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Inserção no Voluntariado Vale

5.3 Dificuldades e facilidades à participação no PVV

5.3.1 Inserção no Voluntariado Vale

Muitos são os caminhos que conduziram os voluntários participantes deste estudo científico ao ingresso no PVV. Alguns, foram envolvidos desde o início do programa, notadamente pelo convite inicial feito pelos facilitadores da área de comunicação da Vale com pessoas reconhecidas internamente por algum tipo de atuação social (seja pela participação nas ações e campanhas internas eventualmente realizadas na empresa, seja na comunidade de forma independente). Estes, por sua vez, foram estendendo o convite a outras pessoas com as quais tinham contato.

Dentre aqueles que compareceram às primeiras reuniões, houveram impressões diferenciadas da proposta que ora estava sendo colocada quanto ao desenho institucional conferido ao programa. Um voluntário que participou ativamente desde a implantação, explicita essa questão:

“Nessa reunião... ia se formar o comitê, saber o quê que é comitê, o quê que é rede, quem quer ficar no comitê, quem quer ficar na rede... aí tinha que fazer uma eleição pro coordenador do comitê... houve uma manifestação quem gostaria de ser... 2004 estava focado no dia V. Nós fomos pro Rio pra construir, pra fazer a construção sobre o programa Voluntários Vale, depois as diretrizes, então no encontro nacional foi pra construir essa política de voluntários Vale. Em 2004 nós fomos lá pra conhecer o que era o programa Voluntários Vale, foi pra tomar conhecimento o quê que era essa proposta... aí em 2005 a gente começa a consolidar a rede, o comitê... foi um ano de entender qual é o papel do comitê, qual o papel da rede [...]” (V02).

O trecho ora destacado, extraído da dinâmica de conversação realizada, nos dá elementos para aferir as percepções ante o processo de institucionalização do fenômeno do voluntariado empresarial na Vale, que implicava aos sujeitos posicionar-se pela participação ou não em instâncias diferenciadas no âmbito do programa, como integrante da rede de voluntários ou do comitê:

“Logo no começo, quando eles lançaram o programa voluntariado... me chamaram. Aí eu vim numa reunião, só que eu falei assim „não; participar disso [comitê] não é comigo não‟. Aí eu perguntei: „tem outra coisa?‟ Eu sou mais de executar do que ficar planejando. Eu aprendi com o tempo que eu tenho que doar o que eu sei, o que eu posso, o que eu tenho. Não adianta querer, tem que dar conta”. (V35).

Desta forma, aqueles que optaram por compor o comitê, de pronto já foram inseridos na preparação do primeiro dia V e envolveram-se também no delineamento da política e diretrizes. Outros, como demonstrado no excerto acima, optaram pela atuação na rede. No entanto, houveram voluntários que não se identificaram e, por conseguinte, não aderiram ao programa:

“Eles passaram correio falando de uma reunião que eles teriam pra falar sobre o programa de voluntariado e chamaram as pessoas. Aí eu cheguei na reunião e percebi que era uma coisa mais voltada à empresa e na verdade percebi que eu tive uma interpretação errada, aí nem dei a oportunidade pra que eles conversassem mais comigo. Então eu nunca mais me envolvi no voluntariado”53. (V24)

Ao longo do desenvolvimento do PVV, outros voluntários foram ingressando mobilizados por estratégias de comunicação implementadas para divulgar o programa, ações que vinham sendo realizadas, assim como eventos relativos ao mesmo. Além disso, tanto internamente como no âmbito externo à empresa, o portal é a principal via de acesso:

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Na verdade, V24 continuou exercendo as atividades voluntárias que exercia na comunidade, desvinculada do programa. Somente no último dia V, voltou a interagir efetivamente com o PVV, incentivado por uma colega de trabalho.

“Tomei conhecimento do programa através da internet. A Vale divulgou que o voluntário existia e depois que foi criado o portal estimulou muito mais”. (V38).

“Através da internet, fazendo pesquisa, buscas, sites... Eu entrei no portal, e tava lá voluntariado... voluntários e amigos. Aí eu pensei: vou tentar. Aí eu mandei um e-mail se eu podia, perguntando como eu podia participar, se havia possibilidade... aí eu tive essa oportunidade dela me chamar. Entrei como voluntário da Vale. Não conhecia ninguém”. (V01).

Entretanto, o uso destes recursos tecnológicos de forma descontínua e sem amplitude, eventualmente demoraram a surtir efeito no sentido de impulsionar o envolvimento dos empregados:

“A gente ouve propaganda e passa no Vale@... Mas aquilo te chama a atenção, mas passa, é como se fosse um outdoor... aí você fica sem maiores detalhes de como você participar... aí um dia, o nosso apoio aqui, mandou um correio pra todos da nossa área: „quem quiser participar do voluntariado, acesse o portal e se inscreva assim, assim, assado‟... aí eu me inscrevi, aí engajei em algo que me satisfazia, foi assim que eu tomei um conhecimento mais profundo e me engajei”. (V22).

É importante destacar também o papel de mobilização que alguns voluntários exercem. Muitas pessoas começam a participar por via do relacionamento interpessoal com outros colegas de trabalho e a partir de vínculos sociais do empregado na comunidade. Os depoimentos abaixo ilustram essa relação:

“[...] eu fiquei sabendo também através da [...], que é também amiga da minha mãe, que tinha essa coisa dos Voluntários Vale. Isso foi em 2005. Me falaram que tinha esse portal, chegou o Dia V e a Vale promove várias ações [...] Ela mandou o convite para adicionar no portal [e então se cadastrou]”. (V29).

