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PARTE I | ECONOMIA SOCIAL, ECONOMIA SOLIDÁRIA E DESENVOLVIMENTO LOCAL (SUSTENTÁVEL E SOLIDÁRIO)

Grupo 11 Organizações Empreendedoras, Profissionais e Sindicais

1.2. A Economia Social na Europa dos séculos XIX e

1.2.2. Finais do século XIX à década de 60 do século

A partir dos anos 30 e durante a II Grande Guerra o Estado começa a intervir no âmbito da protecção social, passando-se de um Estado Liberal para um Estado Social, considerando-se que o mesmo surge como resposta às “questões sociais”, traduzido, primeiramente, no Estado Socialista e, posteriormente, no Estado-Providência das sociedades capitalistas, na sequência dos dois modelos distintos perfilhados pela “economia política” (Amaro 2005a).

De facto, a mudança de um Estado para o outro ocorre quando o “credo” no liberalismo económico começa a perder terreno, associada ao aparecimento de um novo

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Em 1995, os princípios que caracterizam as cooperativas, na linha dos princípios dos pioneiros de Rochdale, foram assumidos, pela Aliança Cooperativa Internacional, da seguinte forma: liberdade de adesão; gestão democrática; participação económica; autonomia e independência; educação, formação e informação;

conjunto alargado de problemas sociais e, em particular, com a crise socioeconómica do início do século XX acompanhada pelo surgimento de uma nova “doutrina” fortemente influenciada pelo modelo económico de Keynes (com a publicação da “Teoria Geral do Emprego do Juro e da Moeda”, em 1936, há uma alteração do paradigma económico fundamental, abandonando- se progressivamente o “classicismo”).

A extensão e a profundidade da crise de 1929 fez com que as teorias conhecidas até essa altura - as denominadas “clássicas”, não-marxistas - se mostrassem impotentes em resolvê-la. Na mentalidade liberal “ortodoxa” então vigente, as crises eram entendidas como uma coisa temporária, simples “ajustes de mercado”, sem grandes consequências.

Os impactos provocados pela existência de uma “nova” categoria social, incubada durante o século XIX - a dos trabalhadores assalariados (dispondo apenas da sua força de trabalho), sem emprego ou com emprego precário que não conseguindo “vender” a sua força de trabalho e sem uma efectiva protecção social, se viam a viver reais situações de precariedade social - marcam fortemente a necessidade de um Estado responsável pelas condições sociais dos cidadãos. No passado, apenas o possuidor de uma reserva de propriedade (individual) se encontrava socialmente protegido (como na doença ou na velhice). Este modelo de protecção social, existente até ao século XIX e que assentava na protecção aos riscos sociais mais básicos, era suportado pelo conceito de “propriedade”, sendo a segurança associada à independência material (a base da protecção consubstanciava-se na posse de riqueza), à capacidade que o indivíduo (proprietário) tinha de se proteger a si próprio, mais do que o Estado ou algum tipo de instituição especializada, contra determinados infortúnios da vida. Ao Estado cabia o papel de salvaguardar os direitos de propriedade aos seus detentores contra qualquer tipo de ameaça exterior (Matias, 2000, p.5).

A organização social era então fundada na lei que protegia a propriedade privada (protecção patriarcal - senhorial), que regulava o que era possível ser ou não feito, levando à anemia da classe trabalhadora (no tempo em que o “factor trabalho” se sobrevalorizou ao “factor terra”).

O desenvolvimento que a protecção social pública conhece com o apogeu dos “30 gloriosos anos” (1940/1970), conduz àquilo que ainda hoje se considera como Segurança Social (com o Plano William Beveridge surgiu o primeiro sistema completo de Segurança Social, pilar do Estado de Bem-Estar - Educação, Seguro Nacional e Serviço Nacional de Saúde), ou, de uma

forma mais lata, ao aparecimento do chamado “welfare state” (com os seus diferentes modelos de implementação prática).

