• Nenhum resultado encontrado

DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS DO CURSO DE PEDAGOGIA –

Ainda no ano de 1999, foi nomeada a Comissão de Especialistas do curso de

Pedagogia

16

, que elaborou a proposta para as diretrizes curriculares do curso de

Pedagogia, baseada no documento da ANFOPE de 1998. A proposta foi divulgada

em 6 de maio de 1999, mas ficou retida no MEC/SESu por muito tempo, antes de

ser encaminhada ao Conselho Nacional de Educação. A proposta foi bem acolhida

pela comunidade acadêmica.

De acordo com Silva (1999), a comissão tentou contemplar as várias funções

do pedagogo, e sua a identidade ficou assim definida: profissional habilitado a atuar

no ensino, na organização e gestão de sistemas, unidades e projetos educacionais e

na produção e difusão do conhecimento, em diversas áreas da educação, tendo a

docência como base obrigatória de sua formação e identidade profissional.

Esse pedagogo poderia atuar na docência na educação infantil, nas séries

iniciais do ensino fundamental e nas disciplinas de formação pedagógica do nível

médio. O curso teria 3.200 horas-aula, com duração de quatro anos, cumprindo o

dispositivo legal de 200 dias letivos.

Libâneo e Pimenta (1999) são contrários às proposições da ANFOPE e da

Comissão de Especialistas em relação à docência como base para a formação de

todo educador. Para eles, esse princípio tem dificultado uma discussão mais aberta

sobre as políticas de formação de professores e reduz a formação do Pedagogo à

docência. Compreendem a Pedagogia como sendo mais ampla que a docência, sem

pretender com isso diminuir a importância da docência. Afirmam que esse

posicionamento foi tomado em momentos históricos específicos da educação

brasileira e, por ser histórico, não precisa permanecer imutável.

16

A Comissão de Especialistas de Ensino de Pedagogia da SESu/MEC foi composta pelos

professores: Leda Scheibe (UFSC), Márcia Angela da Silva Aguiar (UFPE), Celestino Alves da Silva

Júnior (UNESP), Tizuko Morchida Kishimoto (USP) e Zélia Milléo Pavão (PUC-PR).

Para esses autores, a realidade está mudando, exigindo um entendimento

mais ampliado das práticas educativas e, por consequência, da Pedagogia. A

educação acontece em diferentes instâncias formais, não formais e informais,

portanto, o trabalho do pedagogo não pode ser reduzido ao trabalho docente, pois:

“A ação pedagógica não se resume a ações docentes, de modo que, se todo

trabalho docente é trabalho pedagógico, nem todo trabalho pedagógico é trabalho

docente.” (1999, p. 252).

Para Libâneo e Pimenta (1999, p. 249), o documento produzido pela

Comissão de Especialistas não resolveu os problemas do curso de Pedagogia

criticados em anos anteriores:

[...] o “inchaço” do currículo, pretensões ambiciosas quanto à diversidade de

profissionais a serem formados, aligeiramento da formação (dada a

impossibilidade real, no percurso curricular, de conciliar formação de

profissionais docentes e não docentes), empobrecimento na oferta de

disciplinas (já que, para atender ao menos seis das áreas de atuação

previstas, será necessário reduzir o número de disciplinas, a fim de

respeitar o total de 3200h do curso). Além do mais, fica evidente a

impossibilidade de se dar ao curso caráter de aprofundamento da ciência da

educação apara formar o pesquisador e o especialista em educação.

Em contraponto, para as autoras Scheibe e Aguiar (1999), o curso de

Pedagogia não pode ser entendido desvinculado da formação de professores, como

vinha sendo compreendido pelo Conselho Nacional de Educação. Essa

desvinculação não contemplaria a complexa história do curso e da formação de

professores no Brasil.

A esse respeito Sá (1997, p. 127) argumenta:

Embora a atividade do pedagogo no trabalho pedagógico escolar se

delimite em uma atuação não-docente, a base da atividade docente deve

estar garantida em sua formação, porque sem o conhecimento da prática

docente, do trabalho do professor não há como lhe garantir uma

competência teórico/prática necessária ao assessoramento

didático-pedagógico do trabalho do professor.

