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CAPÍTULO V – METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO

2. Métodos e Técnicas de Recolha de Informação

2.2 Os inquéritos

O que os resultados conseguidos pelos inquéritos perdem em riqueza e profundidade recuperam-no na sistematização, representatividade e comparabilidade. Estas características foram suficientes para que o recurso ao inquérito por questionário constituísse o nosso instrumento principal de pesquisa. Os dois inquéritos por questionário obedeceram a objectivos distintos: O primeiro foi dirigido aos emigrantes regressados adultos; o segundo à emigração actual/recente com idade igual ou superior a 18 anos.

2.2.1 O questionário

A elaboração do questionário revestiu-se de cuidados tecno-metodológicos, de modo a que este pudesse traduzir fielmente as opiniões das pessoas inquiridas, os objectivos previamente traçados, tendo em conta os objectivos a alcançar. Os inquéritos por questionário (Anexos I e II) consideram um número de perguntas (a) adequadas à problemática em estudo, tanto quanto possível; (b) fechadas (de modo a objectivar as respostas); (c) não ambíguas; (d) compreensíveis e (e) relevantes. A redacção é simples, clara e concisa. Os mesmos integram perguntas de (a) identificação (idade, género, profissão, habilitações, etc.); (b) informação sobre factos e opiniões do inquirido, (c) e de controlo (verificação da veracidade). No seguimento do recomendado por Lakatos e Marconi (1996), a parte inicial do questionário inclui uma nota introdutória, explicando o destino da pesquisa, por forma a obter a colaboração do inquirido.

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2.2.2 Pré-teste

Após a redacção da primeira versão de cada um dos inquéritos por questionário, procedemos a um pré-teste, de modo a garantirmos a recolha de informação objectiva. Esta primeira versão foi por nós aplicada em 1º lugar a um pequeno número de pessoas conhecedoras do tema do questionário, com condições de ajuizar sobre os seus maiores problemas e de dar sugestões para o melhorar; de seguida foi aplicada a uma pequena amostra de indivíduos – 20 emigrantes regressados adultos e 20 emigrantes presentes/recentes, com idade igual ou superior a 18 anos – que embora pertencentes à população em estudo, não fizeram parte da amostra seleccionada.

2.2.3. A amostragem

Embora conscientes dos enviesamentos introduzidos na informação recolhida, no que concerne ao inquérito por questionário ministrado ao emigrante regressado, considerámos como base mais conveniente de sondagem, a fim de constituir uma amostra representativa, o recenseamento eleitoral, no pressuposto de que o seu conteúdo reflectia o universo em estudo.

Para identificar o universo da população em estudo, baseámo-nos no “lugar de residência em datas anteriores ao momento considerado”, observando o fluxo de regressos: (1) - no censo de 1991, ao inquirir o lugar de residência em 31 de Dezembro de 1985 e 1989 e (2) – no censo de 2001 - ao inquirir o lugar de residência em 31 de Dezembro de 1995 e 1999.

Este processo de selecção da amostra encerra, no entanto, limitações ao estudo: 1) - Nem todos os indivíduos residentes no estrangeiro serão emigrantes;

2 - Integra os emigrantes regressados que, embora tenham residido no estrangeiro no momento da inquirição, podem ter emigrado de novo;

3) - Haverá outros emigrantes que terão, entretanto, regressado e outros, eventualmente, terão falecido.

Apesar destes enviesamentos, considerámos que a amostra correspondeu às necessidades deste estudo, mormente quanto à incidência (frequência) dos aspectos a comprovar e às suas particularidades/especificidades.

163 O universo da população é de 594 indivíduos. De entre estes, seleccionámos 303, o que representa 51% da população global, número este que foi validado. É esta a dimensão da amostra.

Dos 55 lugares que constituem as 16 freguesias do concelho em estudo, seleccionámos, aleatoriamente, 32.

Em cada um destes lugares seleccionados, inquirimos, com a colaboração do respectivo Presidente da Junta de Freguesia, o maior número possível de emigrantes regressados.

