cultural bastante rico, de que são exemplos as máquinas agrícolas, a gastronomia típica, a arquitectura local, que podem funcionar como uma importante atracção turística.

- Designa-se por turismo de aldeia o serviço de hospedagem prestado num conjunto de, no mínimo, cinco casas particulares situadas numa aldeia e exploradas de forma integrada, quer sejam ou não utilizadas como habitação própria dos seus proprietários, possuidores ou legítimos detentores. As casas afectas ao turismo de aldeia devem, pela sua traça, materiais de construção e demais características, integrar-se na arquitectura típica local. O turismo de aldeia pode ser explorado em aldeias históricas, em centros rurais ou em aldeias que mantenham, no seu conjunto, o ambiente urbano, estético e paisagístico tradicional da região onde se inserem. A exploração das casas de turismo de aldeia deve ser realizada por uma única entidade, sem prejuízo de a propriedade das mesmas pertencer a mais de uma pessoa. São hotéis rurais os estabelecimentos hoteleiros situados em zonas rurais e fora das sedes de concelho cuja população, de acordo com o ultimo censo realizado, seja superior a 20 000 habitantes, destinados a proporcionar, mediante remuneração, serviços de alojamento e outros serviços acessórios ou de apoio, com fornecimento de refeições.

- Os hotéis rurais devem, pela sua traça arquitectónica, matérias de construção, equipamento e mobiliário, respeitar as características dominantes da região em que se situem.

- São parques de campismo rurais os terrenos destinados permanentemente ou temporariamente à instalação de acampamentos, integrados ou não em explorações agrícolas, cuja área não seja superior a 5000 m.

41A floresta tem funções multifacetadas, tais como a produção de madeira e de produtos não lenhosos, funções sociais, religiosas,

culturais e recreativas, funções no domínio do emprego e da obtenção do rendimento, da produção de energia e de alimentos. A silvicultura constitui uma nova oportunidade económica, sobretudo para as terras marginais, contribuindo para a criação de emprego juntando-se à vasta gama de actividades nas zonas rurais. Além de proporcionar benefícios económicos, proporciona também importantes benefícios sociais às comunidades locais e nacionais e ao ambiente, numa escala planetária.

Exemplo de subsectores associados à indústria florestal geradores de emprego: corte e comercialização da madeira, resinagem, alugadores e empreiteiros florestais, transporte de produtos florestais da floresta até à fábrica, viveiristas florestais, serração e carpintaria, fabricação e restauro de mobiliário de madeira, artesanato de madeira e do vime, produtos resinosos, fábricas de pasta, fábricas de papel, cartão e embalagem e indústrias do pinhão. Assim a floresta tem importantes funções produtivas nomeadamente armazenamento da energia na forma utilizável pela fitomassa, auto-regulação e processo regenerador da madeira, cortiça, produção de químicos: resinas, alcalóide, óleo, produtos farmacêuticos, etc. As florestas impedem o aluimento dos terrenos, protegem os solos contra a erosão, filtrando as águas. Têm também um interesse global, por exemplo, no que se refere à fixação de carbono, podendo contribuir tanto para intensificar como para atenuar as alterações climáticas.

Prestam ainda serviços ambientais, tais como a conservação da biodiversidade, a renovação do ciclo de nutrientes e protecção de microclimas.

Acrescentamos, ainda, os seus valores intrínsecos e um significado cultural profundo para as populações rurais, sendo, com frequência, de importância vital para a subsistência de muitas comunidades rurais.

154 comercial, sem a qual os consumidores não aparecem e a sua disponibilidade para pagar por melhor qualidade não aumenta.

Outro recurso importante das zonas rurais e que resulta precisamente das deficientes condições biofísicas, são os “sistemas agrários tradicionais com grande diversidade biológica, especificidade e tradição cultural, mais ou menos adaptados à realidade resultante do êxodo rural” (Barros, 2002:66). Tentando adaptar-se às características ecológicas, estas zonas conseguiram, ao longo de várias gerações, originar diversas raças de animais e espécies de vegetais muito diversificadas e com grande maleabilidade, acabando por oferecer a estas localidades um recurso endógeno importante a ser valorizado.