Em relação às Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia, do período

de 1999, ano que a comissão elaborou a sua proposta, até 2005 “[...] constata-se um

grande e significativo silêncio tanto por parte do Ministério da Educação quanto do

Conselho Nacional de Educação.” (SCHEIBE, 2007, p.53). Somente em março de

2005, o Conselho Nacional de Educação divulgou uma minuta de Resolução das

Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia.

Scheibe (2007) alerta sobre essa minuta, afirmando que as diretrizes para o

curso de Pedagogia nesse documento eram claramente identificadas com o Curso

Normal Superior, por esse motivo foi rejeitada pelos acadêmicos.

A Minuta definiu o curso de Pedagogia como uma licenciatura, com duas

habilitações distintas: magistério da educação infantil e magistério dos anos iniciais

do ensino fundamental. O documento trazia a possibilidade de o aluno cursar as

duas habilitações, mas de forma desintegrada.

A ANFOPE discutiu amplamente o conteúdo dessa Minuta e iniciou um

processo de mobilização nacional a favor de diretrizes que contemplassem as

propostas construídas historicamente, por mais de vinte anos, pelo movimento dos

educadores.

Em resposta a pressão da ANFOPE, em 13 de dezembro do mesmo ano, é

aprovado, pelo Conselho Nacional de Educação, um novo parecer sobre as

diretrizes curriculares nacionais para o curso de Pedagogia.

O novo Parecer (BRASIL, 2005, p.7-8), diferentemente da Minuta, ampliou a

formação do pedagogo:

O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à formação de

professores para exercer funções de magistério na Educação Infantil e nos

anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na

modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio

escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos

pedagógicos. As atividades docentes também compreendem participação

na organização e gestão de sistemas e instituições de ensino, englobando:

planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avalição de

tarefas próprias do setor de Educação; planejamento, execução,

coordenação, acompanhamento e avalição de projetos e experiências

educativas não-escolares; produção e difusão do conhecimento

científico-tecnológico do campo educacional, em contextos escolares e

não-escolares.

Para Scheibe (2007, p.59), esse novo Parecer sinalizou um avanço na

superação da dicotomia entre licenciatura e bacharelado, ao indicar que a formação

no curso de Pedagogia é mais abrangente que aquela oferecida pelo Curso Normal

Superior. “Significativamente, o parecer não se refere à formação do pedagogo, mas

à formação do licenciado em pedagogia.”

Em 13 de dezembro de 2005, o Conselho Nacional de Educação, em

Conselho Pleno, aprovou o Parecer n. 5/2005 que institui as Diretrizes Curriculares

Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, Licenciatura. Esse Parecer foi

reexaminado pelo Parecer n. 3/2006 do Conselho Nacional de Educação, em 21 de

fevereiro de 2006 e homologado pelo Ministro da Educação, em 10 de abril do

mesmo ano. Em 15 de maio de 2006, o Conselho Nacional de educação, em

Conselho Pleno, aprovou a Resolução n. 1/2006 que instituiu as Diretrizes

Curriculares para o curso de Graduação em Pedagogia.

As diretrizes trouxeram à tona, mais uma vez, o debate nacional a respeito da

identidade do curso de Pedagogia e de sua finalidade profissionalizante, instituída

como licenciatura. (SCHEIBE, 2007).

A proposta da ANFOPE foi aprovada, com algumas alterações, mais de seis

(6) anos se passaram desde a proposta inicial elaborada pela primeira Comissão de

Especialistas (1998 a 2000). Silva (1999) alerta sobre a lentidão da tramitação das

Diretrizes Curriculares no Conselho Nacional de Educação, tendo sido um entrave

para a reorganização dos cursos de Pedagogia.

