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1 INTRODUÇÃO

2.1 PROBLEMAS AMBIENTAIS E A GESTÃO AMBIENTAL EMPRESARIAL

A era industrial trouxe consigo uma forma de produção e um modelo de gestão das organizações com uma abordagem assente na matriz econômica e que se justifica por ser pautada nos princípios do modelo de desenvolvimento que priorizam o crescimento econômico e o consumismo desmedido, como se a Terra fosse uma fonte inesgotável de todo e qualquer tipo de recursos naturais.

Afiança-se que nesse paradigma, quando da definição dos modelos de gestão empresarial, os gestores não têm considerado todos os aspectos que caracterizam os processos industriais, negligenciando, por exemplo, variáveis das dimensões ambiental e social que, como se sabe, possuem significativo efeito no meio ambiente e na sociedade.

Essa forma de gestão, restrita apenas ao âmbito econômico das atividades empresariais, tem contribuído para a massificação dos problemas ambientais vividos pela sociedade moderna, que é tida como um indicador da crise do atual modelo de desenvolvimento econômico vigente, o que, para Simons (2006), propicia tanto uma desenfreada e desnecessária ganância com brigas complexas pelo poder, como também promove um dantesco efeito dominó, que se reflete em profundos problemas sociais acompanhados por sérios impactos ao meio ambiente que, em muitos casos, são irreversíveis.

Acredita-se que esses desequilíbrios causadores de mazelas ambientais e sociais, que se têm transformado numa situação complexa, agravando o “conflito” entre a economia e a natureza, vêm ocorrendo porque nos sistemas produtivos os recursos naturais são empregados como insumos e que, devido à ineficiência interna dos processos, além de gerarem resíduos de

todo tipo que contaminam o meio ambiente e afetam a saúde humana, podem também provocar a escassez de recursos naturais que são utilizados sem uma previsão da sua possibilidade de esgotamento (DIAS, 2008).

Barbieri (2007) reforça que os desequilíbrios ambientais decorrem do uso do meio ambiente para obter os recursos necessários para produzir os bens e serviços de que as indústrias necessitam, ademais dos despejos de materiais e energia não aproveitados no meio ambiente.

Essa realidade ficou marcada principalmente a partir dos anos 1970, quando a produção industrial começou a aumentar em larga escala a fim de responder a demanda do consumo, que tem crescido de forma exponencial, e fez com que as unidades produtivas requeressem uma quantidade cada vez maior de recursos e energia, ocasionando o aumento tanto de resíduos como de concentração e lançamento de suas emissões no meio ambiente, como é o caso de parte das emissões ácidas, de gases do efeito estufa e de substâncias tóxicas resultantes das atividades industriais em todo mundo (BARBIERI, 2007).

Tomando alguns exemplos de acontecimentos que relacionam os problemas ambientais com as atividades industriais, marcantes na década de 1970 e principalmente na década de 1980, pode-se recorrer a Simons (2006), quando a autora discute cenários de graves impactos ambientais, como os de Exxon Valdez (Canadá), Bophal (Índia) e Chernobyl (antiga União Soviética) e no Brasil, destaque para o período em que se convivia com um regime militar desenvolvimentista que provocou diversos e sérios impactos ao meio ambiente, proporcionais ao crescimento da indústria.

Nesse cenário de intenso processo de industrialização caracterizado pela priorização dos interesses econômicos, pela degradação ambiental e pela consequente expansão dos desequilíbrios ambientais com consequências imensuráveis para a sociedade, é inegável a pressão que vem aumentando junto às indústrias para reduzir os impactos ambientais das suas atividades. Isso tem-se tornado um desafio para as indústrias que estão tentando, juntamente com as preocupações tradicionais de qualidade e produtividade, abordar as questões ambientais para alcançar vantagem competitivas (PINEDA-HENSON; CULABA, 2004).