Desta maneira, a aposta na promoção de produtos tradicionais de qualidade, para vai ao encontro da reorientação do Plano Nacional de Desenvolvimento Rural, constituindo-se como uma mais valia para as zonas mais desfavorecidas, fixando as populações locais e proporcionando-lhes melhores rendimentos.

O mundo rural apresenta-se também com uma multiplicidade de funções e serviços que vão além da função de produção de bens transaccionáveis, como as funções de preservação do espaço rural e do ambiente ou da função de lazer. Muitos autores caracterizam-no como um espaço multifuncional. Neste sentido, este aspecto surge como uma mais-valia e deve ser valorizado por todos os agentes locais de desenvolvimento. Com vista à concretização desta dinamização, torna-se necessário que os apoios se dirijam no sentido de aumentar a diversificação de actividades desenvolvidas dentro e fora das explorações agrícolas, bem como para a promoção dos serviços básicos de apoio às empresas e populações locais.

Mendes (2006), defende que a promoção da multifuncionalidade do espaço rural exige uma organização colectiva para a coordenação intersectorial de estratégias empresariais privadas e políticas públicas. Neste sentido, urge a necessidade de se fazer a conjugação entre: (1) a valorização de produtos agrícolas de qualidade, promovidos juntamente com o fácil reconhecimento a nível internacional (como é o caso da carne barrosã, dos vinhos do Porto, do azeite ou dos produtos biológicos), de forma a criar também no exterior uma imagem de uma região produtora de bens agrícolas de qualidade; (2) a promoção do associativismo dos proprietários florestais privados; e (3) o desenvolvimento do turismo, através de uma animação integradora (dos vários

155 espaços sub-regionais e das várias actividades) e internalizadora dos benefícios sociais gerados por esses espaços e actividades, permitindo melhorar a qualidade de vida da população rural das regiões desfavorecidas.

O Turismo em Espaço Rural é um sector económico e social em pleno crescimento, o que motiva um número cada vez maior de operadores (promotores e investidores, etc.) neste domínio.

Esta actividade, se bem estruturada42, constituirá um grande contributo para um desenvolvimento rural equilibrado. O meio físico e humano são muito sensíveis. Por isso, é imperioso evitar os excessos que ponham em causa o equilíbrio do meio ambiente. A Organização Mundial de Turismo (OMT 1983, Draft Secretarial Report

the Environmente Aspects of Turism, O.M.T., Madrid) sugere um conjunto de normas e rácios de capacidade, com o objectivo de determinar os limites de crescimento de um destino turístico.

Segundo Silva (1993:181) “A necessidade de se fixarem estes limites deve, porém, ser ponderada com a própria especificidade de cada área de destino turístico. Para esse efeito, justifica-se o cruzamento dos seguintes métodos de determinação dos limites de carga ou de saturação:

- Método de zonamento, onde a classificação se baseia no tipo de Turismo (lazer, zonas naturais, …) ou de ordenamento mais ou menos intensivo das áreas em análise;

- Método das densidades, com normas de acolhimento baseadas na hipótese de que uma área de destino turístico deve conservar o seu potencial, a longo prazo;

- Método da função, onde a ênfase são as estruturas e não os movimentos: relação entre superfície, equipamentos turísticos e população residente;

- Método dos rácios de intensidade, estabelecendo o princípio da relação equipamento-utilizador”.

Ainda segundo o mesmo autor (idem:182) “os resultados apurados com estes métodos deverão permitir o reforço do planeamento das actividades turísticas em que a ênfase nos componentes ambiental e socio-económico surge como essencial:

- A dimensão ambiental a correlacionar o grau de impacte com o próprio nível de desenvolvimento da área de destino turístico;

42 O TER deve ser previamente planeado, tendo em atenção a sua integração com todas as actividades rurais, utilizando os principais

156 - A dimensão sócio-económica a permitir estabelecer a natureza da resposta da população residente no desenvolvimento desta área”.