De acordo com Mário Murteira (2003, pp.31-38), a trajectória da economia mundial na segunda metade do século XX é percorrida por um período de grande amplitude que, na altura, representa um tempo de prosperidade económica sem precedentes. É ainda a época em que, na Europa, partidos trabalhistas ou social-democratas mais se empenham na construção do Welfare State, no sentido da protecção dos cidadãos na doença, no desemprego e na procura de maior justiça na repartição do rendimento nacional. Trata-se aparentemente de uma “época feliz” em que a economia de mercado parece capaz de assegurar ao mesmo tempo, harmoniosamente, pleno emprego, crescimento económico e progresso social.

Por altura da transição para o século XX, as funções meramente arbitrais que caracterizavam a presença do Estado na economia, começam a revelar-se insuficientes, por via da crise económica latente desde o início do século, o que, de resto, motivaria uma alteração de paradigma económico, como já salientado - será o nascimento da “economia Keynesiana” (o Estado passa a desempenhar um papel significativamente mais activo, enquanto, complementarmente, se assiste a uma erosão das funções reguladoras do mercado livre). Keynes interpretava a crise como resultado da recusa dos capitalistas em investir (em “clima” de recessão ninguém queria investir). Nestas circunstâncias caberia ao Estado tomar as rédeas do investimento (estimular a procura), já que o mercado por si só não o fazia. Ao encomendar grandes obras públicas, ao estimular determinados projectos de impacto, o Estado fazia com que o sector privado voltasse a ter “vida”. Ao empregar pessoas nas obras públicas rompia com a bolsa de desemprego14.

Como das trocas competitivas não resulta uma afectação de recursos eficiente, podemos falar de falhas de mercado. É nestas situações que o Estado deve intervir, tomando medidas para que os mercados (actuando directamente também o estado no mercado, como agente económico de bens e serviços públicos) possam dispor dos bens e serviços cujo provisionamento não foi conseguido na base da iniciativa privada.

Com a intervenção do Estado na regulação da actividade económica, o mesmo passa a assumir como uma das suas formas centrais a “redistribuição” (as outras duas clássicas funções económicas do Estado são a “produção” e a “regulação”) que, segundo Karl Polanyi

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(1944), integra um conjunto de relações económicas de duplo sentido: relações de apropriação em relação a um centro (Estado) e relações de redistribuição do centro para fora.

Nos mecanismos de “redistribuição” são pois importantes duas dimensões (Estêvão, 1997, p.37): por um lado, a que se prende com a intervenção do Estado, e, por outro, a que respeita à acção das associações e organizações que actuam no âmbito da economia social.

Naturalmente que existem algumas diferenças entre o papel que cabe ao Estado, visto enquanto organização, e as OES, sendo uma dessas diferenças a que reside no facto de que os bens ou serviços fornecidos pelo governo (bens públicos, como a defesa, a electricidade, etc.) se destinarem a todos, ou praticamente todos os cidadãos da nação (Olson 1998).

No modelo de “sistema económico misto” (em que se verifica a partilha de responsabilidades entre o Estado e o mercado), não é então de estranhar que uma das expressões mais notórias da ‘economia social’ se tenha centrado ao nível daquilo a que muitos autores designam de “complementaridade” do Estado na prestação dos regimes de protecção social pública, através das acções das suas diferentes componentes organizacionais. Tal legitimidade reside a propósito de o Estado ter como uma das suas funções a “redistribuição” da riqueza produzida pelas sociedades e de um conjunto alargado de organizações de base colectiva terem vindo a servir como “agentes intermediários” da acção redistributiva do Estado, porquanto este actua de uma forma universal; já as OES, pelo contrário, actuam a uma escala micro/local (solução interessante), pelo que conhecem melhor as pessoas carenciadas e, por conseguinte, têm uma melhor capacidade na identificação dos destinatários da actuação redistributiva (Hespanha et al. 2000).

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