• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 5- A sentença arbitral e a revisão judicial

5.1 O árbitro

5.1.3 Direitos e deveres dos árbitros

Não há a menor dúvida de que os direitos do árbitro surgem justamente por meio do contrato, em que as partes estabeleceram a possibilidade da instauração da arbitragem, se, em virtude do mesmo, adviessem conflitos a serem solucionados. A princípio dois seriam seus direitos: proferir a sentença arbitral com imparcialidade e independência e fixar seus honorários.

Nem sempre, entretanto, o contrato aborda com tanta clareza a maneira através da qual deverá ser corretamente executado. Mas é certo que esse mesmo contrato determinará ao árbitro:

202 O mesmo procedimento será o aplicável quando do pedido do árbitro ao juiz para o cumprimento de uma medida

(a partir da cláusula compromissória ou do compromisso arbitral) o dever de aplicar o direito ou a eqüidade para solucionar o litígio que lhe for apresentado, respeitar a vontade das partes, sujeitar a nulidade da nomeação do árbitro caso haja algum motivo de impedimento ou suspeição, etc.

Por se tratar, portanto, de um procedimento de natureza largamente contratual, o poder, os direitos e os deveres dos árbitros variarão conforme o estipulado pelas partes no contrato e somente passarão a vigorar caso haja a aceitação da função que lhe fora atribuída.

O exame do contrato pelo árbitro, no entanto, pode não ser realizado da mesma maneira desenvolvida pelo juiz estatal, pois o árbitro deve levar em conta o aspecto econômico do contrato, partindo do pressuposto de que se trata de algo evolutivo e vivente e que a economia não está vinculada e, portanto, paralisada ao único instante da redação do contrato.203

Mas, a atividade do árbitro pode levar prejuízos às partes. Em geral se tem que os árbitros carecem de responsabilidade quando proferem a sentença, não sendo responsabilizados por suas opiniões, mas responderiam em caso de dolo. Quando os árbitros exacerbam ou negligenciam a respeito das disposições contratuais ou da Lei de Arbitragem, seja por desrespeitar o prazo para proferir a sentença arbitral, seja por negar diligência às provas admissíveis, por exemplo, sua responsabilidade aparece.204

A extensão da responsabilidade obedece, necessariamente, ao distinto critério que se sustenta a respeito da natureza jurídica do árbitro. Se se reconhecer o árbitro como um contratante admitir-se-á a aplicação das regras próprias atinentes à responsabilidade civil para os contratos de mandato, isto com relação às partes, pois ainda deverá responder penalmente. Se o considerarmos como executor de uma função pública, a sua responsabilização irá requerer a

203 STRENGER, Irineu. Arbitragem Comercial Internacional. São Paulo: LTR, 1996, p.68.

204 ANGELIS, Dante Barrios de. El Judicio Arbitral. Montivideo: Biblioteca de publicationes oficiales de la

aplicação das sanções penais e administrativas idênticas às aplicáveis ao funcionário público.205 Logo, agindo com prevaricação206, concussão207 ou corrupção passiva208, será criminalmente responsável.

A partir da aceitação de sua nomeação, o árbitro assume a função pública de julgar o caso que lhe fora apresentado, por isso ele não só contrai deveres com as partes, mas também com a administração da justiça estando, de imediato, obrigado a colaborar com os juízes estatais, caso se faça necessária a participação conjunta dos mesmos no processo arbitral.A responsabilidade penal seria conseqüência daquele dever de colaboração necessária com a justiça. Não haveria, no entanto, a aplicação da responsabilidade disciplinária dirigida aos juízes, estranha aos árbitros, mas não incompatível com sua função. Já que no cumprimento do seu encargo, como vimos, pode atuar conjuntamente com o Poder Judicial.

