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PARTE I | ECONOMIA SOCIAL, ECONOMIA SOLIDÁRIA E DESENVOLVIMENTO LOCAL (SUSTENTÁVEL E SOLIDÁRIO)

DESENVOLVIMENTO(S): REGIONAL ENDÓGENO, SUSTENTÁVEL E LOCAL

2.2. Desenvolvimento Sustentável: características-chave

“Antigamente, o desenvolvimento tinha de ser prioritariamente económico (…) assegurar um crescimento do rendimento per capita. Em seguida, deveria ser social e humano, i.e., beneficiar todos (crescimento do rendimento, mas também do bem-estar, assim como facultar a redução das desigualdades, etc.). A posição nos nossos dias é que o desenvolvimento deve ser sustentável.” (Véron, 1996, p.78)

Na década de 90 do século XX, um conjunto de datas marcaram o panorama internacional de reforço à estratégia global de ‘desenvolvimento sustentável’, em particular a proporcionada pela cimeira do Rio (ou “Cimeira da Terra”)19 onde se deu a consciencialização internacional para a necessidade do estabelecimento de uma efectiva acção política de desenvolvimento sustentável, ocorrendo a subscrição, por mais de 178 governos, da “Agenda 21” (programa de acção para o século XXI, fixando para o conjunto dos países a promoção de um desenvolvimento sustentável, a realizar, sobretudo, a nível local – “Agenda 21 Local”, alcançando-se progressivamente uma base mais alargada), consolidando como pilares: a “equidade social”, o “ambiente” e a “economia”.

O apelo às autoridades locais de cada país, inscrito no Capítulo 28 da Agenda 21, surge no seguimento do reconhecimento de que muitas das questões tratadas naquele documento têm os seus problemas e soluções enraizadas nas actividades locais e que a participação e cooperação das autoridades municipais desempenha a esse propósito um papel crucial (Santos 2005).

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Nesta Conferência das Nações Unidas para o Ambiente e o Desenvolvimento (Rio de Janeiro, Junho de 1992), é retomada a perspectiva de desenvolvimento sustentável, aproveitando, os vários países presentes, o momento para exporem a sua visão sobre o ambiente, sendo ainda criada no seu seio a Comissão para o Desenvolvimento

Numa perspectiva actual, conforme nos referencia Nicola Hewitt (2000), o conceito de ‘desenvolvimento sustentável’ é visto como agregando cinco características-chave20, entre as quais se destaca o princípio da sustentabilidade que engloba e domina a maioria das outras:

i) “sustentabilidade”: refere-se à melhoria dos padrões de vida dentro dos limites da capacidade de carga do ambiente natural. Padrões de vida que têm de absorver uma prática e uma mudança de paradigma (um novo estilo de vida, o que implica mudança cultural, educacional e civilizacional). Tradicionalmente relaciona-se bem-estar a padrões de vida materiais, consumo, produção, utilização de recursos e serviços e produção de resíduos e poluição ambiental; no entanto, a sustentabilidade é algo de diferente, que obriga à apresentação de algumas soluções (com vista a alcançar a justiça social, a economia sustentável e a sustentabilidade ambiental), distinguindo-se, p. ex.:

a) bem-estar social de padrões de vida materiais: viver menos materialisticamente/ viver com simplicidade;

b) padrões de vida de consumo: aumentar a durabilidade tirando benefícios do consumo (de bens de longa duração, em vez de curta duração ou mesmo efémeros - selecção racional);

c) consumos de produção: uso de produtos locais, menos processados.

ii) “subsidiariedade”: implica que as decisões sejam tomadas ao nível mais baixo de decisão, tanto quanto possível próximo das populações afectadas. As autoridades locais são reconhecidas como as mais próximas dos problemas, das populações e da maioria das soluções.

iii) “processo de decisão democrático”: induz à participação e ao envolvimento integral da comunidade local em todo o processo de planeamento, radicando na proposta de “governança” - palavra que decorre da tradução directa do francês gouvernance, ou do inglês governance, utilizada para dar conta do novo contexto em que se processam as novas formas de governo com a participação pública (novas formas de exercer o governo da nação fazendo apelo às parcerias). Assim, envolve

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Socorremo-nos, complementarmente, numa perspectiva genérica, quer a um conjunto de documentos publicados pelo Centro de Estudos Sobre Cidades e Vilas Sustentáveis (http://www.civitas.dcea.fct.unl.pt

[consultado em 05-02-2007]) quer aos disponibilizados pela Associação Nacional Municípios Portugueses (http://www.anmp.pt/anmp/div2005/age21/index.php [consultado em 05-02-2007]), como: “Carta das Cidades Europeias para a Sustentabilidade” - Carta de Aalborg, Conferência Europeia sobre Cidades Sustentáveis, realizada a 27 de Maio de 1994; “Plano de Acção de Lisboa: da Carta à Acção”, Segunda Conferência Europeia das Cidades e Vilas Sustentáveis, realizada entre 6 a 8 de Outubro de 1996. De forma específica, no item - “processo de decisão democrática” - a Isabel Guerra (2006) e no item - “planeamento de acção sistemático” - a Isabel Guerra (2000), bem como a Ezequiel Ander-Egg et al. (2002).

capacidade de governo do conjunto dos actores sociais, públicos e privados, em articular os seus interesses, assumindo as suas obrigações e negociando as suas diferenças, com base em características como a participação, a transparência e a responsabilidade.

iv) “gestão ambiental”, reforçada por cinco princípios centrais: prevenção; precaução; poluidor-pagador; cooperação; ecossistema local.

v) “planeamento de acção sistemático”: identificar problemas, causas e efeitos; adoptar objectivos; atribuir níveis de prioridade aos diferentes problemas em função de uma metodologia de avaliação de impactos; identificar opções de acção e estabelecer metas; criar programas de abordagem de objectivos e formalizar programas a integrar no plano de acção; aplicar o plano e monitorizar os progressos registados; avaliar resultados e implicação de formas a que os mesmos alimentem todo o processo.

Em síntese, o ‘desenvolvimento sustentável’ consegue correlacionar de forma sistémica: a “sustentabilidade biológica” - manutenção dos ecossistemas e dos seus processos regenerativos - e a “sustentabilidade social” - busca da justiça e da equidade social (os benefícios do desenvolvimento devem ser equitativamente distribuídos e garantidos a longo prazo) - com o “crescimento económico” - economia sustentável (desenvolvimento económico que utilize as capacidades e os recursos das comunidades locais em harmonia com o desenvolvimento do ser humano e o respeito pela qualidade ambiental e por todos os seres vivos - todos nos encontramos na mesma casa/ “EKOS”).

2.3. Desenvolvimento Local: abordagem territorialista (breve introdução ao contexto

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