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Gostaria de dizer algo sobre as dimensões da alma. Não importa o que façamos, a alma sempre está no jogo. Algumas vezes, fazemos algo ruim, a alma está envolvida. Algumas vezes, algo bom, ela também está envolvida. Algumas vezes, fazemos algo sem sentido, ela está envolvida, e algumas vezes algo que restabelece a paz e une os opostos e os contraditórios, ela está também envolvida aqui. Essas são as diferentes dimensões da alma.

Mas, o que é a alma? Creio que, em primeiro lugar, precisamos nos despedir da ideia ocidental de que o ser humano tem uma alma. Uma alma pessoal que lhe pertence e que ele vela pela sua salvação, por assim dizer, que está aprisionada no seu corpo e que almeja, mais tarde, a imortalidade. Essa é a ideia ocidental que remonta a Platão.

As experiências que se mostram nas constelações familiares são bem outras. Mostram que participamos de uma “grande alma”, isto é, que não temos uma alma, mas que estamos numa alma. Essa alma maior ou, aliás, a alma mostra-se em duas funções. Como primeira função, une algo a um todo, por exemplo, une tudo o que está em nosso corpo a uma unidade. Assim, pertence ao corpo como princípio unificador. Como segunda função, a alma dirige. Conduz nosso corpo e nossa vida. Como, não sabemos. É, portanto, um princípio condutor, algo que une e algo que conduz.

Bem, podemos observar que na família, agora num sentido amplo, atua uma alma em comum, que dirige a família como um todo. Aqui, nesta constelação pudemos ver isso. Todos foram conduzidos por algo que os ultrapassa e mesmo assim os une em uma unidade. Poderíamos denominar isso de alma familiar. Esta é uma dimensão da alma. Mas isso não é o fim. A alma sempre vai além daquilo que existe. Portanto, a alma que sentimos no nosso corpo, que nos move, vai além de nós, porque sem a alma não existiria nenhum intercâmbio com o mundo exterior e com outros seres humanos. Somente porque a nossa alma vai além de nós mesmos, podemos nos relacionar com outras pessoas e, por exemplo, amá-las. Partindo-se do que se passa em comum

entre as pessoas, reorigina-se algo novo. Por exemplo, quando o homem e a mulher são conduzidos um ao outro através do amor, é uma alma, e ela se reproduz na criança. Portanto, a alma é sempre algo em movimento, sempre para algo maior, que nos ultrapassa.

É óbvio, portanto, que a alma apenas entra lentamente na consciência com os seus verdadeiros movimentos profundos. Entra na consciência num nível superficial e, nesse nível superficial, tem determinadas funções que estão em contraposição às funções mais profundas da alma. Portanto, em nós a alma precisa vir à consciência. Ela se mostra passo a passo, e então nos vem à consciência.

Algumas vezes, seguimos a alma cegamente, então ela nos conduz também à perdição. Precisamos saber disso. Isso também é uma dimensão da alma. Portanto, as ordens do amor, como descrevi no meu livro Ordens do amor, são algumas vezes cegas e levam, por exemplo, a emaranhamentos, ao infortúnio e sofrimento. E existem outras ordens do amor que levam à prosperidade, à felicidade e à vida plena. Portanto, um movimento é cego, e o outro vê.

Parece-me que isso é agora uma hipótese, que a alma coloca, em primeiro lugar, algo em movimento no ser humano, o que denomino de consciência coletiva, que é inconsciente. Essa consciência coletiva ata a família e um grupo. Vela para que ninguém se perca. É uma consciência grupai na qual todos participam da mesma forma e que, como uma instância superior, conduz todos a uma meta. Essa meta é, primordialmente, a sobrevivência do grupo. Por isso, essa consciência não tolera que alguém desse grupo seja excluído ou esquecido.

