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1 PASSAGENS DE UM ROSTO NA EDUCAÇÃO

2. INCURSÃO METODOLÓGICA E VALIDAÇÃO COMUNICATIVA

2.2 Detalhamento dos instrumentos utilizados na pesquisa

Por se tratar de pesquisa empírica com abordagem teórica, descrevem-se os instrumentos utilizados no percurso do I Curso de Palhaço na Educação. Destaca- se que os registros fotográficos e as filmagens aconteceram no momento em que os jogos foram realizados, do primeiro ao último dia de curso. Nesse sentido, a pesquisa pode recorrer a essas ferramentas entrecruzadas para uma análise mais aprofundada dos dados coletados (notas da observação, filmagem, atuação corporal-verbal e não verbal, questionário aplicado aos participantes).

2.2.1 Diário de campo

O diário de campo descreve as impressões dessa pesquisadora durante o desenvolvimento do curso. São registros de cunho pessoal, que apresentam as impressões, as percepções, as inquietações e o grau de envolvimento dos participantes e da pesquisadora.

2.2.2 Registro Fotográfico

Nesse registro foi possível captar imagens fotográficas dos jogos realizados durante o curso desde o primeiro dia, dos jogos preparatórios e dos palhaços. As imagens serão apresentadas no decorrer do texto e possuem caráter ilustrativo, já que a sua análise demandaria outra ferramenta de análise e, portanto, outra tese de doutoramento.

2.2.3 Registro em filmagens

Este é um importante instrumento de investigação, mas nesta pesquisa será usado como ilustração do processo, sem indicar maiores apontamentos de análise, pois nos ativemos à demanda exploratória das respostas dadas aos questionários. As imagens demonstram “como” o curso foi oferecido e, no seu percurso, como foi se revelando o fenômeno clownesco no dia a dia e como aconteceu a descoberta dos palhaços pelos participantes.

2.2.4 Coleta dos questionários

Como mostrado acima (item 2), foram feitas duas perguntas para cada participante em cada dia do Curso, compreendido entre os dias nove a catorze de julho de 2012. As perguntas eram iguais para todos e suas respostas deveriam ser entregues em forma escrita e individualmente.

2.3 O curso

Entende-se que para ser palhaço e também pensar a pesquisa Repertório de Clown na Educação: Elementos de uma Pedagogia da Palhaça na formação de Professores é preciso experimentar os jogos na/da formação do palhaço. Mas de qual tipo de experiência falamos? Para responder, nos valemos da definição proposta por Larrosa (2001, p. 21) “A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca”, ou seja, algo que atravessa marcando a pessoa no sentido de encontros, de criação, de reinvenção de si no corpo do “outro”, no caso o do(a) apalhaço(a). A prática em conjunto com os referenciais que embasam a presente tese nos apontaram os caminhos a serem seguidos por essa pesquisa. O fato das participantes experienciarem os jogos como crianças, mas quase nada na vida adulta, gerou a necessidade de se fazer uma travessia entre os polos: infantil e adulto, disso resultaram dificuldades relacionadas à disposição corporal no ato de jogar.

Em cada jogo e nas perguntas realizadas durante o curso, foi possível detectar dificuldades com a noção de desforma (Wuo, 2005), em relação aos jogos

propostos e quanto à busca de seu próprio clown. Cada dia do curso era vivido como se fosse uma etapa ou uma nova fase de jogos que levaria ao batizado de clown. A intenção dessa abordagem metodológica era observar o que acontecia no interior de cada jogo proposto e quais fenômenos apareceram no decorrer da programação. Vale ressaltar que em todos os dias do curso começou-se pelo relaxamento corporal, para então dar início ao trabalho com os jogos. O relaxamento corporal serve primeiramente para o participante ter uma percepção sobre o seu corpo, bem como para “sair” daquele cotidiano e, finalmente, para trazer a atenção para a ação. Depois do relaxamento, partíamos para os exercícios de aquecimento corporal, primeiro de forma individual e depois em grupo. A descrição de alguns jogos encontra-se nos Anexos 3 da presente tese.

Figura 11. Relaxamento corporal realizado em 09/07/2012 na UFSM

Dia de jogo: trabalhar a disponibilidade corporal ao jogo, a percepção

corporal, atenção, memória, prontidão, e dar início ao trabalho das ações físicas.

Dia de jogo: alongamento e percepção corporal, desforma corporal, o foco e

a regra “tudo olha”.

