• Nenhum resultado encontrado

Dimensão da Educação e da Comunicação na influência de

Capítulo 2 O potencial reflexivo e educativo da discussão sobre preconceito:

2.2 Dimensão da Educação e da Comunicação na influência de

Comunicação são temas relacionados entre si. No entanto, segundo Martín-Barbero (2014), há três dimensões que são as principais norteadoras da educação: além da dimensão da capacitação para o trabalho, também há a dimensão da transmissão de herança cultural entre gerações. Porém, tais dimensões devem ser redirecionadas para que a Educação cumpra com uma terceira função, que lhe deveria ser essencial: a formação de cidadãos.

51 A ideia de “coisificação” ou “reificação” perpassa outras discussões econômicas e sociais. No entanto,

Assim sendo, segundo o autor, o conteúdo audiovisual pode contribuir para a construção de uma educação que forme indivíduos mais justos e comprometidos com uma sociedade mais democrática, uma vez que não seja visto somente como entretenimento, na medida em que apresente elementos que produzam a reflexão através dos modelos retratados e da representatividade.

Nesse sentido, os estudos de Albert Bandura (1977), sobre aprendizagem e comportamento, podem trazer importantes observações. Segundo o autor, o comportamento humano é aprendido, predominantemente, pela observação. Com esta conclusão, Bandura desenvolveu a Teoria da Aprendizagem Social, a qual parte do princípio de que o ser humano é um agente intencional e reflexivo e, assim, tem a possibilidade de escolher quanto aos rumos de seu comportamento. À luz de Bandura (1987), La Rosa (2003., p. 73) explica que essa teoria acentua:

1) a capacidade simbolizadora, 2) a capacidade de previsão, incluindo aqui a antecipação de consequências do comportamento, recompensas e punições, 3) a capacidade vicária, ou seja, de aprendizagem através da observação e da modelação, 4) a capacidade auto-reguladora, que supõe padrões pessoais de desempenho, incluindo um sistema de auto-recompensas e um sistema autopunitivo, e 5) a capacidade de reflexão, quer dizer, o indivíduo pensa, tem intenções, projetos e avalia. [grifo do autor]

Logo, o ser humano seria capaz de, ao observar um determinado comportamento, interpretá-lo e reproduzí-lo em um determinado contexto, prevendo suas consequências e determinando recompensas para o sucesso desta reprodução, bem como punições em caso de não conseguir fazê-lo. Ressalta-se, porém, que isso não seria a mera imitação do comportamento do outro, mas uma modelação, ou seja, a reprodução de comportamentos estaria mediada por outros fatores de ordem simbólica e autorregulatória. Afinal, os modelos também podem exercer influência na reprodução de comportamentos agressivos (BANDURA, ROSS e ROSS, 1963, apud LA ROSA, 2003).

A mediação evitaria a reprodução dos comportamentos negativos pois, ao considerar as consequências dos atos, se estas forem desastrosas, o comportamento tende a não ser reproduzido. Por outro lado, a reprodução é possível se as consequências dos atos forem positivas. Logo, há influência do ambiente e de condições pessoais, além do comportamento em si. A perspectiva congnitivo-social da aprendizagem é, portanto, um “modelo de determinação recíproca entre o ambiente, fatores pessoais (cognitivos, emocionais, etc.) e comportamento” (Ibid., p. 75). Assim, os fatores de influência podem ter maior ou menor

peso, dependendo de cada pessoa e seus traços de personalidade. Do mesmo modo, são importantes os processos autorregulatórios para o sucesso da modelação.

Durante muito tempo a modelação foi considerada um tópico inconsequente, por duas razões. Primeiro, ela foi considerada uma tendência instintiva, não tinha muito a ser explicado: ‘imitação’ foi o rótulo que a modelação recebeu, a seguir, algo meramente reprodutivo, sem os processos de mediação simbólica – seria um fenômeno próprio de pessoas ansiosas, dependentes e conformistas. (Ibid., p. 76)

Da mesma forma, o comportamento observado não pode ser algo simplista, visto que, no caso de um processo cognitivo mais complexo, não se apresentarão resultados partindo de um modelo simples. Por outro lado, padrões mais complexos de comportamento induzem a diferentes estímulos, o que acabava por permitir a reprodução dos padrões de comportamento em diferentes contextos. La Rosa (2003) exemplifica que, uma vez que uma professora, por meio da modelação, ensine como se pega um lápis, embora esta seja uma situação que tenha sua importância em ensinar, se limita à imitação de como se deve coordenar os dedos ao se exercer aquela atividade. Porém, quando uma criança observa o pai sendo cortês com o próximo, seja a esposa, os colegas de trabalho ou amigos, por exemplo, também tratará bem seu próximo em outros contextos, pois não se trata, nesse caso, de uma imitação periférica como pegar um lápis. Aí estaria todo um processo de abstração e reflexão de que se deve tratar as outras pessoas com consideração e respeito.

