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CAPÍTULO III – CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO

2. As Teorias Territoriais do Desenvolvimento Económico – da Questão Regional à

2.5 Schumpeter e a teoria da inovação

O desenvolvimento da Teoria da Inovação advém do trabalho de Schumpeter. Schumpeter29 (1982) foi classificado como anti-neoclássico, ao procurar desviar- se da simples história e da visão estática da economia. Ele parte do princípio que o desenvolvimento económico não é um problema da história mas é um problema da teoria económica, portanto, o desenvolvimento económico deve ser desencadeado a partir da teoria económica e não ao contrário.

29 Schumpeter, além da obra de referência, a Teoria do Desenvolvimento Económico, de 1911, escreveu

entre outras, os Ciclos Económicos, em 1939, onde aprofunda as temáticas: o socialismo, o capitalismo e a democracia, em 1942.

101 A teoria económica neoclássica estuda o fluxo circular (de bens e serviços num sentido e de moeda no sentido contrário), de uma forma estática, mantendo-se a tendência do sistema para o equilíbrio já que não permite a existência de investimento em bens de capital, nem de poupança e, inclusive, não ocorrem variações nos métodos de produção.

A teoria do desenvolvimento económico de Schumpeter está num plano diferente, estuda os saltos, não só quantitativos mas também qualitativos, em termos de desenvolvimento económico. Schumpeter afirma, no seu livro Teoria do

Desenvolvimento Económico: «não se pode confundir as fronteiras geográficas com as fronteiras económicas» (Schumpeter 1982:209). O desenvolvimento dá-se, através de mudanças descontínuas espontâneas nos canais de fluxo circular, o qual altera e desloca o estado de equilíbrio da economia. E deve explicar-se a partir de uma situação sem desenvolvimento e sem interferências exógenas. É a esfera produtiva que gera mudanças descontínuas, estas mudanças endógenas, causam por sua vez, desenvolvimento económico. Na sua teoria, Schumpeter destaca a figura do empresário como empreendedor. Introduz o seu conceito de produção, que consiste em combinar novos materiais com novos métodos, para produzir “coisas” novas ou as mesmas coisas de forma diferente. Quando estas novas combinações ocorrem de forma repentina e descontínua, ocorre o fenómeno de desenvolvimento económico.

Essas novas combinações podem abranger a introdução de novos métodos de produção, novos tipos de bens e serviços, novas fontes de matérias-primas, abertura de um mercado ou estabelecimento de uma nova organização produtiva. No entanto, são necessários meios financeiros para que seja possível fazer novas combinações dos factores de produção e, consequentemente, promover o desenvolvimento. Schumpeter parte do pressuposto que o tipo puro de empresário é o individuo sem dinheiro. Portanto, o empresário para “empreender” o seu projecto necessita de se deslocar ao sistema bancário para obter o crédito de que necessita, para fazer novas combinações e, consequentemente, promover o desenvolvimento.

As novas combinações originam alterações sociais e económicas. Num sistema socialista, surgem de forma a não provocar consequências socioeconómicas enquanto

102 que, num sistema monopolista, estas novas combinações surgem dentro das grandes corporações. O processo de desenvolvimento implica uma constante concorrência entre as maneiras novas e antigas de produzir.

Schumpeter, na sua célebre frase “o coração do processo de destruição criadora”, evoca que antigas formas de fazer as coisas poderão ser destruídas, mas a consequência desta destruição significa apenas o salto para o desenvolvimento económico.

Schumpeter é um admirador do capitalismo mas considera os capitalistas apenas como os ofertantes de crédito. Os capitalistas são os agentes económicos que permitem/autorizam os empresários a realizarem as novas combinações, desencadeando o processo de desenvolvimento. Se as novas combinações financiadas não alcançarem o sucesso, ocorre o processo inflacionário; o contrário leva a economia a desenvolver-se. Os empresários são todos aqueles que operam novas combinações de factores de produção e não apenas o dono da empresa que nada contribui para o desenvolvimento. O empresário tem que ter espírito de iniciativa, intuição, previsão e liderança para enfrentar o futuro. Se o empresário deixar de realizar novas combinações, deixa de ser empresário e passa somente a ser classificado como dono ou administrador da empresa. O seu espírito de liderança permitir-lhe-á enfrentar “preconceitos”, convencer os capitalistas à concessão do crédito necessário, convencer o mercado a consumir o seu produto, arrastando para si todo o sector produtivo – motor do desenvolvimento económico. A definição Shumpeteriana de inovação cria necessariamente duas rotas para a inovação: (1) a empresa pode inovar implementando equipamento num novo processo que é comprado a uma outra empresa ou vendendo um produto novo, tendo sido este obtido de um outro. Torna-se importante salientar que, neste tipo de inovação, não é necessário nenhum esforço criativo; (2) a empresa também pode inovar através da comercialização de novos produtos ou na implementação de um novo processo que desenvolveu com as suas próprias actividades inovadoras.

Tushman (1986) refere-se à inovação e à criação de um determinado produto, serviço ou processo. O autor distingue dois tipos de inovação: (1) inovação de produto, entendida como mudança no produto que a organização faz ou no serviço que fornece e (2) inovação do processo – mudança na forma como um produto é feito ou como este é

103 fornecido. Tushman (1986) incorpora duas estratégias à Teoria da Inovação: diferenciação produtiva e liderança de custo. A primeira inclui a exclusividade em áreas como qualidade, design do produto e nível de serviços pós-venda. A liderança de custo caracteriza a organização empresarial que tem por base vencer a concorrência competitiva do mercado, produzindo a preços o mais baixo possível. Segundo esta estratégia, uma organização empresarial que produza produtos mais baratos que os seus concorrentes oferecerá obviamente produtos aos clientes a preços mais baixos, aumentando assim a sua participação no mercado.

Os indicadores de inovação, nomeadamente as patentes registadas, as publicações científicas, ou seja, os gastos em (I&D), assim como o desenvolvimento de novos indicadores que se baseiem nas novas teorias de inovação, dentro de uma óptica sistémica do processo, colocarão certamente, nos próximos anos, à nossa disposição, um manancial informativo, permitindo entender melhor o fenómeno complexo de criação e distribuição de conhecimentos que a inovação nos trás. Para tal, é necessário que vejamos a inovação como um processo evolutivo, interactivo entre actores e entre diferentes fases, desde a criação à disseminação e à aplicação de uma ideia (conhecimento).

Um bom indicador de inovação é e continuará a ser, no futuro, tudo o que directamente ajude (1) o desenvolvimento e implementação de acções de política de inovação; (2) verifique a teoria da inovação como parte de um processo ininterrupto, testando-a e melhorando-a; e (3) ajude as empresas e outras instituições a desenvolver e ajustar as suas próprias estratégias inovadoras, tendo por base, por exemplo, as mudanças tecnológicas. As mudanças tecnológicas, como suporte das inovações, engendram necessidades que, por sua vez, alimentam outras soluções, produtos e processos, numa dinâmica interactiva impulsionadora do desenvolvimento económico.