Mesmo com muitas alterações, o Conselho Nacional de Educação aprovou as

Diretrizes Nacionais para o curso de Pedagogia (BRASIL, 2006, p.1), em que ficou

estabelecido que a formação do pedagogo deveria abranger a docência e também a

participação na gestão e avaliação de sistemas e instituições de ensino em geral e a

elaboração e execução de atividades educativas:

As Diretrizes Curriculares para o Curso de Pedagogia aplicam-se à

formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e nos

anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio de

modalidade Normal e com cursos de Educação Profissional, na área de

serviços de apoio escolar, bem como outras áreas nas quais sejam

previstos conhecimentos pedagógicos.

As Diretrizes Curriculares Nacionais definiram que a identidade do curso de

Pedagogia deveria ser pautada na docência, mas o pedagogo continuaria sendo

formado para trabalhar em espaços escolares dentro e fora da sala de aula e em

espaços não escolares. Definem também que as universidades deveriam ser o lócus

privilegiado de formação de professores.

Libâneo e Pimenta (1999) consideraram que o texto das Diretrizes

Curriculares Nacionais do Curso de Pedagogia enfatizava o exercício docente na

formação do pedagogo, desconsiderando a articulação entre as dimensões

epistemológica, disciplinar e prática do referido curso. Libâneo (2006, p.5) esclarece,

em relação ao Artigo 2º da Resolução n. 1/2006:

[...] o artigo 2º se afirma que “o curso de Pedagogia [...] propiciará o

planejamento, execução e avaliação de atividades educativas”. A

Pedagogia, nessa frase, já não tem mais como objeto a docência, mas as

atividades educativas. Afinal, qual o conceito de Pedagogia da Resolução?

Partindo das considerações apontadas, observa-se, pela reflexão do autor,

que as diretrizes, ao ressaltarem a docência na formação do pedagogo, ao definirem

o conceito de docência abrangendo também a gestão e a pesquisa, subsumiram o

campo epistemológico da Pedagogia à docência.

O Parecer n. 05/2005 definiu a carga horária do curso de Pedagogia que

passou de 2.800 horas para 3.200 horas de efetivo trabalho acadêmico, sendo 2.800

horas destinadas às aulas, seminários, pesquisas e atividades práticas; 300 horas

destinadas ao estágio supervisionado, preferencialmente na docência de educação

infantil e anos iniciais do ensino fundamental e, no mínimo, 100 horas para as

atividades de aprofundamento em áreas específicas de interesse dos alunos.

As diretrizes definiram que as instituições de ensino deveriam extinguir as

habilitações existentes, a partir do período letivo seguinte à publicação da

Resolução.

Scheibe (2007, p. 45) esclarece, sobre os objetivos das Diretrizes:

[...] servir de referência para as IES na organização de seus programas de

formação, permitindo uma flexibilidade uma construção dos currículos

plenos e privilegiando a indicação de áreas do conhecimento a serem

consideradas, ao invés de estabelecer disciplinas e cargas horárias

definidas.

Para Saviani (2007, p. 127), as Diretrizes para o curso de Pedagogia são

restritas e extensivas:

[...] muito restritas no essencial e assaz excessivas no acessório. São

restritas no que se refere ao essencial, isto é, aquilo que configura a

pedagogia como um campo teórico-prático dotado de um acúmulo de

conhecimentos e experiências resultantes de séculos de história. Mas são

extensivas no acessório, isto é, se dilatam em múltiplas e reiterativas

referências à linguagem hoje em evidência, impregnada de expressões

como conhecimento ambiental-ecológico; pluralidade de visões de mundo;

interdisciplinaridade, contextualização, democratização; ética e

O referido autor afirma, também, que as orientações das Diretrizes não são

claras, por esse motivo não garantem uma unidade do curso em âmbito nacional, ou

seja, não asseguram um “substrato comum”. Assim, as instituições teriam dificuldade

de organizar o curso de Pedagogia e de compreender as diretrizes que deveriam

seguir.

2.7 CONSIDERAÇÕES SOBRE O PERCURSO HISTÓRICO DA FORMAÇÃO DO