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Capítulo 5- A sentença arbitral e a revisão judicial

5.3 Irrecorribilidade da sentença arbitral

Não há, em virtude do artigo 18222 da Lei 9.307/96, a possibilidade das partes recorrerem

ao Judiciário a fim de rever a decisão arbitral - ressalvados os casos de nulidade previstos no artigo 32 - mas poderiam as partes recorrer à criação de um duplo grau de jurisdição arbitral, para uma maior segurança jurídica da decisão.

Nada impede ainda que as partes estabeleçam como instância superior um tribunal arbitral, a ser definido na convenção de arbitragem. Apesar de retirar da arbitragem uma de suas características principais que é a celeridade, aumentando ainda o custo da solução do conflito, a previsão de uma instância recursal superior é conveniente, principalmente se a arbitragem tiver sido decidida por um árbitro único.

As partes podem, por outro lado, estipular a irrecorribilidade da decisão arbitral, como uma forma de renunciar ao direito de recorrer ao Poder Judiciário, o que é aceito, desde que a arbitragem não venha a violar princípios fundamentais do direito individual tais quais: o contraditório, a imparcialidade do árbitro, ou versar sobre direito indisponível.

Caso surjam, no decorrer do processo arbitral, questões incidentais que versem sobre direitos indisponíveis, mesmo que acordem as partes, no sentido de submeterem a apreciação destas questões a um juízo arbitral, o processo arbitral será suspenso, dependendo a sua continuidade da solução judicial da questão controvertida acerca de direito irrenunciável.

O prazo de suspensão da arbitragem começará a ser contado da data da deliberação do árbitro a respeito da sua incompetência (em razão da matéria submetida a sua análise versar sobre direitos indisponíveis) até a data da juntada do trânsito em julgado, nos autos do processo arbitral,

222 “Art. 18.O árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica sujeita a recurso ou a homologação

da matéria que fora decidida pela jurisdição estatal. A partir daí tornará a fluir, pelo período remanescente, o prazo legal (seis meses) ou aquele fixado pelas partes (requisito facultativo do compromisso arbitral) para a conclusão da arbitragem.223

A sentença arbitral para ser válida e ser definitiva, sem a possibilidade de recurso quanto ao mérito por parte do Poder Judiciário, deverá conter, necessariamente, os requisitos do artigo 26224 da Lei de Arbitragem, sob pena de ser passível de ação de nulidade pela parte a quem a mesma prejudique (conforme analisaremos a seguir, os artigos 32, II e art. 33 da Lei de Arbitragem).

Caso a sentença arbitral não contenha todos os seus requisitos, apesar de ser declarada nula, protegido restará o interesse legítimo dos partícipes do juízo arbitral, já que a sentença judicial que decretar a nulidade determinará, compulsoriamente, que nova sentença arbitral seja proferida, com a finalidade de sanar o vício que levou à nulidade da decisão.

Por outro lado, caso a sentença seja proferida sem que tais requisitos tenham sido desrespeitados, tomando ciência as partes do conteúdo da mesma, no prazo de cinco dias, ao tomar conhecimento do conteúdo da sentença arbitral, podem requerer ao tribunal arbitral a retificação do laudo, para que se corrija erro material ou esclarecer sobre algum aspecto obscuro, contraditório ou que restou omisso no laudo.

223 MARTINS, Pedro A. Batista. Anotações sobre a sentença proferida em sede arbitral. In: Aspectos fundamentais da Lei de Arbitragem. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 383.

224 “Art. 26. São requisitos obrigatórios da sentença arbitral: I- o relatório, que conterá os nomes das partes e o

resumo do litígio; II- os fundamentos da decisão, onde serão analisadas as questões de fato e de direito, mencionado- se, expressamente, se os árbitros julgaram por eqüidade; III- o dispositivo, em que os árbitros resolverão as questões que lhe forem submetidas e estabelecerão o prazo para o cumprimento da decisão, se for o caso; e IV- a data e o lugar em que foi proferida. Parágrafo único. A sentença arbitral será assinada pelo árbitro ou por todos os árbitros. Caberá ao presidente do tribunal arbitral, na hipótese de um ou alguns dos árbitros não poder ou não querer assinar a sentença, certificar tal fato.”

Assim encontramos aqui os chamados embargos arbitrais que, se cabíveis, impedirão, num primeiro momento, o trânsito em julgado da sentença, que só poderá ocorrer após o julgamento dos mesmos.

Não sendo cabíveis os embargos, de imediato, passa a sentença proferida a constituir coisa julgada entre as partes, dotada de imperatividade e imutabilidade.

A sentença arbitral difere, pois, da sentença judicial num único aspecto, é que naquela não há recurso a ser interposto, exceto a ação de nulidade que analisaremos a seguir.

Ao referir-se às questões que levarão à invalidade da sentença arbitral, a Lei de Arbitragem faz menção ora a requisitos de ordem interna ou substancial (que diz respeito ao seu conteúdo), ora a aspectos externos ou formais (que se referem à estrutura do ato).225

Antes da Lei 9.307/96, como a sentença arbitral dependia de homologação, o estatuto processual civil regulava o procedimento para a ação anulatória da sentença226 prevendo ainda a possibilidade de apelação da sentença que homologasse ou não o laudo arbitral.227 A partir da Lei

de Arbitragem, deixando de haver o requisito da homologação da sentença arbitral para que a mesma tenha eficácia de título executivo judicial, é compreensível que se caiba a apelação, já que a sentença arbitral constitui verdadeira sentença, mas, hoje, encontra-se regulado na Lei de Arbitragem um outro mecanismo de impugnação da referida sentença arbitral que é a ação de nulidade.228

O direito de impugnar a sentença arbitral em virtude dos errores in procedendo, mesmo não tendo a Lei 9.307/96 estabelecido expressamente a previsão quanto à irrenunciabilidade das

225 ALVIM, José Eduardo Carreira. Tratado Geral da Arbitragem. Belo Horizonte: Mandamentos, 2000, p. 472. 226 “Art. 486. Os atos judiciais, que não dependem de sentença, ou em que esta for meramente homologatória, podem

ser rescindidos, como os atos jurídicos em geral, nos termos da lei civil.”

227 “Art. 1.101. Cabe apelação da sentença que homologar ou não o laudo arbitral. Parágrafo único. A cláusula ‘sem

recurso’ não obsta a interposição da apelação, com fundamento em qualquer dos vícios enumerados no artigo antecedente; o tribunal, se negar provimento à apelação, condenará o apelante na pena convencional.”

228 “Art. 33. A parte interessada poderá pleitear ao órgão do Poder Judiciário competente a decretação da nulidade da

partes em relação a tais erros, pode ser deduzida do texto constitucional, já que impedir a análise dos motivos que geram a nulidade, implicaria a proibição do Poder Judiciário de apreciar qualquer lesão a direitos, retirando assim qualquer controle sobre a atividade dos árbitros.

Mesmo reconhecendo-se que é a vontade das partes que rege a arbitragem, as mesmas não poderiam convencionar antecipadamente que a sentença arbitral não ficará sujeita à ação de nulidade, pois não se permitiria a irrenunciabilidade como algo genérico e anterior à prolação da sentença arbitral. Entretanto, nada impede que a parte, ainda que prejudicada, renuncie expressa ou tacitamente a essa via de impugnação.229