Aliás, a modelação poderia ser até melhor que a experiência direta em situações de preconceito, pois reproduzem os padrões de comportamento em diferentes situações. Esse posicionamento é defendido por La Rosa, conforme entendimento de Bandura (1987). O que é questionável, se forem considerados outros fatores de influência que não somente os cognitivos no processo de assimilação de comportamentos.

Contudo, se for considerada a observação e reprodução de comportamentos especialmente a partir de produtos midiáticos, não desconsiderando a experiência real, de fato pode ser importante a modelação a partir desses produtos e o que apresentam às crianças e jovens como padrões a serem seguidos.

O desenvolvimento de novas respostas, qualquer que seja o modo de aquisição, requer a organização e a clara representação de elementos de comportamento em padrões de sequências, ou seja, o que vem antes, o que é intermediário, e o que vem depois. Essas informações podem ser dadas através de demonstração física, ou seja, de um modelo vivo, através da representação pictórica, de TV, e, também, por meio de descrição verbal. O comportamento complexo, assim, é decomposto em outros mais simples que devem ser adequadamente sequenciados. (LA ROSA, 2003, p. 78)

É importante ressaltar quanto a este ponto que, embora a aprendizagem não se restrinja à observação em detrimento da experiência direta, é um dos fatores de formação de comportamentos. No que diz respeito aos produtos midiáticos como modelos de observação, estes possuem relevância, principalmente, se for considerado o atual contexto em que se deve pensar a educação. Como bem destaca Martín-Barbero (2014), à luz de Savater (2001)52, não se pode pensar a educação apenas baseada em livros, dentro do modelo humanista outrora considerado ideal. Já não há como pensar a Educação sem que esta seja mediada pela Comunicação.

Dentro desse contexto, a Teoria da Aprendizagem Social ressalta a importância da modelação sobre a instrução meramente verbal. La Rosa (2003), à luz da teoria de Bandura (1987), especifica duas formas de modelação: a modelação verbal, que seria limitada à instrução verbal, não apresentando modelos vivos para a observação; e a modelação de comportamento, esta sim, eficaz em seu propósito. A distinção entre as duas formas está no fato de que, na modelação por comportamento, é maior o interesse dos observadores, no caso, as crianças junto às quais eram testados os métodos. Mais eficazes ainda são os modelos que vêm dos próprios alunos. De fato, alunos instruindo seus pares seria uma preferência dessas crianças e jovens, o que se explica pela identificação entre eles (JENKINS, 2009).

Nesse sentido, destaca-se que a modelação não é apenas a repetição de padrões, mas contribui para novos padrões criativos e inovadores (LA ROSA, 2003). Além disso, não são só os modelos de pessoas conhecidas do observador que são válidos. Com base na Teoria da Aprendizagem Social, se diferencia os modelos em três tipos: vivos, representativos e simbólicos.

Os modelos vivos seriam professores, pais, amigos, enfim, pessoas da “vida real” e, considerando que haja convívio do observador com o modelo, muitas vezes o próprio observador pode servir também de modelo para esta outra pessoa. Já os modelos representativos e simbólicos são encontrados nas formas de comunicação com as quais o observador entra em contato. Os primeiros dizem respeito aos meios audiovisuais e os últimos, diferente dos modelos representativos que, necessariamente, são personagens de narrativas audiovisuais e, assim, fictícios, podem partir de seres reais, mas tem sua particularidade na forma como chegam até o observador: por meio de livros, textos e desenhos, entre outras produções gráficas (BANDURA, 2008, apud LA ROSA, 2003). No presente estudo, portanto, busca-se analisar os modelos representativos e sua relação com a

aprendizagem por meio da modelação. Aí pode estar a chave para que, a partir da observação de modelos, a criança e o jovem adquiram a consciência sobre algo e o entendimento sobre como agir diante da questão do preconceito para além de uma determinação moral sem a devida reflexão. Nesse sentido, chega-se à hexis educativa.