As responsabilidades civil e criminal do árbitro devem ser estudadas traçando um paralelo com a figura do juiz, salientando que o instrumento para se atacar a sentença arbitral deverá ser a ação de anulação e de embargos ao devedor e não através de uma ação pessoal intentada diretamente contra a pessoa do árbitro.209 Devendo o dano ser limitado às custas incorridas na arbitragem, juntamente com as custas necessárias para a instauração de um novo procedimento, seja este arbitral ou judicial e a perda dos honorários que receberia, ou o reembolso da quantia já recebida, quando estivermos diante de atos ensejadores de ilícitos civis, tais quais: desrespeito ao

205 ANGELIS, Dante Barrios de. El Judicio Arbitral. Montivideo: Biblioteca de publicationes oficiales de la

Facultad de Derecho y ciências Sociales de la Universitad de Montivideo, Seccion III- XCI, 1956, p. 78-79.

206 Art. 319 do Código Penal: “Retardar ou deixar de praticar, indevidamente ato de ofício, ou praticá-lo contra

disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.”

207 Art. 316 do Código Penal: “Exigir para si ou outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes

de asumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida. Pena- reclusão de dois a oito anos e multa.”

208 Art. 317 do Código Penal: “Solicitar ou receber, para si ou pra outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da

função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem.”

209 LEMES, Selma Maria Ferreira. Dos Árbitros. In: Aspectos Fundamentais da Lei de Arbitragem. Rio de

prazo para proferir a sentença arbitral, deixar passar o prazo sem proferi-lo, pedir demissão sem motivo justificado, etc.

Entretanto, quando estivermos diante de dolo ou fraude aplicar-se-á aos árbitros a mesma previsão legal alcançável aos juízes (art. 133 do Código de Processo Civil), sem prejuízo da responsabilização penal cabível.210

Portanto, em resumo, a responsabilidade pessoal do árbitro, na área cível, diz respeito àquelas derivadas das obrigações de resultado, já que o resultado pretendido pelas partes é a solução da disputa, e caberá ao árbitro no prazo legal ou contratual. Neste sentido, tem as partes o direito de exigir do árbitro o resultado. Logo, proferindo o árbitro a sentença arbitral no prazo correto, estará alcançada a finalidade pela qual a arbitragem fora instituída. Não alcançando este resultado, o árbitro apenas estará isento de responsabilidade, demonstrando que o inadimplemento da obrigação deu-se por fato aleatório, provando que não agiu com culpa.211 Já na esfera criminal, como vimos, responderia o árbitro com a aplicação das mesmas penas impostas aos funcionários públicos.

Quando o árbitro atuar no ofício de julgador, na valoração das provas, na verificação dos fatos, na aplicação do direito cabível ou na aplicação da eqüidade, a fim de solucionar a controvérsia que lhe fora apresentada, a obrigação do árbitro passa a se enquadrar nas obrigações de meio. Sendo assim, será dever do árbitro nomeado agir com a prudência e a diligência esperadas para que não possa vir a ser responsabilizado.212

210LEMES, Selma Maria Ferreira. Dos Árbitros. In: Aspectos Fundamentais da Lei de Arbitragem. Rio de

Janeiro: Forense, 1999, p. 282.

211 Isto quer dizer que o atraso na prolação da sentença teria se dado em conseqüência de alguma atividade

protelatória ou impeditiva das partes, por caso fortuito ou por força maior. MARTINS, Pedro Batista. Normas e princípios aplicáveis aos árbitros. In: Aspectos Fundamentais da Lei de Arbitragem. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 297-298.

212 MARTINS, Pedro Batista. Normas e princípios aplicáveis aos árbitros. In: Aspectos Fundamentais da Lei de Arbitragem. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 298.

A responsabilidade do árbitro é, pois, como vimos, subjetiva, e depende de verificação de culpa. Essa culpa, no entanto, de acordo com legislações comparadas, já que o Brasil não expôs expressamente, deve ser classificada como grave, como nos casos de grave violação de lei ou erro inescusável sobre um fato da causa.213