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HELLINGER Gostaria de dizer algo sobre o bom e o mau: Bom quer dizer: eu tenho mais direitos que você.

Mau quer dizer: você tem menos direitos que eu.

Inocente quer dizer: eu tenho mais direitos que você. Culpado quer dizer: você tem menos direitos que eu.

Sistemas familiares atuam num plano muito profundo de igualdade e, sempre onde um se eleva acima de outro, se eleva acima de sua dor ou quando acha que pode tomar a sua vida em suas mãos, sem levar em consideração e respeitar a do outro, a sua alma se levanta contra isso e providencia a compensação. Por isso, a cura sempre começa com a dignificação do outro, ao qual fiz algo ou o qual expulsei da minha vida, apesar de ele pertencer a ela. Dando-lhe a honra que lhe cabe, a igualdade volta a vibrar e então o bom pode desenvolver-se.

Incesto

HELLINGER No incesto entre o padrasto e a enteada existe frequentemente a dinâmica de que uma compensação não teve lugar. Portanto, a mulher casa com um homem, traz uma filha para o casamento e espera então do homem que ele seja pai para a filha, apesar de não sê- lo. E quando ele cuida da filha, ela não reconhece que, na verdade, ele não precisa fazê-lo, que ele não é obrigado a isso, pois a criança tem um outro pai. Portanto, o homem tem que dar mais do que recebe. Então existe uma dinâmica secreta para a compensação e ela se dá através do incesto e, com efeito, sob a instigação da mãe. Mas isso se passa inconscientemente, não que a mulher o deseje. Mas a mulher sempre sabe disso e não intervém, pois é uma necessidade secreta. A filha concorda também secretamente.

CLIENTE Eu sempre me opus, mas a minha mãe não me apoiou. HELLINGER Exatamente, ela não apoiou você. A solução seria que a filha dissesse: “Mamãe, eu sei que é necessário”. Então isso é deslocado para ela. A criança já não tem que carregá-lo.

para a representante da cliente Diga-o a ela.

REPRESENTANTE DA CLIENTE Mamãe, eu sei que é necessário. HELLINGER “E eu assumo isso com prazer”.

REPRESENTANTE DA CLIENTE E eu assumo isso com prazer. HELLINGER “Para você”.

REPRESENTANTE DA CLIENTE Para você.

REPRESENTANTE DA MAE É difícil para mim. Isso dói. Mas eu o tomo agradecida.

HELLINGER Diga a ela: “Agora eu assumo a responsabilidade”. REPRESENTANTE DA MÃE Agora eu assumo a responsabilidade. HELLINGER “Pelas consequências”.

REPRESENTANTE DA MÃE Pelas consequências. HELLINGER “E você está livre”.

REPRESENTANTE DA MÃE E você está livre.

HELLINGER para o representante do padrasto E você diz a ela isso também: “Eu cometi uma injustiça em relação a você”.

REPRESENTANTE DO PADRASTO Eu cometi uma injustiça em relação a você.

HELLINGER “Aqui você era somente a criança”.

REPRESENTANTE DO PADRASTO Aqui você era somente a criança. HELLINGER “Eu assumo a responsabilidade”.

REPRESENTANTE DO PADRASTO Eu assumo a responsabilidade. HELLINGER “E a culpa”.

REPRESENTANTE DO PADRASTO E a culpa.

HELLINGER “Qualquer que tenha sido o emaranhamento”.

REPRESENTANTE DO PADRASTO Qualquer que tenha sido o emaranhamento.

HELLINGER “Por mim você está livre”.

REPRESENTANTE DO PADRASTO Por mim você está livre. HELLINGER Como é isso para você?

REPRESENTANTE DO PADRASTO Bom. Tenho por mim mesmo a tendência de me retirar.

HELLINGER Faça-o e diga também: “Agora eu me retiro”. REPRESENTANTE DO PADRASTO Eu me retiro.

Quando ele se retira, mãe e filha se aproximam. A mãe coloca o braço em torno da filha.

HELLINGER para a cliente O que você diz disso?

CLIENTE Isso faz bem. Também porque a minha mãe ainda está viva e eu posso encontrá-la.

HELLINGER Você não pode dizer nada disso a ela. Isso é importante. Há algo mais em caso de incesto. Origina-se um vínculo entre você e o padrasto. Então a mulher tem dificuldades em dedicar-se a um outro homem, por causa do vínculo. Ela tem de reconhecer o vínculo. Se ela o reconhece, pode desatá-lo. Enquanto você estiver brava com ele, isso fortalece o vínculo. Portanto, você também deveria dizer-lhe: “Eu devo muito a você. Eu o tomo e agora deixo você partir”. Essa seria a solução: “Eu deixo você partir”.

PARTICIPANTE Na verdade, quanto é importante a confrontação entre agressores e vítimas, que o agressor se desculpe realmente perante à vítima com contato visual?

HELLINGER Que agressor?

PARTICIPANTE Incesto, por exemplo.

HELLINGER Bem, a desculpa é absolutamente impossível, pois, senão, a solução fica dependendo da vítima. Através disso ela fica comprometida. A vítima deverá então desculpar o agressor. Isso não é possível. Ela também não pode desculpá-lo.

Portanto, o agressor diz: “Sinto muito”. Ele reconhece a culpa. Ele diz também: “Fui injusto com você”. E ele diz: “A culpa está comigo. Quanto a mim você está livre, e eu me retiro”. Assim como fizemos aqui. Essa seria a solução.

PARTICIPANTE Você pode dizer algo mais sobre esta relação incestuosa? Eu percebi que a filha estava ambivalente: em direção ao pai e para longe do pai. Você a apoiou para que ficasse perto dele. Mas provavelmente o outro movimento também é importante, ir embora dessa ligação estreita. Você pode dizer algo mais sobre isso?

HELLINGER Sim. O movimento de afastamento tem êxito quando o movimento em direção ao pai é reconhecido. Se a filha somente tivesse

ido embora zangada, o que isso teria trazido para a sua alma? Não teria trazido nada. Ela ficaria na resistência, na raiva e na dor, talvez toda uma vida. Frequentemente a dor é tão grande, que ela encobre o que está por trás dela. Ainda mais doloroso é o amor que está por detrás. Eu tentei deixar que esse amor aflorasse à superfície. Ela se sentiu melhor depois. Como terapeuta não se pode reagir a exteriorizações ostensivas de sentimentos. Alguns ficam com medo quando veem algo assim. Eu sei que o amor se esconde por trás disso. Eu só tenho que esperar o tempo suficiente, então ele vem à tona. Foi o que fiz aqui. Quando ela consentiu o amor, ela pôde se liberar e o pai pôde deixá-la ir. Então isso é suficiente. Para ela é o suficiente para fazer algo de sua vida. Ela não necessita de ação penal para sentir-se bem. Ela agora está livre.