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Dia V: mobilização e resultados

5.3 Dificuldades e facilidades à participação no PVV

5.3.3 Diferenciais do PVV e seus impactos para a participação

5.3.3.2 Dia V: mobilização e resultados

Outro evento de destaque promovido no PVV é o Dia V – Dia do Voluntariado. A realização do mesmo é assim justificada por um dos gestores do programa:

“[...] e porque o Dia V? Porque a gente precisa de um momento de estímulo. Eu costumo dizer que o Dia V é uma rede de pescar voluntários, que a gente joga, muita gente aparece, aparece uma quantidade enorme de gente, muitos, provavelmente a maioria, só naquele dia, mas naquela rede alguns ficam. Então é um dia de mobilização importante [...]. O Dia V na verdade era um instrumento para mexermos na inércia, pra todo mundo por a mão na massa... ajudou a dar um sentido de propósito numa ação”. (G01)

A afirmação elucida bastante o que se observa por ocasião do evento. Há toda uma mobilização realizada pelos comitês locais na preparação do Dia V e toda uma articulação para divulgação nos diversos canais de comunicação da Vale, além do acompanhamento da mídia local e nacional.

É também notório que se trata sim de uma ocasião de grande mobilização, mas que a grande maioria das pessoas participa unicamente neste dia. Uma voluntária reconhece o objetivo do evento:

“A fundação, ela trouxe um modelo desses consultores, que ela complementou. Um modelo que por sinal funciona muito bem em outros lugares e que quando se faz o dia V, por exemplo, que se mobiliza esse monte de gente, a intenção do Dia V é isso, é estimular a prática do voluntariado... não é nada além disso.” (V12).

Alguns avaliam este momento de forma incrédula. Considera-se uma estratégia de marketing e que não produz resultados efetivos para a participação dos voluntários, conforme se depreende do extrato a seguir:

“O Dia V eu vejo um pouco improdutivo diante de algumas coisas... eu acho que é muita propaganda e pouco resultado... tem que ter né, infelizmente tem que ter a mídia... tinha que ter um suporte um pouquinho maior e eu não vejo isso aí”. (V03).

Mas também há aqueles que avaliam positivamente o evento, principalmente pelo impacto percebido para os beneficiários da ação desenvolvida na ocasião:

“Eu adorei, foi muito bom. Eu achei que as nossas crianças adoraram. Eu me senti feliz por ter propiciado isso pra elas... Foi uma coisa meio estressante porque tava morrendo de medo que as crianças se machucassem. Mas foi muito bom. Teve umas pessoas da Vale que foram lá dar apoio, a maioria foram pessoas da comunidade.” (V24).

É característica do Dia V a realização de ações pontuais, com a participação de um grande contingente de pessoas, que se dedicam apenas naquela ocasião. Entretanto, vale registrar um caso em especial de uma ação que a partir do Dia V foi ganhando força e passou a ser desenvolvida de forma contínua. Registra-se o fato nas palavras do voluntário responsável ela ação:

“Eu comecei basicamente em 2004, com a questão do dia V mesmo e fiz a escolinha em

2005. A gente achava chato entrar na água e ver um monte de lixo na praia, catar lixo na

restinga, o esporte me ajudou muito. O dia V foi uma oportunidade de fazer esse

movimento em um dia, numa proporção maior, e mostrar pra todo mundo. É uma

iniciativa que foi tomada por atletas e no dia que eu tive oportunidade de levar pros banhistas, levar pros moradores, pra comunidade... eu era um voluntário, mas não sabia,

não tinha um conceito formado. [...] tinha um movimento novo que foi criado por mim e pelo pessoal da escolinha através do projeto de re-urbanização da Prefeitura, que tava

previsto tirar toda a faixa de restinga da orla de Itaparica. Na audiência pública, cinco políticos conseguiram que parassem de fazer a devastação na restinga. Começamos a fazer reunião junto com os moradores e fizemos abaixo assinado, colhemos 4 mil assinaturas e

começamos a movimentar isso, a levar pra prefeitura pra fazer funcionar o projeto e agora não vai tirar mais a restinga. Já „tamos‟ com um projeto de recuperar as áreas de

restinga, da questão de educação ambiental no local, então o movimento é a comunidade

que procurou a gente. A associação, eu fundei junto com 2 amigos, pra gente desenvolver

projeto na praia de educação ambiental e de preservação através do esporte. É filiada a federação de body board no Estado. A gente precisa de um patrocínio pra depois construir uma sede, ter verba... então a associação surgiu... é uma maneira de ter algo registrado. A escolinha é um projeto da associação e a gente ta querendo ano que vem de repente desenvolver alguns campeonatos dentro do esporte de body board, onde busca a educação

ambiental, você não cobra nada do atleta e de repente profissionalizar... é um meio da gente conseguir realizar os nossos projetos na praia. A gente entrou com um projeto pra

conseguir patrocínio pra escola na Vale e a comunicação orientou.... a única maneira é ser filiado ao Conselho Municipal da Criança e do Adolescente pra conseguir esse benefício. Procurei saber onde era o conselho, fizemos o registro no conselho. Agora a gente tem a intenção de participar mesmo porque muita coisa ali acontece relacionada a criança. Quanto mais ações tiver pra gente, melhor. [...] Foi depois que eu entrei aqui que a idéia foi ganhando mais força, eu fui tendo a responsabilidade de criar a

escola mesmo. Aí eu chamei uns amigos e criamos a escola. No dia do segundo dia V, foi

o dia que inauguramos a escola ambiental.” (V30, grifos meus).

Pelo depoimento é possível perceber que o Dia V se tornou uma via para a concretização de um projeto do empregado Vale na comunidade. A amplitude do evento lhe possibilitou torná- lo público e favoreceu a adesão de outras pessoas, culminando com um movimento contra uma ação pública de devastação ambiental. Todo este contexto criou uma identificação recíproca daquela comunidade com o voluntário e a interação estabelecida tanto com voluntários do programa como com esta comunidade, lhe deu uma base para expandir sua idéia, com a criação de uma escola ambiental na localidade. Recentemente, com vistas a angariar verbas para viabilizar alguns projetos da escola, ampliou sua participação para o Conselho da Criança e do Adolescente e, estando lá, relata também as contribuições que tem obtido em termos de conhecimento sobre causas voltadas para este público.