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Pré-condições necessárias para o desencadear de um processo “alternativo” de desenvolvimento local

PARTE II | ESTUDO DE CASO

FUNDÃO: TERRITÓRIO DE UM “OUTRO” DESENVOLVIMENTO LOCAL?

4.2. Pré-condições necessárias para o desencadear de um processo “alternativo” de desenvolvimento local

O sub-capítulo anterior e a interpretação, com base na técnica de análise de conteúdo28, dos relatórios, documentos e estudos consultados e da entrevista realizada ao Sr. Vereador da CMF responsável pela coordenação política do PDM/Fundão, levaram ao estabelecimento de um conjunto de categorias de referência, conforme as abaixo explanadas, ao nível da identificação das pré-condições de suporte para que o Município abrace um projecto “alternativo” de desenvolvimento local:

i) “solidariedade interna”: apesar da existência de comunidades de interesse, as mesmas conseguem relacionar-se, sem conflitos de interesse – intra-comunitários e inter-comunitários, podendo falar-se da existência satisfatória de laços de relação e comunicação entre os vários “grupos de interesse” existentes no interior do concelho; ii) “sociedade civil dinâmica”: boa malha de organizações da economia solidária e de cariz recreativo e cultural, com forte experiência em projectos de desenvolvimento local; capacidade associativa favorável à criação de iniciativas conjuntas no domínio social e do desenvolvimento local;

iii) “cultura de apropriação local”: notória na valorização, sobretudo, da identidade cultural; a identidade é possuída (“local ownership”) como um dado objectivo por parte das comunidades, actuando a auto-consciência identitária como suporte para o desenvolvimento;

iv) “mínimo de unidade social”: existência de um sentimento de pertença a um grupo local - auto-consciência/ auto-diagnóstico (é precisamente no momento em que os indivíduos e os grupos tomam consciência da sua situação que conseguem criar dinâmicas de mudança onde se sentem implicados);

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Centrada na perspectiva dos activos genéricos e específicos, contando com a noção de que mais importante do que aqueles que são “genéricos”, como os recursos naturais indiferenciados, capital disponível, infra-estruturas básicas, etc., é a existência endógena daqueles que são “específicos”, como sejam a mão-de-obra qualificada, os equipamentos e serviços de apoio à formação/educação e a estrutura social e institucional local favorável à

v) “existência de personalidades políticas, entre outras, liderantes”: capazes de se assumirem como agentes (motores) charneira do desenvolvimento local;

vi) “apoio directo na promoção de emprego local”: integração de pessoas em situação de exclusão social; apoio ao escoamento e à comercialização de produtos locais; vii) “atitudes de endogenamento do processo de desenvolvimento”: projectos municipais de desenvolvimento endógeno de cariz educativo, social, ambiental, etc; viii) “rede de infra-estruturas/ serviços de apoio”: à formação e educação, componente social e de saúde e à estrutura social e institucional local.

ix) “novas formas de governança local”: desenvolvimento de esforços de mobilização colectiva (das populações e suas organizações) com base em instrumentos de “governança partilhada”, para práticas de participação em projectos de mudança, conduzindo ao estabelecimento de um paternariado local29; disponibilidade por parte do poder local para se constituir como parceiro de processos experimentais de intervenção.

“… o que nós fizemos foi uma auscultação prévia, antes da discussão pública propriamente dita e fomos, por um lado, em termos de auscultação a todas as freguesias e munícipes, numa perspectiva de recolha de propostas, indo para além daquilo que [efectivamente] é determinado por decreto (obrigações formais) (…). Nas zonas rurais muito sensíveis do concelho, como p. ex. a serra da Gardunha, que é um território classificado (Espaço Natura 2000), aplicámos o processo de Agenda 21, tendo nós em todos os fóruns locais (de freguesia) falado sempre na questão do PDM, promovendo a auscultação transversal das comunidades, quer a institucional quer a civil”. (Vereador da CMF, Dr. Paulo Fernandes)

Em complementaridade, fizemos emergir, com base em alguns tópicos abordados na literatura já produzida sobre o tema em análise, um outro número de pré-condições, que pelo facto de não encontradas no corpus de estudo, e de consideradas de igual modo importantes, deveriam ser descritas. Assim, suportando-nos em Ricardo Méndez (2002) e seguindo de perto Isabel Vidal (2001) e ainda recorrendo a outros autores revisitados ao longo da Parte I, categorizámos mais quatro pré-condições, conforme síntese expositiva infra:

x) “territórios inovadores”: nas políticas inovacionais é necessário que os territórios articulem cumulativamente um conjunto de características endógenas como: um tecido

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O tempo da acção vai para além da lógica temporal do governo local (não está condicionado pelo calendário eleitoral), sendo assim sustentável numa dupla óptica: perdura no tempo “comunitário” (a jusante dos ciclos eleitorais); permite que as lógicas de mudança de mentalidade, de construção de capital social e fortalecimento dos laços de confiança se consolidem no tempo. Sobre o conceito de Partenariado será oportuno consultar, a par de outros autores, Jordi Estivill (1997) e Rodrigues e Stoer (1998).

empresarial consolidado, assentando num sistema de relação constituído por laços/ redes de proximidade; uma certa quantidade de recursos específicos; actores (públicos e privados) interessados em incentivar ou promover acções directas com vista à inovação; uma organização social assente em redes de cooperação (solidariedade/ coesão social);

xi) “cultura empresarial local com capacidade de gestão e planeamento estratégico bem definido”: capacidade para iniciar projectos e cultura organizacional, integrando objectivos económicos viáveis e necessidades sociais;

xii) “instituições públicas nacionais desconcentradas receptíveis a novas experiências”: as barreiras inerentes à repartição das responsabilidades e os problemas existentes entre os diversos ministérios e serviços (órgãos desconcentrados do poder central) podem constituir um grande obstáculo ao desenvolvimento (local);

xiii) “mecanismos de financiamento diferenciados”: aumentar a capacidade de auto- financiamento, recorrendo, p. ex., à mobilização integrada de poupanças e capital de risco e mecenato social.

4.3. Plano Director Municipal do Fundão e respectivas dimensões de desenvolvimento

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