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Dimensão Profissional da Identidade do Pedagogo: dificuldades em exercer

4.5 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

4.5.3 A Dimensão Profissional da Identidade do Pedagogo

4.5.3.2 Dimensão Profissional da Identidade do Pedagogo: dificuldades em exercer

Na categoria Dificuldades em Exercer a Função de Pedagogo, a pesquisa

procurou descobrir quais seriam as dificuldades enfrentadas pelos pedagogos da

RME no desenvolvimento de seu trabalho. Os profissionais responderam que

enfrentam as seguintes dificuldades no interior das escolas: grande demanda de

trabalho; demanda de serviço burocrático; falta de autonomia; incorpora funções de

outras pessoas; resistência dos professores; falta de tempo e as relações

interpessoais.

Os Pedagogos 2, 3 e 8 denunciaram em seus relatos que a maior dificuldade

que enfrentam no desenvolvimento de seus trabalhos é em relação à demanda de

trabalho, especialmente, a demanda burocrática:

Não vejo que tenha uma dificuldade. Talvez se diminuísse esta parte

burocrática, sobrasse mais tempo para trabalhar com professores. Vejo que

a parte burocrática também é importante, para a nossa organização da

escola e SME (Pedagogo 2). A minha maior dificuldade é a demanda de

trabalho é muita coisa, a demanda é muito grande, isso me impede de

tentar fazer o meu melhor. Eu falo para os professores que quando estamos

em sala de aula temos que dar conta de 30-35 alunos, a equipe pedagógica

tem todos os alunos, os profissionais, são mais ou menos 20, os pais, fora a

cobrança da SME e NRE, é uma demanda muito grande, é muita coisa de

vários departamentos (Pedagogo 8). A resistência dos professores, muitos

professores com formação precária, acham que as sugestões que você dá,

que você sabe que é o correto, que dá certo... depende se o professor irá

aplicar. O nosso trabalho não aparece, só aparece se o professor aplicar as

orientações que o pedagogo dá no acompanhamento das permanências.

Caso contrário o professor fecha a porta e faz o que ele quer. O trabalho

burocrático aumentou demais (Pedagogo 3).

Como pode ser constatado na fala do Pedagogo 3, este profissional afirmou

também que enfrenta dificuldade em relação à resistência dos professores.

O Pedagogo 7 afirmou que as relações interpessoais interferem e prejudicam

a sua prática no interior da escola e se constituem como dificuldades a serem

enfrentadas no cotidiano de seu trabalho:

As relações interpessoais, quando as pessoas veem no outro um

impedimento para progredir. As questões burocráticas são complicadoras,

mas as relações interpessoais na educação elas são um dos fatores que

mais impedem a progressão da educação. Se tenho um colega que se

destaca, não é porque ele está buscando ele quer aparecer. Alguns

profissionais misturam a relação pessoal e profissional na escola e faz

confusão desnecessária com questões que poderiam ser resolvidas

tranquilamente. Eu acho ainda que as relações de hierarquia, as relações

interpessoais no trabalho quando se confundem e se mistura muito aquela

relação profissional, que é a relação do local de trabalho, com a relação

pessoal que deveria ficar lá fora. Não que dentro do espaço de trabalho não

se possa ter relações sociais, se tem relações sociais de trabalho e não

relações sociais pessoais, embora se tenha espaço para isso também. Eu

acho que isso mais atrapalha a educação (Pedagogo 7).

O Pedagogo 6 se expressa assim a respeito desta questão:

Não tenho autonomia, mesmo sendo eu a pessoa que tem a formação, que

tem a função, nem nas simples questões, mesmo no elogio dos professores

em meu nome. Pois lido com a imaturidade e insegurança da direção. Não

posso decidir nada sozinha (Pedagogo 6).

As considerações apresentadas pelo Pedagogo 6 na entrevista, revelaram

preocupação em relação a falta de autonomia que este profissional possui na

escola. Ficou evidente que esta questão prejudica a qualidade do trabalho deste

pedagogo, pois o mesmo não pode decidir nada sem o consentimento da direção.

Entende-se que a equipe pedagógico-administrativa tem uma autonomia para

gestar a sua escola e para a elaboração de documentos (Projeto Político

Pedagógico e Regimento Escolar), mas é uma autonomia dependente, pois a escola

é um sistema que está dentro de outros sistemas, portanto, dependente de outros

sistemas (esfera municipal, estadual e/ou federal).