Essa consciência abarca tanto os vivos como os mortos. Aqui, o reino dos vivos e o dos mortos é ligado a uma unidade através dessa consciência. Dessa forma os mortos atuam em nossa vida. Por isso, essa consciência pune qualquer violação, através da qual um membro é excluído ou esquecido, e isso é punido de forma que, em uma geração posterior, um membro familiar tem que representar a pessoa excluída, de tal forma que essa pessoa, por assim dizer, esteja representada nesse grupo e seja trazida à consciência. Porém elas não são trazidas realmente à consciência, pois esses movimentos são cegos, não podemos compreendê-los. Os movimentos da consciência coletiva fazem apenas com que destinos anteriores sejam repetidos, sem que se chegue a uma

solução. Por isso, somente se pode ultrapassar os limites dessa consciência quando se compreende esses movimentos.

Mas me parece que nesse contexto há mais coisas que estão em jogo além da alma familiar. Parece-me que existe um campo, Sheldrake o denomina campo morfogenético, no qual nos movimentamos. É um campo que armazena memória. Portanto, o campo morfogenético que Sheldrake observou, em primeiro lugar, na biologia mostra: quando algo se desenvolve, isto será repetido em outro lugar porque está armazenado numa memória. Também no mundo inorgânico uma nova estrutura, por exemplo, um cristal que antes não existia será armazenado de maneira que, em outro lugar, sob condições semelhantes, se origina o mesmo cristal. Isso também é válido para hábitos. Observou-se, por exemplo, que numa ilha no Japão, de repente, macacos começaram a lavar suas batatas no mar e, em seguida, comiam batatas com sal. Ainda não tinha acontecido isso em nenhum lugar. Mas, logo depois disso, outros macacos de outras ilhas fizeram o mesmo. Talvez se possa esclarecer com isso que em famílias certos destinos se repetem, não no sentido de emaranhamento, mas sob a influência de um campo morfogenético.

Entretanto, o campo morfogenético também é cego, só pode repetir a mesma coisa. Daí, não se pode fugir, a não ser que entremos em um novo, um outro movimento que nos leve para fora disso. A esses movimentos pertence o que denomino de movimentos profundos da alma. Eles se desprendem do até então conhecido e entram em contato com uma força maior que aqui denomino de “grande alma”.

Quando observamos as constelações familiares, por exemplo, esta última aqui, pôde-se ver que cada um dos representantes estava em contato com algo maior sem que tivessem tido qualquer informação. Isto é, quando nos deixamos levar pelos profundos movimentos da alma eles conduzem a uma solução que une a todos e, de fato, além da alma familiar. É um movimento em direção à reconciliação. Quando se observa o que acontece aqui, vê-se que esses movimentos da alma são bem lentos. A alma tem tempo, não está sob pressão. Esses movimentos da alma surgem bem lentamente e levam a uma solução, à paz, ao reconhecimento de que todos que pertencem, que foram incluídos nesse movimento, na profundeza são iguais. Algumas vezes vocês viram que alguns representantes se movimentaram bem depressa. Eles seguiram os

movimentos da consciência. Queriam uma solução no sentido da consciência, da consciência pessoal, mas não estavam em contato com a alma profunda. No todo isso não tem grande importância, porque tudo se une novamente, mas quando vocês observarem tal tipo de constelação, verão quem realmente está em contato com os movimentos da alma e quem ainda não os alcançou. Era óbvio que o representante do filho estava inteiramente no movimento da alma. Podia-se ver isso imediatamente. Ele estava dentro dele, além de qualquer pensamento. Isso, por ter se exposto a ele, a esse movimento, levou a uma solução. Quando somos confrontados com situações difíceis, ajuda, portanto, nos despedirmos de nossos pensamentos costumeiros e concentrarmos num nível mais profundo - denomino isso o centro vazio - e então confiarmos em que os movimentos da alma nos conduzirão. Tudo que tem a ver com vocação vem desses profundos movimentos da alma, para além do que planejamos.