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Ao fim de mais uma semana de prática pedagógica e após a reflexão da sessão conjunta com todos os grupos e professores do nosso mestrado, novas questões e temas foram surgindo.

Mais uma vez, durante a semana, foram desenvolvidas com as crianças atividades de expressão plástica, tanto individuais como coletivas. Estas últimas consistiam em cada criança participar numa parte da elaboração do trabalho. Na atividade coletiva desenvolvida, que consistia na pintura com rolo da massa de uma árvore de natal de tamanho grande, numa superfície de papel de cenário, as crianças não revelaram muita adesão, à semelhança de outras atividades deste género que já foram desenvolvidas anteriormente. Perante estas reações questiono-me: Será por serem realizadas fora da sala? ; Será que é por serem realizadas com a folha de papel de cenário no chão e não sobre uma mesa? Todas estas dúvidas emergem, pois em nenhuma atividade deste género as crianças se envolveram e mostraram interesse, desistindo logo da pintura, assim que a começaram. E noutro tipo de atividades, dentro da sala de aula, que se realizam sobre uma mesa e em que as crianças estão sentadas, a sua reação é totalmente contrária. Não faz parte da rotina das crianças essas alterações de locais onde habitualmente costumam trabalhar, assim como também, o facto de realizarem experiências plásticas em superfícies nas quais não é costume serem feitas, neste caso a folha de papel ficar sobre o chão. Certamente, que ao alterarmos os locais e as condições em que habitualmente as crianças realizam as atividades, elas também modificam os seus comportamentos.

Tendo em conta a troca de ideias que foi exposta na reunião conjunta, surgiram novos temas que fazem sentido para mim serem pensados, mas que ainda não me tinha apercebido, pelo menos da perspetiva em que foram abordados. Foi lançada a ideia de que os nossos comportamentos não são os mesmos nas diferentes situações do dia, assim como os das crianças também não o são. Isto é, não temos o mesmo comportamento às nove horas da manhã e às cinco da tarde. No entanto, nós estagiárias também temos comportamentos distintos em momentos muito próximos do nosso dia.

75 Ou seja, temos um comportamento quando estamos a orientar uma proposta educativa e temos outro comportamento quando nos envolvemos com o grupo em momentos de brincadeira livre ou noutras alturas da rotina. Quando atuo/oriento uma atividade (contar uma história, fazer um teatro, etc.), sobretudo em grande grupo, sinto uma pressão diferente sobre mim, porque sei que é uma altura do dia em que tenho mais fragilidades. Há a preocupação de envolver todas as crianças nas atividades, senti-las interessadas e cativadas, tentar que não comecem a dispersar. Tudo isto condiciona o sistema nervoso e o meu modo de agir naquela altura, revelando uma postura insegura e acabando por não aproveitar aquele momento da melhor maneira. Se depois desse momento em grande grupo existirem outras atividades, como expressão plástica ou exploração de materiais, parece que fico mais aliviada quando se faz a transição, pois aquele momento mais tenso em grande grupo, no qual pretendia focar a atenção das crianças, já tinha passado. O que está errado, porque devia agir com naturalidade ao longo de todos os momentos da atividade desenvolvida, naquele horário estipulado, tal como ajo nos momentos de brincadeira livre. Contudo, nessas alturas não estipuladas para atividades, também não estou com a preocupação de manter o grupo coeso, interajo de um modo mais individual com cada criança.

Olhando para todo este percurso ao longo destas onze semanas de estágio, vejo já algumas mudanças no meu comportamento. E creio que só ocorreram devido aos alertas e avisos que me foram feitos, nomeadamente por parte da educadora cooperante, que é quem nos acompanha diariamente e com maior intensidade. Também ela nos vê crescer à medida que o tempo avança. Foi devido aos alertas dela que fui construindo e melhorando o meu comportamento com as crianças. Sendo eu uma pessoa fechada e com pouca capacidade de estabelecer relações, ficava muito fechada no meu canto a ver o tempo passar, dando-me pouco às crianças e desperdiçando as oportunidades de aprofundar laços afetivos. Embora, as diferenças possam ainda ser poucas, eu esforço- me todos os dias para sair do comodismo de estar sentada e quieta, procurando superar- me a mim mesma. Procuro brincar mais com as crianças tentando que façam novas aprendizagens também nas alturas de brincadeira livre. Procuro ser mais ativa ao longo do dia e mais alegre, transmitindo isso às crianças, de modo a que elas fiquem contagiadas pela boa disposição do ambiente que as rodeia. De acordo com Pascal e Bertram (1999) citados por Calheiros & Seixas (2010) “o estilo de interacção da educadora-criança é um factor promotor da eficácia da experiência da aprendizagem,

76 que é uma das variáveis mais significativas da educação de infância, reveladora do tipo de pedagogia que se pratica.” (p.3)

Todos estes comportamentos e modos de ser e de estar influenciam as crianças. Ou seja, o modo como reagimos, como falamos, como estamos com elas, terá influência no seu desenvolvimento pessoal. As crianças desenvolvem-se de acordo com os estímulos dos vários contextos onde estão inseridas e portanto vão-se moldando de acordo com o que experienciam. De acordo com Ferreira, Amorim & Vitória (1994, citado por Salomão & Ramos, 2013), estes defendem que “ a criança se desenvolve a partir das trocas com os outros, mediante um sistema de valores e conceitos compartilhados, adaptando-se às diferentes situações e experienciando seus próprios sentimentos e comportamentos ao longo do processo.”

Outro aspeto que considero relevante desta semana, foi o facto de termos discutido, entre estagiárias e professora supervisora, novos métodos de avaliar, pois sentíamo-nos pouco satisfeitas com o método que estávamos a usar. Tornava-se um pouco vago por ser apenas constituído por perguntas fechadas e estava incompleto. Decidimos também focarmo-nos na avaliação de quatro crianças ao invés das oito, pois consideramos que se torna complicado avaliarmos de forma correta as oito crianças ao mesmo tempo, porque existem sempre aspetos que nos falham e que provavelmente seriam muito importantes de constar na avaliação daquela criança. Reduzindo o número de crianças a avaliar para metade, podemos ser mais específicas e focarmos a nossa atenção apenas nas naquelas crianças que avaliamos, desenvolvendo assim um melhor processo e consequentemente, um melhor produto de avaliação.

Referências bibliográficas:

Salomão, N. & Ramos, D. (2013). Desenvolvimento infantil: conceções e práticas de educadoras em creches públicas. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1516-872013000300015&script=sci_arttext (Acedido em 05/12/2014).2014.

Calheiros, M., J. & Seixas, S., R. (2010) Supervisão das interações educador- criança: que relevância na prática pedagógica?. Interações. Nº 14, pp.185-215.

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ANEXO 2 – 13.ª REFLEXÃO- CRECHE