O presente estudo permitiu também a elaboração de 300 inquéritos e a validação apenas de 276, realizados no concelho de Boticas, e teve como premissa essencial a análise de populações com percurso emigratório presente ou recente, tendo em vista os resultados a atingir.

O inquérito por questionário aplicado ao emigrante actual/presente local, e dada a impossibilidade de conhecermos o universo da população emigrante, baseou-se numa amostragem não probabilística – amostragem em bola de neve em que conjuntos de elementos (indivíduos) foram seleccionados de início aleatoriamente. Foram seleccionados depois outros indivíduos, com base em referências ou informações fornecidas pelos indivíduos iniciais. Este processo foi produzido por vagas sucessivas (Teoria defendida por Morse, 1994; Malhotra, 1996; Burgess, 1997).

A amostragem em bola de neve pareceu-nos ser a mais adequada para estudar a emigração presente/recente, tendo sido feita uma prévia reflexão sobre as características dos locais onde a informação poderia ser recolhida, sobre os informantes (emigrantes), como também sobre o seu número. Embora este tipo de amostragem, devido ao “carácter subjectivo que envolve o processo de selecção, coloque o problema da validade externa relativo à generalização dos resultados” (Carmo e Ferreira, 1955:200), o mesmo não compromete no presente estudo os objectivos a alcançar. Conscientes das recomendações de Fine, 1997, e de Becue, 1997, no que concerne aos erros sistemáticos de aferição, advindos da construção de conceitos e variáveis investigadas no questionário, da formulação das perguntas pelo entrevistador ou entendimento das mesmas por parte dos entrevistados, das recusas a responder aos questionários ou a parte destas, das falhas de cobertura da operação de campo, o que constitui uma parcela

164 não aleatória, em geral, imensurável do erro total de uma estimativa apesar disso, tentamos, na medida do possível, eliminar os enviesamentos.

2.2.4. Preenchimento do inquérito

Ambos os inquéritos foram preenchidos pelos inquiridores. O primeiro inquérito com a ajuda dos presidentes das Juntas das dezasseis freguesias que constituem o espaço geográfico em estudo (executado entre Junho de 2004 e Dezembro de 2005) e o segundo com a ajuda de um grupo de pessoas durante os meses de Julho e Agosto de 2005. Todos os inquiridores foram por nós previamente alertados/formados quanto às precauções a ter na inquirição (Burgess, 1997). A administração indirecta dos questionários minimizou os «enviesamentos», podendo os inquiridores, sempre que necessário, explicar os objectivos da pesquisa e o significado de perguntas menos claras, ajustando-se o formulário à compreensão de cada informante. Por outro lado, permitiu que tanto a população alfabeta como a analfabeta respondessem ao inquérito. No entanto, a administração indirecta também apresenta alguns inconvenientes. “Em primeiro lugar, introduz a equação pessoal do entrevistador, cujas preferências podem influenciar as respostas. Depois, tem outros efeitos sobre os próprios inquiridos, apontando-se designadamente os problemas de prestígio, a desconfiança e o simples aspecto de inquiridor” (Fernandes, 1995:174). Pesando as vantagens e as desvantagens desta forma de inquirição e tendo já presente o perfil do “inquiridor – ajudante”, elegemos a «administração indirecta» – preenchendo os inquiridores o inquérito a partir das respostas que lhes foram fornecidas pelos inquiridos. O preenchimento do primeiro inquérito decorreu em casa dos emigrantes regressados e nas Juntas de freguesias. Os emigrantes actuais/recentes foram abordados nos comércios, nos cafés, em suas casas e nos caminhos por onde circulavam.

Ficamos satisfeitos com a disponibilidade, empenho e simpatia demonstrados tanto pelos emigrantes regressados como pelos emigrantes presentes/recentes quanto à colaboração demonstrada para responderem ao inquérito por questionário cujo preenchimento demorou cerca de 20 minutos cada.

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