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1 INTRODUÇÃO

2.2 PRODUTIVIDADE VERDE

2.2.4. Dificuldades e Limitações na Implementação da Produtividade Verde

Apesar do reconhecimento de que as ações da Produtividade Verde propiciam às organizações empresariais oportunidades que levam ao aumento da produção com a mínima utilização de matérias-primas e recursos, causando, assim, menos impactos ambientais e, ao mesmo tempo, gerando aumento da produtividade, o que acaba por criar vantagens competitivas para as organizações, existem limitações que têm dificultado sua expansão como estratégia de gestão. Alguns estudos abordam essas limitações que as organizações, particularmente as de pequeno e médio porte, e as comunidades enfrentam para a adoção da PV. De modo geral, os tipos de barreiras identificadas foram as seguintes:

a) Falta ou Limitada Informação Técnica sobre a PV e as Questões Ambientais

As lacunas de informação, a falta de assistência técnica e o treinamento adequado em relação ao programa de PV são algumas das questões que impõem dificuldades para que a mesma seja colocada em prática. Sobre isso, num estudo realizado por Soundarapandian (2013) relacionado com a produtividade verde nas pequenas e médias empresas (PME) no Vietnam, foi constatado que as barreiras técnicas impedem que haja capacidade numa empresa para desenvolver, avaliar e implementar os programas de PV. Essas barreiras incluem a consciência limitada das questões de gestão de poluição em nível de tomada de decisão da empresa, a falta de experiência em relação à PV, e também a ausência de tecnologias de PV prontamente disponíveis que podem ser adotadas diretamente na minimização dos impactos (SOUNDARAPANDIAN, 2013). Para reforçar as limitações relacionadas com o conhecimento, Tuttle e Heap (2007) destacam que é preciso conduzir mais pesquisas sobre o tema, além de chamar atenção também para a necessidade das empresas adotarem medidas de avaliação de desempenho das abordagens de PV, de preferência para serem comparadas com outras empresas nas mesmas indústrias que não tenham adotado a PV.

Outra limitação identificada está relacionada com a falta de conhecimento sobre as questões ambientais por parte de alguns técnicos, que muitas vezes, durante os procedimentos de avaliação de projetos e de elaboração da contabilidade empresarial, não especificam de forma clara os custos associados aos impactos, aos riscos e aos passivos ambientais, fazendo com que os decisores sejam incapazes de colocar o desempenho ambiental na perspectiva de negócio, o que dificulta a percepção dos benefícios substanciais da produtividade verde.

b) Falta ou Deficiente Engajamento de todos os Stakeholders

Considerando que, durante a implementação da PV, existe a possibilidade de, entre outras ações, fazer a modificação de processos, a substituição de equipamentos e produtos, e, com isso, algumas partes interessadas, particularmente os acionistas, consideram tais ações como algo muito arriscado, especialmente se as melhorias previstas ou as tecnologias e as ferramentas para adotar a PV não forem ainda comprovadas ou testadas no mercado.

Nesse âmbito, caso não haja o envolvimento da alta administração na tomada de decisão para a adoção da PV, esse corpo de dirigentes se torna um obstáculo para a implementação da PV. Parasnis (2003) reconhece isso como um obstáculo e realça que o sucesso e a sustentabilidade das práticas de PV só podem ser alcançados se houver o compromisso da gestão de topo das organizações e a percepção dos administradores em relação aos ganhos de produtividade e da rentabilidade no que concerne à adoção da PV. O autor exemplifica que, nas empresas onde os administradores se envolveram ativamente, a PV foi efetivamente implementada.

c) Falta de ou Limitada Disponibilidade Financeira das Empresas

Ainda considerando que a PV requer muitas vezes a aquisição de novas tecnologias e mudanças nos processos produtivos, ou seja, demanda atualização das suas unidades produtivas, o que normalmente envolve esforços financeiros consideráveis, os empresários podem ser desencorajados a optarem pela implementação da produtividade verde. Por isso, a limitada disponibilidade de recursos, particularmente das PME, é considerada um dos entraves significativo para a adoção da PV.

