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2.4 Design thinking e UX e suas aplicações no poder público

2.4.1 Design thinking

Nesse sentido, a cartilha para Design de serviços públicos (2019) elaborada pela consultoria IDEO defende que a confiança dos cidadãos em seus governos continua a diminuir já que esses sentem que o Estado é incapaz de atender suas necessidades de forma eficiente.

O Design Thinking (DT), nessa perspectiva, é uma metodologia centrada na empatia e na colaboração, diferentes dos modelos tradicionais, por isso, é imprescindível trazer o cidadão para a mesa de concepção. Logo, pode significar uma mudança de perspectiva na forma como as políticas públicas são concebidas e na relação da população com o governo, criando, inclusive, uma relação de confiança, na medida que se sentiram ouvidos e que as políticas são construídas por eles para eles.

A metodologia foi proposta pelo designer Tim Brown como maneira de romper com as velhas práticas, por isso, inovadora na sua concepção. Segundo Brown (2010), designers aprendem na prática que devem sempre estabelecer uma relação entre a necessidade humana, os recursos e técnicas disponíveis e as restrições impostas.

Precisamos de uma abordagem à inovação que seja poderosa, eficaz e amplamente acessível, que possa ser integrada a todos os aspectos dos negócios e da sociedade e que indivíduos e equipes possam utilizar para gerar ideias inovadoras que sejam implementadas e que, portanto, façam a diferença (BROWN, 2010, p. 3).

A partir disso, o autor imaginou uma metodologia que poderia extrapolar o campo do design e ser aplicada em qualquer área do conhecimento. Isso explica a tradução literal do termo Design Thinking: pensar como um designer (BROWN, 2010).

Nessa perspectiva, o autor expressa: “Se estiver trabalhando para uma instituição filantrópica, o Design Thinkig pode ajudá-lo a conhecer melhor as necessidades das pessoas que você está tentando servir” (BROWN, 2010, p. 8). A frase não é necessariamente feita para o serviço público, mas explana de forma precisa a grande necessidade que o Estado, que muitas vezes deixa de lado, de conhecer melhor os cidadãos que ele serve.

Antes de compreender como a metodologia funciona, é preciso apresentar os três pilares norteadores desta: empatia, colaboração e experimentação.

O primeiro, empatia, diz respeito à importância de uma concepção de projeto não enviesada em que é essencial saber escutar o outro para compreender seu contexto, na medida que ele será o usuário do produto. O segundo, colaboração, diz respeito à capacidade criar um projeto interdisciplinar, na medida que outras áreas podem apresentar outros pontos de vista para o projeto e que podem ser fundamentais para o sucesso desse. O último pilar, experimentação, diz respeito à constante necessidade de testagem das hipóteses para que essas sejam validades, isso é fundamental para descobrir erros prematuramente e eliminar problemas futuros (BROWN, 2010).

A partir disso, é possível entender que o processo inovativo do Design Thinking parte da absorção de várias ferramentas e técnicas dentro de um ciclo de projeto que são suas etapas. Entre essas ferramentas é possível citar aquelas mais utilizadas: Mapa de empatia3; Brainstorming4; MVP5; Benchmarking6; Teste de Usabilidade7 (PINTO, 2018). A partir dessas e várias outras ferramentas, o processo é livre dentro do ciclo e permite que outras metodologias inovadoras sejam incorporadas, é possível compreender as etapas da metodologia:

1. Imersão: é a fase em que o problema e seus contextos é compreendido de maneira profunda. É necessário um mergulho em toda a problemática.

2. Ideação: fase que são produzidas ideias. Imprescindível que a criatividade seja colocada a prova.

3. Prototipação: fase de testes. Essencial para testar o produto com o usuário e validar a fim de identificar falhas e melhorias possíveis melhorias no produto.

4. Desenvolvimento: Com uma taxa de aprovação alta, é possível colocar em prática a fase de desenvolvimento de fato do produto.

3 Técnica que busca compreender os desejos e necessidades do usuário.

4 Dinâmica que busca a colaboração entre os atores sem julgamento de qualquer ideia apresentada, o objetivo é realmente apresentar o máximo de ideias possíveis para a questão posta.

5 Minimum Viable Product: é uma metodologia que busca a prototipação de uma versão prévia e minimizada do produto a fim de validar o mesmo

6 Técnica que consiste na busca de melhores práticas com organizações parceiras.

7 Usabilidade é definido por Nielsen (1994) como os fatores que determinam a qualidade da interface de um sistema de interagir com um usuário. Já a técnica de teste de usabilidade é definida pelo autor como um conjunto de avaliações que mensuram a usabilidade de um sistema em busca de solucionar possíveis problemas na sua interface que dificultam a navegação do usuário.

Além disso, o autor afirma que é necessário definir metas de tempo para que o produto de fato seja desenvolvido, senão é possível que exista uma eterna concepção desse. Nessa perspectiva, surgiram maneiras de aplicar o Design Thinking, uma delas foi proposta em 2004 pelo British Design Council e se chama Double Diamond 8 (BRITISH DESIGN COUNCIL, 2019). Essa busca definir pontos de convergência e divergência no processo criativo com o objetivo de delimitar o projeto e as etapas de aplicação (PINTO, 2018). A Figura 1 apresenta o modelo de Duplo Diamante e ilustra que dentro dessa maneira de aplicar a metodologia são definidos dois ciclos que são convergentes em uma especificação clara do problema.

8 Em português pode ser traduzido como Diamante Duplo.

Figura 1 – Metodologia de Duplo Diamante em Design Thinking

Elaboração própria baseado no modelo proposto pelo British Design Council (2019).

A potencialidade do uso de Design Thinking no setor público fez com que o IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, a listasse no livro Inovação e Política públicas (MACENA et al., 2019) como uma das tendências inovadoras para a melhoria do serviço público.

Nessa perspectiva, é possível compreender essa possibilidade ao vislumbrar que muitas políticas são elaboras pelo viés top-down e, por isso, ignoram a visão dos cidadãos, estes que são os destinatários da política. Para além disso, é possível compreender a complexidade do mundo contemporâneo utilizando a metodologia, portanto, mensurar desafios postos durante a concepção das políticas públicas – medida, inclusive, que permite diminuir custos e tornar a política mais eficiente economicamente (CAVALCANTE; MENDONÇA; BRANDALISE, 2019).

É possível aplicar Design Thinking, dessa forma, em qualquer área do conhecimento dentro da administração pública. Macena et al. (2019) abordam um exemplo de caso de sucesso na sua utilização na área da saúde. Nesse projeto, houve uma diminuição da taxa de mortalidade infantil no município de Santos que ocorreu graças a possibilidade de ouvir os destinatários da política, as mães das crianças, e

conceber a política a partir da sua visão e necessidade, além, claro, da perspectiva de todos os profissionais que atuam na área.

Logo, a utilização de Design Thinking na administração pública é possível e pode possibilitar um ambiente favorável a ampliação da Cidadania Ativa e com a apresentação de soluções para problemas contemporâneos complexos.