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Capítulo 4- Compromisso arbitral

4.6 Diferentes funções do compromisso

A primeira função do compromisso, sem dúvida, é a de formar um vínculo entre as

partes, mas para que haja a realização do compromisso arbitral, como vimos, é preciso que as

partes estejam em conflito, sendo, pois, obrigação mútua submeter o mesmo à resolução da arbitragem reflexo do próprio compromisso.

O compromisso representa ainda o comprometimento do árbitro ou dos árbitros de julgar a controvérsia que está sendo levada à sua apreciação. Este comprometimento deve estar configurado na responsabilidade do árbitro assumida perante as partes. Ou seja, através do compromisso o árbitro não só aceita exercer as funções de árbitro como também assume as respectivas responsabilidades inerentes a sua função.

Em terceiro lugar o compromisso representa verdadeira função de dar início à arbitragem é, pois, verdadeiro ato inaugural. Por meio dele é que de fato se instaura a arbitragem, a mesma, entretanto, só terá início com a aceitação pelos árbitros das funções que lhe foram atribuídas.180

Uma vez firmado o compromisso, ele assume sua quarta função que é a de ser estabilizador da demanda, já que é de sua essência fixar os contornos das pretensões das partes. Ressaltando-se que a partir daí não será mais possível alterá-lo, transformando-se, posteriormente, no limite do próprio laudo ou decisão arbitral, que não pode ir além ou aquém do

178 CARMONA, Carlos Alberto. Arbitragem e Processo um Comentário à Lei n° 9.307/96. São Paulo: Atlas,

2004, p. 173,174.

179 Classificação trazida por LIMA, Cláudio Vianna de. Curso de introdução à arbitragem. Rio de Janeiro: Lumen

Júris, 1999, p. 71.

180 Assim prescreve o art. 19 da Lei 9.307/96 “Considera-se instituída a arbitragem quando aceita a nomeação pelo

que houver sido estabelecido pelo compromisso.181 O conflito identificado pelo compromisso passa a ser, portanto, a lide a ser decidida pelos árbitros.

O quinto efeito poderá aparecer quando o compromisso for firmado na presença de um contrato de adesão, passado a ter efeito convalidador da própria arbitragem, desde que realizado, claro, na obediência das especificidades que estudamos anteriormente.

A sexta função do compromisso é a de ser saneador, isto porque, na evidência de não ser obrigatório, afasta a nulidade a que se refere o artigo 51, VII do Código de Defesa do Consumidor.

Como vimos, com o reconhecimento dado à estipulação da cláusula compromissória como instauradora da arbitragem, sendo a mesma parte da convenção da arbitragem assim como o compromisso, passou-se a questionar se este ainda continuaria tendo alguma utilidade.

De imediato a resposta é afirmativa, pois imagine-se como haveria a instauração da arbitragem quando da ausência da cláusula compromissória no contrato. Tendo sido estipulada a cláusula compromissória, de pronto ficará excluída a apreciação judicial de uma futura demanda a ser emanada do contrato, entretanto, a lide, uma vez surgida posteriormente, restringir-se-á à situação de simples conflito, mas ainda não proposto como controvérsia a ser decidida no procedimento. Por isso a celebração do compromisso é relevante para que esse conflito, já delineado, torne-se objeto de decisão pelos árbitros. Passa, portanto, o compromisso a assumir a característica de ser meio de proposição da lide.182

Estipulado o compromisso, ele terá o poder de solucionar questões relativas à validade e eficácia da cláusula, assim como a aplicabilidade da mesma ao caso concreto. Podendo, inclusive,

181 Assim prescreve o parágrafo único do art. 19: “Instituída a arbitragem e entendendo o árbitro ou tribunal que há

necessidade de explicitar alguma questão disposta na convenção de arbitragem, será elaborado, juntamente com as partes, um adendo, firmado por todos, que passará a fazer parte integrante da convenção de arbitragem”.

a cláusula ser desconsiderada e perder a sua importância em virtude da proposição e identificação da lide através do compromisso.183

Na ausência de compromisso, a inexistência, invalidade, ineficácia ou inaplicabilidade da cláusula provoca, por conseqüência, a inadmissibilidade da arbitragem, e por via direta a incompetência dos árbitros. Diversamente ocorre quando da presença do compromisso, já que quando da existência do mesmo, os árbitros passam a ter a competência para julgar a validade da cláusula compromissória.

O compromisso poderá ainda ser utilizado como mecanismo para solucionar questões intituladas acessórias tais quais: nomeação dos árbitros e fixação do lugar onde será proferida a sentença arbitral.

Diante do exposto fica fácil deduzir-se, portanto, que a formação do mesmo é necessária para determinar a proposição da lide perante os árbitros. A solução de controvérsias acerca da cláusula compromissória também é deduzida do compromisso, podendo o mesmo ainda ser estipulado sem a necessária presença da cláusula compromissória. O compromisso torna-se, pois, uma lide a ser decidida, prescindindo-se a sua proposição de petição.

Instituída a arbitragem, através da celebração do compromisso arbitral, a possibilidade de, no âmbito do mesmo procedimento, se propor lides ulteriores deve ser solucionada através da aplicação do artigo 21 da Lei 9.307/96.184

183 RICCI, Edoardo Flavio. Lei de Arbitragem Brasileira. São Paulo: RT, 2004, p. 104.

184 “Art. 21. A arbitragem obedecerá ao procedimento estabelecido pelas partes na convenção de arbitragem, que

poderá reportar-se às regras de um órgão arbitral institucional ou entidade especializada, facultando-se, ainda, às partes delegar ao próprio árbitro, ou ao tribunal arbitral, regular o procedimento. §1° Não havendo estipulação acerca do procedimento, caberá ao tribunal ou ao árbitro discipliná-lo; § 2° Serão, sempre, respeitados no procedimento arbitral os princípios do contraditório, da igualdade das partes, da imparcialidade do árbitro e de seu livre convencimento; § 3° As partes poderão postular por intermédio de advogado, respeitada, sempre, a faculdade de designar quem as represente ou assista no procedimento arbitral; §4° Competirá ao árbitro ou ao tribunal arbitral, no início do procedimento, tentar conciliação das partes, no que couber, o art. 28 desta Lei.”

Esta possibilidade poderá ser limitada ou excluída mediante a fixação de regras estipuladas pelas partes ou pelos árbitros. Entretanto, não há na lei proibição ou limitação prevista de que tais controvérsias ulteriores à celebração do compromisso sejam propostas durante o procedimento, na ausência de regras limitativas previamente fixadas por meio do art. 21 acima citado, sendo, entretanto, exigido, ao menos, que a própria cláusula compromissória preveja esta possibilidade ainda que de forma genérica. Encontrando-se, de outra sorte, um problema prático sério a ser enfrentado, caso essa hipótese ocorra que é o do contraditório, considerando o prazo em que a sentença arbitral deva ser prolatada.185

O que leva à conclusão de que o compromisso seria o responsável por firmar um objeto mínimo para a arbitragem, mas não um objeto único, já que, sendo proposta através do compromisso ao menos uma controvérsia, outras poderão ser formuladas a partir desta.

Se por um lado isso contribui para a celeridade propagada pela arbitragem, de outro lado, no que diz respeito às controvérsias inicialmente não apontadas no compromisso, isso resulta em que, depois de estipulada a cláusula e solucionados os problemas acessórios é que os árbitros decidirão acerca das controvérsias propostas pelas petições das partes.

4.7 Admissibilidade de arbitragem nas lides sobre invalidade dos contratos: uma