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Os sentidos da participação no voluntariado empresarial

3.1 Voluntariado empresarial como estratégia de responsabilidade social

3.2.3 Os sentidos da participação no voluntariado empresarial

Em estudo realizado por Dias e Palassi (2007), referente a uma análise da produção científica sobre voluntariado nos principais eventos científicos e revistas de Administração, classificadas pela CAPES como “A”, identificou-se que 44% dos artigos publicados nestes meios estão relacionados com “Motivação do Voluntariado”; outros 44%, igualmente, direcionados para “Gestão de Programas de Voluntariado” e 12% voltam-se para a temática “Voluntariado – Ação de responsabilidade social”.

Apesar de aparentemente significativa, a produção científica sobre voluntariado é incipiente, principalmente se reduzirmos o âmbito de análise para os sentidos da participação em programas de voluntariado empresarial – fenômeno contemporâneo e complexo.

Ademais, muitos são os estudos balizados por uma abordagem comportamental, “que considera a psique como um conjunto de entidades observáveis no comportamento, omitindo completamente as dimensões de sentido e significação do estudado” (GONZÁLEZ REY, 2005a, p. 38-39).

A seguir, se descreve os sentidos da participação no voluntariado empresarial encontrados na literatura, sob a ótica daqueles que exercem trabalhos voluntários, ressalvando-se que os

mesmos, em alguns casos, são “extraídos” de forma superficial, sem ter em conta, conforme nos mostra a (2005a), as implicações metodológicas da subjetividade como definição ontológica.

Em seus estudos sobre o trabalho voluntário no cenário organizacional, Garay (2003b) observa que os sentidos subjetivos que emergem variarão conforme a relação que se estabelecem no contexto intra-organizacional (valores e práticas a ele associados) e do que o indivíduo busca na organização e na sua própria vida.

Garay (2003a; 2003b; 2004) destaca também sentidos que desmistificam o que se tem dito sobre voluntariado – uma ação desprovida de interesses, movida apenas pela vontade de ajudar os outros, pelo sentimento de responsabilidade social, sendo campo de exercício da criatividade, desenvolvimento de novas habilidades e fortalecimento de laços sociais.

A autora identifica outros tipos de sentidos da participação, embora afirme que isso não quer dizer que não se encontrem voluntários empresariais movidos pela vontade de ajudar o outro. Ela pontua que, para aqueles que têm uma história de vida em trabalho voluntário, a participação é um valor pessoal, um tipo de trabalho desinteressado.

Porém delata que o trabalho voluntário, para outros empregados que o realizam no âmbito do voluntariado corporativo, muitas vezes representa mais uma demanda organizacional, uma prática requerida pela organização (obrigação velada), como um desejo da empresa, como uma relação de troca com a empresa (caráter instrumental), como forma de ser reconhecido pela empresa (“faço parte”).

Constitui-se numa ação mediada e se processa mais no discurso do que implica resultados efetivos (caráter assistencialista). Retrata-se por sujeitos que desenvolvem ou se integram em um projeto social que pouco vão ou cada vez menos vão às entidades. A sua ação é mediada por um objeto (doação) ou mesmo por um sujeito (funcionária que representa o elo entre os voluntários e as entidades assistidas).

O voluntariado também é percebido como uma forma de ser reconhecido pela empresa e dar reconhecimento à mesma (imagem organizacional), além de ser uma relação de troca que se

realiza mais entre o profissional-voluntário e a empresa, do que entre este e o “beneficiário” da ação.

Nos estudos de Almeida, Lins e Oliveira (2005) apreende-se que, para os voluntários abrangidos pela pesquisa, a participação implica no bem-estar ao ajudar os outros. Neste âmbito, é colocado o sentimento de “ser mais humano”; o desejo de continuidade e de realizar ações que transformem a realidade brasileira em um mundo melhor; é um dever para com o próximo. Identifica-se o desenvolvimento de uma forte noção do “eu”, representada pelo reconhecimento de que, por mais difíceis que sejam minhas condições, há pessoas em situações piores.

Os autores destacam ainda a disposição para superar dificuldades (aprendem a ter perseverança); capacidade de comunicação oral e verbal aumentadas, relacionando-as ao progresso no desempenho das atividades profissionais e o desenvolvimento de novos relacionamentos, que facilitam o desenvolvimento das atividades.

Com base no esquema teórico de Fischer e Schaffer (1993) – a ser apresentado no item 3.5, Mascarenhas e Zambaldi (2002) realizaram um estudo de caso com o objetivo de determinar os fatores motivacionais que influenciam os empregados à atuação voluntária. Assim, no grupo de motivações altruístas e ideológicas, os voluntários declaram o desejo de ajudar o próximo ligado a uma convicção em relação aos problemas sociais; no grupo de motivações egoístas, se destacam motivações ligadas a crescimento pessoal (aprendizagem e experiência possibilitadas pela ação voluntária); status (espaço privilegiado para treinar-se e aperfeiçoar suas habilidades, tão caras à sua empregabilidade); sociais (o voluntário se evidencia com a atuação no voluntariado, sendo reconhecido dentro da empresa e aumenta sua rede de relacionamentos) e materiais (há a percepção de que uma atividade voluntária é valorizada tanto por escolas de MBA como pelas empresas).

Para evitar o risco de identificar as motivações dos voluntários apenas no discurso, os autores abrangeram também entrevistas com não voluntários, entretanto, ainda assim, as motivações parecem ter se restringido a “razões alegadas”, ficando na superficialidade da questão.

Colocados alguns sentidos da participação no voluntariado empresarial identificados na literatura, considero importante refletir sobre os avanços e retrocessos possíveis com o

trabalho voluntário, estimulado e desenvolvido no seio de organizações privadas. Há que se questionar: o que é o “voluntariado empresarial”, por que “voluntariado empresarial”, “voluntariado” de quê e em direção a quê?

Há movimentos tímidos, mas já reconhecíveis, de questionamento das profecias que o imaginário atribui ao voluntariado, mas ainda trata-se de uma questão em aberto.