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5.3 Dificuldades e facilidades à participação no PVV

5.3.2 Compartilhamento (?) da política e diretrizes do PVV

5.3.2.5 Voluntariado e seguro

O Programa Voluntários Vale estabelece, dentro dos princípios da política que norteia a participação dos voluntários, a contratação de seguro pela Fundação para cobrir eventuais danos a terceiros ocasionados no decorrer de ações realizadas no âmbito do programa. A concessão deste benefício está condicionada a aceitação da política de voluntariado, expressa pela assinatura do termo de adesão e ao desempenho de atividades registradas junto aos comitês locais de voluntariado.

A questão do seguro é relacionada pelos gestores do programa como um dos principais diferenciais do PVV e, certamente, possibilita maior segurança para a participação dos voluntários.

No entanto, este benefício não é percebido pelos participantes: raros são os voluntários que o destacam, seja por desconhecer sua existência, seja por não compreender com precisão os critérios e situações em que o mesmo se aplica, tanto que a pesquisadora presenciou um encontro solicitado pelo comitê local de voluntariado para esclarecimentos relativos a isso, posto que nem mesmo os membros do comitê sentiam segurança para tal.

5.3.2.6 “Voluntários Vale”: Ambiguidades relativas ao nome

O nome adotado no programa – “Voluntários VALE” – tanto abre como fecha portas à participação dos sujeitos. Um primeiro conflito inerente ao mesmo está em que é sempre colocado que a Vale não quer associar o seu nome ao programa; que se trata de uma iniciativa do empregado para com a comunidade. Mas ao mesmo tempo, o nome da Vale está a todo tempo presente. Não há como desassociar.

Obviamente, este rótulo implica em que as ações voluntárias realizadas remetam à imagem da empresa. Um voluntário coloca que, por vezes, isso cria uma percepção de que ação é fruto do investimento da empresa, “apaga” a contribuição de outros parceiros e, inclusive, a iniciativa pessoal de cada um dos sujeitos que a realizam:

“[...] Acaba, assim, a gente levando o nome Vale e muita gente chega lá „vem cá, só funcionário da Vale, como é que é isso... a Vale dá tudo?‟... Aí o pessoal pergunta „isso acontece porque a Vale paga tudo?‟... Não, não é a Vale... A gente coloca lá Voluntários Vale... quando coloca isso aí traz toda a idéia que „ó, só acontece porque a empresa ta dando‟... „não, o que tem aqui olha, são parceiros, empresas que não tem as vezes nada a ver com a Vale... que auxiliam‟... mas aí... num sei... tem hora que isso aí tira um pouco do brilho do voluntariado porque o pessoal acha que é só a empresa, por causa da empresa e talvez seja uma das coisas que as pessoas falam „ah, eu vou ficar aqui fazendo as coisas pra Vale levar o nome?‟” (20)

Os voluntários também lidam de forma diferenciada com este fato. Em função disso, alguns preferem não se envolver ou optam por realizar o voluntariado independente da ligação com o PVV, como o depoimento acima destaca. Mas para outros, deixar de participar porque a empresa é enaltecida socialmente com o trabalho do voluntário ligado ao programa, requer também abrir mão dos seus valores e desconsiderar as razões pelas quais se dedica a essa

prática. Pondera-se que também há um ganho para o voluntário e que, se a empresa oferece recursos que o auxiliam a fazer algo que lhe toca, então o que importa é usufruir disso. O relato que segue revela esse sentimento:

“O impeditivo não é o nome Vale ou outra coisa... ser voluntário independe de onde você esteja, eu não estou preocupado se eu vou estar levando o nome da Vale ou não vou estar, eu quero mais é usufruir desse momento de troca, onde eu posso através de um canal de comunicação... ajudar as pessoas [...]. Eu sou grato por que... no momento que ela possibilita que as pessoas que tem vontade, que tem na alma essa coisa de compartilhar, de trocar... ela (empresa) se promove, mas eu também me promovo... promove a troca, a relação, o conhecimento [...]. O ato de ser voluntário tá na alma, tá na essência... eu não tenho nenhuma bronca com a Vale, eu não tenho... eu sou resolvido... eu não posso deixar de participar de um programa que é grandioso porque a Vale é rica e eu sou f... eu sou pobre”. (V02).

Além destes aspectos, uma questão ponderada por muitos voluntários é que o fato de carregar o nome Vale transmite credibilidade, haja vista que uma organização com sua representatividade não permitiria a associação da imagem a um programa cuja seriedade fosse questionável.

“Por se tratar de uma empresa do porte da Vale, a gente entende que não existe um desvio, a coisa é seria... seriedade por estar sendo administrada pela Vale. A Vale não vai admitir que as coisas aconteçam de forma fraudulenta ou de forma que não atinja os objetivos que foram destinados”. (V10).

“Aqui no da Vale eu acho que tem uma seriedade enorme... na SIPAT, que é a Semana Interna de Prevenção de Alimentos, recolhe alimentos... Nossa! Quantas toneladas de alimento... esse ano teve, aí depois teve a distribuição de alimentos... então a gente vê que chega lá no lugar, chega, tem um acompanhamento, você vê que o trabalho tem resultado.” (V23).

Sob este enfoque, o nome “Voluntários Vale” facilita a adesão das pessoas, que inclusive utilizam-se disso para fortalecer a ação voluntária que realizam:

“O que eu busquei mais quando eu cadastrei é credibilidade. A partir do momento que ta ali, eu acho que tem mais credibilidade... O portal tem toda uma estrutura, tem mais credibilidade”. (V24).

“Eu queria alguma coisa organizada. Eu entrei pro programa de voluntariado da Vale só porque, por se tratar de Vale do Rio Doce, que é uma empresa grande, que tem dinheiro, e que hoje ta muito preocupada com a imagem dela, ela não iria botar qualquer coisa no ar.” (V31).