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A diferenciação dos sentimentos Eu diferencio quatro tipos de sentimentos:

O primeiro é o sentimento primário, isto é, um sentimento que resulta da situação imediata e é condizente a ela. Quando a mãe morre e a criança é dominada pela dor, chora e soluça, isto é, então, um sentimento primário. É condizente com essa situação. Os sentimentos primários são frequentemente intensos, mas de curta duração. Assim que nos entregamos totalmente a eles, logo desaparecem. Eles são atentos e direcionados para fora. Por exemplo, a criança chora de olhos abertos nesse tipo de tristeza. Olha para a mãe morta e soluça de olhos abertos.

Se alguém fecha os olhos então se encontra, via-de-regra, num outro sentimento. Isto é então, um sentimento secundário. O sentimento secundário é um substituto para a intensidade do sentimento primário. Os sentimentos secundários também são desfrutados. Nós os seguramos firmemente, porque servem para impedir a ação. Por isso, um terapeuta nunca deve se ocupar de um sentimento secundário. Tão logo se ocupe disso, o cliente prova que o terapeuta não pode ajudá-lo. O sentimento secundário quer impedir a ação. Trabalharia com o cliente somente depois que ele saísse do sentimento secundário e voltasse ao sentimento

primário.

Os sentimentos primários estão sujeitos a um comando interno. Por isso, quem se encontra num sentimento primário nunca precisa se envergonhar. No sentimento primário os outros sentem com ele. Essa compaixão também nos torna fortes. Embora estejamos nessa compaixão com os outros, isso não nos rouba nada.

Pelo contrário, em face de sentimentos secundários nos sentimos impotentes e também zangados. Sentimo-nos usados. Através de sentimentos secundários uma pessoa atrai a atenção para si. Através de um sentimento primário ninguém atrai a atenção para si. Entramos com ele numa situação na qual sentimos compaixão, mas mesmo assim permanecemos centrados em nós mesmos. Nos sentimentos secundários é o contrário. Por isso, nos sentimentos secundários vale o seguinte: jamais interferir. O critério principal para reconhecer se é um sentimento secundário são os olhos fechados.

O sentimento secundário segue uma imagem interna, não a realidade. Precisa-se fechar os olhos, porque ele retira a sua força de uma imagem interna.

Quando se quer ajudar alguém a sair de um sentimento secundário, devemos fazê-lo abrir os olhos. Dizemos, por exemplo: olhe para mim. De repente, vê-se que sua fisionomia se clareia e está, então, num sentimento primário. Isto é, muitas vezes, totalmente diferente quando comparado com o sentimento secundário. Muitas vezes ele então ri, em vez de chorar, ou fica triste, onde antes estava furioso.

O terceiro tipo são os sentimentos adotados, os sentimentos alheios, por exemplo, como efeito de uma identificação. Podemos ver isso frequentemente nas constelações familiares. Uma pessoa se liberta deles quando se torna claro de quem ou para quem ela assumiu esse sentimento. Por trás do sentimento adotado atua geralmente o amor primário. Mas, nós o alcançamos somente quando a identificação foi anulada. A identificação impede que eu veja a pessoa com a qual estou identificado. Ela não pode aparecer como outra à minha frente, porque através da identificação sou como ela. Se eu estivesse identificado com o irmão de meu pai, então sentiria como ele e não poderia vê-lo, porque na identificação sou como ele. Mas, tão logo ele se coloque à minha frente

posso olhar para ele, respeitá-lo e amá-lo. Através disso a identificação fica anulada.

O quarto tipo de sentimento, denomino de metassentimentos ou sentimentos intrínsecos. São sentimentos superiores. Na verdade, são sentimentos sem emoções. São forças puras para a ação. Quando alguém é confrontado com situações comoventes, vai a esse metanível. Por um lado, parece algumas vezes insensível, mas está totalmente centrado. Vivenciamos aqui tais destinos que nos tocam profundamente, que nos levam consigo em todos os sentidos, como compaixão e também como recordação. Na verdade, isso é natural. Isso é humano, humilde e bom. Entretanto, o terapeuta precisa se retrair. Por isso, vai a um nível superior. Ele se expõe, por assim dizer, ao todo e fica atento para que siga bem. Por isso, também precisa manter-se centrado. Não pode sucumbir ao sentimento. O terapeuta fica acima do sentimento, isso é importante. Entretanto, não precisa envergonhar-se quando as lágrimas lhe rolam nessas situações.