“Foi através de um amigo aqui da área que era voluntário, tava cadastrado na rede. Foi daí que surgia a formação da escola [projeto que desenvolve] com o dia V, mas eu nem era cadastrado. Isso me motivou, „vamos botar isso pra acontecer‟. Logo que pintou essa oportunidade, eu cadastrei porque falaram que tinha que cadastrar pra dar entrevista pra falar do projeto. Aí através dessa entrevista, começaram a me buscar pra mim participar das reuniões e vieram falar do dia V... se eu não queria fazer alguma coisa na praia... aí eu falei „eu tenho vontade de fazer a limpeza‟... e aí foi surgindo, daquilo que era a sementinha, virou uma árvore”. (V30).

“2005 foi quando eu comecei a participar efetivamente... eu já gosto de participar então eu vou tentar ta junto... Conversando com [...] ele foi me explicando... ele me estimulou mais. Antes era só como um participante mesmo... mas depois queria saber ... como que as coisas funcionavam... antes eu tinha só... a minha preocupação era só tirar o dinheiro e pagar pra ele fazer. É uma contribuição que ele me pedia e que eu dava... Não tinha relacionamento nenhum, com ninguém... e depois ele começou a conversar comigo... eu comecei a me interessar... Ele que começou a ação e não tinha nem o programa da Vale ainda... comecei ajudar, ajuda financeira... depois ele soube não sei por quem que eu podia ajudar de outra

forma... mas eu não participava como voluntário... pagando só... sem envolvimento... depois ele foi me falando... eu comecei a saber a história e os objetivos que eles tinham [...]”. (V06)

Ainda nesta linha, é possível pontuar que os estagiários da empresa também conhecem o programa e se predispõem a participar por meio de referências e estímulos de outros colegas de trabalho. Embora nos processos de seleção por vezes sejam questionados se exercem ações voluntárias, quando entram na empresa, em momentos como o período de ambientação54, não há uma abordagem sobre o PVV.

“Na ambientação não teve nada sobre voluntariado. Quando a gente passa por entrevista com gestores, eles sempre perguntam se a gente pratica alguma ação voluntária ou ligada a Igreja... mas só. Não sei se é porque quando eu entrei eu acho que ainda não era muito intenso”. (V27).

É notório que, para cada voluntário, a participação no programa ocorre a partir das relações sociais que estabelece no meio e dos sentidos subjetivos que produz sobre este fenômeno num dado momento histórico. Creio que esta assertiva elucida porque as pessoas aderem prontamente ou não a este fenômeno social.

Relativo a isso, vale retratar o depoimento que segue, no qual um voluntário relata a interação entre aspectos de sua vida pessoal e suas vivências no trabalho, que o conduziram posteriormente a participar do voluntariado na empresa:

“[...] a história de vida que a gente... eu lidei sempre... na minha família tem as pessoas melhor de vida e as sem recurso... então isso ajuda a gente a ter uma percepção da graduação numa mesma família de situações adversas. Aqui dentro, a Vale também é uma família, você vê gente de todas as possibilidades e necessidades... dentro da Vale acho que começou assim, ao exercer a minha função [...] eu me deparar com colegas que tinham demandas que não eram propriamente aquelas para qual fui contratado... [...] tem uma série de lutas ... assim, a gente vai vendo a história de vida de muitos... e vendo como faz a diferença de ter um encaminhamento, uma orientação... nós tínhamos uma assistente social e deixamos de ter dentro da empresa... [...] E aí eu recebi um convite depois, de membros do comitê para participar porque já tínhamos assim... a ação de ter ajudado na.. de ter que um dia, tarde e até 10 da noite ajudando a carregar alimentos, organizar as doações, dá um trabalho carregar aquilo tudo, definir instituições, veículo ou caminhões pra entregar isso... então a gente se viu primeiro participando de alguns eventos, vamos dizer...esse seria o caminho, depois que você participa de alguns... „ah... isso existe de fato... concreto... eu senti, toquei, eu vi a instituição recebendo, eu ajudei a levar, ou recebe um agradecimento ou algo assim‟... e a partir daí então você percebe a Vale ou os Voluntários Vale atuando ali”. (V39).

54 Trata-se de um processo de integração, que entre outras atividades, introduz ao estagiário informações

Pelo trecho, pode-se perceber que sua participação está ligada a configuração de sentidos que expressa a partir de suas experiências vividas em consonância com a de seus próximos no ambiente de trabalho. Este mesmo voluntário relata uma situação em que, a partir de um problema pessoal e, vendo no voluntariado uma força de potencializar forças para a resolução deste problema, um empregado aderiu ao programa:

“[...] voluntariado muitas vezes não nasce aqui dentro... porque é complexo isso... ele tem que estar aqui dentro, lá fora e aí dentro dessa conjuntura toda, as vezes, é uma necessidade... por exemplo, teve um que era um pai responsável, que teve um filho com problema e aí descobriu que não tinha ninguém, nenhuma associação pra ajudar. [...] É.. um altista... então esse pai junto com outros se mobilizaram. A partir daí ele virou um voluntário. O que fazia só pela filha dele, agora ele passa a fazer para filha e pra outros também. Então num caso desse, ele está num processo de se conscientizar, ele está lendo livros, está se desenvolvendo... a partir de uma necessidade [...]”. (V39).

Os relatos advindos das diversas dinâmicas de conversação demonstram, portanto, que os voluntários entram no programa por diferentes “portas”; e são muitas as “portas”. A compreensão da dimensão subjetiva da participação destes voluntários, por conseguinte, perpassa o conhecimento dos sentidos subjetivos construídos pelos sujeitos que vivenciam o Voluntários Vale. Neste sentido, também é válido atentar para os elementos que se objetivam no âmbito do programa, como seu desenho institucional, política e diretrizes. Como os voluntários os percebem? Este é mais um desafio do PVV.