Deste modo, ao delinear-se uma estratégia para um projecto de TER, deve-se: - Estudar o mercado a que se destina.

-Fazer um levantamento dos recursos existentes, tendo em vista a concretização dos objectivos: equipamentos e serviços de qualidade, (os turistas apreciam lojas de venda a retalho típicas da área), visitantes, património natural e histórico-cultural, e estabelecer protocolos com universidades de forma a se intensificarem os estudos neste domínio. - Comprovar a existência de uma oferta diversificada de produtos turísticos que contribuam para a promoção do local e funcionem como pólo de atracção. Exemplos de alguns produtos turísticos: Turismo Cultural43, Turismo Medicinal44, Eco-turismo45, Desporto ao ar livre e na natureza46, etc.

- Promover eficazmente a comercialização do TER – Para que o turista dele tome conhecimento. Torna-se imprescindível a sua promoção definindo logótipos comuns no espaço rural da União Europeia, publicitando os critérios de qualidade e proporcionando a existência de operadores turísticos, devidamente credenciados seguindo uma estratégia de marketing eficiente.

- Promover a formação dos colaboradores para o sucesso do empreendimento - o apoio à formação adequada das pessoas será um passo rumo ao sucesso.

- Proceder à sinalização – é fundamental uma rede de informação da localização das unidades do TER, permitindo criar no turista a vontade de voltar.

O Turismo em Espaço Rural deve ser um turismo local, um turismo de “território”, desejado e gerido pelos próprios residentes, um turismo de encontro, um turismo de partilha… Um turismo onde o homem deva constituir o elemento central e essencial da sua “rusticidade”, e tão atraente no acolhimento como na embalagem ou no acondicionamento dos produtos agro-alimentares. Tanto num caso como no outro, deve ser garante do real, do produto “autêntico”, do “local”, do “tradicional”, “do preço não artificial e do produto não traficado”.

43 Turismo Cultural – proporciona a existência de cenários culturais e a possibilidade de estabelecimento de contacto e de

conhecimento deles.

44 Turismo Medicinal – o desenvolvimento comercial deste tipo de produtos tem vindo a crescer, sobretudo devido ao desejo de

“qualidade de vida”. A procura de estâncias termais é cada vez maior.

45 Eco-turismo – É um turismo respeitador do ambiente e das comunidades locais, ou seja, combina o turismo em acomodações

sustentáveis com um cuidado pelo meio ambiente e o património social e cultural. Deve apresentar sítios de notoriedade em matéria de fauna e flora que apresentem espécies raras.

46 Desporto ao ar livre e na natureza – Voltado normalmente para a clientela jovem, é um tipo de turismo virado para uma prática

157 O Turismo em Espaço Rural não é remédio universal para os problemas de marginalização económica e social das zonas rurais, mas importa promovê-lo de forma harmoniosa e sustentada, como um factor de pluri-actividade, através da dinamização de um conjunto de outras actividades económicas que dele são tributárias, dentro de um modelo integrado de desenvolvimento rural, respeitando sempre as diferenças que caracterizam cada região e os requisitos de qualidade e de comodidade exigidos pela clientela que o procura. Com uma oferta turística organizada de modo a realçar as potencialidades de cada região com circuitos temáticos seleccionados numa gama de diversificação, seria possível apresentar ao visitante (nos postos de turismo e nas unidades de alojamento) motivos para permanecer no meio rural beneficiando este em termos de desenvolvimento.

Torna-se necessária uma ligação entre as políticas agrícola e de desenvolvimento rural e a política de conservação da natureza, para qualificar o espaço rural com vista a novas utilizações, reduzindo-se os estrangulamentos e potencializando-se as vantagens regionais.

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PARTE II