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2. Revisão bibliográfica

2.7 Tipologia Alcoólica de Lesch (TAL)

2.7.4 Dimensões Biológicas

Alguns estudos têm procurado avaliar potenciais alterações biológicas nos vários subtipos da TAL. Um estudo observou diferenças significativas no metabolismo do etanol e do metanol. Foram avaliados 61 indivíduos, durante o período de intoxicação pelo álcool, verificando-se que nos doentes tipo I o etanol e metanol eram rapidamente eliminados, ao contrário dos doentes tipo IV, em que as taxas de eliminação eram consideravelmente mais lentas (Sprung et al., 1988). Nos últimos anos tem crescido a evidência que associa a DA à hiperhomocisteinémia e, inclusivamente, a propõe como um indicador biológico do risco de convulsões durante a privação do álcool (De la Vega et al., 2001; Hultberg et al., 1993; Kurth et al., 2001). Um estudo de Bleich et al., (2004) avaliou os níveis plasmáticos de homocisteína tendo em conta a TAL. Os resultados vieram corroborar estas observações, ao apurarem níveis plasmáticos de homocisteína, significativamente mais elevados nos doentes dependentes do álcool classificados com o subtipo I de Lesch, particularmente, naqueles que apresentavam história pregressa de convulsões por privação do álcool. Todavia, um estudo posterior protagonizado por Bonsch et al., (2006), não encontrou diferenças significativas nos níveis plasmáticos de homocisteína nos diferentes subtipos de Lesch.

O ácido glutâmico é um dos principais factores de neurotransmissão implicados na dependência do álcool, nomeadamente, no período de privação (Walter et al., 2006). Um estudo recente, teve como objectivo a avaliação dos níveis de ácido glutâmico numa população de dependentes do álcool, classificados de acordo com a TAL. Os doentes subtipo I evidenciaram níveis significativamente mais elevados de ácido glutâmico, quando comparados com os doentes subtipo II e III. De igual forma, os doentes subtipo IV, também evidenciaram níveis significativamente mais elevados de ácido glutâmico, quando comparados com os subtipos II e III. Os autores argumentam que, estes níveis elevados de ácido glutâmico, encontrados nos

privação do álcool de elevado grau de gravidade, típico do tipo I e, pela história de síndromes de privação de álcool recorrentes, típico do tipo IV (Walter et al., 2006).

2.7.5 Processo de classificação

As 4 evoluções da doença do álcool foram correlacionadas com dimensões clínicas, num total de 136 variáveis (sociais, biográficas, orgânicas, consumo álcool, sintomas de privação etc.), das quais, apenas algumas se verificaram significativas na evolução da DA. Os itens mais importantes foram, depois, utilizados com propósitos de diagnóstico. Alguns deles revelaram-se tão dominantes, que a sua simples presença garantiu a inclusão num dos subgrupos. Por exemplo, a ocorrência de enurese nocturna no subgrupo IV. O peso e a dominância dos itens mais significativos foram, posteriormente, organizados num processo de decisão, denominado de “árvore de decisão” (Lesch et al., 1990). Esta árvore de decisão foi transformada num algoritmo informático, que está hoje disponível num programa de computador divulgado na maioria das línguas europeias. A versão portuguesa, traduzida por Pombo S. em colaboração com Lesch, pode ser disponibilizada em www.LAT-online.at.

O procedimento de diagnóstico da classificação de Lesch realiza-se num percurso de exclusão de subtipos, iniciando-se no subtipo IV, seguido pelos subtipos III, I e II. O processo de classificação, bem como os descritores clínicos para cada subtipo, são os seguintes (Lesch et al., 1988, 1990, 2010):

Tabela V - Descritores clínicos para o subtipo IV de Lesch

1. Dano perinatal grave antes dos 14 anos: complicações durante a gravidez ou durante o parto com potenciais repercussões no desenvolvimento infantil intelectual e psicomotor.

2. Doença cerebral, orgânica ou psíquica antes dos 14 anos: encefalite, meningite ou outras doenças (por exemplo, co-morbilidade psiquiátrica grave - esquizofrenia) que tenham implicado tratamento.

3. Convulsões (grande mal) independentes do consumo do álcool: não devem ocorrer no contexto do consumo agudo ou privação do álcool. Por exemplo, epilepsia.

4. Enurese nocturna (após os 3 anos de idade): pelo menos 6 meses e necessitou de tratamento.

5. Neuropatia periférica alcoólica grave: classificar como grave se existirem sintomas motores (problemas de locomoção, ataxia) e sensoriais (perda de sensibilidade, “formigueiros”) perceptíveis com extrema fraqueza e atrofia muscular.

6. Contusão cerebral: traumatismo craniano. Avaliar se ocorreu com perda de consciência. 7. Roer as unhas e gaguez: os sintomas duraram pelo menos 6 meses.

8. Aparecem sintomas de embriaguez intensos mesmo após o consumo de uma baixa quantidade de álcool. A síndrome de privação do álcool é moderada.

Processo de diagnóstico: Se estiver presente algum dos itens de 1 a 7, o subtipo IV deve ser diagnosticado. O item 8 é opcional.

Tabela VI - Descritores clínicos para o subtipo III de Lesch

1. Depressão major: existem critérios para o diagnóstico de uma perturbação depressiva grave (duração de pelo menos 6 meses).

2. Tendências ou tentativas de suicídio: existe ideação suicida grave. Pelo menos (ou mais) uma tentativa de suicídio sem consumo do álcool significa tendência suicida ou tentativa de suicídio independente da privação ou intoxicação do álcool.

3. Perturbações graves do sono: avaliar se independente do consumo ou privação do álcool.

4. Periodicidade do consumo do álcool claramente detectável: periodicidade significa consumos do álcool episódicos, com modificações rítmicas, ou em quantidade e/ou na duração. Verifica-se, por exemplo, períodos de abstinência total. Estas modificações reflectem a doença psiquiátrica subjacente.

5. Álcool é usado como forma de “auto-medicação” da perturbação psiquiátrica subjacente: perturbação do humor, do sono, etc.

6. Historia familiar positiva para perturbações psiquiátricas: encontra-se na família casos de depressão major, suicídio ou dependência do álcool.

Processo de diagnóstico: Se o tipo IV não foi diagnosticado e estiver presente algum dos itens de 1 a 4, então o subtipo III deve ser

diagnosticado. Os itens 5 a 7, embora frequentes, são opcionais.

Tabela VII - Descritores clínicos para o subtipo I de Lesch

1. Sintomas de privação graves: tremor tridimensional, sudação profusa e sintomas vegetativos graves.