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3 O JORNALISMO PARTICIPATIVO E A QUESTÃO DA

3.2 Participação do ouvinte: diálogo e multiplicação de vozes na

3.2.3 O diálogo como gênero

Arturo Merayo (2002) faz uma clara distinção entre os gêneros de monólogo, os gêneros de diálogo e os gêneros mistos, separados por fatos; fatos e opiniões; e opiniões. Assim, o que constituem os gêneros de ‘diálogo’ para o autor são as modalidades de discurso radiofônico que contemplam a inclusão de outras vozes na programação jornalística da emissora, desde que essas vozes dialoguem entre si ou com terceiros. Nos gêneros de monólogo não há a intenção de dialogar, nem a necessidade de simular a existência de um diálogo, tanto que a duração do discurso é muito breve e “é precisamente na brevidade e simplicidade onde reside a força comunicativa desses gêneros: notícia e informe para comunicar fatos, crônica para divulgar fatos e interpretá-los e editorial e comentário para oferecer opiniões” (MERAYO, 2002, p.85)28

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Para o autor, os gêneros de diálogo podem expressar, da mesma forma que os gêneros baseados no monólogo, tanto fatos quanto opiniões, apesar de reconhecer que os limites não estão perfeitamente definidos em todos os casos. Para o que ele chama de “difusão dialógica” dos fatos verificáveis, utiliza-se a notícia dialogada e certos tipos de reportagens. Quando há uma mistura de fatos e interpretações dos mesmos, utiliza-se a chamada crônica de alcance e a maioria das reportagens. Já a entrevista, o colóquio (debates e mesas-redondas) e a participação são baseados em opiniões, segundo o autor. (MERAYO, 2002, p.85)

Esta participação, que Merayo expõe como gênero, “pode ser essencial e complementar e de acordo com suas diferentes variantes (concurso, serviço, denúncia, solicitação, consulta, desabafo, atualidade...) é realizada de diferentes maneiras” (2002, p. 92)29

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Ainda nos chamados gêneros mistos há estruturas discursivas que ficam entre o monólogo e o diálogo, contemplando também a notícia

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Tradução Livre: es precisamente en La brevedad y sencillez donde radica La fuerza comunicativa de estos géneros: noticia e informe para comunicar hechos, crônica para difundir hechos e interpretalos y editorial y comentario para ofrecer opiniones.

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Tradução Livre: puede ser esencial y complementário y según sus diferentes variantes (concurso, servicio, denuncia, petición, consulta, desahogo, actualidad...) se lleva a cabo de modos diferentes.

dialogada, a reportagem, a crônica de alcance e a participação (MERAYO, 2002, p.85-86).

Ao avaliar a participação do ouvinte na programação das rádios espanholas, Susana Herrera Damas (2002) descarta a consideração da participação direta na audiência como um gênero radiofônico:

Uma leitura mais detalhada do gênero como forma de representação da realidade e como instrumento para os modelos de enunciação e recepção permite advertir que, em sentido estrito, a participação direta da audiência não constitui um gênero radiofônico (HERRERA DAMAS, 2002, p.154)30.

O que move o pensamento da autora neste sentido é que, na prática, um ouvinte pode se dirigir a uma emissora de rádio com finalidades diferentes daquelas que os profissionais perseguem ou desejam empregar. Além disso, “a capacidade do gênero para adaptar-se às demandas sociais e às necessidades e interesses dos cidadãos aconselha não reduzir a fórmula da participação direta da audiência nos programas de rádio a um só gênero” (HERRERA DAMAS, 2002, p.155)31. A autora prefere utilizar o termo “gêneros de participação” apenas para os três modelos tradicionais de participação, que são o concurso, o consultório e o interrogatório da audiência32. Em todos os outros casos, prefere manter a denominação de “modalidade participativa”, que supõe uma derivação do conceito de fórmula de participação quando é utilizada com um conteúdo, uma técnica e uma finalidade concreta, como veremos mais adiante.

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Tradução Livre: una lectura más detallada del género como forma de representación de la realidad y como instrumento para los modelos de enunciación y recepción permite advertir que, en sentido estricto, la participación directa de la audiencia no constituye un género radiofónico. 31

Tradução Livre: La capacidad del género para adaptarse a las demandas sociales y a las necesidades e intereses de los ciudadanos aconseja no reducir la fórmula de la participación directa de la audiencia en los programas de radio a un solo género.

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A autora considera interrogatório da audiência como um modo participativo em que os ouvintes são direcionados para o meio com uma atitude de questionamento para solicitar informação ou opinião sobre um tema considerado de interesse.

No caso brasileiro, ao propor uma classificação para os gêneros radiojornalísticos, Lucht (2009) considera a participação direta do ouvinte na programação como “formato” dentro do gênero opinativo. Neste caso, os formatos identificados são denominados “Ouvinte” e “Rádio-conselho” (LUCHT, 2009, p.68-69). Diferente da classificação apresentada por Merayo (2002), na tipologia de Lucht (2009) não há distinção entre monólogo e diálogo, mas sim um enquadramento dos formatos de participação do ouvinte dentro de um gênero específico.

Entretanto, ao considerar monólogo e diálogo como gêneros distintos, Merayo (2002) entende que estes representam as únicas formas que se pode tomar a palavra a ser apresentada (p.84). O autor defende que quando se recorre aos gêneros de diálogo há mais facilidade e melhores resultados para se estabelecer uma verdadeira comunicação em relação à utilização do monólogo (MERAYO, 2002, p.85). As principais razões apresentadas por Merayo residem no fato de o ouvinte precisar de menor esforço para manter a atenção e a escuta durante mais tempo e porque o diálogo introduz formas expressivas mais ricas, variadas e dinâmicas que configuram mensagens mais comunicativas. Acredita, contudo, que os gêneros de diálogo são os que se adaptam com maior eficácia ao meio radiofônico, pois reproduzem melhor o sistema estrutural próprio da linguagem falada (MERAYO, 2002, p.85). Para Merayo (2002), o diálogo incrementa a proximidade psicológica, já que o ouvinte deixa de ser um mero destinatário e se converte em testemunha de uma conversação, envolvendo-se mais, portanto, no processo de comunicação (p.91). Também há um aumento da credibilidade na medida em que o relato se apresenta para o ouvinte de maneira improvisada e natural, além de intensificar a atenção, pois o diálogo exige menos esforço por parte do ouvinte, habituado à conversa na maioria dos processos de comunicação oral (MERAYO, 2002, p.91). Desta forma, entende-se que há um aumento da eficácia comunicativa da informação, na medida em que a estrutura dialógica favorece a compreensão.

Esse efeito de aproximação é o que Prado (1989) entende como resultado de uma interação natural na comunicação humana a nível oral, que faz com que o ouvinte sinta-se “incluído no clima coloquial, ainda que não possa participar” (p.57). É o caráter vivo do rádio, direto e simultâneo aos acontecimentos que “contribui [...] para provocar essa sensação de participação, aquela narração criativa na qual, mais que expor sentimentos próprios, deve provocar estes no ouvinte” (PRADO, 1989, p.86).

3.2.4 Da participação como forma de entretenimento às