Dia de jogo: intensificação dos jogos; trabalhar o corpo e as suas

potencialidades.

Dia de jogo: trabalhar os jogos que possibilitem a ampliação ou “dilatação”

Dia de jogo: apreciação de outras obras e atores que atuam com a linguagem clownesca e perceber os conteúdos trabalhados durante o curso.

Dia de jogo: trabalhar intensamente aspectos do corpo cômico, as

possibilidades corporais apresentadas por esse “outro” corpo; o jogo com o nariz, a descoberta dos espaços físicos do nariz, os jogos com o nariz; e finalmente o batizado dos clowns.

O batizado dos clowns é um divisor de águas. É um morrer enquanto corpo sério, sisudo, formatado, dando passagem a um nascer como corpo alegre, corpo cômico, enquanto palhaço-clown. Sendo assim, o batizado dos palhaços acontece de forma individual. Cada um entra em cena e faz seu esquete com uma música. A cada apresentação e com a ajuda dos participantes, os clowns recebem um nome. Os nomes clownescos, são conforme a característica física ou de personalidade. Os nomes atribuídos depois do batizado foram: Assosso (magra, alta, morena), Treçadinha (não gostava de errar, estava sempre estressada); Madanhada (ficava como uma madame envergonhada); Franjola (magra, morena, com redemunho na franja); Virgulina (usava um chapéu que parecia uma virgula); Rosachoca (parecia uma galinha choca); Cornélia Roumes (sempre na espreita, parecia uma investigadora); Gazzelita (pernas finas, parecia uma gazela). A cada participante batizado foi feita uma pergunta: se estava feliz e se havia gostado do nome - eles acenaram positivamente.

O esquete teria que apresentar algo que tocasse a plateia e a fizesse rir. Foi um momento de muitas dificuldades, de superação e de encontro consigo e com o seu palhaço-clown. Como nos fala uma participante:

Apesar dos pesares decidi dar conclusão ao meu curso (...) e entrei novamente naquele palco dando o melhor de mim, e ao ouvir as palmas de meus colegas e professores me emocionei, e deixando aflorar meus sentimentos, e assim surgiu “Franjola”, que pretendo dar continuidade a esta minha nova amiga que ganhei e não deixarei jamais desaparecer. (Franjola, Santa Maria, 14/07/2012)

Figura 12. Madanhada, Assosso e Cornélia Roumes (Santa Maria, 14/07/2012)

Depois de explicitar como se deu o curso de iniciação é preciso atenção ao modo como foi feito o quadro de análise das respostas dos sujeitos dessa pesquisa, que será apresentado a seguir com detalhamento, e o tratamento dado ao material, para que o leitor possa compreender como é a ferramenta utilizada e, concomitantemente, as suas respectivas fases.

No próximo subitem, apresenta-se o quadro de análise16 das respostas ao

questionário, como uma amostragem, do como foi realizada a análise para chegarmos aos resultados dessa pesquisa. Está baseado na abordagem analítica da fenomenologia e no recurso à redução. O esquema dos quadros é assim composto: “Exemplo de Descrição”, considerado o primeiro momento da pesquisa, no qual estão a reflexão e a percepção do sujeito diante da experiência. Em “Exemplo da redução” considera-se aquilo que é mais significativo na vivência do sujeito em conjunto com a “Reestruturação do discurso”; por fim, “Exemplo da análise ideográfica”, no qual o pesquisador fará a interpretação das partes ou das ideias relativas às reduções, traçando um perfil de cada sujeito diante do fenômeno vivido. Vale ressaltar que as respostas dos sujeitos analisadas a partir da fidelidade ao conteúdo proposto pelo sujeito. O pesquisador não interferirá, pois se o fizer, o pesquisador estará induzindo

16Conforme FIGUEIREDO, Valéria M. C.; TAVARES, Maria da Consolação G. C. F.; VENÂNCIO,

Silvana. Olhar para o corpo que dança: um sentido para a pessoa portadora de deficiência visual.

a pesquisa. Assim seguem as respostas e a análise a partir de um sujeito escolhido aleatoriamente. Cornélia Roumes, entre os nove participantes do I Curso de Palhaço na Educação, exemplificando “como” foram realizadas as análises para esta pesquisa. Após essa amostragem, nos deteremos em comungar com os autores estudados, as repostas de Cornélia Roumes, Treçadinha e Madanhada, participantes do curso, para um aprofundamento da análise e os dados obtidos pela pesquisadora.