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II. CONTEXTO DE JARDIM-DE-INFÂNCIA

1.1. DIFICULDADES E RECEIOS SENTIDOS

Em relação ao primeiro estágio, que decorreu no primeiro semestre considero que este foi mais exigente a vários níveis e também implicou novas dificuldades. Em primeiro lugar, aquilo que mais temia, o número de crianças, foi uma das coisas que mais tive dificuldade em gerir. No primeiro contexto eram apenas 8 crianças e neste passaram a ser o dobro. O primeiro impacto foi muito difícil, gerir as primeiras semanas de intervenção foi complicado, sobretudo em relação às várias atividades que se estavam a desenrolar ao mesmo tempo na sala, e também o comportamento das crianças sempre foi muito agitado, principalmente nos momentos de diálogo no tapete, em que não havia ordem, nem respeito pela sua vez de falar. Nestes momentos tive grande dificuldade em manter o grupo organizado, como referi na sétima reflexão (ver anexo 3).

Também os diálogos com as crianças não são fáceis de se conseguir. Quando mantenho uma conversa com o grupo no tapete, não sei se por culpa minha, se por o grupo ser irrequieto, há sempre muita agitação. Penso que grande parte da desorganização da conversa se deve a mim, porque tenho dificuldade em controlar devidamente o grupo. As crianças colocam o dedo no ar para intervir, sobretudo aquando da exploração de histórias, e não esperam a sua vez de falar,

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começam de imediato a intervir. O que acontece é que várias crianças fazem isto ao mesmo tempo e forma-se uma confusão total.

Outro aspeto que foi muito complicado para mim de gerir foram as planificações, na medida em que havia a necessidade de abordar várias áreas de conteúdo, para não nos focarmos apenas em uma, as propostas que planeávamos tinham de ser cativantes para as crianças, para que estas se sentissem motivadas e interessadas naquilo que estavam a fazer e para mim, conseguir organizar tanta diversidade de propostas criativas em cada semana de intervenção foi um processo um pouco complicado. Aliado a esta situação foi o facto de por vezes, ter de organizar duas propostas paralelas para abranger as diferentes necessidades das crianças da sala, o que tornava as coisas um pouco mais complicadas porque tinham de ser níveis diferentes de dificuldade dentro de uma mesma atividade, ou então atividades distintas, como refiro também na sétima reflexão (ver anexo 3).

As dificuldades que mais sinto, antes mesmo de intervir, consistem em definir várias propostas educativas que abranjam a grande heterogeneidade das crianças, que existe na sala, em função das diferentes intencionalidades que pretendo que as crianças alcancem. Ou seja, é difícil para mim conseguir chegar às necessidades tão distintas existentes no grupo. Por vezes, penso em propostas que englobem todo o grupo e que se podem fazer com a participação de todos, no entanto, nem sempre se pode estar a desenvolver atividades com o grupo inteiro.

Outra dificuldade que tive de ir modelando e trabalhando ao longo do período de estágio foram a minha insegurança e a minha falta de assertividade na sala, pois era algo para o qual a educadora cooperante e a professora supervisora muitas vezes me alertaram. Tive em conta as opiniões críticas de quem tem experiência e de quem vê as situações de fora, e acreditando que podia melhorar, fui tentando evoluir e combater essas inseguranças e medos. E à medida que as minhas semanas de intervenção avançavam, consegui obter feedback positivo da educadora cooperante e também me fui sentindo mais segura naquilo que fazia, o que foi uma mais-valia para mim, pois sei que cresci e aprendi muito com as críticas construtivas das pessoas que me rodeavam. No entanto, sei que ainda tenho muito que aprender e sinto ainda muita necessidade de observar outros contextos e conhecer outras realidades, como refiro na 13.ª reflexão (ver anexo 5).

(…) esta semana foi muito mais positiva para mim, no sentido em que correu significativamente melhor. A minha postura e atitudes são outras e consigo estar mais à vontade e mais segura com as crianças. (…) Sinto que há muito que aprender e sinto muita necessidade de fazer observação ainda em contexto de jardim-de-infância, pois tivemos muito pouca oportunidade de o fazer neste ano letivo.

32 Isto também se refletiu na relação estagiária – crianças. Inicialmente, também me chamaram a atenção nesse sentido, pois estava a envolver-me pouco com as crianças, não lhes proporcionava momentos de brincadeira entre mim e elas, o que impedia que elas estabelecessem laços mais profundos comigo. De acordo com Brazelton e Greenspan (2009) “Toda a aprendizagem, mesmo a dos limites e da organização, começa com o carinho, a partir do qual as crianças aprendem a confiar, a sentir calor humano, intimidade, empatia e afeição pelas pessoas que as rodeiam” (p.188). Deste modo, tentei mudar as minhas atitudes e posturas na sala de atividades e também no recreio com o grupo, aproximando-me mais das crianças, interagindo mais, não sendo apenas para “ralhar” ou para conduzir propostas educativas, como relatei na 11.ª reflexão (ver anexo 4).

(…) ao longo da semana fui tentando agir de uma maneira mais descontraída com as crianças, envolver-me mais com elas, brincar, sorrir, ou seja, interagir de uma maneira mais afável, divertida, que fosse mais próxima das mesmas. E senti durante os dias de atuação, várias demonstrações de afeto espontâneas por parte de alguns elementos do grupo, como levantarem- se do tapete e virem-me dar um beijo no rosto ou pedirem se podiam dar-me um beijo. Este tipo de afetos não existia anteriormente. Noto que a partir do momento em que comecei a brincar mais com as crianças, a envolver-me nas suas brincadeiras, isso fez com que elas também começassem a construir laços e a ganhar mais confiança em mim, acabando por mostrar as suas reações nas pequenas demonstrações de afeto.

Contudo, apesar de todas as dificuldades encontradas e todos os receios sentidos, tenho plena consciência de que foram as chamadas de atenção, os feedbacks, o meu esforço e a minha capacidade para melhorar a cada situação, que me fizeram crescer e aprender neste contexto, do qual nenhuma experiência tinha. Foi superando os obstáculos e enfrentando os medos e dificuldades que pude evoluir a vários níveis. Face a estas situações irei mais desperta para a minha futura prática profissional e também um pouco preparada para tal. Todavia, considero que ainda pouco sei enquanto educadora de jardim-de-infância e que há coisas que só a experiência me permitirá alcançar.