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CONSTRUÇÃO CIVIL DE OBRAS DA CIDADE DO RECIFE PE

2.2 Diagnóstico da gestão e geração de RCC em obras

O diagnóstico da geração de RCC em canteiros de obras de Recife envolveu a coleta de dados a partir da realização de parcerias com construtoras que atuam na construção de edifícios multifamiliares na região (Tabela 1). Primeiramente, foi enviado um ofício para os responsáveis pela área de meio ambiente da empresa explicando os objetivos da pesquisa. Após o primeiro contato, foram marcadas reuniões para coleta de dados de geração de RCC em cada obra.

Para a organização das informações, foi criado um banco de dados em planilha eletrônica, contendo o levantamento das características construtivas de cada obra, como a fase, área construída, área do terreno, área de demolição e escavação, número de pavimentos, tempo de execução, dentre outros. Além disso, foram plotados os dados de geração de resíduos de acordo com o tipo (concreto, cerâmico, madeira, papel) e a classe (A, B, C e D – Resolução CONAMA nº 307/2002). Foram analisados ainda os custos provenientes da coleta e destinação final dos resíduos. Em algumas obras foram obtidos apenas dados mensais de quantidade de caçambas coletadas, enquanto que em outras foram obtidos dados específicos de cada caçamba, como data, quantidade, volume da caçamba, custo do transporte e custo de destinação final. Ao todo foram cadastradas 20 obras (Figura 2).

Tabela 1. Características das obras analisadas.

Código Área total (m2) Nº de pavimentos Duração da obra (meses)

O1 17.041,34 34 30 O2 17.399,77 34 45 O3 12.360,32 36 42 O4 10.522,14 29 29 O5 12.486,42 30 38 O6 13.605,93 11 30 O7 18.597,01 32 41 O8 6.225,93 20 36 O9 14.062,10 34 44 O10 7.705,66 18 27 O11 3.738,75 19 28 O12 7.099,33 17 39 O13 97.900,00 78* 41 O14 19.929,15 31 50 O15 28.493,66 22 42 O16 10.072,18 29 29 O17 12.649,80 36 38 O18 10.216,02 32 29 O19 10.999,84 28 38 O20 15.778,00 38 48

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Figura 2 . Localização das obras cadastradas em Recife.

Foram coletados os dados referentes à geração de RCC, de todas as fases construtivas, referentes ao período de 2010 a 2015. As obras analisadas possuem uma média 17.000 m2, 30

pavimentos, e duração média de 37 meses.

3. RESULTADOS

A partir da análise das 20 obras estudadas, obteve-se a caracterização da geração de RCC de acordo com as fases, classes e tipos de materiais. A Figura 3 apresenta a geração total de RCC nas obras analisadas.

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Figura 3. Geração total de RCC nas obras analisadas.

Observa-se que a geração de RCC varia de forma significativa de acordo com uma série de características de cada obra. A geração total média foi de 1074 toneladas, sendo comum encontrar valores entre 350 e 3000 toneladas. Considerando-se a geração por fase de obra, verificou-se que a fundação possui uma geração média de 78 toneladas, seguido da fase de estrutura com 313 toneladas, e por fim o acabamento com 683 toneladas (Figura 4).

Figura 4 – Composição da geração de RCC por fase de obra.

O número de caçambas estacionárias que saem do canteiro de obras varia bastante ao longo de sua execução. A Figura 5 apresenta a quantidade média de caçambas estacionárias coletadas nas obras analisadas de acordo com a fase construtiva.

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Verificou-se que na fase inicial de construção (Fundação), é coletada 1 caçamba por mês; na etapa de estrutura, a média é de 3 caçambas, e na fase de acabamento são coletadas 6 caçambas por mês.

Na estimativa da geração de RCC, é habitual utilizar como referência a área total construída de cada obra. Atualmente, nos PGRCC elaborados por parte das construtoras, são utilizados índices padrão de geração de RCC, determinadas pelo órgão responsável pela análise dos planos. No caso da Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (EMLURB) da cidade do Recife/PE, utilizam-se os índices de 75 kg/m2 para a fase de construção, 800 kg/m2 para a fase de demolição e 1.400 kg/m3 para

a fase de escavação (EMLURB, 2006).

Para as obras analisadas, obteve-se o índice médio de geração de 85 kg/m2, para uma área

construída média de 17.344 m2, próximo ao índice utilizado pela EMLURB. Porém, a taxa varia de 27

kg/m2 a 263 kg/m2, observando-se, portanto, que é inadequado utilizar um único valor como

referência, pois diversos outros fatores podem interferir na geração de RCC em uma obra. Paz (2014) obteve um valor médio de 125 kg/m2, enquanto que Sobral (2012) obteve 93,89 kg/m2)

A partir desta constatação, foi realizada uma análise da geração de RCC por faixas de área construída, conforme apresenta a Tabela 2.