Levando-se em conta a pressão exercida por quase todos os setores da sociedade, percebe-se que as empresas têm passado por profundas alterações nos modelos de gestão das unidades industriais na busca por processos produtivos mais eficientes, tendo sido influenciadas pela escassez de determinados recursos, pela acirrada competitividade econômica, pela demanda em relação à ecoeficiência, pela demanda da necessidade de

ecorotulagem, pela demanda por políticas de saúde ocupacional e de gerenciamento de riscos ambientais (AVISHEK et al., 2008).

Para tanto, as indústrias necessitam desenvolver suas atividades em harmonia com o meio ambiente, que acontecerá se for dada mais atenção aos aspectos ambientais em todos os seus processos de produção. Sobre isso, Sanches (2000) reforça que a proteção ambiental deve fazer parte dos objetivos de negócios das organizações, e o meio ambiente não deve ser mais encarado como um adicional de custo, mas, sim, como uma possibilidade de lucros, em um quadro de ameaças e oportunidades para as empresas.

Nesse âmbito, em que as questões ambientais vêm sendo crescentemente consideradas pela classe empresarial, tornando-se, com isso, um elemento cada vez mais presente nas estratégias de crescimento das companhias, seja por gerar tanto ameaças como também oportunidades. Tal realidade fez com que a preocupação com o meio ambiente passasse a fazer parte da arena política e das estratégias das empresas, já que, de alguma forma, possibilitava ou limitava o desenvolvimento das mesmas (CLARO et al., 2008).

A par disso, e com o intuito de vincular práticas gerenciais ambientais, sociais e econômicas a uma imagem positiva das empresas, os princípios da sustentabilidade empresarial vêm ganhando cada vez mais espaço nas discussões e no planejamento das organizações. Assim, nos últimos tempos, percebe-se que as empresas têm passado por alterações nos modelos de gestão e que algumas companhias passaram a mudar o foco de suas atenções, até então centrado nas tecnologias fim de tubo2, para a busca de novas abordagens e de processos mais limpos, que gerassem menos poluição e resíduos em primeiro lugar, ou que fizessem um uso mais eficiente das matérias-primas e da energia (ROY, 2000).

Com o propósito de dar resposta a essa mudança de perspectiva que é necessária para o desenvolvimento de atividades produtivas em harmonia com práticas pautadas na busca por sustentabilidade organizacional e relacionadas à melhoria do desempenho de produção, e ainda visando contribuir para uma postura ambientalmente responsável por parte dos atores sociais envolvidos com a atividade empresarial, tem sido desenvolvido e aprimorado um leque de modelos e ferramentas de gestão ambiental, que inclui a importância das preocupações ambientais e dos recursos no desenvolvimento de tecnologias e sistemas de gestão de produtos e processos (PINEDA-HENSON; CULABA, 2004).

2 São tecnologias usadas para o tratamento dos resíduos, efluentes e emissões gasosas na fase final de um

Dentre as ferramentas3 de gestão ambiental, destaca-se a Auditoria Ambiental, Avaliação de Ciclo de Vida, Estudos de Impacto Ambiental, Sistemas de Gestão Ambiental, Avaliação de Ciclo de Vida, Marketing Ambiental, Rotulagem Ambiental, Relatórios Ambientais e Gerenciamento de Risco Ambientais, que são alguns entre muitos outros instrumentos que as empresas podem utilizar para atingir os seus objetivos ambientais. Eis também alguns modelos de gestão: a Gestão da Qualidade Ambiental Total, o Ecodesign, a Produção mais Limpa e a Ecoeficiência (BARBIERI, 2007).

Além desses modelos, podem ser mencionados outros, tais como a Prevenção da Poluição, Ecologia Industrial, Química Verde e a Produtividade Verde, que correspondem a conceitos desenvolvidos para explicar o enfoque preventivo, cada um refletindo a compreensão e os interesses dos respetivos grupos e instituições que os propuseram (GASI; FERREIRA, 2006).

No que tange à Produtividade Verde, por ter a base assente nos preceitos da sustentabilidade empresarial, é tida como uma estratégia importante que visa não só à inclusão dos tradicionais aspectos econômicos da produtividade, mas também à contribuição para a melhoria da tomada de decisão em relação à gestão dos aspectos sociais e ambientais das organizações, a qual será abordada com mais detalhes na seção seguinte.