A palavra “meta” significa superior. É evidente que se vá para “cima”, para o nível superior. A imagem que combina com isso é: a gente sobe a montanha, em vez de ficar “embaixo” no trânsito tumultuado. Em cima da montanha a gente tem uma visão maior - e está, ao mesmo tempo, solitário. Não se está intimamente ligado. Esta é uma imagem com a qual se pode trabalhar.

O famoso Milton Erickson imaginava muitas vezes, durante o seu trabalho, que flutuava no teto e olhava para baixo para o cliente. Assim, ganhava e conservava a visão. Esta também é uma maneira de ir ao metanível.

Entretanto, existe uma outra maneira totalmente diferente. Nós nos recolhemos ao centro vazio. Lá se está totalmente centrado. No ponto do centro vazio estamos o mais profundamente ligados a um campo de força e atuamos sem agir. Esta é uma outra imagem. Mas não devemos nos fixar às imagens. Sentimos no efeito o que mais ajuda e faz bem. PARTICIPANTE Nas constelações sempre vi a diferença entre os sentimentos primários e os secundários. Gostaria de entender melhor o que você disse sobre os metassentimentos. Sinto que disso depende a

maneira como você pode trabalhar.

HELLINGER Aqui muitas vezes ficou claro que, quando alguém falava em voz normal, o sentimento era o mais forte, portanto, falar estando simplesmente em contato consigo mesmo, mostra o sentimento mais forte. O terapeuta ciente disso resiste às explosões dos sentimentos e os leva, no final, para esse simples falar com voz bem normal. Quando os sentimentos são fortes, digo frequentemente para o cliente senti-los sem emitir sons, sem palavras e sem som, apenas respirar profundamente. Então, o sentimento se aprofunda muito mais do que quando alguém grita. Entretanto, existem situações em que o sentimento se expressa bem fortemente, como grito primai. Isso aqui é uma outra coisa. Tal grito atravessa a medula.

Os metassentimentos

Existem sentimentos nos quais podemos confiar. Esses têm características determinadas: são sem emoção, totalmente claros. Denomino esses sentimentos de metassentimentos. Coragem pertence aos metassentimentos, humildade é um metassentimento, sabedoria também. Sabedoria significa que posso diferenciar se algo é possível ou não. Pode-se fazer essa diferenciação, porque se está em harmonia com algo maior. Vivenciamos essa harmonia assim como quando se nada num rio calmo. Percebemos imediatamente a mais leve correnteza ou, quando alguém está velejando e abriu as velas, percebe imediatamente o menor sopro de vento. Os metassentimentos são sentimentos em harmonia. O terapeuta trabalha com esses sentimentos.

Muito se opõe à percepção do que é possível ou não, por exemplo, que alguém queira algo que não está em harmonia. A outra coisa é que alguém não esteja absolutamente capacitado a ter essa percepção, porque está inundado de sentimentos alheios, de sentimentos que não lhe pertencem. Eles vêm, por exemplo, de sua família de origem.

Os metassentimentos têm uma qualidade de leveza. Não há nada de pesado ou dramático nisso. São completamente simples. Chega-se a isso, libertando-se de seus próprios emaranhamentos. Nas constelações familiares pode-se vivenciar como libertar-se disso.

significa que me oriento pelo que me assegura a pertinência à minha família. Portanto, consciência tranquila significa que estou em consonância com aquilo que é válido na minha família, de modo que possa pertencer a ela. Má consciência significa que reajo com medo ante a perda de minha pertinência. Quem está preso a esse medo não pode perceber os leves movimentos dos metassentimentos. Uma criança, por exemplo, não consegue isso, porque ainda é totalmente dependente de outros sentimentos.