Tabela 2. Geração total e índices de geração de RCC por faixas de área construída

Área construída Nº de obras

analisadas

Geração média total (t)

Índice de geração por área construída (kg/m2) At ≤ 8.000 m2 4 879 157 8.000 m2 < A t ≤ 15.000 m2 9 884 74 15.000 m2< A t ≤ 25.000 m2 5 1291 71 At > 25.000 m2 2 1780 29

A partir desta análise, verificou-se que a geração total de RCC é maior com o aumento da área construída. Por outro lado, o índice de geração segue um processo inverso, sendo maior para as obras de menor área construída. Assim, é preciso considerar o porte da obra de forma a utilizar o índice correto de geração de RCC.

Além do índice de geração total de RCC, foram obtidos os índices de geração de RCC de acordo com o tipo de material, considerando as 20 obras analisadas (Tabela 3).

Tabela 3. Taxa de geração de RCC por tipo de material

Material Geração total média de

RCC (t)

Taxa de geração média (kg/m2)

Entulho1 967,7 78,3

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Madeira 48,1 3,32 Papel/Papelão 5,6 0,41 Plástico 7,6 0,54 Metal 2,69 0,19 Sacos de cimento/argamassa 1,47 0,02 Resíduos perigosos2 0,46 0,03

1Considera-se como entulho apenas os resíduos de concreto, cerâmico e argamassa (Material nobre) 2 As latas de tinta não são mais consideradas como perigosos, após estabelecimento da CONAMA nº 469/2015.

Como se pode observar, o entulho é o material mais predominante dentre os resíduos gerados na obra, possuindo a classe A, de acordo com o que estabelece a Resolução nº 307/2002 do CONAMA. A Figura 6 apresenta a composição dos RCC de acordo com as classes da referida resolução.

Figura 6. Composição dos RCC de acordo com as classes da Resolução nº 307/2002.

Foram considerados como resíduos Classe B os materiais recicláveis para outras destinações, como o gesso, madeira, papel/papelão, plástico e metal (Figura 7). Considerou-se como Classe C os resíduos misturados e os sacos de cimento/argamassa, que não são enviados para a reciclagem e, como classe D, os resíduos perigosos, como Equipamentos de Proteção Individual (EPI), lâmpadas e latas de tinta.

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Em relação aos custos com o gerenciamento de RCC, que envolve as etapas de coleta e destinação final, verificou-se que varia de R$ 26.000,00 a R$ 150.000,00, com uma média de R$ 61.935,00. A Figura 8apresenta o custo total obtido para as 20 obras, e a Figura 9 apresenta a percentagem de custos para cada etapa, onde se observa um maior gasto com a coleta e transporte de resíduos na obra.

Figura 8. Custo total de gerenciamento de RCC.

Figura 9. Composição dos custos de gerenciamento para as etapas de coleta e destinação final

Comparando-se os custos com a área total construída, obteve-se um custo médio variando entre R$ 1,45/m2 e R$ 12,64/m2, sendo a média de R$ 4,86/m2. Paz (2014) obteve um valor de R$

6,64/m2 para obras certificadas com ISO 14.001, e R$ 12,49/m2 para obras sem certificação.

Ao analisar os custos por faixas de área construída, verifica-se um custo por m2 maior para as

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Tabela 4: Custos de gerenciamento de RCC por faixa de área construída

Área construída Custo da Coleta (R$) Custo da destinação final (R$) Custo total (R$) Custo por m2 (R$/m2) At ≤ 8.000 m2 29.400,00 17.632,00 47.032,00 8,24 8.000 m2< At ≤ 15.000 m2 35.783,00 16.850,00 52.633,00 4,42 15.000 m2< At ≤ 25.000 m2 51.714,00 24.821,00 76.536,00 4,24 At > 25.000 m2 62.550,00 34.551,00 97.101,00 1,64

4. CONCLUSÕES

Os resultados obtidos pela análise das 20 obras apontam que são necessários novos indicadores de geração de resíduos por fase construtiva e por faixas de área construída, para que se possa estimar de forma adequada quanto foi gerado e os custos do gerenciamento. Observou-se que há uma grande variação entre a geração de RCC entre as obras, o que dificulta a estimativa da quantidade de resíduos a serem gerenciados. A fase de acabamento é a etapa onde há a maior geração de resíduos. Isso se deve ao fato de que é a fase com maior duração, e que muitas há bastante desperdício, pela quebra de materiais de construção.

Quanto ao índice de geração de RCC por m2, conclui-se que não é recomendável utilizar um

índice padrão único (75 kg/m2, no caso da EMLURB), pois este índice reduz para obras de maior porte

e aumenta para obras de menor porte, indicando que a área construída não é a única variável a ser considerada na estimativa. A mesma análise deve ser feita em relação aos custos com o gerenciamento, onde observou-se que o custo por m2 é maior nas obras de menor porte. Portanto, esta

pesquisa mostra a necessidade de se realizar estudos mais aprofundados para identificar quais as variáveis que mais interferem na geração de RCC, além da área total construída.

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