À luz do Pensamento Complexo a escola é uma auto-eco-organização, ou

seja, de acordo com Morin (2003) a autonomia/dependência introduz a ideia de

processo auto-eco-organizacional, na qual qualquer sistema para manter a sua

autonomia precisa estabelecer interação com o ecossistema do qual se beneficia,

portanto, existe uma autonomia dependente. A auto-eco-organização é a

capacidade que o ser humano tem de transformar-se, constantemente. Essa

capacidade não exclui a dependência a outros sistemas, à sociedade, ao mundo.

Com este princípio compreende-se que os fenômenos não são totalmente

autônomos, nem totalmente dependentes, mas, são, interdependentes. Não há nada

isolado, tudo está inter-relacionado.

A partir dessas considerações, compreende-se que os pedagogos e

professores também possuem uma autonomia dependente para exercerem suas

funções. O pedagogo tem autonomia para tomar decisões pedagógicas, mas estas

devem depender do que está previsto no Projeto Político Pedagógico e no

Regimento Escolar da escola, bem como, nas diretrizes da mantenedora. O mesmo

ocorre com os professores, em sala de aula, eles possuem também certa

autonomia, mas suas ações estão conectadas, entrelaçadas às orientações da

equipe pedagógica administrativa e da mantenedora.

Quatro dos noves pedagogos entrevistados afirmaram que assumem funções

na escola que poderiam ser exercidas por outros profissionais. Os pedagogos se

expressaram assim a respeito:

Há, como situações de volta de recreio, elaborar bilhetes, questões

administrativas, que eu não sei dizer não e acabo me envolvendo. Eu faço

muita coisa por contar com pessoas que não dão conta. Acabo

incorporando funções que seriam de outras pessoas (Pedagogo 6). Sim,

muita coisa que poderia ser feita por outros, poderíamos dividir melhor as

funções, dividir mais questões que são da escola, por exemplo, as tarefas

de preenchimento do Moodle, que são burocráticas e extremamente

demoradas uma outra pessoa da escola poderia fazer, [...].Poderia ter uma

pessoa que preenchesse as FICA´s (Ficha de Comunicação do Aluno

Ausente). [...] A função deveria ser compartilhada para que eu não perdesse

a noção do todo (Pedagogo 7).

O Pedagogo 7 afirmou que exerce algumas funções na escola, que poderia

ser realizadas por outros profissionais, mas deixa claro, que deveria ser funções

compartilhadas para que ele pudesse compreender todas as “partes” que formam o

todo de seu trabalho.

Os demais pedagogos afirmaram que já assumiram funções que poderiam ser

exercidas por outros profissionais, mas devido ao tempo de trabalho na escola e ao

diálogo conseguiram resolver esta situação e dividir o trabalho com outras pessoas.

Como pode ser observado nos relatos a seguir:

Antes tinham várias tarefas: cortar bilhete, agora são as inspetoras que

cortam e encaminham para as salas, alguns materiais que os professores

pedem, os inspetores que auxiliam, as crianças machucadas são os

inspetores que cuidam. São tarefas que antes eram dos pedagogos, mas os

pedagogos aqui da escola conseguiram superar e agora são de

responsabilidade dos inspetores. Quando tem criança machucada e os

inspetores estão no intervalo deles, eu vou lá e atendo. Se a questão de

indisciplina ou algo mais grave é o pedagogo que atende. (Pedagogo 3) Já

teve, mas aos poucos eu fui delegando. Por exemplo, organizar o horário

quando uma professora falta, passou para o administrativo. Chegou uma

época que eu fazia o xerox, conversamos e agora são as inspetoras. As

questões do recreio são divididas, ora a direção que atende, ora a

pedagoga. Este ano estamos seguindo rigorosamente os passos do

regimento em relação às advertências para as questões de indisciplina, isto

tem ajudado, para chegar no setor pedagógico tem que ter passado por

outras instâncias, como inspetoras, não está chegando direto para cá. Em

relação à questão das crianças doentes, não seria nossa função, mas não

tem outra pessoa que poderia fazer. Temos um diálogo com a direção,

vamos apontando elas vão ouvindo, se elas não escutam a gente fala de

novo, até que uma hora elas atendem (Pedagogo 5).

As considerações apresentadas pelos Pedagogos 3 e 5, nas entrevistas,

revelaram que os mesmos estão conseguindo delegar e dividir funções que podem

ser assumidas por outros profissionais da escola. Percebeu-se em suas falas que

não é um processo simples. Para que isso aconteça, todos que trabalham na escola

precisam compreender qual é a especificidade do trabalho do pedagogo,

compreender que este profissional deve estar envolvido com tarefas e funções

relacionadas à organização do trabalho pedagógico.

4.5.3.3 Dimensão Profissional da Identidade do Pedagogo: reconhecimento