Soundarapandian (2013) identificou em sua pesquisa que a indisponibilidade de capital para a modernização das fábricas aparece como um dos obstáculos mais significativos para adoção da PV, embora se tenha percebido também que as medidas da produtividade verde podem levar à redução de custos. O autor ressalta que, se as grandes empresas podem

ter capital para fazer melhorias nos processos ineficientes, as pequenas e médias empresas, no entanto, muitas vezes não o fazem.

d) Resistência à Mudança

A resistência à mudança é percebida como um obstáculo à implementação da PV nos estudos de Soundarapandian (2013), quando defende que a atitude das pessoas em relação à mudança de processos ou a práticas industriais estabelecidas pode ser negativa, e que tal atitude tende a bloquear novas formas de diminuir a poluição por antecipação. O pesquisador vai mais longe, afirmando que as pessoas muitas vezes são relutantes em assumir riscos com novas tecnologias, ou comprometer outras práticas e objetivos de negócio, podendo também estar desconfiadas com processos alternativos ou simplesmente desinteressadas em mudar suas maneiras habituais de fazer negócios.

A relutância à mudança é tida como uma barreira à implementação da PV, já que a classe empresarial e os gestores muitas vezes apresentam uma atitude de resistência ao que “novo”, ou seja, preferem continuar a realizar o negócio da forma que vem sendo feito, com receio dos riscos que as inovações gerenciais podem trazer, tendo em vista que, para muitos, qualquer mudança é considerada injustificada, arriscada e não necessariamente rentável.

e) Falta de Política e de Responsabilidade em relação às Questões Ambientais

Quando as questões ambientais não fazem parte das prioridades das políticas das empresas, os encargos financeiros com programa de gestão do tipo da PV não são bem “aceitos” pelos acionistas e investidores, que normalmente avaliam o desempenho da rentabilidade no curto prazo, e os retornos sobre os investimentos relacionados à produtividade verde muitas vezes são perceptíveis em médio e longo prazo. Assim sendo, os gestores têm dificuldades em justificar parte do investimento em processos de produção e tecnologias inovadoras, o que se torna um entrave para a implementação da PV. Esse posicionamento é apoiado pela APO (2013), que realça que a maioria das PMEs não coloca a prioridade em melhorias ambientais porque eles acreditam que seu capital humano e financeiro é melhor investido em outras áreas do seu negócio.

f) Falta de Incentivo do Poder Público em relação à Estratégia da PV

A falta de orientação política em prol da implementação da produtividade verde pode ser encarado como um obstáculo para uma adoção e divulgação dos benefícios que a PV

propicia. Nesse caso, a não existência de políticas e de um quadro regulamentar específico que estimule a adoção da produtividade verde torna-se uma limitação quanto à implementação da PV como uma estratégia para aumentar a produtividade e reduzir os impactos sociais e ambientais. Em outras palavras, a não existência de um marco regulatório alinhado com as políticas e regulamentações nacionais do setor industrial e ambiental em prol da PV não desperta nos gestores e empresários uma atitude para sua adoção.

Em face de tal situação, a Organização Asiática de Produtividade apela para o papel ativo que os governos devem assumir na promoção da PV, em que as políticas nacionais em matéria de proteção ambiental devem ser revistas e estarem em consonância com a filosofia do conceito da produtividade verde (APO, 2013).

Outra limitação nessa categoria diz respeito às subvenções econômicas como a redução dos preços da energia e da água ou dos preços dos combustíveis relativamente poluentes, que alguns governos disponibilizam a determinados setores industriais, fazendo com que alguns empresários muitas vezes não se sintam estimulados a apostarem na PV. Isso pode ser entendido como um não incentivo em prol da implementação da estratégia da produtividade verde, levando-se em conta que parte da classe empresarial não adota os princípios da PV nas suas organizações. A posição da APO (2013) sobre isso pode ser referida, na medida em que apela pela criação de um conjunto de incentivos úteis que contribua para catalisar a adoção de práticas da PV da indústria, como a instituição de políticas de preços e incentivos fiscais para a utilização de tecnologias limpas que devem ser desenvolvidas no curto prazo, como forma de ultrapassar os obstáculos relacionados com a falta de incentivos governamentais a favor de produtividade verde.

Apesar de todas essas limitações apresentadas, que, de modo geral, não são muito relevantes se comparadas com as potencialidades e os benefícios que a estratégia da produtividade verde propicia, acredita-se que uma maior aceitação da PV pode estar relacionada com a necessidade da mensuração e quantificação das melhorias ambientais, sociais e econômicas que, na prática, espera-se dos programas que lidam com a produtividade rumo à sustentabilidade. Entretanto, uma boa aceitação de qualquer modelo ou ferramenta de gestão requer sua quantificação, e, por isso, se faz necessário que tanto a produtividade dita convencional como a produtividade verde sejam mensuradas.